20.2.12

Carnaval nos anos '80

Ontem, quando saía do Metro na Avenida, vi um ovo esmagado no chão, e num segundo recordei como eram nojentos os dias de Carnaval nos anos '80.


Na dia que antecedia a interrupção das aulas pelo Carnaval viviam-se horas de tensão, à espera da anarquia. Um dia, na Escola Secundária de Carcavelos, começámos a ouvir as notícias de encerramento do Liceu de S. João, do Liceu de Oeiras e sabíamos que dentro em breve seria a nossa vez. As hordas de "foliões" concentrar-se-iam onde ainda houvesse aulas. Decidi faltar à última aula (oh, audácia!) e fugir para casa, onde cheguei intacto. Na semana seguinte os relatos falavam de rodos de farinha, açúcar, ovos, bombas de mau cheiro e mil e uma maldades perpetradas nos mais novos daquela escola. Eu, que andava no 7.º ano, congratulei-me pela decisão que tomara. Escapara ileso a tamanha "batalha".
Histórias míticas relatavam tempos em que tinta-da-china, lixívia e ácido eram lançados sobre casacos de professoras. Falava-se igualmente de automóveis cheios de lixo, ou aos quais eram atiradas bombas de Carnaval e coisas bem piores... este era o Carnaval nos anos oitenta para um jovem tenrinho: um período de pânico.

Poucos anos depois, com três amigos, comprámos uma dúzia de ovos pois era altura de sermos nós a lançar o projéctil galináceo.  Andámos, e andámos, e andámos, cheios de poder, sabendo que cada um tinha três munições nos bolsos prontos para serem lançadas sobre alguém. A questão era: quem?
As discussões atingiam o filosófico, especialmente porque ninguém assumia o ónus de enfrentar uma vítima, por mais frágil que fosse. Assim, o primeiro alvo foi uma janela aberta e o atirador desafiado fui eu.
Ficou para a história o momento em que lancei o ovo e este subiu mais dois andares do que deveria e, ao invés de entrar pela janela, passou por cima do telhado do prédio, quase matando de riso o grupo que já estava pronto para fugir.
Um dos nossos artistas mais ousado lançou um ovo de cima de um viaduto para um "careca" que por baixo passava. Ninguém gozou o momento, pois a fuga desenfreada começou no preciso momento em que o ovo largou a mão do  lançador. Acreditei nas suas palavras descrevendo como rebentara e sujara o pobre transeunte.
Após mais uns quilómetros de deambulação à procura de vítimas ou alvos, acabámos por esgotar as munições com lançamentos de longa distância sobre um autocarro de uma campanha política para as eleições que se avizinhavam.
Mais de vinte cinco anos depois, só consigo pensar em como éramos tontos e merecedores duns tabefes!

1 comentário:

Ouriço-Cacheiro disse...

Acertaram no carro do Freitas ou do Soares?
lembro-me quando a Avenida de Roma ficava quase barricada. As lutas entre liceus próximos e uma rebeldia transposta para ovos e afins que atingiam tudo e todos. mas isso era no tempo em que andávamos na rua e que os ovos eram baratos...
beijos