22.12.03

ELEFANTES

Fui ver o "Elephant", de Gus Van Sant.
Já me tinham dito que o filme é perturbador.
É.
Perturbador.

Não sendo o relato fiel, a reconstrução fiel, do massacre de Columbine, anda lá por perto. Por isso faz pensar.

Num liceu cujas instalações, as condições físicas de ensino são de fazer inveja às nossa Universidades. (Tirando os centros urbanos e zonas degradadas, onde os brancos não são alunos, os EUA têm liceus assim).

Com putos cruéis como o são por cá.

Com o acesso a armas de forma fácil e rápida.

Com o total desinteresse e abandono parental, permitindo-se uma liberdade e um afastamento que se traduz na falta de estruturas de educação e formação.

Com uma escola que olha de lado para quem ousa ser diferente, nomeadamente no desporto.

Associem-se armas a um estado depressivo, à frustração do "eu", e à banalização da violência (da televisão ao cinema, dos jogos de computador aos jornais).

Com um olhar sereno, repartido subjectivamente por vários intervenientes, van Sant mostra-nos como são misturados os ingredientes para uma situação explosiva.

Letal.

Veja-se o filme. Relembre-se o "Bowling for Columbine", do Michael Moore, agora editado em DVD.

Paremos todos, um pouquinho, para pensar nisto.

18.12.03

Mais americanices

"Um tribunal federal de Nova Iorque ordenou hoje a libertação do norte-americano José Padilla, suspeito de tentar fazer explodir uma bomba radiológica nos EUA. Segundo o tribunal, o Presidente George W. Bush não tem poder para manter detido no país um cidadão americano com o estatuto de "combatente inimigo".

Padilla está detido numa prisão militar desde Junho de 2002, por ordem do Presidente, sem que até ao momento tenha sido formalizada qualquer acusação e sem direito a nomear um advogado.

Segundo uma decisão do Tribunal Federal de Recurso de Nova Iorque, conhecida hoje, o Presidente não tem poderes para ordenar a detenção de "combatentes ilegais", uma decisão que está reservada ao Congresso, pelo que Padilla, de 32 anos, terá que ser libertado no prazo de 30 dias." (no Público de hoje, on-line)

Isto volta a dizer muito dos americanos.
Pensem no caso Casa Pia, e vejam as diferenças.

Primeiro - cá, é o Juiz quem decide prender, não o Jorge Sampaio ou o Durão Barroso (livra!).

Segundo - cá, o Tribunal superior manda libertar, e é imediato, não a trinta dias como o pagamento das facturas.

Terceiro - se cá é o que se fala sobre não conhecer a acusação, não ter culpa formada, não saber os factos, bem, nos EUA...

... nos EUA é a "cóboiada total".

MAs que sei eu disto?

12.12.03

PSL e PP - FEUDOS E INCONGRUÊNCIAS

PSL (Pedro Santana Lopes) anunciou que a partir do segundo semestre de 2004 o acesso à Baixa e ao Chiado por automóvel será limitado a quem pagar um selo anual ou semestral (temo quanto ao valor).

Bravo. Brilhante.
Numa altura em que o objectivo é revitalizar a Baixa e o Chiado, limitamos o acesso aos automóveis. Em abstracto, o conceito é positivo e parece bom. Mas, será?

Actualmente, em Lisboa, onde quer que seja que estacionemos, há que alimentar o bicho parquímetro. Logo, se PSL levar mais esta adiante, teremos que estacionar o automóvel sabe-se lá onde (mesmo com parquímetros já estive 20 minutos nas avenidas novas à procura de um lugar para estacionar para poder ir ao médico, vindo de Mafra, e por isso deslocando-me de carro) e pagar, um tempo aumentado porque teremos que aditar o tempo da viagem em transporte público. Ah!, pois, e acrescendo o valor dos bilhetes para os transportes públicos (escassos naquela zona).

Ir à Baixa e ao Chiado ficará cada vez mais caro, alimentando o carreirismo de muitos em direcção aos centros comerciais. MAis uma machadada para o comércio daquela zona nobre.

Mas, e os residentes? Queixam-se da desertificação da Baixa, mas nada é decidido em favor de quem para ali vá viver.
Tenho um casal amigo que vive na Calçada do Carmo. Por vezes visito-os, saindo de sua casa à uma, duas, três da manhã. Obviamente que, a essa hora, tenho que ir de carro para casa. Já nao basta o assalto que é pagar parquímetro naquela zona até Às 3 horas da manhã (!!!), uma vez que é a zona de chulice a quem queira ir beber um copo ao Bairro ALto, agora querem que eu pague mais uma taxa? Ou que deixe o carro no cú de Judas e de madrugada voe até ele? Ou então que esses meus amigos abdiquem de ter visitas porque estas não podem ir até à casa deles a horas tardias.
Juntem isto à música nas ruas durante todo o dia, aos cortes de trânsito e de circulação sem pré aviso porque alguém decidiu filmar no Chiado, na animação de rua à porta dos habitantes e apreciem como é bom ir ou viver na Baixa e no Chiado.

Bravo, PSL. Por Favor, volta para a Figueira da Foz.


PP (Paulo Portas) brinda-nos com mais uma das suas incongruências.
Quer a revisão constitucional para retirar as referência (do preâmbulo) ao socialismo e tendências de esquerda que, nos anos quentes foram ali redigidas. Porque é história, e o lugar da história não é na lei.
Porém, não abdica de uma referência à tradição judaico-cristã na constituição europeia, por razões históricas, não podendo ser omitida a relevância desta tradição na construção da Europa.
Então, e o papel da esquerda, do comunismo e do socialismo após o 25 de Abril para a construção do regime que hoje nos regula, democrático e com os defeitos inerentes, mas sempre sujeito ao voto do povo, e estrurturado em princípios fundamentais, modernos?
PP, volta para... sei lá, vai mas é para longe que já chateia tanta conversa da treta.

Escrevi muito, desta vez. MAs, que sei eu disto.

5.12.03

AMERICANOS

Li ontem no Público algo que me fez urticária. Não que fique surpreendido, mas irrita-me profundamente que os paladinos da democracia e das liberdades continuem a reger-se pelas regras instituídas nos tempo dos pioneiros, do s cow-boys e do far-west.
Segundo a notícia, o indíviduo que vai ser julgado como sendo o vigésimo terrorista do 11.09 que não chegou a embarcar no respectivo avião requereu a inquirição como testemunhas de três detidos em Guantanamo que, de acordo com a defesa, serão determinantes para que seja ilibado.
O Promotor Público (tipo o MP lá do sítio), opõe-se determinantemente, porque tal poderia por em causa segredos de Estado(?!!). Ainda assim, exige a pena de morte do arguido.
A Juiz que tem o processo em mãos, ao que parece, decidiu que assim sendo, o Promotor Público já não poderá pedir a pena de morte e ficará inibido de usar certas provas (olho por olho, dente por dente?). Ou seja, estão preocupados com tudo menos com a verdade.
Conclui a notícia que, a ser assim, ou seja, se o Juiz não fizer a vontade ao Promotor Público (e, como tal, ao governo), a Administração pondera passar a julgar os casos de terrorismo em Tribunal militar, onde são concedidas menos garantias aos acusados, e já não teriam que se preocupar com estes entraves.

Li igualmente que alguns dos defensores dos presos em Guantanamo foram afastados porque se insurgiram com os direitos concedidos aos presos, ou antes, com a falta deles, nomeadamente a falta de privacidade nas conversas entre advogado e preso. Com a maior das naturalidades, a decisão foi a de afastar os advogados que exigem os direitos dos seus clientes defendidos.

Brilhantes, os dois casos.
Que merda de sistema é aquele?
Ainda dizem que Portugal é pidesco?
Sinceramente, acho que, cada vez mais, os EUA são a verdadeira fonte de desestabilização internacional, porque parecem um puto mimado. Só fazem asneira, mexem onde não devem, incomodam os ninhos de vespas, em vez de os eleminar, e só querem a sua vontade satisfeita, sem se preocuparem com os outros.

É com este tipo de mentalidade que queremos alinhar?
Enfim, mas que sei eu disto?