Onde estavas no dia 11 de
Setembro?
A pergunta não é do
Baptista-Bastos e não tem a ver com o 25 de Abril. Tem antes a ver com um outro
dia marcante e com imagens chocantes.
Eu estava em casa. Na altura
ainda em férias, estava a levantar a mesa do almoço enquanto a televisão
debitava o fim do telejornal com o José Rodrigues dos Santos (1). É feita a
chamada para o tema: um avião embateu no World Trade Center, em N.Y.
A curiosidade mórbida que
nos atrai para as catástrofes fez-me olhar as imagens da CNN que a RTP1 pôs no
ar. À distância, de muito longe, via as duas torres gémeas e uma delas d[e]itava
fumo.
Naquele momento pensei que tinha
sido uma avioneta a embater no edifício. As proporções eram enganadoras e eu
não apreendi a escala. Imaginei um temerário a voar pelo meio das torres e a
correr mal a acrobacia. Imaginei um avião avariado em queda.
E foi então que se viu, como um míssil,
outro avião a embater na outra torre. Fiquei de boca aberta, baralhado,
espantado, incrédulo. O que fora aquilo?
Mais uma vez a escala era
enganadora, e eu vira uma "avioneta" a explodir. Imaginei um avião
das televisões que se aproximara demais, imaginei um controlo aéreo
descontrolado. Mas então lembrei-me que os media andam de helicóptero, não de avião. E que mesmo com más indicações dos
controladores aéreos qualquer piloto veria as torres.
"Mãezinha, o que está a
acontecer?"
Recordo-me como se fosse
hoje. Sentei-me no sofá com o prato sujo nas mãos e fiquei a olhar e ouvir,
esperando perceber o que se estava a passar. O Rodrigues dos Santos nada sabia
adiantar: estava tão aparvalhado como eu. A SIC e a TVI nada mostravam ainda.
Naquela altura apenas tinha os quatro canais de sinal aberto.
A CNN mostra outra imagem da segunda
colisão: é então que percebo que os aviões em causa são aviões comerciais de
passageiros, jactos, grandes aparelhos. Um arrepio anuncia-me o que já era
óbvio: os EUA estão a ser atacados com os seus próprios aviões.
Falam no terceiro avião, que
cai no Pentágono. Imagino futuros cenários de guerra alargada. Acompanho com
angústia o terror daqueles que estão nas torres. Vejo os minutos passar com o
incêndio a aumentar. Corpos lançam-se das janelas e precipitam-se no abismo
mortal para se esmagarem na rua. A azáfama dos bombeiros parece inútil: um
combate de formigas contra gigantes. O fogo está lá no alto, alimentado pelo
combustível dos aviões utilizados.
E, de repente, uma das torres cai
pulverizada, desmorona como um castelo de areia. Com ela todos os que lá se
encontravam. Gritei. Recordo que gritei. Como é possível? Como pode um edifício
daqueles entrar num colapso tão definitivo? Como pode morrer assim tanta gente?
Entretanto já telefonara
para família e amigos. Dessa forma partilhava aquilo que via e sentia ali,
sózinho na minha casa. A segunda torre cai, da mesma forma, e o Rodrigues dos
Santos começa por dizer que aquelas imagens ainda eram uma repetição de
primeira derrocada. Gritei a sua incapacidade para perceber que aquele era
outro desmoronamento. Ele deve ter ouvido porque de imediato corrige a
informação. Também ele, horrorizado, se apercebe que no horizonte de NY já não
há qualquer uma das torres gémeas.
Fiquei agarrado ao televisor
o resto do dia. No dia seguinte comprei vários jornais. Temia o que se ia
seguir.
.
Notas: (1) o José Rodrigues
dos Santos não estava a apresentar o telejornal do almoço. Foi chamado assim
que se aperceberam que algo de grande estava a acontecer e assumiu as rédeas da
emissão em directo que continuou logo depois desse noticiário.
O original está acompanhado de fotos. Desta vez recomendo um extraordinário livro de fotografia cujas histórias nele contadas são impressionantes.