28.11.06

Casino Royale


O meu primeiro filme de James Bond foi o “007 – Missão ultra-secreta”, tinha nove ou dez anos (o filme é de 1980) e foi com excitação que segui as sequências subaquáticas ou o assalto final em que a Bond-girl usava uma silenciosa besta com uma precisão mortífera, e me ri com piadas infantis como a do papagaio a falar ao telefone, no fim do filme. Vi-o no defunto cinema da Parede, e tive dificuldade em perceber a dinâmica da sequência inicial, que nada mais tem a ver com o resto do filme.
Creio que saltei um filme pois só me lembro de ver no cinema o “007 – Perigo Imediato”, com sequências fabulosas em Paris, como seja a fuga de Grace Jones saltando de pára-quedas da Torre Eiffel e a perseguição ao volante de um Renault 11 que se vai desfazendo com os acidentes que Bond provoca, acabando cortado ao meio, puxado pelas rodas da frente.
Foi assim que me habituei a ver os filmes de Bond. Películas de espionagem que de espiões pouco tinham, mas com muita acção e muita ficção científica, muitas cenas impossíveis. Quando na televisão davam os filmes com Sean Connery não gostava dos ver apesar do meu pai defender sempre que ali é que estava o homem, o genuíno, o verdadeiro Bond. Para mim, Bond era Roger Moore.
Depois veio o inenarravel Timothy Dalton que em dois filmes arruinou a imagem de Bond. E de repente, quando repetiam os filmes na televisão, qualquer deles, já não os conseguia ver com gosto. Veio Pierce Brosnan e Bond voltou a ter estilo. Pelo menos isso. Muito estilo. Mas pouca verosimilhança, tal a fantasia que acumulavam os filmes, nos quais os inimigos tinham os planos mais irreais, e se aproximavam cada vez mais de vilões de banda desenhada.
-
Agora veio Daniel Craig, e a produção fez agulha, voltou às raízes e fez o melhor filme de James Bond de sempre. O agente é humano, fica ferido, tem sentimentos, mas esconde-os, é frio para poder fazer o seu trabalho, e é dedicado ao mesmo. Corre, luta, dispara como nunca o fez. É credível no papel de um “espião” que afinal é um agente pouco secreto, pouco discreto, e muito dedicado ao homicídio em nome do seu Governo.
O filme não tem “gadgets” irreais, antes pequenas peças tecnológicas que, muito provavelmente, já existem e não estarão a muitos anos de aparecerem no mercado. Não tem um vilão de banda desenhada. Tem um banqueiro bandido com recursos “normais” que o dinheiro pode pagar (um grupo de seguidores e várias localizações para se acoitar). Tem uma cena de tortura em que o próprio vilao diz que nunca gostou de torturas muito elaboradas. E é simples e dolorosa. Bond não é m palhaço com piadas sempre prontas. É um tipo arguto com discurso fluente e imediato. A Bond-girl é interessante e dúbia. O enredo não é linear e deixa-nos a tentar adivinhar o que se seguirá. E não acaba com Bond enrolado numa mulher, ignorando os seus deveres profissionais.
“007 – Casino Royale” é o melhor filme de Bond de sempre. Com a pior música-tema de sempre.

23.11.06

007

Bond, James Bond.

Sinais preocupantes

Anda para aí a ser divulgada a ideia, a ver se pega, e ainda por cima ligada ao caso Camarate, para pescar o apoio do PSD, da criação de um lugar de Procurador junto da Assembleia da República.
Não escrevi logo sobre a questão por achar que era apenas mais uma atirada à parede, só que estou em crer que desta feita o barro agarrou.
O princípio divulgado foi o de que, sempre que as comissões parlamentares concluissem que tinha havido crime, tal Procurador teria que abrir um inquérito e investigar. Dentro das competências do mesmo incluir-se-iam os casos de terrorismo e atentados ao Presidente da República. En passant, acrescentaram os crimes praticados por titulares dos orgãos políticos.
Não ficou claro se tal Procurador seria oriundo da carreira do Ministério Público ou não. Também não interessa, pois seria alguém que responderia primeiro perante a AR do que perante o PGR.
Grave é a ideia que os crimes dos políticos eleitos passariam a ter um foro especial de investigação, e ainda por cima ali juntinho a si...
Mas, como disse, a mensagem passou a ser colada ao caso Camarate (já lá vão 26 anos, lembram-se?) e de repente leio que se uma comissão parlamentar concluísse que havia crime, então o Procurador teria que levar a questão a julgamento. O quê?!
Pelos vistos o trabalho da comissão parlamentar passaria a ser o inquérito. Que teria uma decisão final não fundada em critérios de estrita legalidade, mas sim de oportunidade política.
E depois seria apenas necessário criar comissões parlamentares quando a questão fosse incómoda para decidir acusar ou não acusar e assim instrumentalizar um dos passos da justiça.
Sou só eu a achar que estão a meter a foice em seara alheia?


"Carmona aprova obra 'proibida' pelo Governo

O promotor do loteamento previsto para as azinhagas das Salgadas, da Veiga e da Bruxa e para a Rua de Marvila - ontem aprovado pela Câmara de Lisboa - pode vir a exigir do Estado uma indemnização superior a 60 milhões de euros."


Assim se vê como pode o Estado poupar dinheiro.
Tenho um pressentimento que os "privados" que ganharam um direito para converter em dinheiro à custa de guerrilhas institucionais não têm nada a ver com a urgência da decisão, nem são amigos do executivo camarário.
Não obstante poderem clicar no link acima, eu conto a história em duas penadas. Está a ser estudada a linha do TGV naquela área e a ligação à margem sul por ponte a nascer em Marvila. O Governo pediu à Câmara para que não autorizasse nada para aquele corredor até serem tomadas as decisões que se exigem. A CML, dizendo que o Governo está a demorar muito e não tem que lhe fazer as vontades, aprovou um projecto gigante exactamente para a zona do previsível futuro corredor.
E assim se vai, cantando e rindo...

21.11.06

Ilusão


"O Ilusionista" é um filme que nos faz desejar estar num cinema antigo, com cadeiras como as que tinha o S. Jorge, com aquele cheiro a mofo característico das salas anteriores aos cinemas de centro comercial.
Não quero com isto dizer que o filme cheire a mofo. Mas é um filme feito à antiga, dependendo da história e dos intérpretes, mas sem laivos de genialidade nem grande capacidade de entretenimento. Não é cinema-espectáculo nem cinema de autor, como hoje em dia parece que todos os filmes têm que ser. Talvez por isso não agrade a muita gente.
A história, engraçada, é bem transposta para o filme por Neil Burger, só que não chega a criar suspense pois é totalmente previsível. Todas as pistas estão lá para quem as quiser ver, e nem precisamos de nos esforçar muito. A história conta-se em duas penadas: ilusionista pobre gosta de condessa que vai casar com o príncipe malvado; tudo fazem para ficar juntos apesar dos esforços do príncipe que tem para o ajudar o inspector, o qual é mais esclarecido que ambicioso e navega nas águas da ambiguidade até ser iluminado para o final.
Edward Norton não investiu grande coisa no seu personagem, creio, e intrepreta-o em piloto-automático. Já Paul Giamatti constrói um excelente inspector de polícia, e emprega os seus melhores dotes vocais enquanto narrador. Jessica Biel passeia a sua beleza muito subtilmente filmada, carregando uma aura que ilumina o écran.
No computo geral também eu me mostro exigente e, apesar de ter gostado de ver o filme, apenas lhe daria 2 em 5 numa escala de avaliação. Não é desperdício de dinheiro comprar o bilhete... mas há filmes muito melhores para ir ver na sala do cinema aí em exibição. Este suporta bem o DVD ou a emissão televisiva.

20.11.06

Dez mil

543 posts depois, o Sitemeter informa que já tive 10.035 visitas. A brincadeira começou no dia
10.10.03 com um texto que tinha por título BEM VINDOS ÀS MINHAS REFLEXÕES.
Numa altura em que fazer um blog era uma brincadeira, nunca pensei estar aqui a escrever três anos depois e com mais de dez mil visitas.
A todos os que por aqui passam, o muito obrigado. Enquanto estiverem por aí fará sentido continuar a publicar estas linhas.


Em Paris



O filme de Christophe Honoré não conseguiu encantar-me. Talvez o problema seja meu. Ou talvez não. Mas o certo é que ao invés de criar uma empatia com os personagens, desde o início que antipatizei com todos eles. Talvez estejam muito bem representados e sejam mesmo pessoas irritantes. Ou talvez me fizessem lembrar certas pessoas da minha juventude universitária, para quem a vida era um drama e as relações vividas "até à morte" (Romain Duris), ou a vida era um ligeiro suceder de relações frívolas que se expunham aos mais próximos à leia de contabilidade do sucesso (Louis Garrel). Ou mulheres que se submetem mas ao mesmo tempo se fazem fortes e de acção em contradição mantém relações destrutivas (Joana Preiss).

Depois, certos pormenores da realização que se pretendem notas de originalidade também me tocaram no nervo da irritação, como sejam as cenas em que os actores estão estáticos, sem falar, mas ouve-se a conversa que continua...

PElo meu critério, coloco este filme a meio da tabela. Creio também que dependerá muito do dia em que se vá ver. Se estamos bem dispostos, e de moral elevado o filme provavelmente irá irritar-nos.

15.11.06

Castanhas

(fotografia roubada, claro está)
Esta semana o calor despropositado despediu-se num glorioso Verão de S. Martinho. Ontem o frio adequado para meados de Novembro já se fazia sentir, instalando-se abruptamente e tornando a hora de almoço um agradável passeio ao sol com as orelhas frias.
é esta a melhor altura para comer umas castanhas assadas, não obstante o exorbitante preço que os vendedores de rua cobram, demonstrando a concertação de preços e negação da concorrência. € 2,00 a dúzia, que a vida está má para todos e os vendedores de castanhas também têm que fazer pela sua.
Este ano a castanha está boa, carnuda, saborosa e sem podridão aparente. É tirar a barriga de misérias, cozida, com erva-doce, assada, em puré, nas sobremesas ou nos pratos principais, a castanha está aí ao nosso alcance. E garanto-vos que, com dias como os que temos agora, sabe mesmo bem comer castanhas.
Entretanto, para hoje é anunciada uma mudança de tempo. Chuva e vento, agora com o adequado frio.
Arrumem-se os calções. Libertem-se as pantufas. Enrosquem-se e contemplem. Pressinto que este ano vamos voltar a ter neve...

13.11.06

Infiltrações - "I smell a rat"



O último filme de Martin Scorsese é um remake de uma obra de Andrew Lau, cineasta de Hong Kong que em 2002 realizou "Infernal Affairs". Para a nova versão americana, o realizador de peso escolheu actores do mesmo gabarito, e por isso temos a contracenar este jogo de ilusões, e desilusões, actores como o cada vez mais maduro, cada vez melhor (para mim no seu melhor papel) Leonardo diCaprio, o seguro Matt Damon, Mark Wahlberg com falas brilhantes de ritmo e humor envoltas em dureza e cinismo (pena não se ver mais vezes, este actor), e um veterano Jack Nicholson, excessivo q.b. para compor um personagem que é um excesso.

Regra geral os remakes de Holywood deixam muito a desejar. Neste caso não posso comparar com o produto original, porque não o vi, apesar de me lembrar perfeitamente dos trailers. Por isso mesmo, o argumento era uma novidade e fui sempre avançando em suspenso para a cena seguinte, inseguro a té ao fim sobre a forma como a narrativa iria encontrar o seu desfecho.

Por isso, mesmo sem saber o nível do filme de Hong Kong, posso dizer que "The Departed" é emocionante, cativa, enreda-nos nos jogos de enganos que os personagens insistem jogar contra todas as regras de auto-preservação, e deixa-nos uma sensação de satisfação só possível nos filmes bem orquestrados.

Por falar em orquestra... impõe-se uma palavra para a banda sonora, variada e adequada a cada cena, pela intensidade e qualidade dos seus intérpretes.

Para terminar, apenas direi que só há uma cena escusada... pois a sua ironia é obscurecida pelo irreal da situação. O último plano, no qual o olhar é chamado à cúpula dourada, dispensava a presença do roedor comedor de queijo.

8.11.06

Modernices



Quando recebia o diário da República em papel nunca me aconteceu querer ler um despacho do Ministro da Justiça

Despacho n.º 22654/2006, D.R. n.º 215, Série II de 2006-11-08
Ministério da Justiça - Gabinete do Ministro


e encontrar isto:


Página não encontrada
A página que tentou aceder não se encontra nos servidores do DRE.
Por favor verifique o endereço a que tentou aceder.
Para esclarecimentos ou em caso de dificuldade de acesso a este serviçopoderá contactar-nos pela nossa Linha Azul (dias úteis das 9h00 às 12h30 e das 13h30 às 17h00).
Página Inicial Voltar atrás

A consulta das Bases de Dados do DRE não dispensa a consulta do D.R. original
Linha Azul: 808 200 110 e-mail:
dre@incm.pt Assinaturas para 2006
Copyright © 1997-2006 INCM - DRE

7.11.06

Coppola


Sofia Coppola anda a habituar-nos mal. Começou com as perturbadoras Virgens Suicidas. Continuou por caminhos contemplativos de depressão e esperança em Lost in Translation. e agora brindou-nos com um vivo e sentido Marie Antoinette.

Segura da sua criatividade, não só recria de forma incrível a corte do final da monarquia francesa, como introduz um olhar diferente sobre a mesma, pelos olhos de uma miúda que se fez rainha. Não um olhar inocente mas sim iluminado pela sabedoria dos conhecimentos actuais, pelos padrões da actualidade. É, por isso, evidente a noção de que, aos treze anos, Marie Antoinette ainda era uma criança, por mais adulta que à data pudesse ser, de acordo com os padrões então vigentes.

Esta deturpação da idade é relevante e anima a película, filmada com a reconhecida sensibilidade da realizadora e a dedicação dos actores no retrato dos seus personagens. É, sem dúvida, um filme para ver enquanto ainda está fresco.

Dúvida a Metro

Alguém me sabe explicar porque razão, em dia de greve, estando os portões da estação de Metro encerrados, as escadas rolantes da Baixa-Chiado estão em funcionamento?
Então e a poupança de energia?