11.9.06

Cinco anos

Onde estavas no dia 11 de Setembro?
A pergunta não é do Baptista-Bastos e não tem a ver com o 25 de Abril. Tem antes a ver com um outro dia marcante e com imagens chocantes.
Eu estava em casa. Na altura ainda em férias, estava a levantar a mesa do almoço enquanto a televisão debitava o fim do telejornal com o José Rodrigues dos Santos (1). É feita a chamada para o tema: um avião embateu no World Trade Center, em N.Y.
A curiosidade mórbida que nos atrai para as catástrofes fez-me olhar as imagens da CNN que a RTP1 pôs no ar. À distância, de muito longe, via as duas torres gémeas e uma delas ditava fumo.
Naquele momento pensei que tinha sido uma avioneta a embater no edifício. As proporções eram enganadoras e eu não apreendi a escala. Imaginei um temerário a voar pelo meio das torres e a correr mal a acrobacia. Imaginei um avião avariado em queda.
E foi então que se viu, como um míssil, outro avião a embater na outra torre. Fiquei de boca aberta, baralhado, espantado, incrédulo. O que fora aquilo?
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Mais uma vez a escala era enganadora, e eu vira uma "avioneta" a explodir. Imaginei um avião das televisões que se aproximara demais, imaginei um controlo aéreo descontrolado. Mas então lembrei-me que os media andam de helicóptero, não de avião. E que mesmo com más indicações dos controladores aéreos qualquer piloto veria as torres.
"Mãezinha, o que está a acontecer?"
Recordo-me como se fosse hoje. Sentei-me no sofá com o prato sujo nas mãos e fiquei a olhar e ouvir, esperando perceber o que se estava a passar. O Rodrigues dos Santos nada sabia adiantar: estava tão aparvalhado como eu. A SIC e a TVI nada mostravam ainda. Naquela altura apenas tinha os quatro canais de sinal aberto.
A CNN mostra outra imagem da segunda colisão: é então que percebo que os aviões em causa são aviões comerciais de passageiros, jactos, grandes aparelhos. Um arrepio anuncia-me o que já era óbvio: os EUA estão a ser atacados com os seus próprios aviões.
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Falam no terceiro avião, que cai no Pentágono. Imagino futuros cenários de guerra alargada. Acompanho com angústia o terror daqueles que estão nas torres. Vejo os minutos passar com o incêndio a aumentar. Corpos lançam-se das janelas e precipitam-se no abismo mortal para se esmagarem na rua. A azáfama dos bombeiros parece inútil: um combate de formigas contra gigantes. O fogo está lá no alto, alimentado pelo combustível dos aviões utilizados.
E, de repente, uma das torres cai pulverizada, desmorona como um castelo de areia. Com ela todos os que lá se encontravam. Gritei. Recordo que gritei. Como é possível? Como pode um edifício daqueles entrar num colapso tão definitivo? Como pode morrer assim tanta gente?
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Entretanto já telefonara para família e amigos. Dessa forma partilhava aquilo que via e sentia ali, sózinho na minha casa. A segunda torre cai, da mesma forma, e o Rodrigues dos Santos começa por dizer que aquelas imagens ainda eram uma repetição de primeira derrocada. Gritei a sua incapacidade para perceber que aquele era outro desmoronamento. Ele deve ter ouvido porque de imediato corrige a informação. Também ele, horrorizado, se apercebe que no horizonte de NY já não há qualquer uma das torres gémeas.
Fiquei agarrado ao televisor o resto do dia. No dia seguinte comprei vários jornais. Temia o que se ia seguir.
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Notas: (1) o José Rodrigues dos Santos não estava a apresentar o telejornal do almoço. Foi chamado assim que se aperceberam que algo de grande estava a acontecer e assumiu as rédeas da emissão em directo que continuou logo depois desse noticiário.

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