25.7.11

Hanna

Os contos de fadas estão cheios de violência.
Este é um conto de fadas e a violência está lá, estereotipada, mas muito bem desenhada. Os personagens são evidentes, assim que se apresentam, não havendo dúvidas quanto àquilo que são, aquilo que representam. Excepto Hanna, ainda a descobrir-se e a abrir-nos os olhos para a sua vida.
O filme vale por si, e justifica o bilhete. "Hanna" é um filme de quatro estrelas.

15.7.11

Aaargh!



Há dias em que nos sentimos a afogar. Felizmente, amanhã é sábado.

11.7.11

Conforto

O piso estava deserto.

Ao invés da habitual azáfama, dos telefones sempre a tocar, das emoções anunciadas em voz alta e da fotocopiadora a cuspir reproduções inúteis, o ambiente era verdadeiramente relaxante.

As luzes estavam apagadas e pela janela aberta entrava ar fresco e luz suficiente para que Rodrigo se sentisse em paz com o mundo. As colunas do computador cantavam as suas músicas, e ninguém passava por ali a dizer que ele era esquisito por ouvir aquelas coisas.

Da rua, pouco barulho se impunha. O tráfego era reduzido, não havia buzinas, acelerações bruscas ou vibrações indesejáveis impostas por camiões e autocarros. Não era, obviamente, um dia como os outros.

Rodrigo estava sentado, teclando suavemente o texto que tinha que apresentar naquela semana. À sua volta, papéis, tabelas, livros, contribuíam para a defesa do seu raciocínio. Nada permitia concluir que era a contragosto que trabalhava ao domingo.

Pelo contrário. Desde que se separara da mulher, que o traíra numa noite em que se oferecera para o serão, que encetara uma fuga para a frente. Agora, o trabalho era o seu refúgio. Não tinha nada mais para fazer, ninguém por quem olhar.

A solidão daquele piso era o seu conforto.

Mesmo num dia de sol como aquele que lá fora se exibia.

1.7.11

Mais vale dormir

Cabeceava embalado pela trovoada e pela chuva que se abatia nas velhas telhas. A água rolava célere nos algerozes, emprestando uma música corrida ao ambiente aquecido pelo crepitar da lareira.
O gato ouviu primeiro, pois saltou eriçado ainda antes de Alberto erguer as pálpebras, endireitar-se e suster a respiração para aguçar o ouvido. Abandonando a pose de estátua, o gato indagou com um miado.
Respondeu-lhe: "Sim, também ouvi. O que foi?"
Os estrondos, distintos dos trovões que acompanhavam os constantes relâmpagos, não se repetiram. Pensou duas vezes antes de decidir que, para seu descanso, se impunha ir espreitar lá fora.
Já no alpendre, com a luz da rua a brilhar na chuva que tudo inundava, procurou a origem do estrondo duplicado. Sem correr o risco de molhar as patas, ou os bigodes, o seu companheiro aguardou no interior, roído por uma curiosidade que apenas teve força para o trazer até à porta.
Um arrepio empurrou Alberto para dentro, de volta ao lume da lareira. Já sentado, com o gato ao colo, entregou-se ao sono e perdeu a agitação que a polícia trouxe para negociar com o vizinho homicida, aquele que se barricou no quarto onde surpreendera a mulher com outro homem.
Alberto nem quis acreditar no relato que, no dia seguinte, toda a gente sabia contar. Nada ouvira, nada vira, tal a profundidade à qual mergulhara no sono.