28.2.07

O regresso anual do Tio Óscar

Lá foram entregues os Óscares. Este ano, ao contrário de outros passados, não foi premiado um blockbuster que esmagasse os outros. O mais nomeado "Babel" foi arrasado, não alcançou as principais estatuetas que foram divididas entre vários filmes. Contudo, não posso deixar de notar que "The Departed" e "Little Miss Sunshine", dois dos filmes nomeados que mais gostei, mereceram prémios de relevo. O melhor argumento Original e o melhor argumento adaptado foram entregues a estes belos filmes.
Tudo o mais foi previsível e anunciado com antecedência. Forrest Whitaker e Hellen Mirren são premiados encarnado personagens da vida real. Al Gore é politicamente correcto e ganha o melhor documentário. O melhor filme estrangeiro já me tinha despertado a curiosidade e por isso impõe-se vê-lo.
Para o ano há mais.

Óscares: os vencedores nas principais categorias
Melhor Filme:- "The Departed — Entre Inimigos"
Melhor Actor: - Forest Whitaker ("O Último Rei da Escócia")
Melhor Actriz: - Helen Mirren ("A Rainha")
Melhor Realizador: - Martin Scorsese ("The Departed – Entre Inimigos")
Melhor Actor Secundário: - Alan Arkin ("Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos - Little Miss Sunshine")
Melhor Actriz Secundária: - Jennifer Hudson ("Dreamgirls")
Melhor Filme Estrangeiro: - "A vida dos outros" (Alemanha, Florian Henckel von Donnersmarck)
Melhor Filme de Animação: - "Happy feet"
(George Miller) Melhor Argumento Original: - "Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos - Little Miss Sunshine" (Michael Arndt)
Melhor Argumento Adaptado: - "The Departed – Entre Inimigos" (William Monahan)
Melhor Direcção Artística: - "O Labirinto de Fauno"
Melhor Documentário: - "Uma Verdade Inconveniente"

26.2.07

Cinema por inteiro


O título fala em metade, mas "Half Nelson" é cinema por inteiro. É uma daquelas produções pequenas, sem vedetas, efeitos especiais ou grandes surpresas, que assenta na história e nas actuações. Neste caso, em particular, da actuação de Ryan Gosling, no papel de um professor do secundário a afundar-se no hábito de consumo de drogas.
Ao ser apanhado a consumir por uma aluna vai estabelecer uma curiosa e tensa relação com ela, que espelha igualmente as dificuldades que ambos vivem. A história em causa é de gente normal, que trabalha para viver e vive mal, numa américa habituada a ostentar riqueza que exibe a toda a hora, mesmo que não esteja ao alcance de todos. E assim uns ignoram-na cultivando o espírito, alimentando a luta social que está adormecida, outros são empurrados para o crime de fácil ganho.
As vidas destes personagens não acabam com o filme, e ficam à espera de um desenlace ao gosto de cada um, satisfazendo, pessimistas, optimistas ou realistas. O filme é cru, mas não duro. Tem a sensibilidade do realizador Ryan Fleck a temperar as dificuldades dos personagens envolvendo assim o público. Ainda assim..., faltou-lhe qualquer coisa.
Sabem quando saímos de um filme com a sensação que faltou qualquer coisa? Um golpe de rins, uma qualquer particularidade muito boa... Foi o que faltou para este filme ser muito bom. Fica-se por bom, com a nota 4 a chegar em cima do último gongo.
Merece, sem dúvida, uma espreitadela.
Dos Óscares falo amanhã, que hoje não tenho tempo... Mas desde já posso adiantar que, felizmente, o Babel caiu por terra, a bem do Departed e do Little Miss Sunshine.

Se ainda não perceberam...

Se ainda não perceberam, na sociedade portuguesa está em curso uma grave manobra de desacreditação e enxovalho da magistratura judicial. É desporto nacional deitar abaixo os Juízes, questionar as suas decisões sem qualquer fundamento que não o "acho que está mal" ou "o outro é que tem razão" mas sem qualquer rigor, fundamentação ou sequer sentido de justiça formal ou material, confundindo lei cível, com lei penal, com direito de família, de menores, de trabalho ou administrativo.
Qualquer pessoa com formação jurídica sabe que cada ramo do Direito tem os seus próprios princípios estruturantes, as suas próprias regras processuais, os seu específicos ónus de alegação, de prova. Direito é regra. E as regras existem para se cumprir.
Infelizmente, a comunicação social vive desregrada, porque auto-regulada, e sem uma verdadeira instância que controle os seus desmandos. E a classe política, porque lhe interessa, usa a comunicação social a seu bel-prazer para alimentar tal descrédito, posto que, no lamaçal actual que é a vida da administração pública, não interessa ter quem defenda e aplique as regras que, infelizmente para eles, um dia aprovaram.
Vem isto a propósito de um enxovalho público que uma jornalista do Diário de Notícias fez aos Juízes portugueses e que mereceu a cobertura do director do jornal (entretanto demitido pela sua incompetência na manutenção dos padrões de qualidade e resultados de mercado do jornal) que rejeitou a publicação do legalmente consagrado direito de resposta, com argumentos subjectivos ponderados por quem tem manifesto interesse na causa.
Percam um pouquinho de tempo (3 ou 4 minutos chegam) e vejam aqui no site do Conselho Superior da Magistratura o referido texto, o pedido de direito de resposta e a sua rejeição sob o título DIREITO DE RESPOSTA EXERCIDO PELO EXMº VICE-PRESIDENTE DO CSM FACE A ARTIGO DE OPINIÃO PUBLICADO NO DIÁRIO DE NOTICIAS, DE 19.01.2007.
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Tudo isto no dia em que, para começar bem, ouvi logo de manhã na rádio a absurda manipulação dos números que o Ministério da Justiça fez quanto a aumentos de produtividade por via da alteração das regras das férias judiciais. Falem com qualquer pessoa que lide com os tribunais, seja juiz, procurador do Ministério Público, advogado, funcionário ou cliente habitual e descubram a opinião de quem está no terreno. Não se deixem manipular por percentagens há muito denunciadas pela sua inconsistência. Poruqe a voz daqueles que entendem o contrário será devidamente amordaçada, amesquinhada, escarnecida por quem domina a máquina da opinião pública satisfazendo "his master's voice".

22.2.07

Dose dupla

Por alturas do Carnaval fui ver dois filmes, daqueles que estão na corrida aos Óscares.
"O Último Rei da Escócia", é daqueles filmes montanha-russa, com picos de qualidade e descidas acentuadas. Numa história de violência, imposição ditatorial e esquizofrenia assustadora pontua a interpretação de Forest Whitaker que encarna o ditador do Uganda, Idi Amin, durante o seu reinado de terror. Também James McAvoy na pele do Dr. Garrigan, um fictício jovem médico que vai para o Uganda para fugir aos pais e a ter que trabalhar com o seu egocêntrico progenitor interpreta com rigor a evolução de um jovem acriançado que rapidamente vê fugir do seu controlo o que a dado momento parecia um sonho.
Pena é que, não obstante a história ter um crescendo de violência, a opção por nos poupar ao seu lado gráfico não tenha restado até ao final, pois que escusado seria algum do sangue, tanto mais que não havia espaço para duvidar que ele manchava as mãos do ditador.
Ainda assim, um bom filme, com indubitável nota três, ali, saltitando para o patamar superior.
Depois da desilusão de "As Bandeiras dos Nossos Pais", fui com algumas dúvidas que encarei este "Cartas de Iwo Jima". Porém, neste filme Clint Eastwood esteve muito melhor.
Talvez possa sentir-se que o filme navega em águas esterotipadas, considerando a imagem que transmite dos soldados japoneses perdidos naquela ilha debaixo de fogo, mas por tudo aquilo que sei (e admito que não será assim tanto, tendo sido, seguramente, escrito pelos vencedores da 2ª Guerra Mundial) espelha a mentalidade daqueles homens, sujeitos ao rigor do fanatismo das chefias.
Eastwood mostra-nos que, na guerra, como diz o ditado, quem se lixa é o mexilhão. E o soldado será sempre a peça mais frágil, mais desprotegida, mais descartável na equação bélica. Seja ele um pobre padeiro sem coragem ou motivação para combater, mas apenas para sobreviver, seja um antigo polícia militar que ousa pensar e ter sentimentos, seja um oficial que até ganhou uma medalha olímpica em equitação e que preferiria estar a cuidar de cavalos que a usar armas em nome da nação.
A guerra é cruel, e em Iwo Jima a crueldade estendeu-se aos números de mortos, muitos por suicídio ante a derrota iminente. A esmagadora invasão americana, com milhares de soldados, apoio aéreo e naval, encontrou apenas homens escondidos em grutas, e deixados sós pela estrutura de um Império que já ameaçava ruína, sem navios ou aviões para prestar qualquer auxílio. E dessa forma lutaram até ao fim.
Neste filme, com agrado veria uma montagem que, pura e simplesmente, cortasse as cenas da "expedição arqueológica" que encontra as cartas enterrada. Porque, se algum arqueólogo trabalhar assim... deverá ser sumariamente despedido e transformado em varredor. Sem desprimor para os almeidas. Ainda assim, desta vez, chegamos à nota quatro.

21.2.07

Bicicletas a € 50,00

A ideia chama-se Lisboa Bike Tour.
Pagam-se € 50,00 e, no dia 24.06.2007, de manhã, apanha-se um autocarro da organização para a margem Sul da ponte Vasco da Gama. Aí recebe-se uma bicicleta, um capacete, uma mochila com alguns mantimentos, uma T-shirt, uma medalha e um diploma de participação. Depois, atravessa-se a ponte até ao Pavilhão de Portugal no Parque das Nações e, no fim, leva-se para casa tudo aquilo que se recebeu. Sim, também a bicicleta.

As inscrições estão abertas nos CTT e podem esgotar a qualquer momento.

Para mais informações vejam aqui . Para que tenham uma ideia do que "compram", o ano passado tinha este aspecto


Se aderirem sempre poderão encontrar o Urso Polar por lá. Eu já estou inscrito.

15.2.07

Little Children



Em português o título ficou "Pecados íntimos". E, efectivamente, este filme fala de pecados, pecadilhos, segredos que se passam na intimidade e que não se querem divulgados por mais alguém. Do onanista cibernético, do pedófilo compulsivo, à dona de casa a precisar de um abanão e que o encontra no "vizinho" que não sabe o que fazer à vida, envolvendo-se ambos em tórrida infidelidade.

O filme de Todd Field está muito bem escrito, bem realizado e montado mas, acima de tudo, soberbamente interpretado por todos os actores. Rapidamente entramos nos seus mundos e queremos saber mais, adivinhar o que se irá passar, torcer para que algo aconteça, ou não aconteça.

Ouvi falar do filme, pela primeira vez, quando foram reveladas as suas nomeações para os Óscares. Agora que o vi posso dizer, que é um filme muito bom e chega à quinta estrela. Quanto mais não fosse porque é mais uma oportunidade para ver a realística nudez da belíssima Kate Winslet.

13.2.07

Picado pelas Abelhas

Esta, também do Jorge Palma, explica igualmente muita coisa.

Picado Pelas Abelhas

Ainda mal o sol nascera
Já a multidão descera à praça principal
Era o grande ajuste de contas
E as pessoas estavam prontas a acabar de vez com o mal
Tinham sido anos a fio
A lutar com a fome e com o frio
Ao som de promessas de pão e de conforto
Agora o povo queria o poder
Já não tinha mais nada a perder
Quando um homem tem vida de cão
Mais lhe vale ser morto

O sangue correu pelo chão
Em nome da revolução e o povo acabou por vencer
Celebrou-se a liberdade
A igualdade e a fraternidade que acabavam de nascer
Mas ao chegar a vez de cada um
Trabalhar para o bem comum
Aí começaram os dissabores
E em vez de ficarem unidos
Dividiram-se em mil partidos
Lá no fundo, todos queriam ser Ditadores

E as crianças pareciam feias
No meio de tanta gente velha
Eu ouvi alguém gritar:
"Meu Deus, estou todo picado pelas abelhas!"
Picado pelas abelhas, picado pelas abelhas....

E agora um traficante com ar obsceno
Vai vendendo o seu veneno a quem trouxer o dinheiro na mão
E um consumidor diz baixinho que tem falta de carinho
Ao ser arrastado para a prisão
E um vagabundo cheio de aguardente
Diz que o desejo há-de estar presente
Até ao fim da cerimónia
Enquanto um poeta com ar cansado
Diz: "Antes só que mal acompanhado!"
E arranca para mais
Uma noite de insónia

E as crianças parecem velhas
No meio de tanta gente feia
Eu continuo a ouvir gritar:
"Meu Deus, estou todo picado pelas abelhas!"
Picado pelas abelhas,
picado pelas abelhas....

Ai Portugal, Portugal

Esgotado que foi, rapidamente, o referendo ao aborto, com os meios de comunicação social a repetir através de paineis de comentadores os argumentos cansadamente expostos durante a campanha, mas agora debaixo de uma dinâmica de vitória e derrota, voltamos ao país real.
E ao país dos meios de comunicação social.
Justiça a rodos, para a denegrir, de preferência; corrupção q.b., sem agitar muito as águas para não incomodar o peixe graúdo; futebol, Figo, Ronaldo e Mourinho, Benfica e Sporting; acidentes, desgraças e mortos; mais taxas, mais pagamentos, menos serviços a cargo do Estado; burocracia e incompetência.
Por isso... lembrei-me do Jorge Palma. Ora vejam:

Portugal, Portugal

Tiveste gente de muita coragem
E acreditaste na tua mensagem
Foste ganhando terreno
E foste perdendo a memória

Já tinhas meio mundo na mão
Quiseste impor a tua religião
E acabaste por perder a liberdade
A caminho da glória

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Tiveste muita carta para bater
Quem joga deve aprender a perder
Que a sorte nunca vem só
Quando bate à nossa porta

Esbanjaste muita vida nas apostas
E agora trazes o desgosto às costas
Não se pode estar direito
Quando se tem a espinha torta

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Fizeste cegos de quem olhos tinha
Quiseste pôr toda a gente na linha
Trocaste a alma e o coração
Pela ponta das tuas lanças

Difamaste quem verdades dizia
Confundiste amor com pornografia
E depois perdeste o gosto
De brincar com as tuas crianças

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

Ai, Portugal, Portugal
De que é que tu estás à espera?
Tens um pé numa galera
E outro no fundo do mar
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar

12.2.07

Treme-treme, gelatina

Há pouco mais de meia-hora a terra voltou a tremer. Primeiro senti o soalho a vibrar e pensei no bruto que teria batido com uma porta. Depois tentei ouvir o camião que lá fora na rua fizesse tremer cá dentro no prédio. E então o ruído que ouvi foi diferente, cavo, vindo das entranhas da terra que gemiam de vibrante dor. Olhei os quatro armários à minha esquerda e também eles dançavam.
Então pensei algo como "Acabas?, ou devo preocupar-me e fugir para a rua?" E ele terminou. O tremor de terra terminou. A Terra afastou o arrepio e acabou por não sacudir mais as pulgas do seu dorso.
Dizem nas notícias que a sua força mediu 6,1 na escala de Richter. O epicentro terá sido a 160 km para Sudoeste do Cabo de S. Vicente. Sentiu-se forte no Algarve, e pelo menos de Silves isso foi confirmado por fonte segura. Na rádio alvitram que terá sido sentido por todo o país.
Garanto que este tremor de terra abalou-me muito mais que a discussão de ontem sobre os resultados do referendo.

7.2.07



Ultimamente tenho estado tão sem energia, tão fraquinho...

Tenho mil e uma coisas para fazer, seja no emprego, em casa, com a família, como administrador do condomínio, para mim, ...

Quem se ressente é o blog, pois não tenho tido nem tempo nem iniciativa para cá vir acrescentar algo de positivo. Apetece-me encostar o focinho numa pata e dormir. Esperemos que o tempo mude, que o frio e a chuva se afastem para dar lugar a sol e um pouquito de calor. Normalmente ajuda a acordar deste torpor invernoso.

O Urso Polar está quase que a hibernar. Pede desculpa pela interrupção, mas este blog seguirá dentro de momentos.