30.1.08

Não é ser chato, nem ter a mania da perseguição...

Mas chateia-me o facto de todos os jornais que li hoje, e foram bastantes, omitirem por completo do texto e das fotografias (à laia estalinista) o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça que ontem recebeu na "sua casa", o Salão Nobre do STJ, a abertura solene do ano judicial. Para tais jornais, não importa que seja a quarta figura de Estado, que no protocolo solene apenas é precedido pelo Presidente da República, pelo Presidente da Assembleia da República e pelo Primeiro-Ministro, respectivamente por esta ordem, sendo que apenas o PR esteve presente e usou da palavra.
Hoje, o cidadão comum só falou e ouviu falar do PGR e do Bastonário da OA e da corrupção. Mas certamente sente todos os dias na pele, de forma tão ou mais grave, o cancro mais uma vez denunciado pelo Presidente do STJ: a ineficácia do edifício jurídico da lei processual civil que faz com que um condómino caloteiro, por exemplo, não pague a respectiva quota ao condomínio, e os vizinhos não tenham meios para o fazer pagar, porque uma execução dura anos, por vezes sem sucesso, e custa mais que a própria dívida que o caloteiro não paga. Isto apesar de andarmos há seis anos a ouvir sucessivos ministros da justiça a dizer que agora é que as execuções vão andar depressa. Vê-se.

F - 16

Aqui há uns anos, uma miltar da GNR-BT, que andava numa das motas da Brigada de Trânsito, dizia-me que, quando chovia, deixava de circular e procurava abrigo. Porque se tivesse o azar de cair, teria que pagar o arranjo da mota, o qual lhe seria descontado no ordenado, mês após mês, após mês...
Se na Força Aérea as coisas também forem assim, há para aí um piloto-aviador que nunca mais vê a cor do dinheiro até ao fim dos seus dias. E os seus filhos, e os seus netos e os seus bisnetos muito terão que trabalhar para pagar aquele F - 16 que caíu anteontem.

28.1.08

Para mentir nem é preciso falar

Nem de propósito, Antóno Barreto escreveu isto n' O Público:

A arte de mentir

Recompensam, com informação, os que se conformam. Castigam, com silêncio, os que prevaricam. São os assessores. Têm várias designações. Assessores. Conselheiros. Encarregados de relações com a imprensa. Agentes de comunicação. Ou, depois do choque tecnológico, press officers e media consultants. Sem falar nos conselheiros de imagem.
Povoam os gabinetes dos ministros, dos secretários de Estado, dos directores-gerais, dos presidentes e dos gestores.
Vivem agarrados aos telemóveis, aos BlackBerries, aos Palms e aos computadores.
Falam todos os dias com os administradores, directores e jornalistas das televisões, das rádios e dos jornais.
Dão, escolhem, programam e escondem notícias. Mostram aos políticos e aos gestores o que é do interesse deles. Planificam a informação. Calculam os efeitos e contam as referências feitas na imprensa. Tratam da imagem, compram camisas para os seus mestres, estudam-lhes as gravatas, preparam momentos espontâneos, formulam desabafos, encenam incidentes e organizam acasos. Revelam a intimidade que se pode ou deve revelar.
Calculam os efeitos negativos de uma decisão sobre os impostos, que articulam com as consequências positivas de um aumento de pensões. A fim de contrabalançar, colocam o anúncio de Alcochete logo a seguir ao do referendo europeu. Fazem uma planificação minuciosa das inaugurações.
Escrevem notícias com todos os requisitos profissionais, de modo a facilitar a vida aos jornalistas. Mentem de vez em quando. Exageram quase sempre. Organizam fugas de imprensa quando convém. Protestam contra as fugas de imprensa quando fica bem. Recompensam, com informação, os que se conformam. Castigam, com silêncio, os que prevaricaram. São as fontes. Que inundam ou secam.
Os jornais parecem-se uns com os outros. As notícias são quase iguais. As agendas das redacções são gémeas. Salva-se, desta uniformidade, aqui e ali, quem assina o que escreve. Os noticiários das televisões têm agendas iguais. E alinhamentos de notícias também. Os directos, grande vício da televisão portuguesa, são iguais em todos os canais.
Cada vez mais, a informação está previamente organizada, não pelas redacções, não pelos jornalistas, mas pelos agentes e pelos assessores. Quem tem informação manda em quem investiga, escreve e transmite. Grande parte da informação é encenada e manipulada, de acordo com as conveniências. Há informação reservada para melhores momentos, informação programada para dramatizar, informação inventada para divertir e informação acelerada para consolar. Isto acontece há anos. Em Portugal e no mundo inteiro.
Todos os anos, a situação piora. Com Sócrates, refinou. O poderio das organizações de comunicação é avassalador. A opinião pública não tem meios para escolher e resistir. Só a independência dos jornalistas poderia fazer frente a este domínio inquietante. Mas esta é um bem raro. Até porque os empregos na informação são cada vez mais precários.
A recente polémica sobre as agências de comunicação, novo episódio numa longa série, mostrou esta actividade no seu pior. As mesmas agências comunicam a favor dos adversários, da política e da economia, da polícia e do ladrão, do Governo e da imprensa. Do atirador e do alvo, como disse Pacheco Pereira.
Até a Entidade Reguladora para a Comunicação, sem ver os efeitos nefastos, achou por bem ter uma agência a tratar da sua informação. O Governo tem a sua. Luís Filipe Menezes também: em vez de denunciar a prática do Governo, quis imitá-lo. Foi preciso Santana Lopes, em momento inspirado, opor-se a este despotismo: "O modo e o conteúdo da comunicação fazem parte do domínio da liberdade absolutamente inalienável de cada deputado."
Luís Marques, jornalista há várias décadas e com experiência da redacção, da direcção e da gestão da informação, em jornais e na televisão, fez há poucos anos um pequeno estudo sobre as "agendas" de informação. Chegou a resultados surpreendentes. Contando apenas os grandes órgãos de informação generalistas e nacionais, com exclusão das secções mundanas e outras, havia em Portugal cerca de 1500 profissionais.
Para os alimentar de informações, os assessores, as agências de comunicação e outros somavam quase 3000. Quer dizer, por cada jornalista em actividade na informação política e económica, dois profissionais preparavam as agendas e as notícias. É esta gente que inunda as redacções com "factos", "eventos", "oportunidades" e "situações". Qualquer redacção tem dificuldade em resistir-lhe. Se, às 20h00, o primeiro-ministro sai de um lar de idosos, entra numa creche ou produz uma declaração espontânea, como pode uma redacção decidir não estar presente? É este exército o responsável por grande parte das "entradas" que, durante a manhã, enchem as agendas das redacções.Num grande canal de televisão, essas entradas podem hoje chegar às 1000 por dia, enquanto eram cerca de 100 há quinze ou vinte anos. Na agenda diária da redacção de um canal de televisão, perto de um terço das entradas (mais de trezentas...) é feito directamente pelas agências de comunicação e pelos assessores dos gabinetes e das instituições. Mais ainda, é aquela brigada que, muitas vezes, sobretudo na informação económica, redige as notícias.
Nas redacções, povoadas hoje por jovens estagiários e inexperientes, mas também por seniores preguiçosos, publicar directamente as notícias assim preparadas, ainda por cima por jornalistas e antigos jornalistas treinados, é a solução mais simples. Por isso, é frequente vermos, sem menção de publicidade, notícias económicas absolutamente iguais em vários jornais.Há quem pense que é isto a modernidade. A informação racional da época contemporânea. O sinal da eficácia. O instrumento da transparência. Mas desenganem-se os crédulos. O objectivo dos assessores e das agências de comunicação é sempre o de defender os interesses do autor da informação, nunca do destinatário, do cidadão. A única preocupação do agente é a de vender o mais possível, nas melhores condições, bens ou ideias, mercadorias ou decisões. Os agentes de comunicação não defendem os interesses dos compradores, dos consumidores ou dos espectadores, mas tão-só dos vendedores, dos produtores e dos autores. Apesar de pagos pelos eleitores, servem para defender os eleitos. Este é o mundo em que vivemos: a mentira é uma arte. Esta é a nossa sociedade: o cenário substitui a realidade. Esta é a cultura em vigor: o engano tem mais valor do que a verdade.
ANTÓNIO BARRETO PÚBLICO 27.01.2008
(por intermédio do In Verbis, onde fui "roubar" o texto citado, porque no site do jornal está reservado a assinantes)

Famílias que apetece conhecer

Wes Anderson conseguiu realizar mais um filme inesquecível. Desta feita, com a simplicidade de colocar três irmãos, que não se reuniam desde o funeral do pai, em busca da mãe, pelas remotas paragens da Indía, símbolo de busca espiritual ao qual querem aderir.
Daqui resulta um retrato intimista dos três irmãos manifestamente "danificados", com evidentes mazelas sentimentais,  que acompanhamos com o humor já habitual que Anderson põe nos seus filmes, como em "The Royal Tenenbaums" ou "Life Aquatic with Steve Zizou" nos levam pelas paragens exóticas de uma India a convidar ao turismo.
Mais uma vez Owen Wilson assume um papel principal num filme de Anderson, bem acompanhado por Adrian Brody e Jason  Scwartzman, este repartindo a escrita do argumento. Bill Murray e Anjelica Houston começam igualmente a ser presenças assíduas nos filmes deste realizador que assim são, cada vez mais, um produto de família. Um produto de 5 estrelas.

Máquinas

Não posso ser rigoroso no meu comentário ao Evil Machines ao ponto de lhe chamar uma crítica, talvez por me faltarem conhecimentos alargados, nomeadamente por comparação, para verdadeiramente vislumbrar os aspectos técnicos da coisa. Daí que tenha que ser muito subjectivo.
Gostei bastante do espectáculo criado por Terry Jones e Luis Tinoco, numa fábula infantil com quesões igualmente adultas, interpretada com tamnha vida, cor, luz, e uma música perfeitamente encaixada.
Os figurinos das máquinas são incríveis e a sua interpretação excelente. As letras, cantadas em inglês, podem ser acompanhadas na legendagem electrónica para quem tiver mais dificuldade e o riso está garantido, de forma segura mas não alarve.
Vale, sem dúvida, a pena ver este espectáculo, que em Portugal fez a sua estreia mundial. E esperar que, por perto do seu lugar, não fique uma crinacinha daquelas que não se cala e que os pais não têm a decência de sair da sala para não incomodar quem pagu € 30,00 (1.ª plateia) para ver o espectáculo sossegado.

O ensurdecedor silêncio

Não me alongo muito. O I Congresso Ibérico do Poder Judicial do qual falei no último post correu sobre rodas e culminou com a aprovação de 20 conclusões e uma magna carta do poder judicial que pelo seu relevo mereciam divulgação, especialmente num momento em que todos os dias os Tribunais são notícia e os Juízes desancados na comunicação social.
Mas o silêncio de quase toda a comunicação social foi ensurdecedor, e as rádios, as televisões e os jornais nem sequer se deslocaram ao Supremo Tribunal de Justiça onde o evento correu. Os mesmos meios de comunicação que na véspera apregoavam estar perante um evento da maior importância. A excepção foi o JN que noticiou o que no Salão Nobre aconteceu.
Para mais opiniões, para além do link acima onde até podem ver reportagem fotográfica e dar uma vista de olhos sobre os documentos aprovados no congresso, espreitem também o Blog de Informação.
Mas não deixem de pensar como foi possível calar toda a comunicação social (ou quase), de um dia para o outro. Controlando a informação, tem-se verdadeiro poder.
E são estas as linhas com que nos cosemos.

24.1.08

Ibéria

A semana passada foi notícia a reunião governamental entre Portugal e Espanha.
Amanhã, no Salão Nobre do Supremo Tribunal de Justiça, reúnem-se representantes dos Juízes de Portugal e Espanha, numa iniciativa representativa de 7.000 Juízes.
O ICongresso Ibérico do Poder Judicial pretende discutir e reflectir sobre a importância do Poder Judicial, sobre os princípios que o devem nortear e sobre o seu relacionamento com os demais poderes soberanos.
É uma reflexão muito importante, quando em Portugal e em Espanha se vivem momentos de manifesta tentativa do poder político cercear o poder judicial. E por isso, é a primeira vez que se juntam todas as estruturas representativas dos Juízes, quer de um país quer do outro, numa iniciativa comum.
Não deverá ser escamoteada a importância deste evento. Esperemos que não seja "abafada" nos meios de comunicação social, nem que surja um conveniente "soundbyte" para desviar a atenção dos mesmos. E esperemos que a reflexão conduza a conclusões claras e pertinentes que possam depois ser apresentadas quer à população quer aos governantes.

21.1.08

Não acreditem em tudo o que lêem (*)

O último filme de Woody Allen é muito, mas muito bom. Não acreditem em tudo o que lêem (*), porque não compreendo como há críticos a indicar uma ou duas estrelas a este filme, classificando-o como uma obra menor de Allen. Cassandra's Dream está muito bem escrito, realizado e interpretado, inclusivamente pelo canastrão do Collin Farrel que tem um excelente desempenho.
O filme corre num crescendo de incerteza, no qual estamos sempre à espera do que poderá correr mal àqueles dois rapazes que cruzam a derradeira linha e caem no dilema ético de quem vive com o peso moral de ter morto alguém. Desde que se lhes coloca a possibilidade de passarem a ser assassinos, até ao fim do filme, as consequências dos seus actos mostram-se devastadoras na essência humana, afectando-os de forma diferente mas comprometendo a alma de ambos. E enquanto para uns o céu está sempre azul e solarengo, para outros as nuvens adensam-se num tom sobrio que o crescendo da música de Philip Glass acentua conduzindo-nos ao final súbito que deixa para o correr do genérico final a interiorização de toda a força deste filme.
Não liguem, portanto, às opiniões que relegam Cassandra's Dream para a prateleira dos filmes fraquinhos, de baixa classificação. Este filme de Woody Allen, para mim, merece sem dúvida cinco estrelas.

(*)Obviamente que, discordando, podem sempre não acreditar no que digo. Mas garanto-vos, gostei mesmo muito deste filme.

16.1.08

Publicidade de intervenção

Em Entrecampos, um anúncio da Super-Bock diz:
"Perfeito, perfeito perfeito, era saber para onde foi a Feira Popular"
Pois, é. Era mesmo perfeito. Porque, mesmo pequenina e modesta, a Feira Popular garantia um tipo de divertimentos que desapareceu. E garantia um espaço , com os seus restaurantes, para certas folias que se esfumou. Agora, temos lá um grande espaço de ruínas e entulho à espera que alguém faça fortuna com construção. E a malta deixou de poder ir embebedar-se e andar no túnel fantasma, na casa dos espelhos, na minúscula montanha-russa, jogar nas máquinas e comer algodão doce e fritos gordurosos cheios de açucar.
Triste, não é?

A pedido do Miguel

Não vou abordar com muita profundidade o tema, porque as suas implicações são tantas que dava para escrever um tratado e este não é o sítio para tanto.
Quanto às novas circunscrições territoriais falta saber como serão as suas concretizações no terreno. Ou seja, e a título de exemplo a nova "comarca" Grande Lisboa - Sintra, que abrangerá os concelhos de Sintra, Amadora e Mafra (todos com pouca gente, pouca conflitualidade, pouco crime, pouca carência social e poucos problemas de menores, não é?), como serão colocados nos terrenos os respectivos Tribunais cíveis, criminais, de família e menores, do trabalho, com quantos juízos, com que estrutura de magistrados e funcionários, em que instalações. Porque, caso não haja um verdadeiro investimento no acréscimo destes meios, o buraco será cada vez maior e de mais dificil gestão.
Quanto ao Juiz-Presidente, várias das suas competências não são admissíveis. Começo pelas duas mais óbvias: a redistribuição de processos e deslocação de juízes.
Prevê a lei que possa o Juiz-Presidente redistribuir processos para assegurar a igualação e operacionalidade de serviços. Vejamos na prática: num Tribunal há dois juízos, cada um com um juiz. Um deles trabalha bastante, dedica-se demasiado ao trabalho porque lhe apetece, porque não tem mais nada para fazer da vida, isso não interessa; o outro produz significativamente menos, cumpre os mínimos exigíveis; ao fim de um tempo o segundo tem mais processos que o primeiro. Vai daí, o Juiz-Presidente manda redistribuir os processos para que o que trabalha mais vá fazer o trabalho do outro. Não só está aberta a porta para premiar a preguiça, e abusar da competência (que terá que fazer o seu trabalho e o do outro), como ao fazer a redistribuição se está a tirar a um juiz para dar a outro processos já distribuidos aleatoriamente, ou seja, assim violando o princípio do Juiz-Natural, aquele que nos assegura que a escolha do juiz que vai decidir determinado processo é aleatória não se podendo saber de antemão que alguém vai julgar um processo até que seja sorteado.
O segundo prende-se com a deslocação dentro da comarca de juízes para assegurar a distribuição racional e eficiente do serviço.
Um dos princípios de garantia de independência dos juízes é a sua inamovibilidade. A menos que haja razões disciplinares para o sancionar, nenhum juiz pode ser movido do seu cargo, para desta forma garantir que está imune a pressões aquando do julgamento. Permitir que alguém venha deslocá-lo dentro da comarca é violar tal garantia de independência, garantia esta criada, naturalmente, a favor de quem recorre à justiça. Estamos a falar de "comarcas" que, por exemplo, abrangem áreas como a do Oeste (que vai de Torres Vedras à Nazaré), do Baixo-Alentejo (de Barrancos a Ferreira do Alentejo) ou de Trás-os-Montes (de Alfandega da Fé a Vinhais).
A juntar a isto está a nomeação do Juiz Presidente, pelo CSM, onde os juízes estão em minoria e onde se pretende, com uma nova lei também já anunciada, retirar membros permanentes que são escolhidos entre os juízes nomeados para aquele Conselho substituindo-os por membros desse Conselho nomeados pelas forças políticas. Se isto não é uma tentativa de ingerência na independência do funcionamento dos Tribunais, não sei que mais é preciso fazer.
Já agora, esta lei da qual falei, mexe igualmente com a promoção aos tribunais de recurso (Relações e Supremo), passando a haver uma avaliação na qual os que decidem, sempre sob o "chapéu" do CSM, são cada vez menos os juízes e mais os nomeados pelo poder político. E que no Supremo passa a obrigar a uma quota de 1/5 de Conselheiros que não sejam juízes de carreira. Hoje, 1/5 dos Conselheiros podem não ser Juízes de carreira, e ser escolhidos de entre os juristas de mérito. Mas a verdade é que apenas lá estão dois e acham-se mal pagos e com demasiado trabalho.
Qual será o jurista de mérito a ocupar obrigatoriamente tal 1/5 das vagas, se os que têm verdadeiramente esse mérito ganham com um parecer o ordenado mensal de um Conselheiro? Está-se mesmo a ver, não é? Os "boys" do costume, prontos para decidir nos casos verdadeiramente importantes para a sociedade de acordo com critérios de fidelidade política ou pessoal. Ainda vamos ver Paulo Pedroso, ou o seu irmão como Juízes Conselheiros do STJ. Vai uma aposta?

14.1.08

Estímulantes

Pouca coisa se tem mostrado suficientemente estimulante para me inspirar a escrever por aqui.
Leio os jornais e não vejo nada de novo. Referendo ao Tratado?, à Constituição? Alcochete?, Ota?, pontes e TGV's? Fumos nos casinos e actuação excessiva da ASAE? Benfica e Sporting com exibições abaixo da mediania? Todos temas pouco estimulantes.
Ontem, com o dia chuvoso a alimentar a preguiça, nem fui ver o último do Woody Allen a que me propusera. Sim, porque apesar de ver crítica lastimáveis e já ter retorno de amigos a dizer que o filme é fraquinho, eu continuo a achar que o "fraquinho" de Allen é acima da média geral. A ver se esta semana vou vê-lo.
Garantida está a presença no "Evil Machines", dia 26. a seu tempo aqui vos contarei.
Tenho ainda uma novidade a partilhar. Chama-se "Taverna", fica na Rua das Amoreiras, n.º 47, e é um excelente restaurante que recomendo vivamente. Não é assim tão novo. Já tem mais de trinta anos. Eu é que fui lá a primeira vez este fim-de-semana e fiquei fã.

7.1.08

Tic - Tac

A árvore de Natal está desmontada, arrumada por mais um ano junto com os enfeites. 
Nas montras de uma loja de brinquedos perto de minha casa já se exibem máscaras para o Carnaval que se avizinha.
O tempo sempre correu assim tão depressa?

4.1.08

Fumo e rodas

A caminho de casa reparei na quantidade de gente que à porta dos edifícios fuma olhando os carros e as pessoas que passam. Faça chuva ou faça sol, terão agora que partilhar o seu fumo com o dos automóveis, salvaguardando os pulmões daqueles que junto a si se encontram no interior. Saúdo a mudança que por agora se mostra algo estranha. Será como a Coca-Cola: primeiro estranha-se, depois entranha-se.

E por falar em automóveis, a prova automobilística que mais admiro pela dureza competitiva e a beleza paisagística, o Dakar, não largará as suas amarras. Cancelada a prova, que este ano imprudentemente concentrou metade das suas etapas classificativas num único país, ficamos privados das belezas do deserto sobre rodas. 
Ironicamente, as ameaças da Al-Qaeda produziram um fenómeno cujo mediatismo provavelmente superará o esperado. Gente que trabalha um ano inteiro para este propósito estará agora a pensar se valerá a pena voltar a trabalhar outro tanto.
Por cá, as câmaras municipais de Benavente e Portimão foram lestas a reivindicar indemnizações pelos investimentos feitos que não terão retorno. 

A tela grande

Voltei ao cinema para ver este filme, apesar das críticas desfavoráveis que dele já lera. Que fazer?, era daqueles que tinha curiosidade em ver numa tela grande.
Melhor do que isso, na sala 4 do Monumental, em tempos chamada de Cine-Teatro, onde o écran é muito grande, fui presenteado com uma projecção digital a qual se revelou de encher o olho pela qualidade, a luminosidade, a uniformidade da imagem. No aspecto técnico, cinco estrelas é pouco.
Quanto ao filme, já não posso ser tão benévolo. A ideia é boa, mas redunda em mais um filme de zombies, porém não assumido. Lá temos zombies que atacam urrando, mordendo, de forma animalesca e sanguinária, avançando em hordas perante o desmoronar da civilização. Lá temos o herói que dá uns tiros neles e tenta sobreviver (e neste caso arranjar uma cura). E temos mais coisas, que poderiam conferir a originalidade necessária ao filme mas não o conseguem. 
Porque não há um único zombie de carne e osso. São todos digitais, milagre do CGI (sem contudo lograrem a qualidade de um Gollum, apesar de se assemelharem a versões musculadas deste ser do "Senhor dos Aneis") o que torna tudo demasiado asséptico. Não se quer dar demasiado relevo às criaturas, para que o filme não caia na "série B", mas não se resiste a mostrá-las. Haverá ainda quem consiga filmar o horror, deixando-o na imaginação do espectador?
A comparação com o ainda recente "28 Dias", de Danny Boyle impõe-se, porque esse filme arriscou mostrar actores de carne e osso espumando sangue e violência de forma original e ainda assim deu corpo a uma história (ao contrário da sua sequela, "28 semanas"). Este "I Am Legend" perde-se na disponibilidade digital e deixa cair a evidente contradição que justificava a exploração do argumento: apesar do personagem principal declarar o retrocesso dos zombies a um estado que não revela qualquer sinal de humanidade, esta aparentemente está lá, e aqueles seres têm potencial evolutivo.
Qualquer dia inventam uma sequela, seguramente bem pior que este 2 estrelas.

3.1.08

Terra Queimada

Todos nós nos recordamos de imagens nas quais eram derrubados os símbolos de um qualquer regime em queda. Em Portugal, depois do 25 de Abril, na URSS, aquando do seu fim, na Roménia, no Iraque, todos vimos estátuas derrubadas, palavras substituídas, símbolos desfigurados.
Hoje passei pelo antigo Carrefour de Telheiras para descobrir que o Carrefour morreu.

Foi substituído, e entre ontem e hoje todo o regime está a desaparecer, de forma bárbara mas metódica pelo 

Vi letras azuis suspensas de uma grua a serem afastadas para darem lugar às suas substitutas vermelhas. Vi restos de raspagens de palavras que deram lugar a outras. E de um momento para o outro desaparece o Carrefour, onde encontrava alguns produtos nos quais me viciara e que não existem em qualquer outra loja, para dar lugar a um cada vez mais omnipresente e desinteressante Continente.
Vai deixar saudades.


Desejos de um bom 2008

2007 chegou ao fim entre amigos, comida e bebida, com música e jogos a mistura. Quer isto dizer que 2008 começou da mesma maneira.
A imagem acima respeita ao começo das "hostilidades" gastronómicas, de passagem pelo Alvor.
Esperemos que o ano corra de feição, tal como correram estes preciosos dias de descanso e confraternização. 
E que não tenha que me cruzar com muitos criptorquídeos roncolhosos.