17.2.04

TRADUÇÃO

Recomendo vivamente o Lost in Translation

Bill Murray é um actor que cada vez mais me impressiona. longe vão (felizmente) os tempos de 'Ghostbusters'. Desde aparições, como no fenomenal "Groundhog day" ou "Ed Wood" que vem enchendo o ecrã com uma pose maravilhosamente envelhecida, transpirando uma maturidade na representação que não está ao alcance de todos.
Muitos da sua geração vivem repetindo o passado ou tornando-se canastrões assumindo papeis do tipo pastilha elástica, repetitivos, sensaborões e previsíveis, apesar de um estouro ou outro.
Bill não. E está tão bem acompanhado que agora até me apetece ver "A rapariga do brinco de pérola" (creio que é este o título em português.

Por falar nisso: por favor, proíbam o tradutor que renomeou o "Lost in Translation" de voltar a trabalhar. Assassinou um título excelente, como excelente é a segurança e criatividade com que Sofia Coppola nos conta a história. Depois de "Virgens Suícidas", esta senhora começa a habituar-nos mal. Porque passamos a esperar sempre algo de muito bom a cada filme que venha a fazer, deixando pouco espaço para o erro.

Amigos, este filme vale o preço do bilhete.

ABORTOS

Tribunal de Aveiro absolve todos os arguidos do processo de aborto clandestino(Lusa)


"O colectivo de juízes do Tribunal de Aveiro absolveu hoje os 17 arguidos no processo de aborto clandestino que veio reavivar a polémica sobre a interrupção voluntária da gravidez."

Assim começa a notícia do Público.
Desconheço os fundamentos do acórdão. Porém, quase certamente que não foi uma decisão fundamentada nos "pedidos" do Bloco de Esquerda nem em considerações de oportunidade política sobre a incriminação da interrupção voluntária da gravidez, mas sim na ausência de prova da prática daquilo que, à luz da lei que temos, é um crime.
Os Tribunais aplicam leis, não as fazem. Essa é uma tarefa da Assembleia da República e do Governo

Por isso, porque raio a absolvição veio reavivar a polémica?

13.2.04

Banha de Porco

Noticia TSF - ISRAEL

Banha de porco contra atentados-suicida
As autoridades israelitas estão a planear colocar sacos cheios de banha de porco nos autocarros para dissuadir os palestinos de cometerem ataques suicidas, revela esta quinta-feira, o diário israelita «Maariv».
16:19 - 12 de Fevereiro 04

A polícia israelita explica que os terroristas, ao rebentarem bombas nos autocarros, ficariam conspurcados por esse animal considerado impuro pela religião muçulmana.
As autoridades rabínicas aceitam o uso desta «arma revolucionária», apesar de o judaísmo também considerar o porco um animal impuro.
O rabino de Eliezer Moshé Fischer, director de um instituto de estudos talmúdicos em Jerusalém, já fez saber que considera «legítima» a utilização de sacos de banha de porco para proteger os locais públicos.


Não haverá nada na convenção de Genebra que proíba este tipo de armas? Coitados dos porcos... que mal fizeram eles para verem a sua banha desperdiçada, quando podia estar a fazer umas bifanas na tasca do galego, ali ao Cais-do-Sodré?

9.2.04

RICARDO SÁ FERNANDES - UMA LEITURA E MUITAS PERGUNTAS

Nos meios mais técnicos, em que se movem magistrados e advogados, fiquei surpreendido com a "onda de solidariedade" e compreensão com o Sr. Dr. Ricardo Sá Fernandes.

Alguém me explica porque razão há uma presunção de erro crasso na decisão do Juiz de Intrução?

Alguém me explica porque razão é manifesto que a defesa do Sr. Carlos Cruz demonstrou, num interrogatório, a sua inocência?

A haver erros na decisão do Juiz de Instrução (sindicáveis pelo Tribunal da Relação), o que leva a dizer que os mesmos se devem a "juventude" ou "inexperiência" do Magistrado?

Porque não é posta em causa a competência ou eficácia da defesa?

Porque razão vem o Ilustre Mandatário do arguido pedir para divulgar o despacho e os seus elementos de defesa (??!!) "para que todos vós possam julgar"? Pensei que os julgamentos, numa sociedade democrática, se faziam nos Tribunais.

Se é assim tão manifesta a "mesquinhez" do Juiz de Instrução haverá responsabilidade disciplinar do mesmo, por violação de deveres profissionais? E é a SIC que irá apreciar a matéria? Pensava que seria o CSM.

O Sr. Dr. Ricardo Sá Fernandes emocionou-se e, aparentemente, conseguiu emocionar outras pessoas. Infelizmente, sempre ouvi dizer que a emoção é má conselheira e inimiga da razão. Quer para julgar, quer para acusar, quer para defender.

Depois, lidos os "comentários" de notícias relacionadas em edições on-line do Público, apercebi-me das reacções do "povo", do "público", da gente comum que já nem sequer alinha pelo diapasão da defesa.

Lembram-se de quando Carlos Cruz veio chorar para a televisão e apontam a diferença da sua situação com a dos outros arguidos e advogados.

Nos referidos meios judiciais, vozes voltam a apontar a idade (alegadamente jovem) do Juiz de Instrução para lidar com o caso. E, depois, generalizam para concluir que não deveria haver juízes novos, só de 35 anos para cima. E nunca a julgar em singular antes de dez anos de carreira. Estou a ver a Boa-Hora cheia de juízes novos, a participar em colectivos, e juízes com dez anos de carreira a julgar na pequena instância criminal crimes de condução em estado de embriaguez e sem carta.

Desculpem a frontalidade: quanto mais velho o magistrado iniciar a sua actividade, menos agilidade terá para enfrentar os Tribunais, que sobrevivem à custa dos sacrifícios de quem ainda tem "vida" para oferecer à máquina judicial. E a ponderação, essa existe tanto aos 24 como aos 35. Como inexiste aos 50.

Quanto aos julgamentos, se queremos viver numa sociedade democrática, evoluída e longe da barbárie de tempos remotos dos primórdios da civilização, deixem-nos ficar nos Tribunais.

MAs, que sei eu disto?

4.2.04

INVESTIGAÇÕES

Ontem vi na televisão (BBC) uma imagem que me deixou curioso. Em primeiro plano, George W. Bush. Por baixo, a legenda "Inteligence investigation".

Será que andam à procura de vestígios naquela cabecinha?

2.2.04

COERÊNCIA

Estão a imaginar um site assim em Portugal, para dar a conhecer o que foi feito, por exemplo, no caso Camarate?
Ou para esclarece um inquérito judicial?
Acham que os Jornalistas divulgariam o que estivesse editado no site, ou só escreveriam reivindicando e "adivinhando" os depoimentos e declarações omitidas?
Quantos artigos da Constituição seriam violados por um site assim?

http://www.the-hutton-inquiry.org.uk/content/rulings.htm



Quando conseguiremos viver a vida sem ser apenas com base em acontecimentos, eventos, "fait-divers", num estilo de parada-resposta de consumo rápido, "chiclete, mastiga, chiclete, deita fora, sem demora", diz o que quiseres hoje que amanhã ninguém se lembra, sejas tu político, empresário, magistrado, jornalista, treinador ou dirigente, sindicalista ou trabalhador.
A desresponsabilização surge da massificação de eventos, que cilindra a memória colectiva ao ponto de, quando alguém se lembra de invocar o passado ninguém lhe ligar, e ignorar o contra-senso que são aqueles que dizem hoje "preto" e amanhã "branco", sem sequer ser preciso explicar porque mudaram de posição.
Não defendo a imutabilidade. Apenas a coerência.

E, depois de ter escrito muito e concretizado pouco, vou sair, porque, para variar, quero ir para casa com os óculos de sol postos, sinal que, de vez em quando, não vou de noite, mas sim sob a luz da vida.

Que sei eu disto? Certamente nada.