28.12.07

À bomba e ao tiro

A líder da oposição paquistanesa, Benazir Bhutto, foi vítima de um bem pensado ataque. O mesmo gajo deu-lhe dois tiros e explodiu a seguir. Ao contrário do atentado de Outubro, desta feita conseguiram liquidar a senhora.
Assim se faz política num país que está armado com armas nucleares e que nunca se conseguiu perceber bem se é carne ou peixe.
Viva a estabilidade política mundial neste fim de ano.

26.12.07

Vem aí o Ano Novo

Dia 26 e Lisboa está a meio-gás. As crianças estão de férias, os pais metem dias para ficar com elas, arrumam-se as tralhas desarrumadas nestes últimos dias, deitam-se fora toneladas de papel fantasia rasgado. Gozam-se prendas recebidas, arrumam-se outras e esquecem-se algumas das "lembranças" que mais não fazem que ocupar espaço. Já não se vêem crianças na rua a brincar com os novos brinquedos, exibindo-os e comparando-os com os dos amigos porque já não se vêem crianças a brincar nas ruas. A maior parte goza as ofertas vendo-as ou jogando-as num televisor, numa actividade privada e sem contacto humano.
Hoje é um dia de corrupio na FNAC. Se passarem por lá verão inúmera gente a trocar prendas por outras coisas (ai os talões de oferta) e outros dando uso aos cheques-oferta com que foram brindados.
O Pai Natal não trouxe nada da lista do Urso Polar. Porque será?
Mas trouxe algumas coisinhas muito agradáveis. Entre outras destaco estas três

Rapidamente toda a gente só pensa no Ano Novo. Onde ir, com quem ir, o que fazer, vestir, como evitar  parecer um desgraçado porque não há planos antecipados, porque não se quer ir para confusões, porque há quem prefira ficar em casa a ir para o meio de desconhecidos, porque é ilógico achar que a entrada de um novo ano é um marco sem sentido.

24.12.07

Votos de Natal

Na mesa já estão o bolo-rainha, o mafarrico, as azevias, as broas, os sonhos e as filhós vindos da pastelaria Doce Camélia, de Mafra, a minha favorita desde que a descobri em 2002 quando para Mafra fui trabalhar. 
À volta da árvore acoitam-se prendas para distribuir à meia-noite.
Lisboa está calma, quase sem trânsito, pois aqueles que aguardaram pela última hora para fazer as compras de Natal devem estar a entupir Colombos, Vascos da Gama, Amoreiras e outros que tal. O sol decidiu aquecer o ambiente, e eu vou estar por aqui, gozando a calma de um dia em que nada tenho que fazer, pois a jantarada este ano é em casa da minha irmã e já criei a bela mousse de chocolate que tenho que levar.
Para todos vós, leitores assíduos ou esporádicos do estaminé gelado deste grande Urso-Polar, desejo um Feliz Natal, com a família, os amigos, e algumas surpresas agradáveis no sapatinho para alegrar a quadra.

22.12.07

Juízes e Procuradores - De nada serve a independência sem autonomia

Como se esperava o Tribunal Constitucional considerou que a disposição que incluía os Juízes na lei das carreiras dos funcionário públicos violava a Constituição. Ainda assim, quatro Conselheiros votaram contra e outros três fizeram declarações de voto. Nem por acaso, todos eles foram nomeados pelo PS.
Como Cavaco foi coerente com a sua mesquinha visão judiciária, não julgou que a inclusão do MP nessa norma lhe suscitava dúvidas constitucionais. Por isso o TC não se pronunciou sobre o MP e está aberta a porta para o PS deixar ficar os magistrados do MP naquela lei, como um passo mais para ferir a sua autonomia.
Não se compreenda mal. Eu acho que  estatuto do MP não tem que ser igual ao dos Juízes porque só estes são titulares de orgãos de soberania. Porém, esse estatuto não pode ser beliscado na autonomia daqueles que conduzem a investigação criminal e decidem quem deve ser julgado. E autonomia traduz-se na estrita obediência à Lei, sem influências de outros critérios a esta alheios.
Porque, meus caros, de que serve ter Juizes independentes, se os Procuradores não são autónomos. 
Como podem os Juízes exercer essa independência, se os Procuradores manipularem aquilo que levam a julgamento. De nada adianta ter uma foz pura e linear, se a montante se desvia o rio e controla todo o seu fluxo.

20.12.07

Conto de Natal

Lamentou não ter trazido as luvas ao sentir as mãos geladas que seguravam o guarda-chuva abanado pelo forte vento. O dia cinzento, chuvoso, frio desaconselhava caminhar pelas ruas excepto em caso de real necessidade, mas ele fazia-o porque nada mais tinha para fazer. Porque nada mais queria fazer.

Ao fim de meia-hora calcorreando as ruas alagadas, as calças encharcadas, os pés e mãos gelados, o nariz e as orelhas completamente insensíveis, chegou à Baixa da capital onde ainda muita gente corria da porta de uma loja para a porta de outra loja em busca do calor condicionado, onde o trânsito se entupia em tromboses rodoviárias, com condutores escudados por detrás de vidros fechados e aquecimentos ligados no máximo, buzinando impaciência.

As iluminações de Natal, este ano sem os exageros do passado, conferiam àquelas ruas uma alegria que não contagiava as pessoas. As suas expressões espelhavam intolerância, cansaço, obrigação, apagando qualquer traço da felicidade apregoada para a quadra.

Presentes eram comprados e embrulhados e papeis de cores garridas mas os olhos de quem pagava traduziam apenas a sensação de um dever cumprido, de uma obrigação descartada. O artigo não era escolhido pelo seu valor para o presenteado, mas pelo peso na carteira do ofertante, pela rapidez com que decidia “isto, e mais isto e mais aquilo, e estou despachado”. E de loja em loja carregavam sacos, exibiam cartões de crédito, acumulavam inutilidades e olhavam para o relógio calculando quando chegariam a casa.

Ele não acompanhava esta lufa-lufa natalícia e olhava com distanciamento para a azáfama de última hora como se fosse um extra-terrestre a fazer um trabalho de campo procurando perceber o que movia a espécie humana. Ele não comprara um único presente em 2007, porque não tinha ninguém a quem o ofertar. Pela primeira vez numa vida de quarenta anos nada sentia pela quadra natalícia. Nem sequer o stress que presenciava. Estava anestesiado pelo frio que corria o seu ser, por dentro e por fora.

Recordou anos passados, nos quais buscava as ofertas uma a uma, dedicando tempo e mil cuidados para que fossem mesmo ao encontro dos desejos daqueles que presenteava. O livro perfeito, a tecnologia mais indicada, a iguaria excêntrica e delicada para ser degustada em cerimonial de prazer, a entrada para o espectáculo que seria citado durante anos e anos como um dos melhores de sempre.

Recordou como aos poucos aqueles que queria junto a si no Natal se afastaram, por vontade própria ou pela própria vontade da Natureza. O seu pai, uns anos antes. A sua mãe, havia seis meses. Apesar da mágoa eram perdas previstas, estando ainda por descobrir o elixir da eterna juventude. O seu irmão mais velho estava longe, no Brasil, com a mulher e três filhos e não falava consigo. Cruzaram-se no funeral da mãe e a única coisa que lhe disse foi “Tratas tu de tudo ou precisas de ajuda?”. A resposta foi dada com um olhar de desdém e mais não disseram durante dois dias. O irmão estava morto desde que casara com a sua antiga namorada.

Este ano ficara finalmente só. Depois de se despedir da mãe perdeu a mulher que partiu sem se despedir. Um dia chegou a casa e viu o guarda-fatos vazio, a prateleira dos CD’s a meio. os livros entremeados por espaços que não existiam. Na casa de banho faltavam os seus cremes, pós, líquidos, tudo aquilo com que implicava diariamente e que só então viu que tanta falta lhe faziam. Nem um adeus, uma palavra, um telefonema. Fora tudo meticulosamente calculado, o telemóvel estava cancelado, os pais dela e os amigos comuns fechados em copas, apregoando uma ignorância que apenas traduzia que tinham escolhido um lado.

A festa de família que desde pequeno o excitara era agora um amargo vazio. Lembrar-se da bicicleta BMX, do computador ZX Spectrum, da aparelhagem Pioneer, que durante anos e anos foram os melhores presentes alguma vez recebidos pelo Natal, apenas aumentava a dor do vazio que agora sentia.

A espera pela meia-noite em casa dos avós, depois dos pais e dos tios, finalmente em sua casa, sempre precedida por uma ceia iluminada com velas colocadas em altos candelabros com mais de cem anos e que saltitavam de casa em casa conforme era decidido onde passar  o Natal, era um momento que ansiava todos os anos. Pouco ligava a passagens do ano, a carnavais ou outros que tanto. Era o Natal que esperava viver todos os anos, como idílio de que, pelo menos por uma vez no ano, tudo estava bem, quente e aconchegante, com sorrisos para aqueles que queria próximo de si.

Até 2007.

Parou frente à montra da pastelaria e viu empurrões desesperados para garantir os últimos bolos-rei, os últimos sonhos. Uma náusea abalou-o, virou costas e acelerou sem olhar, cruzando para o outro lado da rua.

Parar um autocarro da Carris que vai embalado a queimar os semáforos amarelos não é fácil. Especialmente quando, por um acaso, o motorista se deparou com um espaço livre suficiente para acelerar um pouco mais e criar a ilusão de que poderia recuperar algum do irrecuperável atraso que acumulara num urno de filas. Quando ele saltou para o asfalto a travagem desequilibrou os passageiros que iam em pé e dificilmente se seguraram. Ffoi atingido com uma pancada seca que o projectou vários metros para a frente da besta amarela.

Injuriado por muitos, amaldiçoado por muitos mais, que viram aumentar o engarrafamento e atrasar o regresso a casa, ficou no meio da estrada a aguardar o INEM que voou gritando pelo meio do trânsito para o socorrer. Ossos partidos, traumatismo craniano, escoriações deixaram-no no hospital por três dias.

E durante três dias não esteve sózinho. Partilharam consigo uma ceia que nem conseguiu comer, entregaram presentes e recebeu um inesperado livro com sudokus para preencher as horas vagas, estimaram-no e cuidaram de si. Pessoas que nunca vira, médicos e enfermeiros que estavam de serviço em vez de acompanharem as sua famílias e mesmo assim sorriam. Voluntários que preferiam estar ali à noite com uma palavra de apoio, um carinho, um presente para minorar a solidão de quem tinha que ficar no Hospital.

Nesses três dias percebeu que nunca ficaria só no Natal. Que sempre estaria disponível para, como voluntário, ir em busca de gente mais só do que ele, e juntos aquecerem uma noite que para si tanto significava. 

17.12.07

Democracia

Na Madeira existe um jornal diário com tiragem de 10.000 exemplares, cujo capital é detido a 100% pelo Governo Regional. Já aqui se vê como está em causa a democracia, quando um orgão de governo tem o seu próprio meio de comunicação social.
Porém, Alberto João Jardim não estava satisfeito com esse controlo (que até já vai para além do que aconteceu com Berlusconi, porque aí era ele o dono dos meios de comunicação social, e não o governo italiano). Por isso, a partir de Janeiro, o Diário da Madeira passa a jornal de distribuição gratuita, e vê a tiragem aumentada para 15.000 exemplares. Tudo à custa do erário público.
Depois pede mais dinheiro do "Governo colonialista do Continente".
Assim se vê a Democracia na Madeira.
E Madeira, não esqueçamos, é Portugal.

12.12.07

Carta ao Pai Natal

Desde há dois anos que faço nestas páginas uma carta aberta ao Pai Natal na esperança que ele oiça e atenda, pelo menos, um dos meus pedidos. Pedir não custa, mas o pouco que tenho alcançado dos meus pedidos tem sido à custa de investimento próprio.

Por exemplo, o ano passado pedi:

a) uma Canon EOS 5D; e comprei eu próprio a Canon EOS 40 D como já então previa;

b) uma viagem aos ursos polares no Alasca; e o mais que alcancei foi uma viagem a Berlim, com muito frio mas sem neve nem gelo, nem sequer uma visita ao pequeno Knut;

c) um home cinema; e fiquei-me pelo leitor de DVD com disco rígido que comprei, deixando cair a necessidade de colunas a ocupar espaço na sala;

d) um clube de snooker nas redondezas da minha casa; e nem vê-lo;

e) e um Jaguar XK; ... está mesmo a ver-se, não é? ;o)


Por isso, este ano volto a fazer cinco pedidos. Cheira-me que em 2008 apenas um deles será satisfeito, e não por oferta. Adivinham qual?


1.º - Um Segway.

Agora que a Polícia Municipal se passeia pela Baixa lisboeta montada nuns aparelhinhos destes, fiquei mesmo com vontade de ter um. Para deixar de andar, de fazer exercício, para molengar... para armar ao pingarelho, não?

2.º - Um Omega Seamaster.


Sempre quis ter um destes relógios, sem o 007. Mas como é coisa "barata", os relógios que tenho são mais Swatch. Por isso, era tempo do Pai Natal desencaminhar um destes para o meu pulso.


(Sim, é verdade, gosto de ter relógios, vários, acumulados numa caixa, para todos os dias escolher um para usar. Manias. Antes isto que a droga, não?)


3.º - Uma viagem à Patagónia e Terra do Fogo.


Faz parte do meu imaginário. Infelizmente não posso estar de férias na melhor altura para lá ir. Quem sabe, um dia destes, se isso não muda?


4.º - Um curso de vela de recreio.


Depois de umas voltas em Hobbycat, está na altura de aprender e experimentar uma coisa assim.



5.º - Depois do DB9 e do Jaguar XK, que tal um Ferrari 612 Scaglietti? Ficava-me bem, asseguro-vos.


Atenção, escolher novas prendas não quer dizer que as antigas já não sejam desejadas. São-no, mas não faz sentido repeti-las aqui. Se alguém quiser oferecer o que ficou para trás, esteja à vontade, o.k.?

11.12.07

Poeira para os olhos

Agora que a poeira assentou, e todos podemos ver com mais clareza, o que ficou da cimeira Europa-África deste fim-de-semana?
Fotografias de circunstância para os sedentos de protagonismo, acordos comerciais para os mais afortunados, e discursos vazios que hoje ninguém lembra.
Para os povos de ambos os continentes o que mudou? O que mudará?
Nada.

10.12.07

Memória

Anda perdida pelas páginas deste blog a iniciativa "anos '80 - 80 memórias", à espera de um segundo fôlego que crie os 30 "posts" que faltam. Mas este fim-de-semana lembrei-me de coisas mais remotas, seguramente dos anos 70, quando era um magro petiz. Para não achar que sou louco, ou demasiado velho, será que alguém se lembra de:
- bolvitas (o que me lembro serem os primeiros cereais para crianças, capazes de seduzir, o que os corn-flakes naturalmente não conseguiam);
- milupa cenoura (alguém se lembra de haver uma papa milupa com sabor a cenoura?);
- pirulitos (cujas garrafas com berlinde de vidro para evitar que o gás se perdesse são hoje objecto de arqueologia industrial);
- Condor, Mundo de Aventuras, FBI, Guerra, como a BD que se lia;
- notas de 20 escudos com o Santo António;
- de não haver pão ao domingo;
- Gino Olivieri e Guido Pancaldi (os árbitros dos jogos sem fronteira);
- carros de instrução que eram sempre VW Carocha ou Peugeot 504)?
Com tempo provavelmente me lembrarei de outras. Por agora fico por aqui.

6.12.07

O prometido é devido


O último filme de David Cronenberg traz-nos de novo Viggo Mortensen no principal papel, desta feita acompanhado de um excitado Vicent Cassel e de uma calma, muito calma, Naomi Watts. E Mortensen encarna um personagem que parece flutuar onde toda a gente quer protagonismo, numa clara manifestação de que devagar se vai longe, e mais vale passar despercebido que dar demasiado nas vistas.
A accão passa-se no seio da máfia russa e por vezes temos a sensação de que o esteriótipo estava exagerado, que o retrato cultural pecava por excesso. Mas se calhar não. Se calhar é tal qual acontece com a filmografia da máfia italiana. Tem que ser assim, porque até é assim na vida real.
A accção passa segura e mostra-nos a violência para lá do que Cronenberg expusera no último filme. Desta feita o "gore" acontece, o sangue, a carne cortada, o som, a textura da violência saltam do ecran e invadem o nosso olhar. Impróprio, pois, para pessoas sensíveis. Mas também para quem gosta da violência gratuita, porque no filme nada é gratuito. Tudo está bem pensado, estruturado, cuidado.
As interpretações seguras enchem a realização cuidada e imaginativa. No fim, ficamos com a sensação que vimos um filme de qualidade superior à média, sabendo, contudo, que não é um filme inesquecível.

5.12.07

Correndo atrás do tempo

Depois daqueles dias em baixo com a constipação, há uma semana que andava a recuperar o tempo perdido. Creio que neste momento, dei o passo mais difícil. Amanhã entra tudo nos eixos, e espero vir contar-vos da última ida ao cinema e outras coisitas que merecem comentário.
Por ora, só este desabafo.
Ufa!

4.12.07

Bomba

Em Lisboa já se morre à bomba com engenhos tão bem preparados que matam o condutor de um carro e poupam os seus passageiros. É outro nível. É preocupante saber que o banditismo já atinge este grau de sofisticação.
Por outro lado, as probabilidades de sermos um "dano colateral" fica reconfortantemente reduzida.

Noite

A vizinhança do meu blog acaba de perder um dos seus elementos. A Noite decidiu mudar de ares e deixou de habitar este cantinho da blogsfera.
Descobri-a há quase três anos, acabadinha de estrear a sua casa neste bairro, através de outros amigos que também já se afastaram, os Periscópio-Quatro, e cedo me habituei a espreitar as suas histórias, de mãe, de aluna, de emigrante, ocidental em Macau, de fotógrafa expondo-nos esse longínquo mundo a Oriente. Sem nunca ter estado frente a frente com a Noite, sinto que a conheço o suficiente para que, se amanhã esbarrássemos um com o outro, poder perguntar-lhe por onde andava, o que fazia, como costumamos fazer àqueles amigos que fomos perdendo no tempo.
Tenho pena que se afaste, o que já suspeitava desde que, após o Verão, a vi renitente a escrever. Cá para nós, esteve a fazer a cura de desintoxicação, a ver se conseguia viver sem escrever no seu blog. Conseguiu. E por isso parte.
Espero pelo seu regresso, quem sabe, noutras condições.
Espero pelos seus comentários, porque também sei que, mesmo sem escrever para todos nós, vai andar por aí a ver que palermices dizemos.
Até breve, Noite.