27.10.15

Mulher-a-dias

A mulher-a-dias faz dias
Que não vem
Perdeu conta às horas
E meses que um dia tem
E o tempo que passou,
Passou a ferro
E a roupa que lavou
Tingiu de negro
Viu o dia perecer
A dançar num vendaval
Como um pano amarrotado
Que se esquece
No estendal

Linda Martini

13.10.15

Zé Gato

A cidade é para fazer dinheiro
E se tu és um tipo inteiro
Vais passar um mau bocado
Vais ver o que custa não ser ouvido
No meio de tanto homem vendido
Em silêncio comprado

Quem és tu Zé Gato?
O que é que te faz correr
pelos cantos mais sujos, desta terra?
Tu já deves saber que mesmo quando vences batalhas,
Estás longe de acabar com a guerra
Quem és tu Zé Gato?

Mas tu és teimoso como um burro
Venha luva ou venha murro
Nada te faz desistir
A luta é de vida ou de morte
Mas a consciência é mais forte
E não te deixa fugir

Quem és tu Zé Gato?
O que é que te faz correr
pelos cantos mais sujos desta terra,
Tu já deves saber que mesmo quando vences batalhas,
Estás longe de acabar com a guerra
Quem és tu Zé Gato?

És mais um caso de solidão
Porque afinal poucos são
Os que se entendem contigo
E às vezes é num marginal
Que vais encontrar, encontrar a tal
Compreensão de amigo

Quem és tu Zé Gato?
O que é que te faz correr
pelos cantos mais sujos desta terra,
Tu já deves saber que mesmo quando vences batalhas,
Estás longe de acabar com a guerra

Quem és tu Zé Gato?

12.10.15

O Escultor

Esta graphic novel lê-se desde as primeiras páginas com uma ânsia para saber como findará. Pelo meio, toda a história cresce, ganha corpo, forma e enche-nos de simpatia pelos personagens. Queremos estar com eles, conviver com eles, sentir com eles. 
Os desenhos são magníficos e obrigam a uma segunda e terceira leituras para os contemplar. A escrita é muito cuidada e coerente, juntando com brilhantismo o real e o fantástico, introduzindo na narrativa uma série de temas que subtilmente nos fazem pensar sobre as circunstâncias e condicionantes da vida dos dias de hoje. Das relações à subsistência, da espontaneidade ao constrangimento, do mimetismo à originalidade. 
Adorei lê-la, este fim-de-semana.

3.10.15

Outono

O Outono está aí.
Sempre gostei do sol apenas morno, do frio a insinuar-se, das primeiras chuvas que lavam o mundo. 
E das castanhas, a tomar o lugar dos gelados.
Quentes e boas, como aconchego dos dias mais curtos.

Mais Brasil

Mantendo-me pelo Brasil, nada melhor que um pouco de Ruben Fonseca e os seus anti-heróis. Em "Axilas & outras histórias indecorosas" navegamos por entre contos onde se sucedem pessoas normais com pensamentos e acções extraordinários, e pessoas extraordinárias com pensamentos e acções nomais. Sempre com muita ironia, humor e surpresa, Ruben Fonseca anima-nos durante umas horas, pois que não é preciso muito tempo para devorar este livro. E ficar logo a pensar no próximo que iremos desbravar.

Vai, Brasil



Mais do que o retrato de uma viagem, em "Vai, Brasil" Alexandra Lucas Coelho oferece-nos o retrato de um país e do seu povo, com a proximidade de quem ali permaneceu muito mais que os dias de passagem que usualmente associamos a viajar.
Com a sua prosa de fácil leitura, descritiva quanto baste, Alexandra Lucas Coelho vai de Norte a Sul, Este a Oeste, num país onde riqueza e pobreza seguem caminhos diverentes, separando as gentes, a cultura, a vida. No meio da alegria e do desprendimento, da miséria, da cultura, da história, este livro permite-nos encontrar o Brasil dos nossos dias, e compreendê-lo de perto. 
Adorável o português assumido pela autora, próximo do brasileiro mas ainda assim tão europeu, mostrando que a língua portuguesa não está tão quebrada como muitos apregoam.
Lê-se de um fôlego. E quere-se logo mais.