30.8.04

Aos poucos, regresso


Estive uns tempos fora. Fora da internet, perceba-se. Sem acesso aos blogs que viciantemente me prenderam nos últimos tempos. Verifico que muitos também entraram em "férias". Dentro de pouco tempo voltarei a, diariamente, navegar pelas palavras dos outros e a soltar as minhas. Num mundo virtual onde se cruzam histórias reais e ficcionadas encontro algum do aconchego que afasta a solidão.
Por ora, continuo a gozar as férias, malgrado as contrariedades que impedem o seu total disfrute. Da chuva na altura errada, aos compromissos que se assumem por causa da procura de toca, passando por inoportunas maleitas, tudo contribuiu para impedir o repouso absoluto.
Sobrou tempo. Tempo que de forma alarve foi consumido a ver transmissões dos jogos olímpicos. Entre a RTP1, a :2, a RTPn, o Eurosport, os espanhóis e os italianos... muitas foram as horas despendidas a ver o esforço de atletas em modalidades quase esquecidas.
Será possível que tivesse apreciado a transmissão de finais de tiro em fosso olímpico (com caçadeira) e do tiro com arco? A juntar às fascinantes (para mim) modalidades de voleibol de praia e pavilhão, ginástica, atletismo, judo, natação, saltos para a água, sei lá que mais...
Encanta-me o esforço dos atletas, a procura da superação dos recordes, o desejo de ser o melhor. Ainda que tal derive de uma motivação egocêntrica ou de proventos económicos. É bom contraírmos o corpo no sofá para ajudar o atleta a saltar a barra colocada a 5,90 metros. Ou torcermo-nos para sair do aperto do judoca que no solo agarra o nosso favorito. Independentemente da sua nacionalidade.
De forma curiosa, acabamos sempre por torcer por um dos atletas. Qualquer que seja a razão que fundamente tal escolha. Por mais subjectiva que seja. Ou irracional.
Também os Jogos Olímpicos chegaram ao fim. Aos poucos, acaba o Verão, acabam as férias e não tarda nada já cheirará a castanhas e ouvir-se-ão cânticos de Natal a apelar ao consumo.
Por enquanto, o melhor é viver o ócio do momento.

14.8.04

Porque fazem coisas destas?

Que procuram pessoas de responsabilidades acrescidas quando se põem a falar com jornalistas? Quão ingénuas pretenderão ser?

Pela primeira vez, sim, primeira vez, comprei O Independente, porque tinha que ler aquilo que dizem estar nas famosas cassetes roubadas ao jornalista do Correio de Manhã, e que levaram à demissão do então director da Polícia Judiciária, Dr. Adelino Salvado.
Desde já faço um parentesis para esclarecer que, por razões não perfeitamente fundadas, não gostei da sua actuação à frente da PJ, do seu estilo, das suas declarações, o que começou a evidenciar-se pela forma como afastou a Dra. Maria José Morgado e o Dr. Cunha Lopes, ao fim de dois/três meses de exercício de funções.
Dizia eu que tive de ler tais transcrições e, embora tendo ficado triste com aquilo que me foi revelado, tenho que afirmar que não me surpreendeu. Continuo, e sem perceber.
Quanto à porta-voz da PGR, Sara Pina, ex-jornalista, docente na área, ainda posso perceber que a proximidade pessoal e profissional com os colegas ávidos de informação a levem a trair os seus deveres profissionais. Não justificam tal conduta, mas permitem compreendê-la pois se hoje coça as costas ao colega, amanhã poderá cobrar o contrário. Censurável a escolha, espero que lhe seja mostrado o caminho da rua, e se pense muito bem em quem confiar a função de porta-voz da PGR. E, já agora, que sirva de lição para que no futuro, se vier um dia a ser satisfeita a pretensão dos Juízes de ter um gabinete de imprensa que sirva de ligação entre a magistratura judicial e a comunicação social, se evitem asneiras deste tipo.

Contudo, não consigo compreender como um Magistrado Judicial, Juiz Desembargador, que assume funções de liderança do corpo de polícia de investigação fala, e daquela forma, com um jornalista. Seja ele do Correio da Manhã ou de qualquer outro orgão de comunicação social.
Esconder-se no falar em off é simplesmente ridículo. Ou se dão informações, ou não. E, na afirmativa, violam-se elementares deveres ético-profissionais. Mal andou Adelino Salvado, com isso deixando ficar mal muita gente, a começar pelos seus colegas de profissão.
Que quereria ele? Sentir-se-ia bem por ajudar às manchetes e confusão que então se vivia? Era assim que se realizava?
Não consigo, não posso e não quero compreender. E tenho pena que, legalmente, não possam as gravações servir de prova (lembram-se do caso do Fernando Negrão, em que o testemunho daqueles que ouviram em alta voz, sem seu conhecimento, a conversa com o jornalista, não foi válido), pois à primeira vista, o Dr. Adelino Salvado deveria ser devidamente sujeito a julgamento perante o Supremo Tribunal de Justiça pelo crime de violação do segredo de justiça.

Mas não apenas ele. Outros deveriam ser sujeitos a igual tratamento.
E que dizer de Inês Serra Lopes, directora de O Independente, que numa televisão disse qualquer coisa como o respeito pela lei não é o nosso primeiro critério editorial nem sequer um fundamental?

Assim vai o estado da Nação.


Já agora, os putos da bola já aprenderam que a humildade não fica apenas bem, mas que é uma qualidade a cultivar e da qual podem ser tirados dividendos.
Quanto aos Gregos, estiveram muito bem ontem na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos. Foi um espectáculo agradável, surpreendente e à altura do acontecimento. Parabéns.Italic

7.8.04

Gostas de café?



Gostas de cigarros?



Por acaso, não gosto de um nem dos outros. Mas Café e Cigarros de Jim Jarmusch é uma obra que merece um olhar atento. Pela singularidade. Pelas referências cruzadas e pela história que está por detrás do filme. Pela casual intervenção dos actores envolvidos. Pelo caricato e absurdo.
Não é, certamente, um filme fácil. Mas Jarmusch também não é um realizador de mainstream.
Aqui entre nós, desde o Dead Man (com o Johnny Depp, não confundir com o Dead Man Walking, com o Sean Penn) que espero que Jarmusch se supere.

O que é difícil, pois para mim aquele é um dos melhores filmes de sempre.

Continuam as férias. Os prédios caem, os aviões caem, os autocarros ardem, as florestas ardem e as pessoas morrem das mais variadas maneiras. Essas são as notícias. Mais o Del Neri ter sido despedido. O tipíco caso inverso ao antes do ser já o era. Aqui foi mais do tipo foi antes de o ser.
Se é que fiz algum sentido.

Um destes dias irei falar um pouco sobre especulação imobiliária, desertificação da cidade e caos urbanístico. Do ponto de vista do utilizador, sem qualquer pretensão académica. É um assunto que me tem ocupado ultimamente, pois o Urso quer mudar de toca para hibernar noutro gelo.

5.8.04

Enganos



As apresentações cinematográficas são um instrumento importante na captação de audiências. Tanto podem atrair como afastar público, tanto podem instruí-lo como enganá-lo.
Vem este pensamento a propósito do filme Agente Triplo, do realizador Eric Rohmer que fui ver por força da apresentação que repetidamente visionei nas últimas idas ao cinema. Acreditei, com base no trailer, que estaria perante um filme refinado, cínico, com jogos de astúcia e diálogos ardilosos e cativantes. Pareceu-me ver actores desempenharem personagens interessantes e dúbias, num jogo de enganos.
Aoengano fui eu. Ao invés, deparei-me com um filme sem esses atributos. A trama, complicada, não foi, na minha opinião, exposta de forma cativante. Os personagens expressam diálogos/monólogos sem paixão, tornando aborrecida a exposição dos jogos políticos entre russos “brancos” e “vermelhos” nas vésperas da 2ª Guerra Mundial.
Fiquei desiludido com a película que de tão académica, parecia um trabalho de fim de curso.
Por mim, este leva uma estrela... pelo argumento.