Morreu um Homem bom.
Estou triste.
Estou...
não sei bem onde estou, mas é um lugar triste e sombrio.
Não estou preparado para lhe dizer adeus.
Não estou.
Filhadaputasortedumcabrãoohquecaralho!
Morreu um Homem bom.
Estou triste.
Estou...
não sei bem onde estou, mas é um lugar triste e sombrio.
Não estou preparado para lhe dizer adeus.
Não estou.
Filhadaputasortedumcabrãoohquecaralho!
Será que ainda vou a tempo?
De qualquer forma, cá ficam os cinco pedidos do ano.
1.
Acaba lá com a treta do COVID e desta obrigação de andar com máscara. Quero voltar a ver a cara das pessoas, os sorrisos, os esgares, os embaraços. Quero voltar a respirar livremente. E quero voltar a viver com naturalidade, sem estar, todos os dias, a escutar quantos mais infectados há, quantos internados, quantos em UCI, quantos morreram.
2.Arranja-me lá um empreiteiro que responda aos meus pedidos de orçamento e me faça as obras lá em casa. Já agora, que faça um trabalho bom, bonito, e barato. E rápido, que não estou para viver fora de casa muito tempo.
Não é que precise de mudar de carro... mas se me deres um destes, mudo de hábitos e contribuo para um planeta melhor. Assim o dizem.
Que tal voltar a viajar? Talvez seja melhor resolver o primeiro pedido, não?
Depois... Açores, Madeira, Paris, Noruega, Veneza, Islândia... sei lá. De avião e com línguas diferentes, pessoas diferentes, locais espantosamente diferentes.
Em vez de deixares um presente, não queres levar este 10 kilos que tenho por aqui a mais? Ajudava!
Boas Festas!
Onde
estavas tu no dia 11.09.2001, quando o mundo mudou?
Eu
lembro-me perfeitamente do momento no qual o World Trade Center se tornou o
centro do mundo, e todos os olhos se focaram nos eventos que imediatamente
ameaçaram mudar a vida de toda a gente.
Nasci em 1971. Cresci
acompanhado, na infância e adolescência, por uma antiga insegurança que aos
poucos se esbateu até se transformar num cenário improvável. O medo de uma
guerra nuclear, presente em momentos como a guerra das Malvinas, os
bombardeamentos americanos na Líbia, a guerra do Irão com o Iraque, os golpes na América do Sul, onde EUA e URSS jogavam xadrez com a vida dos outros, ou de cada vez que Israel entrava em
zaragatas com os vizinhos, já era um sentimento do passado.
Mas, ao aperceber-me que estava a
acontecer um ataque no coração da América, que, naquele momento, o terrorismo
deixava de ser um evento catastrófico de pequena escala, e que, afinal, ninguém
estava a salvo de uma iniciativa tão gratuita, rapidamente voltei a sentir
aquela antiga insegurança.
Estava em casa, então no Murtal,
numa altura em que as férias judiciais ainda se prolongavam até 15 de Setembro.
Preparava-me para regressar a Silves, para o segundo ano de funções por terras
algarvias, e a vida era tranquila. Estava sozinho, o sol inundava a sala, tinha
acabado de almoçar, e pegara no prato e no copo para os levar para a cozinha.
Nesse momento, na velha SONY
Trinitron, José Rodrigues dos Santos avança com uma notícia de última hora: um
avião embateu numa das torres gémeas do WTC, em Nova Iorque. Apareceram as
imagens da CNN. O fumo a sair de uma das torres, alguns helicópteros no ar.
“Como raio foi uma avioneta
embater ali?”, pensei. E fiquei em pé, no meio da sala, prato e copo nas mãos,
a tentar perceber aquelas imagens tão desconcertantes, tão inesperadas.
A excitação de Rodrigues dos
Santos, com a voz a subir de tom enquanto fazia traduções simultâneas das
informações anunciadas pela CNN, deixou passar a evidência do segundo embate.
Eu vi o segundo avião a entrar pela torre adentro, enquanto o fumo já se
elevava na gémea ali ao lado. O apresentador, porém, ainda chegou a dizer que
aquilo era uma repetição do momento em que o avião acertara na torre, e eu,
ciente do seu erro, avisei-o inutilmente, que no estúdio nunca me conseguiria
ouvir.
Nesse segundo embate a ficha caiu.
Percebi então que não foi uma avioneta a embater na torre. Foram jactos, aviões de
passageiros. Percebi então que não foi um acidente. Que aquilo que estou a ver é um
acto de guerra. Que a América está a ser atacada. Sentei-me no sofá, o prato e o
copo nas mãos, incrédulo.
Quem se lembraria de transformar
os aviões em armas? Quantos mais iriam ser atirados contra a população? Na
televisão falam no Pentágono? Até onde nos levariam as ondas de tamanha pedrada
no charco?
Os minutos passam, e eu demoro a
perceber que, nas mãos, continuo a segurar inutilmente um prato e um copo.
Pouso-os no chão. Pego no telefone e aviso aqueles que me são mais próximos.
“Estás a ver?” “E agora?, o que vai ser de todos nós?” "Estamos em guerra? Com quem?".
Com horror, aparecem imagens de gente que salta para o vazio, preferindo a morte rápida ao sufoco ou à incineração. Tantos segundos no ar, o chão a aproximar-se vertiginosamente. Em que pensarão, naqueles últimos segundos?
Um nó na garganta aperta-se quando, incrédulo, vejo desmoronar um arranha-céus, numa cascata de entulho e pó que não julgava possível. Meia hora depois repete-se a derrocada. Onde antes existiam duas torres que, sem nunca as ter visto de perto, associava ao skyline de uma cidade que ambicionava conhecer, há agora apenas fumo, pó. Morte e destruição.
As ideias atravessam a minha mente, mais rapidamente do que consigo processar. Muitas se perderão para sempre. Outras serão repetidas nas conversas que se seguirão por dias a fio.
O resto da tarde foi ali, agarrado
ao televisor. O gato veio perguntar-me o que se passava, porque estava eu parado,
inseguro, a olhar para a pantalha. E, já agora, por favor, vem à cozinha dar-me
qualquer coisa para comer.
Quando fui para a cama, só tinha
uma certeza. As guerras tinham mudado naquele instante. Já não havia campo de batalha. Todo o mundo seria,
agora, um campo de batalha. Hoje aviões, amanhã camiões, barcos, helicópteros,
carros, motas… Tudo poderá vir a ser lançado sobre nós, a qualquer momento. E a muito
provável resposta americana, habitualmente desproporcionada, não me deixava tranquilo.
Muito pelo contrário.
Dogs
Tanto tempo que passou. Tanta vida que se viveu. E aqui o silêncio.
O silêncio de um Urso que ficou sem palavras para partilhar no vazio. Cada vez mais este Blog, e todos os blogs, são espaços de Vazios esquecidos no éter da internet.
Olhando para trás, tanto o Urso Polar aqui contou, interagiu, partilhou. Longe da voragem das redes sociais, chegaram a ser mil os visitante a cada mês. Pessoas que se habituaram a passar por aqui para descobrir um pouco mais.
O que resta deste Blog?
Resta ser a folha branca onde o Urso despeja de vez em quando um pensamento. Um pensamento que, provavelmente, só ele mesmo irá ler.
O último post doeu. Ainda hoje o leio e sinto um nó na garganta. Ficou ali. E em mais lado nenhum. Está ali.
Entretanto o mundo continuou a girar. Tanto tempo que passou. Tanta vida que se viveu. E aqui o silêncio.
Veio o Verão, o Inverno, e a pandemia. O Urso esteve fechado, com o resto do mundo que esteve fechado. Mudaram-se hábitos, ganharam-se medos, perderam-se alegrias.
Sinto falta do contacto humano. De chegar a um amigo e dar um grande abraço. Do aperto de mão que transmite confiança. Do beijo que espalha o carinho. Do conforto de um toque.
Avizinha-se novo Inverno. Quem sabe novo Inferno. Estou cansado. E nem as alegrias podem ser bem festejada, para compensar as tristezas que surgem amiúde.
Ontem foi o Flávio Damm. Estava longe, é certo. Tinha 92 anos. Adoeceu. Mas, saber que nunca mais vou poder ouvir as suas histórias deixou-me mais pobre. O mundo ficou mais pobre.
O Urso vai para os 49. De repente, apetece aproveitar. E a merda da Pandemia está a impedir tudo.
Estou com falta de imaginação. Preciso de alguma mudança. Preciso de ar. Respirar. Tirar a máscara sufocante.
Preciso gritar.
Tanto tempo que passou. Tanta vida que se viveu. E aqui o silêncio.