16.5.13

Atchim!!!

Dois baldes de água fria em menos de uma semana.
Acho que vou ali ficar doente, já volto.

7.5.13

O meu coração

A ponta rebelde do cabelo preto insistia em cair para a frente cobrindo o olhar e forçando-a a afastá-la com um gesto curto e rápido ou com um explosivo agitar da cabeça. 
Os lábios, bem pintados de vermelho vivo, movimentavam-se com uma frequência assustadora, à medida que freneticamente descrevia o que lhe acontecera repetindo-se amíude. Todo o episódio a deixara enervada, as palavras atropelando-se umas às outras, o corpo suado e com arrepios, a mente repetindo vezes sem conta a cena. Gesticulando, pontuou pela segunda vez a frase que era um mistério para todos os que a escutavam: "E quando ele me disse isso, o meu coração já nem parava!"
O polícia que a ouvia acenava ocasionalmente com a cabeça e fingia tirar notas para um pequeno bloco de apontamentos. O certo é que não o fazia, nem se importava. Não iria perseguir o ladrão, posto que ali chegara já muito tarde. Não iria investigar os factos pois isso incumbiria à brigada anti-crime, sobrando-lhe apenas o patrulhamento. Sabia que ali a sua função era mais de ouvir e assegurar à senhora que a Polícia iria reagir. E no seu íntimo acrescentaria a palavra "tarde".
De nada valeria a pena tomar notas, pois dqui a pouco, quando a senhora tudo tivesse desabafado e retornado a um estádio de maior serenidade, acompanhá-la-ia à esquadra e deixá-la-ia para tudo repetir ao Figueiras que preencheria o devido expediente.
Com um olhar vazio continou a escutar, concentrado na madeixa rebelde e no coração que não parara.

4.5.13

Lá vem o Cabrão

Todos os dias, pelas seis e meia da manhã, passava por ali com a máquina de lavar a rua que chiava horrivelmente. 
Era, por isso, a pessoa mais odiada do bairro, a quem chamavam todo o tipo de nomes, desde o acordar mal-disposto entre almofadas e lençóis, até ao deitar, antecipando o horror da madrugada seguinte. Tal sentimento generalizado, deixava-o infeliz.
Desgraçadamente não havia óleo que parasse a chiadeira da máquina e a Câmara não tinha dinheiro para a substituir. Por mais que os mecânicos dos serviços mexessem na sua ferramenta de trabalho, acabavam sempre por alvitrar que a cura para o mal passava pela reforma e abate do equipamento, para o qual já nem sequer se faziam peças.
E assim, secretamente, continuava a rezar para que a máquina "desse o berro", estoirasse, se finasse, "fosse com os porcos", ainda que isso implicasse uma alteração nas suas funções. Desde que deixassem de o chamar de cabrão e filho da puta logo às seis e meia da manhã.

Pois é...

"Quando nada tens, nada tens a perder!"