11.11.24

Morreu um Homem bom

Morreu um Homem bom.

Estou triste.

Estou...

não sei bem onde estou, mas é um lugar triste e sombrio.

Não estou preparado para lhe dizer adeus.

Não estou.

Filhadaputasortedumcabrãoohquecaralho!

2.11.23

Nudez


 

Ontem, numa conversa com amigos, recordei o exacto momento no qual vi, pela primeira vez, esta capa de disco. A obra, diga-se, é excelente, com o génio criativo de Waters em alta, acabado de sair dos Pink Floyd, acompanhado por Clapton na guitarra.
Mas, na altura, não sabia nada disso. 
Estava na escola secundária, junto aos campos de volleyball, e o ano era 1986. Estava sol. Era dia 15 de Abril.
Esperávamos as aulas da tarde, já tínhamos almoçado, e vivíamos a doce ignorância da adolescência num mundo sem telemóveis, sem internet, sem a urgência do imediato que hoje está sempre presente. As coisas aconteciam e nós só sabíamos delas mais tarde, quando víamos as notícias. Ainda imperava o paradigma de que a rádio anunciava, a televisão mostrava e os jornais explicavam.
Se houvesse uma verdadeira catástrofe, certamente alguém nos avisaria.
Na noite que deu início àquele dia, os EUA bombardearam a Líbia de Khadafi. Um susto que a minha mente de 14 anos rapidamente processou como podendo ser um passo na direcção do holocausto nuclear. Mas, só naquela hora soubemos nós do que estava a acontecer.
Uma colega, que fora almoçar a casa, trazia a nova. "Já ouviram? A América bombardeou a Líbia! Aviões, de noite, mataram não sei quantas pessoas."
Mas a colega aproveitara para vestir uma roupa mais fresca, que o sol de Abril já tornava as tardes agradáveis. E vestira a t-shirt nova que o irmão, mais velho, arranjara.
A t-shirt branca tinha estampada a imagem do "The Pros and Cons of Hitch Hicking".
E eu, enquanto ouvia as notícias do que poderia ser o começo do fim com o qual vivíamos constantemente alertados, uma terceira guerra mundial, apenas conseguia pensar, sem tirar os olhos da t-shirt: "Ela tem uma mulher nua na camisola!".

21.12.21

Cartinha para o Pai Natal

 Será que ainda vou a tempo?

De qualquer forma, cá ficam os cinco pedidos do ano.

1.

Acaba lá com a treta do COVID e desta obrigação de andar com máscara. Quero voltar a ver a cara das pessoas, os sorrisos, os esgares, os embaraços. Quero voltar a respirar livremente. E quero voltar a viver com naturalidade, sem estar, todos os dias, a escutar quantos mais infectados há, quantos internados, quantos em UCI, quantos morreram.

2.

Arranja-me lá um empreiteiro que responda aos meus pedidos de orçamento e me faça as obras lá em casa. Já agora, que faça um trabalho bom, bonito, e barato. E rápido, que não estou para viver fora de casa muito tempo.

3.

Não é que precise de mudar de carro... mas se me deres um destes, mudo de hábitos e contribuo para um planeta melhor. Assim o dizem.

4.

Que tal voltar a viajar? Talvez seja melhor resolver o primeiro pedido, não?

Depois... Açores, Madeira, Paris, Noruega, Veneza, Islândia... sei lá. De avião e com línguas diferentes, pessoas diferentes, locais espantosamente diferentes.

5.

Em vez de deixares um presente, não queres levar este 10 kilos que tenho por aqui a mais?  Ajudava!



Boas Festas!

15.9.21

ONDE ESTAVAS NO 11 DE SETEMBRO?


 

            Onde estavas tu no dia 11.09.2001, quando o mundo mudou?

            Eu lembro-me perfeitamente do momento no qual o World Trade Center se tornou o centro do mundo, e todos os olhos se focaram nos eventos que imediatamente ameaçaram mudar a vida de toda a gente.

Nasci em 1971. Cresci acompanhado, na infância e adolescência, por uma antiga insegurança que aos poucos se esbateu até se transformar num cenário improvável. O medo de uma guerra nuclear, presente em momentos como a guerra das Malvinas, os bombardeamentos americanos na Líbia, a guerra do Irão com o Iraque, os golpes na América do Sul, onde EUA e URSS jogavam xadrez com a vida dos outros, ou de cada vez que Israel entrava em zaragatas com os vizinhos, já era um sentimento do passado.

Mas, ao aperceber-me que estava a acontecer um ataque no coração da América, que, naquele momento, o terrorismo deixava de ser um evento catastrófico de pequena escala, e que, afinal, ninguém estava a salvo de uma iniciativa tão gratuita, rapidamente voltei a sentir aquela antiga insegurança.

Estava em casa, então no Murtal, numa altura em que as férias judiciais ainda se prolongavam até 15 de Setembro. Preparava-me para regressar a Silves, para o segundo ano de funções por terras algarvias, e a vida era tranquila. Estava sozinho, o sol inundava a sala, tinha acabado de almoçar, e pegara no prato e no copo para os levar para a cozinha.

Nesse momento, na velha SONY Trinitron, José Rodrigues dos Santos avança com uma notícia de última hora: um avião embateu numa das torres gémeas do WTC, em Nova Iorque. Apareceram as imagens da CNN. O fumo a sair de uma das torres, alguns helicópteros no ar.

“Como raio foi uma avioneta embater ali?”, pensei. E fiquei em pé, no meio da sala, prato e copo nas mãos, a tentar perceber aquelas imagens tão desconcertantes, tão inesperadas.

A excitação de Rodrigues dos Santos, com a voz a subir de tom enquanto fazia traduções simultâneas das informações anunciadas pela CNN, deixou passar a evidência do segundo embate. Eu vi o segundo avião a entrar pela torre adentro, enquanto o fumo já se elevava na gémea ali ao lado. O apresentador, porém, ainda chegou a dizer que aquilo era uma repetição do momento em que o avião acertara na torre, e eu, ciente do seu erro, avisei-o inutilmente, que no estúdio nunca me conseguiria ouvir.

Nesse segundo embate a ficha caiu. Percebi então que não foi uma avioneta a embater na torre. Foram jactos, aviões de passageiros. Percebi então que não foi um acidente. Que aquilo que estou a ver é um acto de guerra. Que a América está a ser atacada. Sentei-me no sofá, o prato e o copo nas mãos, incrédulo.

Quem se lembraria de transformar os aviões em armas? Quantos mais iriam ser atirados contra a população? Na televisão falam no Pentágono? Até onde nos levariam as ondas de tamanha pedrada no charco?

Os minutos passam, e eu demoro a perceber que, nas mãos, continuo a segurar inutilmente um prato e um copo. Pouso-os no chão. Pego no telefone e aviso aqueles que me são mais próximos. “Estás a ver?” “E agora?, o que vai ser de todos nós?” "Estamos em guerra? Com quem?".

Com horror, aparecem imagens de gente que salta para o vazio, preferindo a morte rápida ao sufoco ou à incineração. Tantos segundos no ar, o chão a aproximar-se vertiginosamente. Em que pensarão, naqueles últimos segundos?

Um nó na garganta aperta-se quando, incrédulo, vejo desmoronar um arranha-céus, numa cascata de entulho e pó que não julgava possível. Meia hora depois repete-se a derrocada. Onde antes existiam duas torres que, sem nunca as ter visto de perto, associava ao skyline de uma cidade que ambicionava conhecer, há agora apenas fumo, pó. Morte e destruição.

As ideias atravessam a minha mente, mais rapidamente do que consigo processar. Muitas se perderão para sempre. Outras serão repetidas nas conversas que se seguirão por dias a fio.

O resto da tarde foi ali, agarrado ao televisor. O gato veio perguntar-me o que se passava, porque estava eu parado, inseguro, a olhar para a pantalha. E, já agora, por favor, vem à cozinha dar-me qualquer coisa para comer.

Quando fui para a cama, só tinha uma certeza. As guerras tinham mudado naquele instante. Já não havia campo de batalha. Todo o mundo seria, agora, um campo de batalha. Hoje aviões, amanhã camiões, barcos, helicópteros, carros, motas… Tudo poderá vir a ser lançado sobre nós, a qualquer momento. E a muito provável resposta americana, habitualmente desproporcionada, não me deixava tranquilo. Muito pelo contrário.

 Lamentavelmente, o futuro deu-me razão. 

O Mundo, hoje, está muito pior e no horizonte acumulam-se negras nuvens cheias de ventos de mudança. Não são animadoras.

Avizinham-se "tempos interessantes".

19.1.21

Há dias assim

 Dogs

You got to be crazy, gotta have a real need
Got to sleep on your toes, and when you're on the street
Got to be able to pick out the easy meat with your eyes closed
Then moving in silently down wind and out of sight
You got to strike when the moment is right, without thinking
And after a while you can work on points for style
Like the club tie and a firm handshake
A certain look in the eye and an easy smile
You have to be trusted by the people that you lie to
So that when they turn their backs on you
You'll get the chance to put the knife in
You gotta keep one eye looking over your shoulder
You know it's gonna get harder harder and harder as you get older
Yeah, and in the end, you'll pack up and fly down south
Hide your head in the sand
Just another sad old man
All alone and dying of cancer
And when you lose control you'll reap the harvest you have sown
And as the fear grows the bad blood slows and turns to stone
And it's too late to loose the weight you used to need to throw around
So have a good drown as you go down all alone
Dragged down by the stone
Gotta admit that I'm a little bit confused
Sometimes it seems to me as if I'm just being used
Gotta stay awake gotta try and shake off this creeping malaise
If I don't stand my own ground, how can I find my way out of this maze?
Deaf, dumb and blind, you just keep on pretending
That everyone's expendable and no one has a real friend
And it seems to you the thing to do would be to isolate the winner
And everything's done under the sun
And you believe at heart everyone's a killer
Who was born in a house full of pain?
Who was trained not to spit in the fan?
Who was told what to do by the man?
Who was broken by trained personel?
Who was fitted with colar and chain?
Who was given a pat on the back?
Who was breaking away from the pack?
Who was only a stranger at home?
Who was ground down in the end?
Who was found dead on the phone?
Who was dragged down by the stone?
Who was dragged down by the stone?




22.12.20

22.9.20

Preciso gritar

 Tanto tempo que passou. Tanta vida que se viveu. E aqui o silêncio.

O silêncio de um Urso que ficou sem palavras para partilhar no vazio. Cada vez mais este Blog, e todos os blogs, são espaços de Vazios esquecidos no éter da internet.

Olhando para trás, tanto o Urso Polar aqui contou, interagiu, partilhou. Longe da voragem das redes sociais, chegaram a ser mil os visitante a cada mês. Pessoas que se habituaram a passar por aqui para descobrir um pouco mais. 

O que resta deste Blog?

Resta ser a folha branca onde o Urso despeja de vez em quando um pensamento. Um pensamento que, provavelmente, só ele mesmo irá ler.

O último post doeu. Ainda hoje o leio e sinto um nó na garganta. Ficou ali. E em mais lado nenhum. Está ali.

Entretanto o mundo continuou a girar. Tanto tempo que passou. Tanta vida que se viveu. E aqui o silêncio.

Veio o Verão, o Inverno, e a pandemia. O Urso esteve fechado, com o resto do mundo que esteve fechado. Mudaram-se hábitos, ganharam-se medos, perderam-se alegrias.

Sinto falta do contacto humano. De chegar a um amigo e dar um grande abraço. Do aperto de mão que transmite confiança. Do beijo que espalha o carinho. Do conforto de um toque.

Avizinha-se novo Inverno. Quem sabe novo Inferno. Estou cansado. E nem as alegrias podem ser bem festejada, para compensar as tristezas que surgem amiúde.

Ontem foi o Flávio Damm. Estava longe, é certo. Tinha 92 anos. Adoeceu. Mas, saber que nunca mais vou poder ouvir as suas histórias deixou-me mais pobre. O mundo ficou mais pobre.

O Urso vai para os 49. De repente, apetece aproveitar. E a merda da Pandemia está a impedir tudo.

Estou com falta de imaginação. Preciso de alguma mudança. Preciso de ar. Respirar. Tirar a máscara sufocante.

Preciso gritar.

Tanto tempo que passou. Tanta vida que se viveu. E aqui o silêncio.