28.4.05

Puff!

Há semanas assim,
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de ficar com a língua de fora. Não tenho tido tempo para o Blog, apesar de ideias para desenvolver. Esperemos melhores dias, depois de um merecido descanso.

27.4.05

Riscos

No sábado passado, em mais um jantar com amigos, daqueles que terminam depois das quatro da manhã, estive com um casal que vai abraçar o desafio de iniciar uma exploração agro-pecuária.
É imensa a admiração que tenho por pessoas que assumem os riscos de montar algo do zero, com investimento, conhecimentos, e muito trabalho. Investir, gerir, tornar produtivo, escoar o produto e recuperar o investimento, ganhos e gastos, tantas, tantas variáveis.
Por mim falo. Seria incapaz de assumir esses riscos. Semelhantes aos que investem na indústria, ou no comércio. Não fui, definitivamente, talhado para dar tais passos. Se o fizesse acho que morria ao fim de um mês com um ataque cardíaco.
Por tudo isto, pela admiração, pela sua coragem, desejo a melhor sorte a estes dois amigos.

Estupidez crónica

O post do Gilberto no Blog dos Vizinhos vem expôr uma triste realidade, a do vandalismo urbano. Já não bastava os amigos do alheio, agora temos que aturar com palhaços que se divertem a destruir o que não lhes pertence.
O que eles precisavam sei eu... mas não é legalmente admissível.
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22.4.05

Liberdade

Vem aí um fim de semana mais longo. Celebra-se a Revolução do 25 de Abril de 1974, o Dia da Liberdade.
Vale a pena festejar, para não esquecermos o passado e dar por certas conquistas tão recentes.
Gozem bem os três dias. Eu vou dançar.
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"Vidas" (13)


MENSAGEM

PTUII... cuspiu a areia que o vento empurrara para a boca. Ainda assim, quando fechou os maxilares sentiu o desagradável moer de alguns grãos nos seus dentes.

Desgraçado vento. A areia projectada a alta velocidade colidia com a pele, perfurando-a, desgastando-a, roendo o invólucro do seu ser. Com uma das mãos cobria os genitais. Com a outra protegia os olhos e segurava o telemóvel. Lentamente, tentava progredir.

Como lhe acontecera aquilo? Como pudera adormecer tão profundamente? Fora já tarde para o extenso areal daquela praia de nudistas. Calmamente, despiu-se na íntegra e deitou-se ao sol na toalha que trouxera de Hollywood.

Depois... depois acordou, noite cerrada, o vento a fustigar-lhe o corpo enregelado. Olhou em volta e todas as suas coisas tinham desaparecido. Todas as pessoas tinham debandado. Estava só. Ele, a toalha, e o telemóvel que, com medo dos furtos, protegera deitando-se sobre ele.

Habituou os olhos à escuridão e à surpresa. Sentiu o vento e decidiu chamar por socorro. Mas a bateria do aparelho tinha expirado. Silêncio e mais nada eram as ofertas daquele apêndice social que lhe custara uma pequena fortuna. Optou por se fazer ao caminho.

Ergueu-se e, no momento em que se debruçou para apanhar a toalha, viu-a voar para longe, arrastada pelo vento ciclónico. Não fosse o rugir do mar e o cenário facilmente se confundiria com uma desértica tempestade de areia.

A escuridão reinava. A praia ficava longe de tudo como gostam os naturistas. O luar, como seria de supor numa noite de lua nova, primava pela ausência.

Iniciou a caminhada, semi-curvado, tentando regressar. Sabia que o destino se escondia por detrás de uma alta duna, na direcção oposta à do oceano. Subiu. Subiu. Subiu.

Já no topo da duna, quando suspirava de alívio, uma forte rajada derrubou-o. Rebolou duna abaixo. À terceira cambalhota partiu o pescoço.

*

A areia perfurou a pele, roeu-a, comeu a carne e limpou os ossos. No dia seguinte muitos foram os nudistas a contemplar a bizarra escultura que, de noite, algum artista deixara na praia: um esqueleto a segurar um telemóvel.

Decerto haveria uma mensagem.

20.4.05

Escafandro

Quando miúdo, era doido por séries de televisão que envolvessem mergulhadores. Um adepto incondicional de Cousteau. Na praia, quando vinham aqueles tipos que faziam caça submarina, colava-me à sua preparação e aguardava com o olhar o seu regresso a terra na esperança de ver um peixe ou um polvo à cintura.
Cresci a desejar fazer mergulho.
Com o passar dos anos, fui vendo tal hipótese por um canudo. Ainda fiz mergulho em apneia, mas sem rigor... só uns óculos e um tubo, não muito longe da beira-mar.
Agora, que já tenho autonomia suficiente para, querendo, financiar a aprendizagem de tal actividade, as maleitas que acumulei com a idade desaconselham tal risco acrescido. Hoje estou conformado com a ideia.
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Mas, e a vida tem destas coisas, conheci a Estrela do Mar. colega que o ano passado andava na aprendizagem do mergulho e em quem se enfiou o vício das profundidades. Ouvir as suas histórias já é animador. Mas ver as imagens recolhidas nos seus mergulhos... Caramba, que inveja.
Vejam esta moreia,
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ou este ruivo,
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ou este polvo,
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ou ainda este cavalo marinho
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Tudo presenciado e partilhado pela Estrela do Mar.
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Obrigado.

19.4.05

Anos '80 - 80 memórias (34)

Estávamos na praia e o primeiro passo era ir à zona do bar procurar uma ou duas caricas, o mais direitas possível.
Depois, escolhido o local apropriado, um voluntário sentava-se na areia e levantava as pernas que os outros agarravam. Com cuidado, para ficar o mais certinho que conseguíssemos, rebocávamos o voluntário deixando que as suas nádegas desenhassem o circuito. Curvas, contra-curvas, rectas.
Finalmente, desenhada a meta, alinhavam-se as caricas, e iniciava-se a corrida. Com um piparote, cada um na sua vez, empurrávamos as caricas ao longo do circuito em temerárias corridas de encher a imaginação.
A dada altura levávamos as caricas para casa para as encher de cera. Derretia-se uma vela para cobrir o interior da carica e argumentávamos que assim cheia tinha mais estabilidde, deslizava mais, e conseguíamos ser mais rápidos. As corridas de caricas viraram Grandes Prémios. Até que alguém, um dia, descontente com o resultado, terá iniciado uma discussão, feroz como de costume, e abandonámos as vidas de corredores.
Belos Verões, em que a minúscula praia da Parede era um mundo a pedir para ser explorado. E assim fazíamos, a pé até Carcavelos, até S. Pedro, deixando as caricas no início da puberdade, ali, em meados dos anos '80.

"Vidas" (12)


GOZO

Com uma lentidão estudada levantou a tampa do estojo. O exterior de alumínio preto revelou um interior de espuma igualmente escura. Quase reverencialmente acariciou o aço frio. Com um toque sentiu a madeira bem tratada.

Respirou fundo. Olhou em volta.

Num impulso, rápido como uma máquina, montou as quatro peças distintas: cano, culatra, coronha, mira telescópica. Num ápice dera à luz uma arma de precisão. Mortífera.

Agora, o requinte. Primeiro o enorme silenciador. Depois os cartuchos. Um a um. Cinco certidões de óbito.

Era incapaz de recordar quantas vezes fizera aquilo. Quanto dinheiro recebera para fazer aquilo. Agora já não. Desde a Bósnia que não matava ninguém. Nunca gostara do mato, pelo que hoje... Os seus tempos de sniper tinham ficado para trás. Mas não a experiência, a técnica, a qualidade dos actos.

Assim, se hoje se encontrava naquele terraço era apenas por gozo. Já ninguém largava dinheiro para que trabalhasse. Passara a ser mais um na multidão. Aliás, já não havia dinheiro que pagasse aquilo que lhe faltava.

Por isso, por prazer, erguia-se agora sobre o murete, assentando o pequeno bipé fixo ao cano. Procurou uma vítima. Ah!, que momento! Quão próximo de Deus se sentia. Escolhia quem iria morrer. Tinha o dom de terminar com uma vida, e aquela arma era o seu longo braço.

Uma velha. Não... pouco impacto.

Uma criança... nã... não via nenhuma a jeito.

Aquele bem vestido. Sim, aquele... Tem um ar feliz e bem sucedido. Nem trinta anos deve ter. E aquela gravata vermelha... mesmo a pedi-las. A cruz telescópica assentou sobre o peito do bem vestido. Esperou que ele passasse na passadeira. Compensou o vento.

Espremeu o gatilho. Um pequeno som abafado, um silvo, um clack bem oleado e um tlim de uma cápsula a encontrar o chão, rebolando.

Três segundos durou a morte a atingir aquele rapaz. Três segundos, uma pancada cava, um tipo que cai projectado para trás enchendo de sangue uma camisa branca. Tudo numa rua quase a mil metros dali.

Sentiu no estômago a tremura habitual. Um gosto especial. Tinha que ser rápido a escolher outro alvo, antes de sair dali, não fosse alguém olhar para cima.

Uma grávida. AH!, essa sim, não falharia nas notícias. A mulher tremeu, gritou de dor, e caiu para trás. Bolas!, falhara o ventre e agora já nada podia fazer.

Mais um. Só mais um. Dois, naquela janela. Enrolados. Nus. Sim, percebia-se através dos cortinados. Largou as restantes munições e imaginou-os mortos sobre uma cama de vermelho empapada.

Recolheu as cápsulas deflagradas, guardou-as no bolso e desmontou o longo braço. Sabia que era bom. E que não perdera o jeito. Daqui a uns meses repetiria a brincadeira. Pelo gozo! Noutra cidade que não Lisboa.

18.4.05

Quanto pesa a vida?

Quanto pesa a Vida?, a Alma?, o Amor?, a Culpa?
Alejandro Gonzalez Iñarrito procura a resposta em "21 Gramas", mais um dos filmes em reposição no Ávila e que vi este fim-de-semana.
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Que hei-de dizer sobre o filme?
Gostei da realização e da montagem que trazem algo de novo na forma de compreender a acção, em saltos sucessivos no tempo contínuo. Contudo, quando as peças do puzzle já fazem sentido, o artifício parece estar a mais. A história é, sem dúvida, boa, e intensa, tornando o filme pesado pela seriedade do tema.
Resumidamente, diga-se que Benicio Del Toro, criminoso procurando a regeneração sempre difícil atropela e mata um homem e as suas duas filhas. Atormentado pela culpa vive a vida em ruínas e descrê no Deus em que sustentara a sua redenção.
Sean Penn, homem com os dias contados, vai receber o coração do homem morto. Com a vida familiar em cacos procura a viúva do seu novo coração.
Naomi Watts, a viúva que perdeu igualmente as duas filhas, acaba por alimentar a sede de vingança que inicialmente despreza.
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Contudo, para mim, o filme falhou. Onde? Em Penn e Watts. As suas interpretações desagradaram-me e emprestaram ao filme um excesso que falsifica a crua realidade que este exigia. O seu registo é demasiado mainstream de Hollywood. Pedia-se mais flexibilidade, mais criatividade, mais veracidade. Ao invés, Penn é igual a tantos outros personagens que já fez. Pode ser mania minha, mas não me lembro de nenhuma interpretação de Penn que me agradasse. Esta foi mais uma marca negra.
E é pena. Porque o filme merecia melhor.
Ainda assim, é um filme a ver.

Plumagem

Desde há muito tempo que os paleontólogos vêm defendendo que os dinossauros não seriam "lagartos" primitivos (pelo menos não todos), mas também antepassados das aves.
O filme "Parque Jurássico" defendeu essa posição coerentemente na concepção dos ditos animais, e nas palavras do personagem interpretado por Sam Neil. Há já um século que alguns fósseis permitiram avançar com a ideia das penas em dinossauros.

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Porém, foi na China, e recentemente, que foram feitas descobertas massivas de fósseis de dinossauros plumados. Tudo para ver aqui, no Museu Nacional de História Natural, numa exposição cujo folheto informativo poderá aguçar o apetite para uma espreitadela.

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São € 4,5 para os adultos. Ainda permite ver uma incrível exposição geológica e outra sobre as minas da Panasqueira. Vale a pena ir ver. E contribuir para as iniciativas culturais em Portugal, para depois não nos queixarmos de que nada é feito.

15.4.05

Até Segunda-Feira

Vou de Fim-de-Semana. A temperatura baixou um pouco. Vou brincar assim

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"Vidas" (11)


COMBOIOS

Lentamente, a mão escorregava ao longo do peito. Entalado entre dois dedos, o cigarro ardia, soltando para o ar o veneno não aspirado. A mão, cheia de marcas de antigas crostas, suja, descaía ao milímetro, numa câmara lenta exagerada. O fumo abandonava-se numa espiral descuidada.

O torpor daqueles dois era doloroso. Sentados num banco na estação de comboios, encaixados um no outro, ambos viam a realidade através de um filtro opiáceo. Ela, de olhos fechados, murmurava palavras desconexas, quase sem mexer os lábios gretados, desérticos. Uma das suas mãos apoiava-se no tronco de verde escuro vestido do companheiro. Também nela um cigarro ardia, já esquecido da última vez que fora fumado.

Mas era a mão dele que escorregava. Num derradeiro acto de vontade subira aos lábios igualmente doentes para que algum fumo fosse aspirado. Mas ali ficara, a cinza a aumentar, o cigarro a diminuir. E enquanto a heroína ganhava terreno à consciência, a mão ia descaindo, vagarosamente.

Aos poucos a ponta incandescente aproximou-se da mão dela. Mas nenhum dos dois nisso reparou. Nenhum deles estava já capaz de reparar em qualquer coisa para além do sonho intravenoso.

A mão desceu. Desceu. Desceu. Até que por fim a ponta do cigarro se encostou às costas da mão que no tronco dele repousava. O calor do braseiro de imediato transformou a pele, a carne, queimando-a num acto de destruição. As células morreram e os centros nervosos foram incapazes de um aviso sequer. Nem uma reacção. Nem um reflexo. Apenas combustão.

Sentado no mesmo banco, senti o cheiro a carne queimada sobrepondo-se ao nocivo fumo tabágico. Doeu-me aquela queimadura. Aquela insensibilidade. Indiferença. Como pode alguém cair na merda quando a merda está à vista de todos?

Enquanto a carne ardia lentamente, o comboio chegou. Ergui-me. Entrei. Parti. Eles perderam o último comboio.

Havia já muito tempo que tinham perdido o último comboio.

Maçonaria

Figuras como a da maçonaria preocupam-me.
A existência de um grupo de pessoas com fidelidades ocultas e agendas secretas, que se movem subterrânea e transversalmente a toda a sociedade fere o meu sentimento de liberdade.
Não há dúvida que na maçonaria (e falo apenas da portuguesa por dela ainda haver algum eco) estão incluídas figuras de relevo da sociedade. Políticos, dirigentes, juízes, advogados, gente que ocupa cargos no poder legislativo, executivo e judicial.
Aparentemente farão o seu trabalho de forma normal e adequada, tanto que não levantam problemas. Porém, existem intenções assumidas em privado que certamente condicionam decisões públicas, qui ça, distorcendo-as.
Esta semana veio a público que alguém, nos quentes dias que se seguiram ao 25 de Abril, se apoderou de uma lista com os mais de três mil informadores da PIDE, cujos esbirros foram a mais cruel face do regime fascita que sufocou Portugal. Numa decisão que julgo errada, escondeu essa lista e guardou-a. Se calhar pensou que iria haver uma caça às bruxas, uma vingança visceral sobre esses informadores e quis evitá-la. Ensina-nos a história que a moderação imperou no meio do radicalismo. Ainda assim, mais de três mil pessoas que considero inqualificáveis, permaneceram impunes.
Os agentes da PIDE davam a cara. Eram conhecidos e cometiam e cooperavam com as atrocidades do corpo pidesco. Após a Revolução (com R, e grande), os que por cá ficaram, responderam por isso (nem todos, pois uns até vieram a beneficiar de uma pensão durante um dos governos de Cavaco).
Porém, os informadores, os "bufos", eram a imagem mais viscosa, lamacenta e abjecta de um sistema cruel. Sem se mostrarem, denunciavam e estragavam a vida ao lutadores da liberdade, bem como àqueles que, por acaso, os incomodavam. Tinham um nojento poder que usavam na sombra, sem coragem para o assumir.
Mas, voltando à maçonaria, é curioso como agora reaparece esta lista entregue às mãos da maçonaria. Agora. Trinta anos depois. Será que entretanto foi usada essa lista? O poder que representa? Ou os "listados" colaboraram na decisão de a ocultar? Então, porque reaparece? Agora?
O que é a maçonaria?
A dúvida perturba-me. Muito.

14.4.05

Medicina

No Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, está uma exposição temporária do espólio da Faculdade de Medicina. São peças centenárias que nos dão a conhecer tempos antigos, nos quais não quereríamos adoecer.
A exposição tem objectos incríveis que fazem galopar a imaginação e apenas deixa um sabor a pouco quando atingimos o seu fim.
Mas, então, é só subir a escada e ir ver a peça fenomenal de Bosch (As tentações de Santo Antão), o tríptico em exposição no Museu.
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(painel esquerdo)
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(painel central)
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(painel direito)
Se não for por tudo o mais, isto já justifica a ida ao Museu.
O bilhete não é caro. Aos Domingos de manhã, não se paga a entrada. Vale a pena lembrar que os nossos museus não são só para turistas. E se quando vamos ao estrangeiro procuramos os museus de lá, por que raio não vamos aos nossos?

Eterna Magia

Aproveitando o ciclo de reposições do Ávila, ontem fui ver mais uma fita perdida, "Finding Neverland", em português, "À procura da Terra do Nunca".
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A história de J.M. Barrie, escritor de Peter Pan, e a forma como se inspirou para produzir tal obra de eterna magia. Soberbamente interpretada por Johnny Depp, um actor por quem nutro particular admiração, e realizada com segurança por Marc Forster, esta é uma película que relata a realidade pincelando-a com a magia que corria nas veias de quem criou Peter Pan, a eterna criança que gostaríamos de ser.
É um filme maravilhoso, com surpreendentes interpretações das crianças envolvidas, em particular do miúdo que faz de Peter (que não Pan) e que merece ser visto e revisto, e guardado no cantinho dos filmes mágicos.

13.4.05

Os civis que se governem

Este texto que encontrei no Jaquinzinhos diz muito sobre a forma como os Governos Civis actuam, e como se governam os civis com os conhecimentos suficientes. O certo é que, pingo a pingo, um ror de dinheiro é assim distribuído.
A leitura do texto deixa algumas dúvidas quanto aos critérios de distribuição. Se é certo que auxiliar certas instituições ou associações civis que beneficiam a sociedade em que se inserem é positivo, a forma como é feito, e as quantias aplicadas permitem questionar a utilidade da coisa. Eu sei que o texto é longo e nem todos têm tempo para o ler exaustivamente. Se se aborrecerem a meio, não se esqueçam de ler o último parágrafo. Vale a pena.
E obrigado ao Jaquinzinhos pela informação a qual obtive, por vias travessas.

Anos '80 - 80 Memórias (33)

Os anos '80 foram o auge do jipe português, o UMM, as iniciais de União de Metalo-Mecânica. Quem não se lembra daquele monstro de linhas quadradas, conforto reduzido, barulho acentuado e uma garra inimitável?
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Naqueles anos o conceito de jipe era muito distinto do de hoje. Um jipe não era um veículo de luxo, com o qual as pessoas gostavam de andar só para se mostrar. O jipe era um carro de trabalho, e de paixão. Ninguém hesitaria em meter um ÛMM na lama, nas pedras, no ribeiro. Estão a ver os actuais proprietários de Mercedes ML, Porsches Cayenne, ou BMW X5 a fazê-lo? Claro que não. Agora um jipe não é para fazer essas coisas. Isso era então.
A grande, grande vantagem do UMM era o preço. Lembram-se dos jipes não pagarem Imposto Automóvel? E depois apenas 50% do IA? Tudo isso foi por causa do UMM. Como a quota de mercado dos jipes era reduzida, concedeu-se o benefício fiscal para incentivar a venda de UMM's. Quando o nicho de mercado foi descoberto e explorado pela generalidade das marcas, evoluindo o conceito de jipes, já a UMM deixara de produzir. Foi tempo de acabar com tal redução do IA.
Se quiserem espreitar a história da marca, cliquem aqui.
Desportivamente, o UMM teve coroas de glória.
Desde cedo, os UMM provaram ser os mais resistentes, tendo conseguido um feito ainda hoje notável: chegar a Dakar nos três anos de participação com todos os carros que saíram de Paris.
Em 1982, participaram 3 UMM e chegaram ao final os mesmos 3!Em 1983, à partida eram 4 UMM e à chegada também 4! Em 1984, à partida eram 2 UMM e à chegada também 2!
De destacar também a excelente temporada internacional do piloto Pedro Cortês em 1984, com três terceiros lugares conseguidos no Rali do Atlas, 24 horas de Mauleon e Baja Aragon
(esta informação foi retirada do site da UMM).
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Ao fazer uma pesquisa para este 'post' descobri na internet uma comunidade de aficcionados do UMM como nunca tinha imaginado. É bom saber que estes veículos despertam paixões como os Land-Rover...

Quantidade vs. Qualidade

Foi anunciado pelo Governo que a remuneração dos médicos nos Centros de Saúde deverá ser calculada segundo dois critérios: uma parete corresponderá ao salário base; a outra parte será calculada consoante o número de consultas efectivamente realizadas, com acréscimos pelas visitas domiciliárias.
MAis uma vez caímos no eterno dilema da qualidade vs. quantidade, cujos resultados costumam, normalmente, evidenciar o verdadeiro espírito português.
Antes de mais, têm que ser estabelecidos limites diários de consultas que os médicos podem fazer, sob pena de haver quem tente bater o recorde do Guiness de consultas num dia. Porém, tal poderá não ser suficiente, ou equilibrado.
Num dia de surto de gripe, as consultas poderão suceder-se rápida e eficazmente, e o médico despachar-se muito antes da hora. Lá temos o desperdício de meios, porque o Doutor poderia satisfazer as necessidades de mais doentes, ao mesmo tempo que, porventura agradecido, aumentaria o seu pé de meia. Em contrapartida, pode haver um dia em que os doentes parecem com sintomas e doenças que exigem maiores e mais prolongadas atenções. MAs o mesmo Doutor poderá cair no raciocínio perverso de querer despachá-los mais depressa, para assegurar o mesmo pé de meia.
Desde pequeno que oiço histórias de médicos nos centros de saúde que apenas passam receitas a pedido, e nem sequer fazem uma verdadeira consulta. Assegurar, por este serviço, o mesmo acréscimo no ordenado que o devido por uma verdadeira consulta para diagnosticar uma doença...
Estão a ver a perversão. E, considerando a natureza dos portugueses, que cruza a sociedade de alto a baixo, e ainda transversalmente, é de prever que muitos médicos aumentem as suas "consultas" breves, para aumentar os seus rendimentos.
Como conseguiremos ultrapassar estas contradições?

12.4.05

"Vidas" (10)


GRITOS

"Europa". "Pedro Nunes". "República Portuguesa". "1990". "Escudos". "100". Tanta mensagem numa moeda só. Moeda que rodopia, rodopia, rodopia.

A moeda roda na mesa até perder o balanço. O som muda até que, por fim, a moeda pára.
Oiço um grito. Mais um grito para a morte.

"Cala-te!, não posso mais ouvir a tua voz, matraca enfezada. Como pode um ser tão pequeno fazer tanto barulho?"

Faço rodar novamente os cem escudos bicolores. Mais uma vez o impulso se perde. O irritante som do metal no tampo da secretária sobrepõe-se ao mundo. Aplico uma concentração autista na elipses desenhadas pela rotação, procurando ignorar o mundo exterior. E a moeda pára.

Oiço um grito. Mais um grito para a morte.

Oh!, como pode alguém sobreviver à partilha de um dia se o silêncio é uma ausência? Como posso caçar se a vizinha afugenta a presa? Como posso concentrar-me se quem partilha o meu espaço continua a massacrar os meus tímpanos com uma aguda diarreia?

Faço rodar a moeda e olho as elipses a desvanecerem-se. A moeda pára.

Oiço novamente a voz.

Com calma, abro a gaveta da secretária de onde extraio um revólver guardado como prova. Aponto cuidadosamente. Disparo.

Oiço um grito. O grito da morte.

As ideias escoam pelo buraco na minha têmpora.

"Olha, Deus existe... e não é uma Tartaruga".

O coelho castanho de Gallo

Aproveitando o ciclo de reposições do cinema Ávila fui ver o "The Brown Bunny", de Vincent Gallo que me tinha escapado o ano passado. Ciente da polémica que rodeara o filme, ia preparado para o melhor e para o pior, tal a disparidade de comentários e críticas que então lera.
Hoje, visto o filme, ainda não sei como o classificar. É, sem dúvida um filme estranho, tal como o seu criador.
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Ao longo da minha vida de cinema, apenas por uma vez saí da sala sem ver o filme até ao fim. Uma vez. Foi com o filme "Ossos", de Pedro Costa. E até conheço gente que gostou mesmo do filme. Eu, porém, não aguentei e abdiquei do resto da projecção.
Pois bem, se estivesse sózinho a ver o " The Brown Bunny" tinha saído da sala aí pelos 20, 25 minutos.
Ainda bem que fiquei.
A história é boa. A realização imaginativa e com uma fotografia de qualidade elevada. A contemplação sossega, apesar da incompreensão que nos assola durante o correr do filme. As interpretações... minimalistas. Agora, acho que cabia tudo numa curta-metragem, para aí com meia-hora. No filme, tudo é esticado para lá do tempo que julgo adequado. Mas, afinal, é Vincent Gallo quem decide e eu um mero espectador. Mas até a célebre cena de sexo oral vai para lá do necessário, num exercício de pornografia explícita cuja função é muito discutível.
Vincent Gallo é um tipo estranho, e isso revela-se no seu trabalho.
"The Brown Bunny" é um filme estranho.

8.4.05

Aproveitem o bom tempo

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O fim-de-semana está à porta. Aproveitem-no bem. Também eu pretendo fazê-lo.

Anos '80 - 80 memórias (32)

Porque ainda estamos longe da memória nº 80, e porque há já algum tempo que a esta série não voltava, cá vai mais uma recordação. Desta vez, o tema passa pelas carcaças, especialmente, as carcaças com manteiga.
Nos idos anos '80 o pão era completamente diferente dos dias de hoje.
Por exemplo, lembro-me de não haver pão fresco ao domingo, pois nesse dia não abriam padarias. Durante o resto da semana, ao entrarmos numa padaria, podíamos escolher entre: carcaças (ou papo-secos), pão saloio (ou dito de Mafra), pão de forma e, por vezes, cacete. E mais nada.
Pelo preço e pela durabilidade, lá em casa o habitual era haver carcaças para o dia, e pão saloio para as matinais torradas.
A imagem que hoje guardo das carcaças não podia ser pior. Não sei porquê, pois que as comia com prazer apesar de apenas lhes pôr manteiga, ou marmelada. Naquela fase do início da adolescência, em que crescemos a olhos vistos, lembro-me de lanchar três carcaças para enganar o apetite insaciável que então me assaltava. E não pensava que as carcaças fossem sensaboronas.
Seriam realmente assim tão más como as de hoje?
Se calhar não.
Hoje em dia podemos escolher dezenas de tipos de pão, que se vende nas padarias, nas pastelarias, nos supermercados, no hipermercados, acabado de fazer, ou preparado para o fazermos em casa. E, meus amigos, as carcaças de hoje não podiam ter pior aspecto. Não só nunca parecem frescas, como se assemelham a esponjas gastas.
O pão saloio continua a existir. Mas hoje é preciso um curso para o comprar. Ele já não se chama assim. Agora é o de mistura, o mafrinha, o mafra, o sei lá de nomes que são dados aos diferentes tipos de pão que se acumulam em sacos ou expositores à espera da moeda que os levará.
Falando de pão deixo aqui os meus favoritos. Quando se vai para Santa Cruz, vindo de Torres Vedras, passa-se por Silveira. Logo no início há um moinho à beira do lado esquerdo da estrada. Aí encontrarão um extraordinário pão com chouriço, pão com bacon ou pão com torresmos (estes dois apenas ao fim-de-semana).
Nessa mesma Silveira, mais à frente, depois da rotunda e do frango à maneira, há uma entrada do lado esquerdo que tem uma tabuleta a dizer "pão quente". Aí está o melhor pão que conheço. O de trigo e o de milho.
Recentemente descobri uma casinha na Parede, junto à estação da CP, chamada precisamente "Pão quente a toda a hora", que tem uma bolas "de Mafra" que, quase sempre quentes, são de comer e chorar por mais.
Finalmente, mais industrial e mais acessível a todos, no Carrefour fazem um "pão rústico", enorme, que se for comprado ainda quente é muito, muito bom.
Esta conversa abriu-me o apetite... e ainda são apenas 08.00 da manhã...

7.4.05

Vidas (9)


COMPORTAMENTOS

Havia anos que o seu comportamento se repetia. Dia após dia, mais certo que um relógio suíço. No emprego era conhecido como o autómato. A sua pose rígida, o olhar vazio, a pontualidade doentia. Colegas de anos nunca o ouviram pronunciar uma palavra. Nem "bom-dia". Ninguém sabia como era, o que pensava.

Chegava às 8.30, às 16.30 erguia-se e saía. A secretária sempre arrumada. Nem um papel desviado. Nem um clip ou um elástico perdido.

Em casa a organização era implacável. Uma fotografia de hoje comparada com outra de há dez anos atrás não teria diferenças. Tudo no mesmo sítio. Tudo limpo.

No dia 11 de Novembro cumpriu a sua rotina diária sem um único desvio. Às cinco da tarde entrou em casa. Como se deslocava a pé para o emprego, nunca corria o risco de se atrasar. O percurso era feito a um ritmo, a um passo certo. Demorava sempre o mesmo tempo.

Entrou. Despiu o casaco que, com rigor, depositou no guarda-fatos. Sentou-se no sofá da sala, frente a um tabuleiro de xadrez, e jogou uma partida contra si mesmo. Quando terminou, repôs as peças nas casas iniciais e sorriu.

Sorriu.

Toda a casa pareceu iluminar-se com um gesto que era desconhecido. Desde que lá morava que aquelas paredes não viam as extremidades de um par de lábios esticarem-se e tentarem chegar às orelhas.

Levantou-se. Foi à casa-de-banho. Olhou-se ao espelho.

*

Nunca se apurou porque saltou da janela da sala, vinte e três andares acima do solo.

Palavra Gulosa


Uma das coisas que me dá grande prazer é estar à volta de uma mesa, com uma boa refeição, rodeado de amigos, ou apenas conhecidos, que sejam bons conversadores.
O ritual gastronómico é tanto do meu agrado que o cultivo o mais que posso, apesar das actuais dificuldades para o fazer, neste dia-a-dia que nos ocupa.



Vamos por partes. Eu gosto de uma boa tertúlia. Tenho especial prazer em estar envolvido numa boa conversa, ouvir histórias, contar histórias, discutir opiniões. Já não gosto, porém, quando os intervenientes se exaltam e tornam tão emotivos que começam a gritar e a tentar impôr os seus pontos de vista. Mas, normalmente, encontro-me perante conversas agradáveis. Mesmo quando aparecem pessoas desconhecidas até então, que por via de amigos comuns se juntam à tertúlia, a dinâmica mantém-se, até sendo muitas vezes melhorada. Não sei se já repararam mas quando conhecemos muito bem o nosso interlocutor, já discutimos com ele tantos temas que acabamos por saber a maioria dos seus pontos de vista.
Outra coisa da qual gosto muito é comer. Por mais que me tente mentalizar para uma cada vez mais óbvia necessidade de perder peso, sou completamente inábil para gerir uma dieta, pois gosto de refeições longas e apetitosas, cheias de coisas que, aparentemente, "fazem mal".
O ideal é, sem dúvida, juntar as duas coisas. O repasto e a tertúlia. Com bom vinho a regar a comida, e o relógio esquecido para não interromper.
Um restaurante particularmente bom para esta combinação chama-se "O Carlos" e situa-se em Benagil, no Algarve. É o único restaurante que conheço que é membro da "Slow Food Association". Serve apenas jantares (convém marcar mesa, ou não se passa da porta) que começam pelas 20.00 horas e que acabam para lá da meia-noite.
Em casa, gosto de estar à vontade à volta da mesa e nem me aperceber das horas que morrem no prato e na palavra.

Qualquer dia fundo uma tertúlia gastronómica.

6.4.05

Primeira vez

Foi a minha primeira vez.
Pela primeira vez comprei algo pela internet. E no e-bay, ganhando um leilão.
Qual velho do Restelo, destilando pessimismo, segui o procedimento, gastei o dinheiro e fiquei ansiosamente à espera do produto.
Chegou rapidamente. Correu tudo muito bem. Agora já posso dizer que fiz compras na net.

5.4.05

Para a Estrela do Mar

Agradecimento público
O Urso Polar deixa consignado aos quatro ventos da Blogsfera que o arroz de marisco feito pela Estrela do Mar seguindo religiosamente (ou quase) a receita do livro do Pingo Doce estava muito bom. Se repeti, foi mesmo porque gostei.
A tarte de maçã e nozes, também estava boa, se bem que aí a conversa teve o dom de deixar esturricar um pouquinho a massa.
O Urso Polar deixa igualmente consignado que está disponível para experimentar outro prato qualquer. É só convidar...
Obrigado, Estrela do Mar. Creio que todos os presentes gostaram tanto quanto eu.

"Vidas" (8)


LONGE DE MAIS

Tinha ido longe de mais. Quase de certeza que tinha ido longe de mais. Desta vez ultrapassara os limites.

Havia muito que Natalino tinha esta fixação por pernas e collants. Todo ele tremia quando uma mulher de saia curta cruzava as pernas envolvidas em meias de lycra, de nylon¸ do que quer que seja que os collants são feitos. A textura lisa, a doce carícia de uma fibra...

Gostava tanto daquilo que em casa, acompanhado pela sua solidão, vestia collants e com eles passeava em cima dos sapatos amarelos de salto alto que um dia subtraíra numa sapataria cheia de gente.

Aqui há tempos já tinha feito uma de artista da qual se safara por pouco. De uma loja, através da montra partida à pedrada, retirou cinco pernas de manequim, todas com meias e uma, imagine-se, com liga. Porém, o barulho e o alarme obrigaram-no a fugir através do escuro das ruas apertadas, com as pernas debaixo do braço.

Ahhhh... mas em casa, Oh!, deleite! Deitado na cama com aqueles cinco pés, pernas, a tocarem-lhe enquanto nu as afagava. O frio do plástico aquecido pela imaginação doente levaram-no ao êxtase, à dolorosa exaustão de uma fantasia.

Por isso, agora fora longe de mais.

Quando as pernas sintéticas perderam o brio de outrora, começou a sentir uma atracção cada vez mais forte pelas suas irmãs de carne e osso. Andava o mais possível de transportes públicos, onde sempre se sentava estrategicamente, de modo a ver um pedacinho mais ousado de carne. Na rua, torcia o pescoço enquanto mulheres por si passavam. Em casa babava-se frente à televisão, ansiando por imagens que fossem mais além.

No quarto, as pernas de plástico jaziam a um canto sobre as revistas de moda e os catálogos de lingerie. Não queria pornografia!, queria pernas, um pouquinho para além da imaginação.

Por isso agora achava que tinha ido longe de mais.

"Mas agora é tarde de mais para recuar", pensou, enquanto corria novamente na escuridão das ruas estreitas. Debaixo do braço mais um par de pernas, cujas meias destruíra, rasgando-as com o serrote que igualmente carregava. Tudo gotejava sangue.

A sua vítima ficara para trás, tombada ao abandono junto aos contentores do lixo, exangue, mutilada.

4.4.05

Filmes


Afinal o dia até foi correndo bem, e arranjei um tempinho para falar dos dois filmes que vi este fim-de-semana. Dois grandes filmes. Filmes bons, sólidos, muito bem interpretados e que dão por bem aplicado o tempo despendido no seu visionamento.

Clint e Hilary já não é apenas o casal Clinton.
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Clint Eastwood a realizar e interpretar e Hilary Swank a estrelar formam uma parelha com direito a ser lembrada no futuro. "Million Dollar Baby", a última realização de Clint "Dirty Harry" Eastwood é um filme de uma criativade, sensibilidade e emotividade notáveis, que me fez esquecer o aclamado "Mystic River" que tão má memória deixara (sim, eu não gostei particularmente desse filme).
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Clint atrás da câmara mostra dominar as técnicas clássicas do cinema, a arte de contar uma história, mostrando-a. Do outro lado da lente mostra quão longe está dos tempos de "do you feel lucky today, punk?", assumindo a idade que tem de forma que o seu personagem é igualmente velho.
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A seu lado, Hilary Swank volta a estar ao seu melhor (lembram-se de "Boys don’t cry"?) e enche o ecrã com o seu vigor, a energia e emoção que deposita numa personagem solidamente construída. Ainda assim, preferia que o Oscar tivesse caído para a "Vera Drake"...

Este filme está acima da média, e caberá no saco dos filmes de culto, particularmente se falarmos de boxe. Felizmente o filme não é só sobre boxe. É sobre a vida, os sonhos, a realização pessoal e os fantasmas do passado.
É sobre Clint e Hilary.

O Cinema Ávila permite-nos ir ver filmes que saíram de circulação e que, por uma razão ou outra, deixámos escapar. Foi o caso de "Diarios de motocicleta" (Os diários de Che Guevara) de Walter Salles.
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Belíssimo retrato da América do Sul, e com estatuto de fidelidade factual, este filme revela a viagem que terá pesado muito na definição do que "Che" Guevara veio a ser. O futuro guerrilheiro é soberbamente interpretado por Gael Garcia Bernal num filme de grande beleza humana e paisagística.
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Sem dúvida, a ver.

Mais um FDS

Passou mais um fim-de-semana.
A morte do Papa dominou toda a comunicação social. Mesmo antes das exéquias fúnebres estarem concluídas já abriu a bolsa das apostas para o seu sucessor. A velocidade da nossa sociedade mediática atropela tudo e todos sem deixar tempo para a contemplação.
A menos que nos esforcemos para encontrá-lo.
Vi dois filmes no cinema. Dois bons filmes. Assim que tiver tempo deixo o meu comentário sobre eles. A semana avizinha-se ocupada. Procurarei não deixar fugir o tempo para "blogar".
Porém, por agora, há outras prioridades

1.4.05

"Vidas" (7)


PONTOS

Na sala de interrogatórios o ambiente estava pesado. A luz disparada pelo poderoso foco aquecia o ar e denunciava os fumos que se erguiam dos vários cigarros acesos. No chão irregular, alguma água, restos de baldes lançados à cara de quem já desfalecera. Um inspector, um chefe de brigada e dois agentes, perfilavam-se na penumbra atrás do foco.

Exposto às agruras dos 500 watts, algemado a uma cadeira, suado, encharcado, vermelhão, ensanguentado, encontrava-se o interrogado. Havia já cinco horas que o espremiam. Nada saía cá para fora. Cinco horas a espremer um ponto negro e nada. Nada!

O inspector, cansado, deixara as perguntas ao chefe de brigada o qual exigia dos agentes aquilo que de melhor tinham: os músculos. Músculos. Força. Era preciso muita força para espremer um ponto negro daquele tamanho.

Por fim, exausta, a vítima daqueles quatro acabou por ceder. Então deitou tudo cá para fora. Quilos e quilos de sebo e pus. No fim, o sangue. Os agentes, por estarem mais perto, sentiram-se enjoados, engasgaram-se. Um nó na garganta. Acabaram por vomitar.

O inspector ordenou: "Comportem-se, meninas! Limpem esta merda e tragam o ponto final. Temos de o espremer ainda hoje."

Vida e Morte

Terry Schiavo morreu. Finalmente, a sua polémica existência terminou. Há quinze anos em coma, com extensas lesões cerebrais, sem capacidade para sentir ou entender, foi artificialmente mantida viva. O que não é o mesmo que dizer que sobreviveu.
Para além das questões éticas inerentes ao tema da eutanásia (recordo o apelo para que não percam o "Mar Adentro"), este caso deixou-me mais uma vez espantado com o sistema judicial norte-americano. Todos os dias ouvia falar em novos recursos, novos Tribunais, novos mecanismos legais. Mas aquela gente não tem (apenas) um Tribunal competente para conhecer de uma questão, e um ou dois graus de recurso como nós? Como se vive sem direito à certeza jurídica?
Por entre o carnaval americano montado à volta de Terry Schiavo, por gente que certamente não estaria minimamente preocupada com ela, mas sim com os seus dogmas fundamentalistas, veio o Presidente Bush defender o respeito pela vida humana, e a sua preservação.
Os iraquianos não podiam estar mais de acordo, não é?
O Papa João Paulo II está, finalmente, à beira da morte. Digo finalmente porque tenho dificuldade em ver alguma dignidade na forma pública como combateu as doenças que o enfermam, sempre sujeito a aparições públicas que legitimam questionar a veracidade dos comunicados do Vaticano sobre a sua lucidez ou capacidade de comunicação.
O esforço, o sacrifício, exigido ao Papa nestes últimos dias combinam com a missão que abraçou? Pelo menos combinam com a imagem de sacrifício defendida, e publicitada pela Igreja Católica como modelo de virtude.
Vêm-me à memória relatos dos últimos dias de Ronald Reagan e penso o que seria se, ao invés de aguardar a morte na calma pacífica do seio familiar fosse obrigado a aparecer em público, a falar (balbuciar) palavras incompreensíveis e por trás anunciassem a sua capacidade para o exercício das suas funções.
O peso da figura do Sumo Pontífice leva à mediatização do seu sofrimento. Acho que a Igreja Católica capitaliza com isso.
Perturbam-me os corredores daquele poder.
Para acabar num tom positivo, deixo uma palavra de regozijo para o feito ocorrido em Espanha. Três linces ibéricos nasceram em cativeiro.
Quando a população selvagem está reduzida a cerca de cem exemplares, que todos os anos morrem vários exemplares atropelados, vítimas de incêndio florestal ou às mãos de caçadores bandidos, este é um passo positivo para a preservação da espécie.
Recorde-se que em Portugal, há dois anos, desconfiava-se que, a haver algum lince ibérico, seria apenas um, algures na Serra algarvia. Depois vieram dois anos de monstruosos incêndios. Não será difícial concluir que apenas em Espanha poderemos ver estes maravilhosos gatos selvagens.