27.2.15

Pouca-Terra

Um livro de viagens, à antiga.
Tinha eu nascido havia pouco quando Paul Theroux embarcou num comboio em Boston com destino à Patagónia.
Cruzou rapidamente os Estados Unidos, entrou num México de outras eras e passou para uma América Central onde se brincava às ditaduras, aos regimes, aos governos que mais não eram que peças de xadrez de uma realidade mundial que pouco se preocupava com as pessoas.
O autor navega pelos carris conhecendo gente, histórias e dando-nos um retrato que, agora, é um belo pedaço de História.
São descrições de gentes e lugares que nos fazem pensar em partir e viajar, pois há tanto mundo para conhecer, mesmo nestes tempos de loucuras radicais.

Esta é uma viagem que apenas o comboio permitiria. O avião, o automóvel, afastam o viajante do mundo. Levam-no de A a B sem que se aperceba do que fica pelo meio. Paul Theroux fez questão de viajar sozinho e passando pelo mundo real, e não apenas pelo espelho mascarado das capitais.
Gostei de viajar com ele.

23.2.15

Óscars 2015

Lista de vencedores:
Melhor Filme: "Birdman"
Melhor Realizador: Alejandro G. Iñárritu ("Birdman")
Melhor Actor: Eddie Redmayne ("A Teoria de Tudo")
Melhor Actriz: Julianne Moore ("O Meu Nome É Alice")
Melhor Actriz Secundária: Patricia Arquette ("Boyhood")
Melhor Actor Secundário: J.K. Simmons ("Whiplash")
Melhor Argumento Original: "Birdman"
Melhor Argumento Adaptado: "Jogo de Imitação"
Melhor Fotografia: "Birdman"
Melhor Filme Estrangeiro: "Ida" (Polónia)
Melhor Edição: "Whiplash"
Guarda-roupa: "Grand Budapest Hotel"
Maquilhagem: "Grand Budapest Hotel"
Melhor Curta-Metragem: "The Phone Call" (Reino Unido)
Melhor Curta-Metragem Documental: "Crisis Hotline: Veterans Press 1" (Estados Unidos)
Melhor Mistura de Som: "Whiplash"
Melhor Edição de Som: "American Sniper"
Melhores Efeitos Visuais: "Interstellar"
Melhor Filme de Animação: "Big Hero 6"
Melhor Cenografia: "Grand Budapest Hotel"
Melhor Documentário: "CitizenFour"
Melhor Banda-sonora: "Grand Budapest Hotel"
Melhor Canção Original: John Legend e Common ("Selma")

Há aqui muito filme que ainda não vi e que quero ver. Valha-nos o video-o-demand.

19.2.15

Comer e ficar com fome


A minha relação com a obra de Gonçalo M. Tavares é inconsistente. Quando o estou a ler, gosto do que tenho à frente. Entusiasmam-me as imagens, a linguagem,  a encenação.
Porém, duas semanas depois, não me lembro de nada do que li. 
Olho para a prateleira onde estão os vários livros deste autor e não consigo dizer, para qualquer um, qual a história que contam.
Nem mesmo esta recolha de contos que é "Histórias Falsas" e que acabei de ler há duas semanas. Tenho algumas imagens mas estão cada vez mais esbatidas. Sou incapaz de reproduzir a narrativa de um dos contos que seja.
Talvez a falha seja minha. Ou talvez seja suposto ser assim. Vibras no momento da leitura mas não reténs. Se quiseres, voltas a ler e a sentir.
Dito isto, ainda não sei se gosto do autor. Apesar de gostar de ler os seus livros. O que é diferente de gostar dos seus livros.
Este incluído. 

7.2.15


Trinta e cinco anos depois podemos saber o que foi feito de Christiane F. Não sem um laivo de voyeurismo, ou curiosidade mórbida, mas com a certeza que o fim do livro original deixava muito, aliás, tudo em aberto.
Ensina-nos a experiência que um junkie, para se libertar da droga, precisa muito apoio, que milagres não acontecem do nada, e que os consultórios dos psiquiatras e dos psicólogos estão cheios de vítimas da adição, seja ela a heroína, a cocaína, o álcool, a comida, o sexo, sei lá que mais.
Este livro mostra-nos isso mesmo. A vida de Christiane F. foi uma montanha russa de droga e sobriedade, de excessos e moderações. Porém, enquanto livro, este não tem, nem sequer se aproxima, da mística e da experiência que é ler o seu antecessor.
Para começar, não está tão bem escrito. Apesar de continuar a usar o discurso na primeira pessoa, a qualidade da peça jornalística que virou livro nos anos '70 não encontra eco à altura neste revisitar da drogada mais famosa da cena de Berlim.
Depois, Christiane F. já não é a jovem ingénua que se abriu sem reservas aos dois jornalistas Kai Herman e Horst Rieck, permitindo-lhes um relato avassalador. Agora, é uma mulher de 50 anos com contas a ajustar e a necessidade de contar a sua versão da história. Nota-se um discurso comprometido com a sua verdade e com a constante desculpabilização e até mesmo vitimização. Por muito que assuma os desmandos da sua vida, apresenta-se como tendo estado sempre sobre controlo. Mas, obviamente, não esteve. E continuou a consumir com regularidade ao longo dos anos, alternando períodos de degradação narcótica com outros de abstinência esperançosa.
Hoje, com a saúde arruinada, com uma idade à qual muita gente, incluindo ela, não pensou que chegasse, Christiane F. continua um exemplo para quem se aventura nas dependências. Para o bem e para o mal.
Quanto ao livro... houve momentos em que só com muito esforço se conseguia progredir. Não tanto pela história mas pela forma como está escrito. Sofrível.