27.9.12

Já Cansa...

... ouvir a palavra

Excepção*


*(naturalmente, aqui sem a treta da nova grafia que andam a tentar impingir)

19.9.12

Trânsito, rotunda e cépticos

Não me ouviram dizer mal das alterações à Rotunda do Marquês de Pombal. Algum cepticismo, sim, quando não percebia como iam pôr duas rotundas naquele espaço. Quando percebi que se tratava da abertura do anel exterior, logo compreendi os ganhos na circulação, a redução dos cruzamentos entre viaturas, a maior previsibilidade do trânsito. E fiquei à espera.
Como estarão agora os arautos da desgraça, ACP à cabeça, quando se diariamente se vê um trânsito mais racional, mais fluido, diferente?
Há que assumir o objectivo de redução de automóveis na cidade, em particular na Baixa. E por isso a Avenida tem menos espaço para circular. O que faz sentido: agora a Avenida tem a mesma largura que as ruas que, a partir do Rossio, têm que escoar o trânsito que vem de cima. Não há afunilamento lá em baixo. Pelo menos, ontem, ao contrário de outros dias, não havia nenhum constrangimento e, rapidamente se chegava ao Campo das Cebolas partindo do Marquês.
Eu continuo a acreditar que esta solução, com as necessárias correcções que a experiência venha a ensinar, poderá ser gratificante para o trânsito lisboeta. Apenas será preciso calma para os primeiros dias, e paciência para interiorizar o funcionamento do trânsito. Ler o folheto ajuda. Olhar para a sinalização, também.
Espero agora por mais vida na avenida.


18.9.12

Pela primeira vez, republico a publicação de outro blogger


Reproduzo aqui o texto do Cão com Pulgas Pedro Aniceto.

"O jogo da Glória

Queria tanto ser perfeito naquilo que não quero descrever, Glória. Queria lembrar-me do seu sorriso mas tudo o que me pergunto é como é que ainda consegue sorrir. É que sabe, Glória? Eu levantei-me no passado Sábado para, com um grupo de amigos, participar num concurso de fotografia. Abri os olhos, levantei-me e fui até lá, pensava eu que de olhos bem abertos, ao encontro dos meus amigos que são realmente fotógrafos, sim que eu não sou fotógrafo, nem artista, nem nada que se possa comparar a um arremedo da arte. Em matéria fotográfica sou um cepo, Glória. Um cepo. Eu achava até, Glória, que me esforçava. É mentira. E cheguei à conclusão de que é mentira, por sua causa. Vi-a a sorrir e talvez tenha sido o primeiro a fotografá-la. Numa janela lá no alto, quatro arames de estendal a estragar-me a composição. É sempre assim, minha querida, é sempre assim, só vi os arames depois, muito depois, já era tarde, demasiado tarde. Por isso me socorro agora da fotografia, da sua fotografia, feita pelo meu amigo Hugo Pereira, ele sim deveras melhor do que eu nesta arte de deixar para amanhã as marcas do tempo de hoje e de todos os hoje que já faleceram, apanhou-lhe um sorriso que de quando em vez me parece um esgar de dor. E talvez seja. Na verdade, Glória, você estragou-me o dia. De tal maneira que hoje está quase finado o Domingo posterior ao Sábado que você me arruinou e continuo a pensar em si e em tudo o que significou este nosso encontro. Não pelos arames, (malditos!), não pelo vaso e a folhagem que nem ficam mal no conjunto; eu continuo em busca da imagem perfeita que nunca farei e você estará ali, a sorrir, sempre a sorrir, como se tivesse qualquer razão secreta para não deixar de o fazer.

Eu fotografei-a, Glória. Quero dizer, acho que o fiz, mais do que no cartão, ficou-me na alma outra impressão mais funda e toda a gente vai ficar a saber disso mesmo, acredite, farei por isso mais do que pela imagem que guardei de si nas estranhas da minha máquina fotográfica. Mesmo com os arames que eu não vi mas que quero acreditar que sempre lá estiveram, a folhagem que eu sempre achei que era bem mais curta ou a aduela da janela que não era suposto ter ficado à vista. Aos meus olhos nunca esteve. Mas foi sempre assim nas minhas fotografias.

Nesta altura todos nós, eu e os meus amigos que efectivamente parecem saber fotografar e que entendem como ninguém de arames, folhas, aduelas e sorrisos, estamos consigo, você convida-nos a ir fotografar algo que tem dentro de casa, e nós, eternos crentes, acreditamos como meninos que vai haver algo de maravilhoso para fotografar; havia céu, sol e uma tremenda curiosidade de calcorrear estradas que estão mesmo a dizer-nos "É melhor não...".

E é precisamente neste momento que se dá o erro, o equívoco em que haverá de se transformar este seu convite. Havia algo a querer dizer-me "Vai-te embora! Vai-te embora!", mas não, não fomos, eu baixei a máquina, estava desfeita a magia e quebrado o encanto do compromisso, dali para a frente, como diz a outra, só haveria dragões.

Vejo o
Vasco Casquilho a disparar. Diz-me a prática que quando um fotógrafo a sério dispara, é sinal de que um qualquer aprendiz de feiticeiro fotográfico se deve colocar por detrás dele, em linha de mira com os sonhos do instante que me habituei a não aproveitar. Sucedeu isso muitas vezes durante este meu Sábado, chegámos a falar sobre isso mesmo e das poucas vezes em que eu decidi ir a jogo, seguir-lhes os passos e o olhar, perdi sempre, qual pistoleiro destreinado ou de mão trémula. A vantagem da fotografia face ao duelo é que, felizmente, podemos perder muitas vezes e continuar a tentar. E não faz sangue, só dói nas almas.

Não o fiz, (haveria de tentar emendar a mão muito mais tarde no meu dia), o Vasco continuou a disparar e eu a prestar-lhes atenção a ambos, a Glória, a dizer-me "Venha fotografar a minha casa", como uma sereia a atrair incautos navegantes do nada imaginado. Entrei a porta, tremendo engano, não o deveria ter feito, soube isso meros segundos após ter devassado a penumbra. O Vasco continuou a disparar, pediu-me até que me desviasse, e eu desviei-me, e a primeira pergunta que me coloquei, foi "Mas como é que é possível?".

Eu fui lá cima, Glória. É curioso como se pode descer a um Inferno, subindo. Eu fui lá cima e vi como é que alguém como você consegue sorrir depois de me mostrar onde vive. E como vive. Nas condições a que pouparei o leitor, mas que como poderão dentro de meia dúzia de linhas poder imaginar, acarretam risco de vida permanente. Eu disse, risco de vida permanente. Acreditem em mim. Tive vergonha de sequer erguer a lente ou carregar em que botão fosse. Talvez não tenha sido apenas por vergonha mas sim medo de falhar algum movimento dos meus pés e estatelar-me no andar de baixo. Desci vergado à culpa. À culpa de ter subido, Glória. E você subiu à minha frente. Corrijo: Escalou a escada daquilo a um senhorio chama casa, à minha frente enquanto eu abria a boca de absurdo espanto. E quando cheguei cá baixo, sem uma palavra, o Vasco sussurrou-me "Queres uma (foto) vencedora?" e mostrou-me isto:



Não lhe perdoo, Glória, que sorria. Não lhe perdoo que me tenha assombrado o fim de semana. E não é apenas isso que lhe não perdoo. Estas imagens não irão disputar o concurso de fotografia e eu tenho pena. Pena e desconforto de não conseguir ser perfeito no meu silêncio, nas minhas omissões. Sem brilho mas com Glória.



Em virtude dos múltiplos contactos que tenho tido sobre a questão aqui levantada da casa da D.Glória, e na impossibilidade de responder individualmente a todos em tempo útil, elaborei esta lista de perguntas frequentes, que poderá dar resposta a alguns de vós. Obrigado pela solidariedade."
 
 
 
Vejam e ajudem a divulgar. É provável que, só isso, já consiga resultados.

17.9.12

Meio milhão

Meio milhão de pessoas. Meio milhão…
Quinhentas mil almas reunidas num único espaço, indignadas, ultrajadas, fartas do rumo tomado pelas suas vidas. Gritam palavras de ordem, insultos, aproveitam para desabafar as amarguras que diariamente as oprimem. Sentem-se incomodadas e encontram no calor da multidão conforto, quanto mais não seja por perceberem que não estão sós, que muito mais gente vê o futuro pintado de negro a partir deste presente cada vez mais escuro.
Por isso falam para o lado e recebem compreensão do vizinho desconhecido que, com empatia, sorri e aproveita a primeira pausa para, também ele, desfiar o rosário das suas dificuldades. Ao ouvir estórias piores que a sua, o indivíduo encontra uma irracional satisfação quando confirma que há quem seja mais desafortunado e que para si olhará com um laivo de inveja.
Volta e meia interrompem-se as trocas de experiências para entoar um cântico comum. Nesses momentos, a vibração das vozes em uníssono faz tremer os espíritos mais empedernidos. Há nós nas gargantas e lágrimas ao canto do olho. Há uma convicção de que, todos juntos, não poderão ser detidos. Serão imparáveis. Uma maré viva. Um tsunami.
Tremam!, dizem no seu íntimo. Tremam!, e vergam-se à vontade desta multidão.
Rapidamente passam as horas.
Rapidamente a multidão desmobiliza. Gente não habituada às lides de rua queixa-se de dores nos pés, nas pernas, queixa-se de fome, de sede… falam em ir para casa tratar da janta, deitar os miúdos, amanhã vou almoçar a casa dos pais, eu vou ao hiper fazer compras, eu já combinei uma ida à praia que o tempo ainda está bom, há que aproveitar.
Num ápice, o magnífico caudal que inundou a praça reflui pelos inúmeros canais de saída, escoando as pessoas por ribeiros enfraquecidos.
Num ápice meio milhão transforma-se em cinco mil.
Aqueles que se vão ostentam um sorriso de dever cumprido, como se tivessem mudado o mundo.
Mas nada mudou. Tudo ficou na mesma.
Sem liderança, sem alternativas, sem soluções, sem propostas reais e não demagógicas, a multidão limitou-se a partilhar a catarse. A lavar a alma. Nada mais.
Fizeram as notícias da TV. As manchetes do jornal. Falaram para a rádio.
Mas a demonstração da sua força revelou igualmente a sua fraqueza. Por enquanto ainda são, apenas, meio milhão de pessoas num único espaço. Por enquanto o indivíduo ainda não se anulou em prol do colectivo, com poder próprio e desmedido. Enquanto não tiverem liderança, ou enquanto o desespero não fizer com que cada um deixe de pensar em si, a presença do indivíduo na multidão não será bastante. Bastante para uma luta, uma revolução, uma guerra.
Se a qualquer um dos que ali se encontra for dada a oportunidade de viver uma rica vida rica, ele de imediato abandonaria o seu posto deixando à sua sorte o inseparável amigo manifestante.
E o poder sabe isso.
Sabe que tem que medir a dor, o sacrifício, pois estes serão tolerados enquanto ainda houver esperança.
Andar nesse ténue equilíbrio será a arte do político. Saber ler a tensão do elástico para ter a certeza de que, enquanto o estica, não lhe vai rebentar na cara.

4.9.12

Fringe

Em quinze dias de férias vi os 88 episódios das quatro séries de Fringe já emitidas. Anuncia-se a 5.ª série, como sendo a final.
Desde a nova Galáctica que não "entrava" tanto num universo de ficção científica. Gosto muito da série, e nem os tiques "Lost" dos criadores comuns a conseguiram estragar. Estou expectante pelo remate que aí virá, e não deixo de recomendar a todos um olhar sobre  esta série. Porém, aviso desde já, não adianta procurar um ou outro episódio, pois se assim fizerem, o mais certo é não perceberem tudo o que está em jogo. Há um fio condutor ao longo de toda a série, pelo que tem que ser vista sequencialmente.
Sim, eu sei, são oitenta e oito episódios de 40 minutos... Mas pensem positivamente. Eu vi-os em quinze dias!

3.9.12

Má herança

A crítica aumentou as expectativas. Ver o filme derrubou-as sem apelo nem agravo.
"O legado de Bourne" não é um bom filme. Aproveita o universo criado na triologia que lhe antecede mas não consegue manter a estrutura inteligente da intriga que aparecia a justificar a violência filmada de forma original.
Usando as palavras de quem me acompanhou no visionamento, "Em vez de nos contarem a história, dizem-nos a história". Não há nada para descobrir, há só informação que linearmente nos é dita, com cenas de acção repetitivas.
É, para mim, uma oportunidade perdida. E fica a milhas dos anteriores filmes doa quais vou gostando mais a cada vez que que os revejo.

Jack White

Na sexta-feira estive no Coliseu para ver e ouvir Jack White. Com músicas dos Whitestripes ao primeiro álbum a solo, Jack bombardeou-me com o nivel mais elevado de decibeis ao qual alguma vez fui sujeito. Duas horas de música muito bem interpretada mas capaz de fazer bater o coração de alguém morto há uma semana.
Vinte e quatro horas depois ainda tinha os ouvidos a zunir. Das duas uma: ou estou mesmo velho, ou foi mesmo um exagero. Não estou a ser parcial ao inclinar-me para a última opção. É que, tal volume, roçou o desconforto, prejudicando a memória que guardo do concerto.
Uma coisa é, contudo, segura: o tipo sabe tocar, sabe o que é rockar, sabe o que é compor e como tocar uma guitarra. E a banda que o acompanha é muito boa. Para mais fotos, podem ver aqui.