16.12.11

Nem tudo está bem neste Natal

 Chegou a casa e olhou o vazio onde em anos anteriores costumava montar a árvore de Natal. Hoje, na noite da consoada, nada naquele apartamento dizia Natal.
 Na viagem de Metro cruzara-se com inúmeras pessoas, faces desconhecidas em corpos animados para regressar a casa. Umas mais apressadas, porque trabalhar até às seis da tarde e ainda ter que preparar a reunião de família não é para todos. "Os funcionários públicos é que estão bem", pensavam, "sempre com a tolerância de ponto que os patrões do privado desconhecem..."   Outras aceleravam procurando alcançar os últimos presentes. Há sempre gente assim, deixa tudo para a última hora. O certo é que passeiam pelo meio dos demais com sacos e embrulhos contendo preciosidades e inutilidades. 
 Cruzara-se ainda com aqueles que já vão a caminho da casa dos pais, dos filhos, dos irmãos, dos tios, onde se reúnem à volta do bacalhau e esperam pela meia-noite para rasgar o papel de embrulho. Também estes carregavam prendas em sacos. Ora agora levo estas, daqui a uma horas trago outras. O Natal acaba por se resumir a isto, dar e receber e no fim fazer a contabilidade. Há sempre quem fique a perder. Tirando as crianças, que para essas o ganho traduz o esforço que todos, mas mesmo todos, querem fazer. E a coisa mais básica, simples, barata pode ser o brinquedo que o puto mais gostou no meio de tanta tralha feita na China.
 O certo é que, quando chegou a casa, a fria solidão do lar foi um banho de realidade que o acordou para a tristeza da vida que dia-a-dia levava. Olhou para trás e não conseguiu recordar a última conversa que tivera. É verdade que entabulara umas palavras aqui e ali com gente que cruzara a sua existência, numa loja, numa pastelaria, no supermercado. Mas nada disso era uma conversa. Falar mesmo, trocar ideias, contar histórias era coisa perdida na memória do passado.
 Olhou o espelho da casa de banho e custou-lhe reconhecer o reflexo devolvido. Os olhos baços, as olheiras profundas, a barba comprida e branca, o cabelo sem volume agarrado ao crânio achatado. 
 Levou a mão ao bolso e puxou duma cigarrilha. Acendeu-a com o Zippo e contemplou a chama. Passaram segundos, minutos?, e de repente lançou o isqueiro ainda aceso para cima do sofá onde quedavam esquecidos jornais, almofadas e uma manta. Encaminhou-se para a porta, e abandonou o apartamento deixando a porta aberta para quem quisesse meter o nariz.
 A pé chegou rápido ao viaduto. Esperou por um camião mais apressado e fê-lo parar com o seu corpo em queda.
Que merda!, esta ideia feita de que no Natal tudo está bem.

Pai Natal de 2011

Este Natal, em tempos de contenção de despesa, só peço uma prenda:
Por favor, não me chateiem!

11.9.11

É outra vez 11 de Setembro

Há cinco anos escrevi isto:

Onde estavas no dia 11 de Setembro?
A pergunta não é do Baptista-Bastos e não tem a ver com o 25 de Abril. Tem antes a ver com um outro dia marcante e com imagens chocantes.
Eu estava em casa. Na altura ainda em férias, estava a levantar a mesa do almoço enquanto a televisão debitava o fim do telejornal com o José Rodrigues dos Santos (1). É feita a chamada para o tema: um avião embateu no World Trade Center, em N.Y.
A curiosidade mórbida que nos atrai para as catástrofes fez-me olhar as imagens da CNN que a RTP1 pôs no ar. À distância, de muito longe, via as duas torres gémeas e uma delas d[e]itava fumo.
Naquele momento pensei que tinha sido uma avioneta a embater no edifício. As proporções eram enganadoras e eu não apreendi a escala. Imaginei um temerário a voar pelo meio das torres e a correr mal a acrobacia. Imaginei um avião avariado em queda.
E foi então que se viu, como um míssil, outro avião a embater na outra torre. Fiquei de boca aberta, baralhado, espantado, incrédulo. O que fora aquilo?
Mais uma vez a escala era enganadora, e eu vira uma "avioneta" a explodir. Imaginei um avião das televisões que se aproximara demais, imaginei um controlo aéreo descontrolado. Mas então lembrei-me que os media andam de helicóptero, não de avião. E que mesmo com más indicações dos controladores aéreos qualquer piloto veria as torres.
"Mãezinha, o que está a acontecer?"
Recordo-me como se fosse hoje. Sentei-me no sofá com o prato sujo nas mãos e fiquei a olhar e ouvir, esperando perceber o que se estava a passar. O Rodrigues dos Santos nada sabia adiantar: estava tão aparvalhado como eu. A SIC e a TVI nada mostravam ainda. Naquela altura apenas tinha os quatro canais de sinal aberto.
A CNN mostra outra imagem da segunda colisão: é então que percebo que os aviões em causa são aviões comerciais de passageiros, jactos, grandes aparelhos. Um arrepio anuncia-me o que já era óbvio: os EUA estão a ser atacados com os seus próprios aviões.
Falam no terceiro avião, que cai no Pentágono. Imagino futuros cenários de guerra alargada. Acompanho com angústia o terror daqueles que estão nas torres. Vejo os minutos passar com o incêndio a aumentar. Corpos lançam-se das janelas e precipitam-se no abismo mortal para se esmagarem na rua. A azáfama dos bombeiros parece inútil: um combate de formigas contra gigantes. O fogo está lá no alto, alimentado pelo combustível dos aviões utilizados.
E, de repente, uma das torres cai pulverizada, desmorona como um castelo de areia. Com ela todos os que lá se encontravam. Gritei. Recordo que gritei. Como é possível? Como pode um edifício daqueles entrar num colapso tão definitivo? Como pode morrer assim tanta gente?
Entretanto já telefonara para família e amigos. Dessa forma partilhava aquilo que via e sentia ali, sózinho na minha casa. A segunda torre cai, da mesma forma, e o Rodrigues dos Santos começa por dizer que aquelas imagens ainda eram uma repetição de primeira derrocada. Gritei a sua incapacidade para perceber que aquele era outro desmoronamento. Ele deve ter ouvido porque de imediato corrige a informação. Também ele, horrorizado, se apercebe que no horizonte de NY já não há qualquer uma das torres gémeas.
Fiquei agarrado ao televisor o resto do dia. No dia seguinte comprei vários jornais. Temia o que se ia seguir.
.
Notas: (1) o José Rodrigues dos Santos não estava a apresentar o telejornal do almoço. Foi chamado assim que se aperceberam que algo de grande estava a acontecer e assumiu as rédeas da emissão em directo que continuou logo depois desse noticiário.

O original está acompanhado de fotos. Desta vez recomendo um extraordinário livro de fotografia cujas histórias nele contadas são impressionantes.



8.8.11

Diferentes Américas

O fim de semana teve dose dupla. Começou com o Capitão América (Captain America, the first avenger), que deixou um pouco a desejar. Como já aqui deixei dito mais do que uma vez, gosto bastante de ver passar para filme as boas histórias dos heróis da BD. Mas é preciso que os filmes sejam bons.

Este deixou-me a impressão de ser um mero prólogo explicativo do já anunciado "Avengers" que surgirá para o ano e juntará o Capitão América, com o Thor, o Nick Fury, o Hulk e o Homem de Ferro.

De resto, cumpre a sua função, não é miserável como outras produções o já foram, mas parece um daqueles livros de BD que lemos uma vez e não apetece reler. E, pessoalmente, não gostei de ver Chris Evans como protagonista...Já Super 8 é um filme daqueles que se vêem e revêem ocupando na memória um lugar de estimação. As comparações com E.T. e Gonnies são inevitáveis porque a realidade retratada é a mesma: um grupo de putos, no início da adolescência, colocados perante circunstâncias extremas e fantásticas, em plenos anos 80.

J.J. Abrams redime-se aqui de ter criado a série "Perdidos" cujo final foi o maior desaire dos últimos tempos.

Seguindo a estética de Spielberg, aqui produtor, e aditando-lhe o fantástico das cenas de acção, Super 8 leva-nos de volta aos anos 80 e a um grupo de miúdos com os quais nos identificamos e por quem torcemos ao longo das aventuras que enfrentam.
Saí da sala com uma quente e reconfortante sensação de prazer.

Repito: este é um filme para ver e rever.


Não percam.




25.7.11

Hanna

Os contos de fadas estão cheios de violência.
Este é um conto de fadas e a violência está lá, estereotipada, mas muito bem desenhada. Os personagens são evidentes, assim que se apresentam, não havendo dúvidas quanto àquilo que são, aquilo que representam. Excepto Hanna, ainda a descobrir-se e a abrir-nos os olhos para a sua vida.
O filme vale por si, e justifica o bilhete. "Hanna" é um filme de quatro estrelas.

15.7.11

Aaargh!



Há dias em que nos sentimos a afogar. Felizmente, amanhã é sábado.

11.7.11

Conforto

O piso estava deserto.

Ao invés da habitual azáfama, dos telefones sempre a tocar, das emoções anunciadas em voz alta e da fotocopiadora a cuspir reproduções inúteis, o ambiente era verdadeiramente relaxante.

As luzes estavam apagadas e pela janela aberta entrava ar fresco e luz suficiente para que Rodrigo se sentisse em paz com o mundo. As colunas do computador cantavam as suas músicas, e ninguém passava por ali a dizer que ele era esquisito por ouvir aquelas coisas.

Da rua, pouco barulho se impunha. O tráfego era reduzido, não havia buzinas, acelerações bruscas ou vibrações indesejáveis impostas por camiões e autocarros. Não era, obviamente, um dia como os outros.

Rodrigo estava sentado, teclando suavemente o texto que tinha que apresentar naquela semana. À sua volta, papéis, tabelas, livros, contribuíam para a defesa do seu raciocínio. Nada permitia concluir que era a contragosto que trabalhava ao domingo.

Pelo contrário. Desde que se separara da mulher, que o traíra numa noite em que se oferecera para o serão, que encetara uma fuga para a frente. Agora, o trabalho era o seu refúgio. Não tinha nada mais para fazer, ninguém por quem olhar.

A solidão daquele piso era o seu conforto.

Mesmo num dia de sol como aquele que lá fora se exibia.

1.7.11

Mais vale dormir

Cabeceava embalado pela trovoada e pela chuva que se abatia nas velhas telhas. A água rolava célere nos algerozes, emprestando uma música corrida ao ambiente aquecido pelo crepitar da lareira.
O gato ouviu primeiro, pois saltou eriçado ainda antes de Alberto erguer as pálpebras, endireitar-se e suster a respiração para aguçar o ouvido. Abandonando a pose de estátua, o gato indagou com um miado.
Respondeu-lhe: "Sim, também ouvi. O que foi?"
Os estrondos, distintos dos trovões que acompanhavam os constantes relâmpagos, não se repetiram. Pensou duas vezes antes de decidir que, para seu descanso, se impunha ir espreitar lá fora.
Já no alpendre, com a luz da rua a brilhar na chuva que tudo inundava, procurou a origem do estrondo duplicado. Sem correr o risco de molhar as patas, ou os bigodes, o seu companheiro aguardou no interior, roído por uma curiosidade que apenas teve força para o trazer até à porta.
Um arrepio empurrou Alberto para dentro, de volta ao lume da lareira. Já sentado, com o gato ao colo, entregou-se ao sono e perdeu a agitação que a polícia trouxe para negociar com o vizinho homicida, aquele que se barricou no quarto onde surpreendera a mulher com outro homem.
Alberto nem quis acreditar no relato que, no dia seguinte, toda a gente sabia contar. Nada ouvira, nada vira, tal a profundidade à qual mergulhara no sono.

29.6.11

Trabalhinho

O patrão aproximou-se e perguntou, de forma bruta como era seu timbre:

«Atão o qu'é que se passáqui?»

Sem levantar os olhos, o funcionário respondeu:

«Nada.Não se passa nada.»

«Isso vejo eu. E é o qu'está errado no desenho. Tocá trabalhar, qu'é p'ra isso qu'eu lhe pago!»

«Não, não é.»

«Não?! Não?! Mas quem é que pensa qu'é? 'Tá armada ó pingarelho, a formiguinha, é?»

«Não. Aliás, se fosse formiguinha, bulia sem mais. O seu problema é esse. Eu não sou uma formiguinha. Sou alguém com espírito crítico, inteligência e capacidade de decisão. E não estou aqui para obedecer às suas ordens. É por isso que, neste momento, não se passa nada.»

«Mas ouça lá...» - o patrão começava a dar sinais de impaciência, sentindo-se desautorizado. O facto de toda a gente da sala estar em suspenso a ouvir aquela troca de palavras não o ajudava. - «São dez da manhã e você está a ler o jornal à frente de toda a gente em vez de fazer o seu trabalho? E ainda me questiona? Quer é ir pr'ó olho da rua, é o que quer.»

«Lamento, mas não estão reunidas as condições para fazer o meu trabalho. E não me parece que me vá por no meio da rua.» - sorriu perante o óbvio.

«Não? Qu'é que quer mais? Um cafézinho? Um bolinho? O rabinho lavadinho com água de malvas?» - sorrisos contidos ouviram-se nas imediações. O resto da empresa aguardava com expectativa o desenlace de tão caricato diálogo.

«Agora está a abusar, não?» - sorriu o funcionário alimentando o desconforto do patrão. - «Até lhe posso dizer que estou à espera que me dêem uma password para começar a mexer neste computador. Mas, por ora, não se passa nada.»

Sem perceber minimamente a falta da password, o patrão lançou-se em frente:

«Esqueceu-se da palavrinha, foi? É muita areia p'rá sua camionete?» - ouviram-se gargalhadas sem contenção. O funcionário decidiu rematar a conversa que já ia longa.

«Se me permite a pergunta... quem afinal pensa que sou?»

Um silêncio de dúvida agarrou-se ao patrão, baralhado, inseguro.

«Bom, é o... é o... é o Ferreira!» - disparou quando de soslaio viu a placa que em cima da secretária ostentava o nome do funcionário da contabilidade.

«Pois..., bem me parecia. Segundo me disseram, o senhor já despediu o Ferreira há três semanas...»

O patrão quis recordar-se, mas o vazio da sua memória caminhava ombro a ombro com a inteligência fugidia.

«Eu sou Funcionário da Inspecção-Geral de Finanças. Estou à espera da password para entrar no sistema e dar início à auditoria».

27.6.11

Aperto




Tanta coisa para fazer, e os dias só têm vinte e quatro horas.

26.6.11

Não fujas bandido

Ontem assisti a um dos concertos de despedida do projecto Foge Foge Bandido.
Está a acabar esta deliciosa aventura de Manuel Cruz e amigos, e foi um prazer ver como se constrói este som tão único. Eles tocam violas, bateria, as mais variadas percussões, assobios, megafone, serrote, flauta e inúmeras electrónicas, com uma cumplicidade própria de quem se conhece bem e está à-vontade. Como uma boa banda de jazz, apesar do seu som não encaixar nessa etiqueta.
Quem os não puder ver nos últimos concertos, tente arranjar o disco/livro, por encomenda no site da banda.
Garanto que vale a pena.

20.6.11

Sejamos optimistas

«E as crianças pareciam feias,

no meio de tanta gente velha,

quando eu ouvi gritar,

"Meu Deus, estou todo picado pelas abelhas"»

(Jorge Palma)

18.6.11

Nova etapa

Temos Governo.
São poucos os Ministros. São jovens e reconhecem-lhes competência.
Esperemos que funcione. Como isto está, precisamos de gente competente, capaz e com coragem para acabar com a clientela que nos sugou durante os últimos anos.
Contudo, é certo, não estou muito optimista. Se me quiserem convencer, têm que continuar, passinho a passinho, a navegar da mesma forma que fizeram agora. Sem alarido, sem fugas de informação, boatos, diz-que-disse.
E quando anunciarem uma medida, que seja porque já a tomaram - (o PS era fértil em anúncios, muitas vezes repetidos, de medidas que acabaram por nunca ser passadas ao papel).

14.6.11

Cinema em dia

Há duas semanas fui ver o último filme de Terrence Malick.



Não tenho palavras para o descrever. Sereno, mas inquietante, o filme exibe em todas as interpretações uma intensidade que está ao alcance de poucos.



Sinceramente, creio que muitos consumidores de cinema já não sabem acolher produtos como este. Mas muitos outros vão repetidamente às salas de cinema à procura de jóias tão finamente talhadas e só ocasionalmente têm o prazer de as encontrar. Eu, numa palavra, adorei.



Este é um filme condenado a tornar-se um clássico.Ontem, optei por um registo totalmente diferente. A BD na base do cinema, como nos últimos anos se tem repetido, transforma-se num manancial de argumentos tão vasto, já traduzido em storyboards, que merece tratamento refinado.



Eu sou um apreciador de banda desenhada, e o universo dos X-Men faz parte do meu imaginário desde muito novo. E se muitas vezes temo que o cinema maltrate mundos criados para o papel, desta feita só tenho que aplaudir o fabuloso filme que traz à tela as origens dos mutantes, dos X-Men, e que clarifica as dinâmicas já retratadas na anterior triologia que culmina no confronto entre duas facções antagonistas de mutantes.



A acção é q.b. mas está muito bem montada. Aos mutantes é dada a densidade necessária para compreender as suas escolhas do presente e do futuro. E assim se percebe que os mundos criados pela Marvel, por muito fantásticos que sejam, têm a virtude de se desenvolver, explicar, consolidar, e ganhar um relevo que muitos argumentos (não sei porquê, mas lembrei-me do "Lost" - eheheh), em particular na televisão, não conseguem.



Para quem gosta de BD, em particular do universo Marvel, este filme é imperdível. De preferência com projecção digital, num grande écran, e, porque não, com uma generosa dose de pipocas.

6.6.11

E agora?



Mudança de ciclo e que, à partida, já tem algo de bom: mudam as caras, quebram-se os vícios, afastam-se as clientelas.

Quanto ao resto... a interrogação é grande. Por ora continuamos na mesma. Espero que os erros, as "gaffes", as descoordenações da campanha tenham sido excepções. Como aquele guarda-redes conceituado que na pré-época dá frangos ao desbarato mas, assim que começa o campeonato, se mostra imbatível.

Precisamos de um Governo competente, eficaz, pouco falador e muito trabalhador. Precisamos de governantes que, agora que foram eleitos, deixem a política para se dedicarem à governação. Precisamos de governantes menos preocupados com a comunicação social e com o "soundbyte". Pouco importa, Luis, se fico melhor assim, ou assim.

Importa se faço assim, ou assado.

Por mim, que votei, guardo o meu capital de reivindicação. Exijo um Governo capaz.

3.6.11

Sangue...

Após a dureza do Inverno, acorda o Urso Polar, magro, esfomeado, enfraquecido, e encontra este mundo assim.
Quem me dera poder hibernar sempre, dormir enroladinho, com o metabolismo reduzido e ser poupado a tudo isto.
O Urso acordou e não gostou do que viu.
O Urso fingiu que não se importava, mas importa-se.
O Urso vai mas é caçar, encher o papo, fazer sangue, manchar o gelo e refastelar-se de barriga cheia.
Com sorte, andam por aí uma focas mesmo a pedi-las!

1.6.11

Ai, ai-ai, ai-ai...

(desenho roubado da net, claro...)



Há dias em que acordamos com a perfeita noção de que andamos a remar contra a maré.

Tem tudo a ver com a véspera, e com a certeza de que, no futuro próximo, não conseguiremos mudar realidades que nos ultrapassam.

E, cantando e rindo, o mundo continua a ser dos "espertos".

27.5.11

A pedido de várias famílias

Digam lá se estes tons menos sombrios são mais agradáveis. Aceito sugestões.

Let England Shake


Ontem, P.J. Harvey exibiu-se na Aula Magna. Irrepreensível na prestação, apenas pecou por estar pouco tempo em palco. Distante, pouco faladora, mas disso já estávamos à espera. O último disco foi tocado de fio a pavio, com alguns, poucos, temas antigos.

A Aula Magna está igual a si própria, acumulando pó e aquele cheiro que faz lembrar os autocarros antigos que nos levavam nas visitas de estudo do secundário.

Guardo na memória a voz, ao vivo, de uma fantástica artista.

23.5.11

CCBeat

Entre quinta e sábado fui por três vezes ao CCB para assistir ao conjunto de concertos apelidado de CCBeat. E foi uma experiência muito boa, com um cartaz quase 100% perfeito.



Começámos com L.U.M.E., acrónimo de Lisbon Underground Music Ensemble, que numa fantástica abordagem ao jazz encanta com a qualidade dos intérpretes e o entrosamento alegre com que actuam.



Seguiram-se os Dead Combo. Vi-os agora pela primeira vez em palco e não fiquei desiludido. Pelo Contrário. Intensos, vigorosos, virtuosos e criativos fizeram-me pedir por mais e mais. São incríveis, e continuam a sê-lo ao fim de tantos anos. No segundo dia conheci Kaki King. Vê-la tocar e ouvir os sons que consegue fazer, em simultâneo, a partir de uma guitarra é uma experiência sem igual. Agora procuro os discos, porque tenho que a ouvir, mais e mais vezes, imaginando as imagens da sua prestação.
A segunda parte foi um monumental erro de casting, apesar de ser o concerto que mais gente chamou ao Grande Auditório do CCB. Áurea, que na rádio passa duas músicas que soam muito bem, é um hamburguer plastificado, sem qualquer chama. A banda é um conjunto de "contratados", não se sentindo a mínima empatia em palco. Tudo parece coreografado (apesar de mal interpretado) para parecer grandioso. Mas a música não liga, a imagem assusta, as falhas de afinação arrepiam, e mesmo os sorrisos, os saltos, os gritinhos da cantora são tudo menos espontâneos.
Ao fim de quatro músicas estava de saída. O ruído estava a estragar a experiência prévia da guitarrista virtuosa.





Sábado foi uma noite a abrir. Plateia cheia de "miúdos" - falo de universitários, o que já mostra como estou a ficar velho :o) - que às primeiras notas levantaram os rabos das cadeiras obrigando quem queria ver os concertos a ficar de pé. Saudável prática numa sala formal como o Grande Auditório que, assim, se transformou em vibrante alegria.


Os Diabo na Cruz mostraram a sua energia vinda da rodagem das festas académicas e do circuito nacional de concertos locais. O seu estilo "heavy vira" está encorpado por rigor técnico e criatividade musical, num registo de espontaneidade em palco e alegre empatia entre os artistas. É praticamente impossível ficar quieto a ouvi-los, tal a energia que nos transmitem.
Foi com chave de ouro que o festival terminou. Linda Martini são esmagadores, estão em palco perfeitamente à vontade, entregando um desempenho a 110%. Do lado de cá, pulamos, abanamos, e entregamo-nos ao headbanging enquanto as guitarras são puxadas ao extremo por um baixo vibrante uma bateria incansável. Mesmo no fim, um apelo da banda levou para o palco muitos e muitos dos que assistiam, permitindo assim fechar as hostilidades com uma pacífica invasão de palco que deixou muita gente contar uma nova história nas conversas dos dias seguintes.



Espero, sinceramente, que voltem a repetir-se iniciativas semelhantes. Muito bom!






24.4.11

:o(

Estou triste.
Mais uma luta inglória que foi perdida.
Adeus, amiga.

27.3.11

Adeus, Knut!

Estive em Berlim quando a discussão sobre o urso Knut estava ao rubro. Havia quem defendesse que deveria deixar-se morrer a cria de urso polar rejeitada pela mãe.
Doía-me ouvir defender tamanha hipocrisia, sustentada no argumento que o urso polar é um animal selvagem e não se justificava salvar o pobre urso rejeitado.
E quem via as fotografias, como poderia arengar pela morte do bicho?

O tratador foi peça fundamental para que Knut não só sobrevivesse, como se viesse a tornar num ícone para a defesa das espécies ameaçadas pelas alterações climatéricas. Infelizmente, o tratador morreu aos 44 anos, ainda Knut não tinha 2 anos de idade.
É triste.
Knut será sempre aquele ursinho branco, pequeno, que desde que nasceu teve de lutar pela vida, muito para além daquilo que via e sentia. O ursinho que foi debatido por ministros, advogados e juízes que acabaram por o deixar viver. Durante 4 anos aproveitou a vida.
Adeus, Knut!

Uma zebra é branca com riscas preta, ou preta com riscas brancas?

O último filme de Jean-Perre Jeunet (Delicatessen; Amélie; La Cité des Enfants Perdus; Alien 4) é uma incrível experiência de imaginação e gozo visual, seja pela criatividade nos cenários, no delírio da história, na pantomina da acção, ou nas referências e auto-referências à vista dos mais atentos.
Pena é que esteja em exibição apenas numa sala de Lisboa (Monumental 3). Também já roda no ZON vídeo clube, no pacote do Fantasporto.
A não perder!

16.3.11

Dúvida explosiva


28 de Março de 1979, E.U.A. - Central nuclear de Three Mile Island sofre uma fusão parcial com libertação de radioactividade para a atmosfera, assim como para o rio. Foram evacuadas 140.000 pessoas. O evento deveu-se a falhas do equipamento devido o mau estado de conservação e a erro operacional. Cortes de custos prejudicaram a manutenção e troca de material. Técnicos mal preparados tomaram decisões erradas.

26 de Abril de 1986 – Chernobyl, União Soviética. Um reactor da central nuclear de Chernobyl explodiu, entrou em fusão descontrolada e libertou uma imensa nuvem radioativa contaminando 5 milhões de hectares. O evento ocorreu durante o teste de um mecanismo de segurança que garantiria a produção de energia em caso de acidentes. A instabilidade do reactor foi provocada por uma combinação de erros humanos na sua operação, tanto mais que a sua construção estava ainda incompleta. Em Chernobyl foi libertada 400 vezes mais radiação do que aquando da detonação da bomba atómica de Hiroshima.


11 de Março de 2011 - Fukushima, Japão. Na sequência de um terremoto com a intensidade 9,0 na escala aberta de Richter, e de um violento tsunami, os sistemas eléctricos da central desligam-se, falhando as bombas do sistema de refrigeração. Após várias explosões, as autoridades confirmam que, pelo menos, um dos reactores entrou em fusão descontrolada e ocorreu a quebra do contentor de segurança. Quatro dos seis reactores enfrentam problemas graves. Há libertação de radioactividade em quantidade ainda por determinar. O cenário é preocupante.

Sempre que as coisas correm mal numa central nuclear, vemos os Homens a reagir de forma praticamente impotente, dominados por um fenómeno que não conseguem controlar. Se em 1979 a "culpa" foi do facilitismo derivado dos cortes orçamentais; se em 1986 a "culpa" foi da teimosa arrogância soviética, da falta de qualidade do material e do inevitável erro humano; em 2011 estamos perante um caso no qual se julga estar numa central nuclar exemplar, seja pelo rigor nipónico, seja pela ideia (que pode ser falsa) de que no Japão está tudo bem pensado e preparado.

São exemplos destes que fazem pensar se a opção nuclear compensa quando ponderada a vertente risco vs. proveito.





14.3.11

Evolução


Jisei Kenjutsu

8.3.11

Gary Moore

Apenas ontem soube que no dia 06 de Fevereiro deste ano Gary Moore, 58 anos, faleceu.
A primeira vez que ouvi falar dele foi quando veio a Portugal, nos anos oitenta, em digressão pelo disco "Wild Frontier" e o cartaz com a sua fotografia estava por todo o lado. Um colega de escola era já conhecedor e deu-me a ouvir algumas coisas de Gary Moore.
Pouco tempo depois os seus discos perdiam a sonoridade mais pesada do início de carreira para um reencontro com os blues. Os novos álbuns, cheios de virtuosas guitarradas, eram literalmente música para os meus ouvidos.
É com pena que sei que nos deixou. Estava a envelhecer muito bem, musicalmente falando.
O guitarrista deixa saudades.

:-(

O último filme de Woody Allen, "You will meet a tall dark stranger", foi uma desilusão.
O realizador já fez este filme mais do que uma vez, e fê-lo sempre melhor. Desta feita não trouxe nada de novo a um história já batida. Aliás, já batida por si noutros títulos geniais.
Este ano Woody Allen deixou-se levar em piloto automático e os seus personagens não têm a densidade, a profundidade que nos habituámos a encontrar nos seus filmes. São rasos, e nenhuma das interpretações de actores tão consagrados como os deste elenco consegue densificá-los nas habituais crises existenciais.
Desde que me recordo, este ficará como o pior filme de Woody Allen.
Em Janeiro haverá mais, esperemos que de melhor calibre.

7.3.11

Indomável

"True Grit" não mereceu o reconhecimento da Academia que não foi capaz de lhe dar um único Óscar. Jeff Bridges recebeu um o ano passado por uma prestação bem menos conseguida. Hailee Steinfeld estreia-se com uma prestação incrível mas, lá está, depois de entregarem Óscares a crianças passara a ter mais cuidado nesta coisa de premiar estreias.
O certo é que esta "coboiada" vai muito para além do espírito western, pois a densidade dos personagens extremamente bem interpretados dá-lhe a consistência habitual dos filmes dos irmãos Coen. As suas marcas de ironia, de humor negro, estão lá, por entre um diálogo soberbamente escrito e melhor representado.
Sem dúvida, para mim, um dos melhores filmes do ano!

1.3.11

Nem sempre



Não morreu nova nem ficou badalada na iconografia mítica, como Marilyn Monroe.
Mas vê-las, lado a lado, no inesquecível “Os Homens Preferem as Louras” foi, e é, uma experiência gratificante. Jane Russell era, sem margem para hesitações, uma mulher mais bonita, mais vistosa que a melhor promovida parceira de cena.
Morreu esta madrugada, aos 89 anos, devido a problemas respiratórios. Fica na memória a recordação dos seus filmes das décadas de 40/50.
E é um exemplo perfeito da falsidade da afirmação que titulava aquele filme.


28.2.11

Os vencedores de 2011


Melhor Filme - “The King's Speech” Iain Canning, Emile Sherman and Gareth Unwin, Producers

Melhor realizador - “The King's Speech” Tom Hooper

Actriz principal - Natalie Portman “Black Swan”

Actor principal - Colin Firth “The King's Speech”

Actriz secundária - Melissa Leo “The Fighter”

Actor secundário - Christian Bale “The Fighter”

Melhor argumento adaptado - “The Social Network” de Aaron Sorkin

Melhor argumento original - “The King's Speech” de David Seidler

Melhor filme estrangeiro - “In a Better World” Denmark

Melhor filme de animação - “Toy Story 3” Lee Unkrich

Direcção artística - “Alice in Wonderland”- Robert Stromberg; Karen O'Hara

Melhor documentário - “Inside Job” Charles Ferguson eAudrey Marrs

Melhor curta animada - “The Lost Thing” Shaun Tan e Andrew Ruhemann

Melhor curta - “God of Love” Luke Matheny

Melhor banda sonora original - “The Social Network” Trent Reznor e Atticus Ross

Melhor Música original - “We Belong Together” de “Toy Story 3" música e letra de Randy Newman

Cinematografia - “Inception” Wally Pfister

Guarda-roupa - “Alice in Wonderland” Colleen Atwood

Edição - “The Social Network” Angus Wall e Kirk Baxter

Caracterização - “The Wolfman” Rick Baker e Dave Elsey

Edição (som) - “Inception” Richard King

Mistura (som) - “Inception” Lora Hirschberg, Gary A. Rizzo e Ed Novick

Efeitos Especiais - “Inception” Paul Franklin, Chris Corbould, Andrew Lockley e Peter Bebb



24.2.11

Faça-se luz

Um dia como o de hoje contribui mais para a felicidade individual que inúmeras boas notícias.
Viver com o nosso clima é uma benção da natureza. Dias assim, luminosos, com o calorzinho aconchegante de um anúncio primaveril arrastam-nos para fora dos tempos sombrios mais recentes.
Hoje, enquanto caminhava na rua à hora de almoço, não queria saber de cortes no vencimento, de deficits, de contestação social, de reestruturações, de trabalho... só me interessava o calor que corria o corpo, a energia que activava a pele, a luz que tudo iluminava.
À minha volta as pessoas brilhavam, sorriam e abrandavam para sentir o momento. Antecipa-se o regresso dos dias quentes. Diz-se o adeus à chuva e ao frio. Não interessa se a mudança é duradoura ou não. Mesmo que haja uns indesejados retornos invernais, agora já se sente que está para breve o desempacotar dos calções e das t-shirts.
Só falta saber se no fim-de-semana poderemos usufruir deste calor do dia, para regressar à noite a casa, ao aconchego exigido pelo frio que as estrelas ainda trazem.
Gosto muito desta altura do ano.
É a altura em que o Urso abre os olhos e sai da hibernação.

22.2.11

Que tal?

Aceitam-se opiniões.

20.2.11

Dias úteis?

Estou outra vez numa fase em que mais valia que a semana tivesse dois dias úteis e cinco de fim-de-semana. Talvez assim valesse a pena...

16.2.11

Sugestão

Ontem bebi deste vinho (bom, foi da colheita de 2009) e foi uma descoberta fabulosa. Grande novidade. Recomendo vivamente. Se o tiverem à vossa escolha, não hesitem.
A sério. De que valia a pena esconder o segredo? Que sejam os meus amigos a bebê-lo!

14.2.11

Fabulástico

"Black Swan" é muito mais que um filme sobre ballet. É muito mais que uma montra para Natalie Portman brilhar. É muito mais que um filme de suspense. É muito mais que um retrato de demência.
É muito mais que um bom filme. É um filme muito bom.
E uma tela de grandes dimensões dá-lhe o ar que precisa para bem respirar.
Foi bom regressar ao Londres.

12.2.11

Diferença

A grande diferença de estar a trabalhar ao sábado está em ter a música alto, poder fazer barulho, ninguém me distrair e o telefone não tocar.
Tudo pontos positivos que se traduzem em alta produtividade.
Mais negativamente, importa perguntar: que raio estou eu a fazer ao sábado no meu local de trabalho, quando lá fora está um sol fantástico e um mundo chama para ir gozar coisas boas?

5.2.11

Corações de Atum

Estou a ouvir este disco... e estou encantado. Manuel João Vieira, igual a si próprio, com uma extraordinária qualidade de som, um cuidado extremo nas músicas, e letras inconfundíveis.
Comprem, que é um artista português!

2.2.11

Praga

Que praga é esta a dos cabeleireiros?
Perto de minha casa nascem como cogumelos. Num pequeno raio contam-se uma dúzia de "salões". Haverá cabelo para tanta gente trabalhar e fazer disso meio de vida?

1.2.11

Geografia à americana

Com televisões assim, não é de estranhar que os americanos sejam uma nódoa em geografia.

31.1.11

Daniel Weisser

O meu fim-de-semana foi dedicado a este extraordinário praticante do método Jisei de Mestre Kenji Tokitsu.
Doze horas de treino com a pessoa que mais perto está do Mestre Tokitsu, e que não só acolhe os seus ensinamentos como os transmite de forma sagaz e expressiva.
Daniel Weisser é um verdadeiro espelho do Mestre, sendo impressionante a semelhança na forma como se move, se exercita, se expressa.
Sem dúvida que, na impossibilidade de ter o Mestre Tokitsu aqui em Portugal, trazer o Daniel é uma aposta segura, uma aposta ganha, e uma oportunidade imperdível.
Para conhecer mais, aqui.

27.1.11

À noite houve concerto

O concerto de ontem no CCB valeu cada cêntimo pago pelo bilhete. Sentado na segunda fila tive o prazer de ver em palco Joanna Newsom, espantosa cantora, incrível harpista e pianista, com uma sedutora presença e excelentes capacidades de comunicação para animar as transições entre interpretações.
Acompanhada por músicos que completam com virtuosismo o espaço melódico disponível, assistir à sua apresentação garantiu uma hora e meia de contínuo e genuíno prazer.
Se ouvir os seus discos já é uma experiência sublime, conseguir ver os esgares, os movimentos, toda a linguagem corporal de Joanna Newsom transporta-nos para outra dimensão da música. Uma extraordinária dimensão.
A primeira parte do concerto ficou a cargo de um dos grandes trovadores dos nossos tempos. Alasdair Roberts (que já vira no Santiago Alquimista a abrir para Bill Callahan) apareceu por detrás da cortina e avançou para a boca do palco sem qualquer artifício. Só ele, a sua guitarra, dois microfones e um monitor de munição. Quase encostado à cortina que permaneceu fechada, Alasdair presenteou-nos com as suas mais recentes criações, baladas escocesas plenas de melodia, musicalidade, capazes de nos fazer sentir o frio e o verde, a chuva e as rochas da Escócia onde vive.
Quem ainda não conhece, faça favor, procure ouvir este estupendo cantautor.

26.1.11

Toma lá... dá cá

"(...) As prendas de Natal não cabiam em três salas. Era sempre a mesma coisa, mas, para mim,era absolutamente indiferente quem me estava a dar a prenda. (...) Nunca comprei uma caneta ou um relógio, mas nunca me senti minorado na minha honestidade por causa disso." As declarações são de Jorge Sampaio, ex-Presidente da República, que ontem fez questão de comparecer pessoalmente no Tribunal Central de Instrução Criminal de Lisboa para defender o amigo José Penedos. (...)
(Tânia Laranjo, Correio da Manhã, 25.01.2011)
Palavras para quê. Um almoço nunca é de graça e quem dá uma prenda a uma autoridade, ao titular de um cargo público, a um decisor, sem com ele ter uma relação pessoal, obviamente quer "cair em graça". Ou seja, está à espera de um "favorzinho" quando chegar o momento certo.
Qual é a diferença para os dragões de loiça, os apitos de ouro ou a "fruta" do futebol?
A diferença é que o futebol é um desporto, um negócio privado com repercussão pública, enquanto que a Presidência da República é uma questão de Estado.
Sampaio... desta vez desiludiste-me a sério.
Quem se lembra de um filme antigo, com o Kevin Costner, em que o Departamento de Estado Americano regista todas as ofertas feitas? Seria interessante que Jorge Sampaio tivesse promovido tal registo. Pelo menos saberíamos quem foi que ofereceu os relógios e as canetas que ele usa mesmo sem saber a origem. Chama-se a isso declaração de interesses...

21.1.11

A Estalada

A estalada foi de € 551,67.
Cálculo feito entre o salário líquido de Dezembro e o de Janeiro, sem sequer contar com o subsídio de almoço.
Felizmente quem me paga fez as contas pela ordem certa: primeiro reduziu a percentagem do assalto e depois calculou os descontos para a ADSE, IRS e CGA. Logo, atenuou a estalada em € 216,33, que foi aquilo que paguei a menos em descontos.
Cento e dez contos dos antigos, só à minha custa, é uma dor no orçamento...

17.1.11

As virtudes do método

Algures pelos onze anos de idade queria ir para o judo, mas os meus pais acharam que era melhor fazer ginástica, já que ficava mais perto de casa. Detestei a escolha e sempre lamentei não ter praticado aquela arte marcial.

Em Maio de 2009 vi anunciada a modalidade “kenjutsu”. Ao espreitar para uma aula e ver que a idade dos praticantes não contrastava com os meus 37 anos de então, não hesitei.

O Mestre acolheu o meu entusiasmo e de imediato desafiou-me para as aulas de tai-chi que tinham, e têm, o assustador horário das 07h15m (da manhã, claro). Não querendo desiludir fui experimentar, com algum cepticismo, e bastou a primeira aula para desmistificar todas as ideias pré-concebidas, e largamente erradas, que tinha da modalidade.

Considerando que o Urso tem alguns problemas de coluna, naquela altura chegara a um ponto em que, com frequência, sentia dores, desconforto, limitações funcionais, sintomas que o exercício que fazia no ginásio ou na piscina, ainda que moderado, não lograva minorar. Ora, cedo me apercebi que o tai-chi era exactamente aquilo de que precisava.

Estou a caminho dos dois anos de prática do método jisei. Pratico tai-chi, kenjutsu e ainda budo. Tenho hoje uma disponibilidade, mobilidade, força que estava longe de pensar que conseguiria ter. As dores nas costas são cada vez mais uma memória. Quem me conhece há anos repara e comenta que estou mais direito, que me mexo de forma mais ligeira.

Devo-o ao método e ao trabalho seguido nestas aulas.

Quando por alguma razão falto a várias aulas seguidas, de imediato o meu corpo avisa que preciso mimá-lo com algum trabalho de qualidade. Felizmente, qualquer espaço, mesmo em casa, permite que nalguns minutos consiga realizar exercícios básicos do método, afinando a máquina e dando-lhe a energia necessária para, com eficácia, enfrentar as exigências do dia-a-dia.

Devo ainda recordar que, em estágio, por duas vezes estive perante o Mestre Kenji Tokitsu, bebendo na fonte os frutos do meticuloso trabalho que vem desenvolvendo há uma vida. E isso é uma experiência inolvidável.


12.1.11

Frio?

Os dias sucedem-se sem que o frio passe por aqui.
Então, porque raio continuo a ver gente vestida como se estivéssemos sob uma onda de frio polar?
Hoje, no metro, vi gente de cachecol, gorro, luvas, casacos pesados o que até me fez sentir mal. Eu cheio de calor no abafado do metropolitano e aquela gente com ar enfiado, mortiço, friorento...
Haverá assim tanta gente "fraquinha"?

9.1.11

Domingo

Deitado na cama a passear na net com o meu novo MacBook Air de 11" é uma boa maneira de começar um domingo.
Andei tentado a comprar um iPad. Mas quando percebi que brevemente irá sair uma nova versão muito mais interessante e, de repente, pus a mãos neste Air... Com um quilo de peso, fino como um raio, menor que a maioria dos livros, com um écran fantástico... um computador a sério.
Sei que estou cada vez mais fanático pelas criações da Apple, mas o que é certo é que os tipos sabem fazer ferramentas/brinquedos deliciosos.

5.1.11

Ibéria

O filho de um casal português-espanhol, que tenha nascido pelo ano novo, tem as festas do Natal, dos anos e dos Reis numa curta sequência semanal.
Recebe prendas em Portugal pelo Natal, em ambos pelos anos, e em Espanha pelos Reis .
A menos que a cada prenda, especialmente quando ficar mais crescidinho, ouça a terrível frase: "olha, é pelo Natal (Reis) e pelos anos" :-(

3.1.11

Fartar vilanagem

Não compreendo como não há consequências daquilo que o Tribunal de Contas vem dizendo e que quase diariamente aparece nos meios de comunicação social.
Num país adulto, responsável e credível, todos estes "gestores" que exploraram indecentemente os recursos do país, eram, no mínimo, desde logo afastados dos seus cargos públicos para não mais voltarem a tal tipo de funções.
Porém, por cá, as frases caem em saco roto. A "agência noticiosa governamental" não dá qualquer eco a estas notícias, pelo que rapidamente desaparecem da ordem do dia. E a população em geral, capaz de se indignar com questões menores, pontuais, casos particulares, mostra-se indiferente a estas revelações que considero verdadeiras ameaças para o Estado de Direito e o nosso modo de vida.
Lamento a falta de responsabilidade e o vazio subsequente às decisões do Tribunal de Contas.
E não resisto em deixar o meu louvor ao seu Presidente, que sendo um homem do aparelho socialista (que já foi ministro) mostra como se pode ser recto, competente e independente.