31.3.04

I've got little black book...

Segue a história, em inglês, do meu novo livro de apontamentos. Algo de precioso, agora que se avizinha uma semana em Marrocos.

The history of a legendary notebook

lt is two centuries now that moleskine has, been the legendary notebook of European artists and intellectuals, from Van Gogh to Henri Matisse, from lhe exponents of the historical avant-garde movements to Ernest Hemingway. Many are the sketches and notes, ideas and emotions that have been jotted down and harboured in this trustworthy pocket-size travel companion before being turned into famous pictures or the pages of beloved books.
This long-standing tradition was continued by writertraveller Bruce Chatwin who used to buy his moleskines at a Paris stationery shop in Rue de l'Ancienne Comédie where he would always stock, up before embarking on one of his journeys. Over the years he had developed a veritabie ritual. Belore using them he would in fact number the pages, writing on the inside his name and at least two addresses across the world, and a message promising a reward for anyone finding and returning the notebook in case of it being lost.
He even suggested this method to his friend Luis Sepúlveda, when he gave him a precious moleskine as a present for a journey they were planning to undertake, together in Patagonia. And there was no doubt as to how precious it was, given that at the time even lhe last moleskine manufacturer, a small family-run firm of Tours, had discontinued production in 1986. 'Le vrai moleskine n'est plus' was the short and curt statement of the owner of lhe stationery shop where Chatwin had ordered one hundred before leaving for Australia. Despite having literally swept up all the moleskines he could find, they were not enough.
Now, the moleskine is back again. This silent and discreet keeper of an extraordinary tradition which has been missing for years has set out again on its journey.A witness to contemporary nomadism, it can once again, pass from one pocker to another to continue lhe adventure.
The sequel still waits to be written and its blank pages are ready to tell the story.

MOLESKINE ®

30.3.04

MOVIMENTOS PERPÉTUOS

Saíu com o Público, na 6ª feira, o CD "Movimentos Perpétuos - música para Carlos Paredes". Sei que a edição é do ano passado mas, tirando o contributo do Sam The Kid e dos Belle Chase Hotel e Quinteto de Coimbra, que muito passaram na rádio, não conhecia os restantes 18 temas.

O disco é fantástico e apresento os meus parabéns à homenagem feita ao Mestre, ainda vivo numa vida de morte, surpreso que estou com a qualidade do tributo.

Não há palavras que substituam a sua audição. É uma recomendação com sabor a obrigação. TÊM que ouvir este CD duplo.

29.3.04

TRATADO SOBRE A DESVALORIZAÇÃO DO "EU" (2)

III - Auto-Estima

A auto-estima, como o próprio nome indica, nasce dentro de nós. Esta é a conclusão elementar de uma análise unicamente etimológica da palavra. Mas não pode estar mais errada.
O Homem é um ser social, ensinam-nos desde que nascemos. Aprendemos a interagir uns com os outros e interiorizamos uma série de regras e comportamentos que nos permitem "sobreviver" à sociedade. Sim, sobreviver.

As crianças são crueis, e da boca das crianças sai a verdade, diz a sabedoria popular. Pois cedo descobrimos na pele que a escola que nos forma e educa pode ser um excelente absorvente de auto-estima que nos reduza à nulidade. Mas já lá vamos.

Após o nascimento somos acolhidos no núcleo familiar que, a menos que padeça de alguma disfuncionalidade, é acolhedor, protector e seguro. Não só não nos agride, como nos protege da agressão. Quando a família se junta com os amigos, os pequenos são usualmente defendidos pelos seus, e os filhos dos outros são sempre os mais rabujentos, mal-educados ou agressivos. Nos casos em que a outra criança é a mais sossegada, os pais realçam a energia, vitalidade e esperteza do seu rebento.

Porém tudo isso acaba com a escola. Aí, passamos a ser, realmente, "another brick in the wall", um entre muitos e perdemos a permanente protecção familiar relativamente aos nossos pares. Uns mais do que outros, somos vítimas de reparos, partidas, piadas, insultos. Bem-vindo ao mundo, à vida em sociedade.
A única forma de estarmos minimamente protegidos é termos sido sujeitos àquela figura sempre incómoda dos irmãos, sejam eles mais velhos ou mais novos. Mas, ainda assim, o incómodo está associado à segurança e interacção da fraternidade, que muito ajuda o embate escolar.

Na escola, nosso "eu", alimentado como um bem precioso ao longo dos primeiros anos, acaba por receber uma machadada que lhe recorda o seu verdadeiro valor. A auto-estima depende da posição que se consegue obter e manter na sociedade em que o indivíduo se insere. A escola é o primeiro passo.

E prossegue o caminho, muitas vezes de calvário, ao longo da formação e educação, ao longo do crescimento na escola. Chega-se à adolescência e à faculdade. E o "eu" é constantemente atacado. A menos que se tenha a vacina.

(continua)

25.3.04

Combate à emigração ilegal?

O diploma que cria um regime especial de protecção para os filhos de imigrantes que se encontrem em situação irregular em Portugal foi hoje publicado em Diário da República, criando assim garantias para que essas crianças tenham acesso a cuidados de saúde e à educação pré-escolar e escolar.

Este regime especial prevê a criação de um registo nacional dos menores ilegais que será efectuado pelo Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas (ACIME). Aos menores será atribuído um cartão comprovativo da sua situação e que lhe dará acesso à educação e à saúde.

(notícia do Público on-line, hoje, na sequência da publicação do DL 67/2004 de 25.03)

Curiosamente, a senhora romena que faz a limpeza da minha casa, e que está em Portugal, legalmente, há mais de três anos descobriu que, apesar de todos os meses descontar dos seus ordenados (porque tem mais de um emprego) para a segurança social, não tem direito a abono de família pela sua recém-nascida filha.

Se encontrarem a justiça nestas opções de política social, digam-me qualquer coisa, pois não vejo onde querem estes tipos do governo chegar.

15.3.04

Gosford Park

Não o vi no cinema. Tinham-me dito bem do filme. Aproveitei o seu lançamento em DVD pelo DN, que o tornou muito barato, e vi-o este fim-de-semana.

Realizado de forma envolvente, com interpretações que considero muito boas, Gosford Park expõe na tela um mundo não muito distante em que as classes se dividiam de forma rígida entre os servidos, e os que servem. E a progressão na "carreira" que estes almejavam, para ficarem muito abaixo, ainda, da classe dominante.

A não perder este olhar que deixa a crítica na consciência hodierna.

Anything Else

Jason Biggs faz de Woody Allen e tem conversas fantásticas com Woody Allen. Este, já com a idade a pesar, deixa o papel cuja relação amorosa-psiquiátrica está em foco para um tipo mais novo. Mas, à semelhança do que já aconteceu no passado, por exemplo, com Kenneth Branhagh, o actor que assume o papel principal assume o repertório de tiques, hesitações e entoações de Woody Allen. Fantástico.

Depois, temos Christina Ricci excelente objecto amoroso, mais complicado e neurótico que o autor. Allen escreveu uma história semelhante a tantas outras que já pôs na tela. Mas os diálogos, as situações, são brilhantes, dinâmicos e muitas vezes hilariantes.

Em exibição ainda no Ávila, onde o bilhete custa apenas € 3,50, recomenda-se a todos os que querem divertir-se e sentir que anda muito maluco aí à solta.

Fez parte do meu fim de semana. E ainda bem.

Decisão Tramada

Zapatero prometeu retirar os soldados espanhóis do Iraque caso fosse eleito Primeiro-Ministro, a menos que a ONU assumisse o controlo da intervenção.
Agora, terá que fazê-lo. Porém, junto dos radicais islâmicos, tal será sempre visto como uma vitória, um resultado directo do medo causado pelo atentado de quinta-feira.
Segundo o Público, já reafirmou essa intenção.
Há decisões tramadas. Esta é uma delas. Terá que pensar muito bem naquilo que poderá fazer para compensar.

É por estas que não me candidato a Primeiro Ministro de Espanha.

11.3.04

FILHOS DA PUTA

Não tenho palavras para descrever o que me vai na alma depois de mais um atentado terrorista como o que abanou Madrid.

Aqui no meu gabinete, a página do Público na net tem sido a janela para Madrid, na qual vejo com preocupação os números a subir, quer de mortos quer de feridos, e leio as reacções.

Quando ocorreu o 11 de Setembro, a sensação foi bem pior, porque temi as consequências. Porém, se hoje creio que daqui não resultarão consequências para o mundo, não posso deixar de sentir a dor dos que por ali andam.
Todos os dias morre gente em guerras, em Israel e na Palestina, na Africa Central, em pequenos Estados... É curioso como, quanto a esses ficamos vacinados. Veja-se o Haiti, ou que quase todos os dias morrem americanos ou iraquianos no Iraque e achamos natural.

São, porém, zonas de conflito, das quais estamos à espera de desgraças. Zonas onde a notícia será a trégua, a paz, a esperança.

Imagine-se Lisboa. E rebentarem bombas na linha de Cascais, na linha de Sintra e na linha da Azambuja, pela manhã, quando milhares de pessoas tomam o seu lugar para o emprego. Pense-se na angústia de quem sabe que os seus viajavam de comboio, quem sabe se naquele comboio que estoirou. Imagine-se o terror que amanhã todos aqueles que tomarem o comboio ou o metro vão sentir.

Quanto tempo passará até que deixem de temer que o céu lhes caia em cima da cabeça?
Que ganharam aqueles que lançaram o terror? De que forma estarão mais perto dos seus objectivos? Ou estes objectivos cingem-se ao caos e à dor dos outros?

Curiosamente, há alguns dias, ouvi na TSF um entrevistado (não me lembro quem, mas julgo que era diplomata português - seria José Lamego?) dizer que a ETA estava gravemente ferida, que perdera muitos comandos e muitos dirigentes, pelo que, desarticulada, tinha a menor actividade desde o ínício dos anos 80 (excepto 1999, devido à trégua). Salientava a falta de apoios de todos os quadrantes, onde o próprio Partido Nacionalista Basco disse que a ETA deveria desaparecer, deixar de existir.
Porém, temia-se que a ETA pudesse desencadear uma "acção espectacular", de elevada gravidade. Esclarecia que a ETA ainda tinha esse potencial e podia alterar a sua forma de intervir. Reconheço agora que ouvi um comentador esclarecido, informado e, infelizmente, premonitório. Isto apesar das insinuações de que seriam os radicais árabes a estar por detrás do atentado.
Não sei quem o fez.

Mas, ETA ou AL-Qaeda: SOIS UNS FILHOS DA PUTA.

10.3.04

TRATADO SOBRE A DESVALORIZAÇÃO DO "EU"

I - Declaração de intenções

Não há qualquer rigor científico no que pomposamente apelo de "tratado". Apenas a compilação de pensamentos, silogismos, experiências, questões que se coloquem à volta do tema. Ou seja, A desvalorização do "eu".

O ponto de partida, é uma constatação: o indivíduo nunca está contente consigo, e é quem primeiro aponta os seus defeitos, mesmo para além daquilo que os outros vêem.

O rigor da constatação não é nenhum. Cinge-se ao ora escritor e aqueles que com ele convivem. Ir para além desse universo é um erro.

O método é aberto. A obra é aberta. Quem quiser pode contribuir com as reflexões que tiver por pertinentes. Pode, inclusivamente, se disso tiver conhecimento, apontar estudos científicos sobre a matéria, desde que não os compare com este "tratado", pois não se deve comparar o incomparável, nomeadamente por estar despido de pretensões académicas. Aceitam-se críticas. Porém, cuidem no tema, e não destruam o escritor.

Objectivo: pensar alto sobre a questão. Sem prazo, e sem exigir resultados.
Aos poucos surgirão posts sobre a matéria. Esperemos que de algum interesse.

II - Introdução

Estava eu a tomar o meu duche quando me apercebi que, nos últimos tempos, aumentou consideravelmente a proeminência abdominal. Não só estou a ficar gordo, como barrigudo.

Durante alguns anos encarei estas alterações fisionómicas com naturalidade. Não estava a ficar mais novo e, por isso, nada de extraordinário era ficar mais "pesado". Porém, agora já não é só o peso. É a agilidade e a aparência.

Deverei ficar preocupado? Até que ponto isto prejudicará a minha forma de ser e de estar? O que pensarão os outros?

E, aqui, nasceu a questão que me ocupará. Se eu estou a desvalorizar-me, porque não hão-de os outros proceder igualmente a tal operação?

(continua)

8.3.04

PESCARIA

O cinema pode criar mundos, antecipar o futuro, encher-nos as medidas com a realização do impossível, com o desafio das mais elementares leis da física. Pode relatar-nos um evento histórico, recriá-lo, recontá-lo, e até mesmo deturpá-lo. Pode dar corpo a boatos e levantar suspeitas. Pode encenar sonhos, músicas fantasias.

Pode contar uma história em que a verdade e a mentira se cruzam sem a malícia que usualmente acompanha a falsidade. Contar-nos a história de um homem que não sabia falar pouco, e para quem nada acontecia com simplicidade, onde todos os episódios se enchiam com pessoas ou acontecimentos bizarros, que relatava constantemente, sempre com a energia e entrega de uma primeira vez.

Por certo todos nós já ouvimos o nosso pai contar a mesma história tantas vezes que lhe sabemos o fim. Agora, imagine-se saber o fim a todas a histórias que o nosso pai conta. Apesar de serem muitas e cada uma mais fantástica que a outra.

Tim Burton conta-nos mais uma história. A história desse pai que acima descrevo. E conta-nos com um encanto e uma magia, uma fantasia, que nos transporta para o "Feiticeiro do OZ", ou "Alice no País das Maravilhas".

Apesar de tudo, sendo apreciador de toda a filmografia de Tim Burton, acho que este é capaz de ser o seu filme que menos me encanta. Talvez por lhe faltar a fantasia de "Estranho Mundo de Jack", da "Lenda do Cavaleiro sem cabeça" ou de "Eduardo Mãos de Tesoura", ou o ritmo e loucura de "Ed Wood" e "Marte Ataca". MAs tem a sobriedade possível na loucura da fronteira entre a verdade e a mentira, temperada com um humor subtil, capaz de alegrar um dia sombrio. A questão é que o filme menos conseguido de Tim Burton está acima da média do cinema que por aí se exibe.

"The Big Fish", de Tim Burton, ainda em exibição. Vale a pena gastar o dinheiro no bilhete, porque há filmes que merecem a dimensão de uma tela.

4.3.04

MÃO MORTA

Ouvi agora na rádio o primeiro avanço. O Album chama-se, ao que percebi, “Nus”. Os Mão Morta estão de volta. Ainda este mês dão o primeiro concerto para lançamento do disco, em Braga, claro.
Nem de propósito. Ontem perguntei por um novo disco dos Mão Morta. Hoje oferecem-mo pela rádio.
Cá está um disco para comprar, logo que o vir (apesar de caro, certamente, que os CD’s em lançamento estão a preços proibitivos). Já agora, espero que o último, o da Primavera de Destroços ao vivo, baixe de preço, porque ainda não o comprei.

3.3.04

10 QUESTÕES RETÓRICAS

Tenho andado ausente, mas tudo por razões técnicas. Com efeito, não sei por que razão o meu acesso à internet (no trabalho, claro) que se faz por rede e é geralmente rapidíssimo, está mais lento que aquele que tenho em casa e depende do modem. Assim, tenho vindo de fugida mas sem grande sucesso até aos blogs, evitando perder tempo porque se me pagam é para trabalhar e não para isto.

Em todo o caso, tanta coisa se passou desde a minha última entrada que tenho de, sinteticamente, aflorar aquilo que me tem vindo ao espírito. São, normalmente, perguntas retóricas suscitadas pelos estímulos do meio e que podem merecer reflexão, mas duvido que mereçam resposta.

1 Quantas pessoas morreram directa e necessariamente no 11 de Setembro? E quantos civis afegãos e iraquianos já morreram, directa e necessariamente, das intervenções dos EUA? Então, porque é que só uns é que são maus?

2 Porque razão, quando seguimos na estrada e começamos a ultrapassar o tipo de quem nos aproximámos facilmente, este acelera e prolonga a manobra, dificultando-a, para depois, quando finalmente o ultrapassamos e seguimos, mantendo a velocidade, ele rapidamente abrandar e ficar para trás? Especialmente quando há mais do que uma faixa em cada sentido?

3 Porque raio se fala tanto nas presidenciais e tão pouco nas, próximas, europeias?

4 Porque está a Bolsa em ascensão, se continuamos de tanga?

5 Porque é que um presidente da Câmara, que já não é director desportivo do clube, assiste ao jogo junto ao relvado? E, ao invadi-lo, porque não é REMOVIDO?!!

6 Porque raio o Benfica é melhor a sofrer golos que a marcá-los?

7 Porque é que a Assembleia da República finge debater o aborto se não há liberdade de voto dos deputados e se sabe, à partida, o resultado? Não é um acto inútil, uma simulação hipócrita, e uma notória perda de tempo e de dinheiro?

8 Porque é que existe o 24 Horas? E a Manuela Moura Guedes?

9 Porque é que dão o Óscar ao Sean Penn e ao Tim Robbins em duas interpretações “standard”? O primeiro não encanta, e o segundo está em piloto automático num papel abaixo de outros que já fez e nem mereceram reparo. Se não queriam premiar a excentricidade de Johnny Pirata da Caraíbas Depp, porquê injustiçar o brilhante Bill Murray no Lost in Translation?

10 Quando sairá o próximo disco dos Mão Morta?

Como disse, estas perguntas não carecem de resposta. Valem por si. Mas, se porventra alguém puder fazer luz sobre uma delas, já seria um valiosíssimo contributo.

Bem Hajam.