16.4.07

No escuro da sala

Já um pouco requentada (vi-o há duas semanas) deixo aqui a minha opinião sobre o último filme de Nanni Moretti, "Il Caimano".
Não há dúvida que o realizador sabe realizar, sabe dirigir actores e sabe contar a história que tem entre mãos. Desta feita, mais do que tudo, e com o artifício do "filme dentro do filme", Moretti conta-nos a história da concentração de poder em Berlusconi, na ressaca da operação "mãos limpas" levada a cabo pelas magistraturas italianas. E ao fazê-lo revela toda a sua paixão pelo tema, ele que, homem de esquerda, viveu com angústia o apagamento dos partidos de esquerda perante a anestesiante investida de alguém que, escudado no seu domínio dos media, governou com prepotência os destinos da Itália. Quem não se lembra de Moretti a gritar para a televisão "Diz qualquer coisa de esquerda!" num debate para as eleições italianas.
Desta vez o realizador apenas aparece como actor durante um pequeno pedaço do filme. Mas chama a si o discurso final onde Berlusconi assume todo o seu poder e afronta a judicatura. As chamas em segundo plano, à medida que se afasta do Tribunal são reveladoras do negrume vivido no período relatado.
Pelo meio, estruturando todo o filme, a história de um produtor falhado e de uma argumentista/realizadora convicta e determinada.
Sem dúvida um grande filme, a merecer nota máxima. A ser visto e revisto. Porque temo que numa segunda leitura posso encontrar pormenores que me terão escapado.

"Sunshine - Missão Solar" é o terceiro filme de Danny Boyle, que nos deu o fabuloso Trainspotting e o muito agradável 28 Dias Depois. Neste filme conta-se a história de uma missão espacial que vai tentar lançar uma bomba do tamanho da ilha de Manhattan no Sol para reavivar a sua chama que se está a apagar.

Dentro da nave um grupo de astronautas vive as dificuldades do isolamento, e é posta à prova sucedendo-se as dificuldades, os desaires e... e o resto é a surpresa do filme.

O que trás de novo? Só o facto de os astronautas irem no sentido contrário àquele a que estamos habituados a ver. E, por isso, o Espaço é muito mais luminoso, quente, propiciando efeitos especiais espectaculares (se bem que demasiado ruidosos para meu gosto, tanto mais que no vácuo não há som...).

De resto está lá tudo o que é comum em ficção científica: o medo, o suspense, o incerto, a ciência versus Deus, a determinação de uns em benefício de outros. A alucinação, desta vez alimentada na luz solar.

Contrariamente à grande maioria das críticas que já li, não gostei da realização. Nada de novo trouxe, e a qualidade dos actores não chega para ultrapassar a confusão gerada pela visão do realizador. Desiludiu-me profundamente, e não consigo ir para além da nota 2. Não chega ver este magnífico sol.

2 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada pelas sugestões!

Urso Polar disse...

Sempre às ordens. Não há filme que veja no cinema que não acabe aqui comentado.