Em semana de estreia lá fui religiosamente ver o último filme de Woody Allen. Mais uma vez os críticos divertem-se chamando-lhe mediano, fraco quando comparado com os últimos "Match Point" e "Scoop" (obliterando o último "Cassandra's Dream"). Mais uma vez não podia estar mais em desacordo.
Os filmes de Woody Allen têm marcas que são garantia de qualidade. O texto tem uma história para contar e fá-lo de forma directa e agitada, levando-nos a querer viver os eventos retratados. Os personagens, sempre densos, são sistematicamente colocados perante escolhas. E, chegados ao fim, gostaríamos sempre de ver um pouco mais adiante, saber como continuam o seu percurso. Outra marca é, sem dúvida, a direcção de actores. Escolhidos a dedo, os actores dos filmes de Woody Allen mostram-se sempre ao seu melhor nível, dirigidos com o rigor e a liberdade necessários para comporem os complexos personagens criados no texto. E tudo isto é envolto numa cuidadosa selecção de locais de rodagem. A fórmula está estudada e comprovada. "Só" é preciso pô-la em marcha.
E desta vez temos pelas belas paisagens de Barcelona e Oviedo, num registo cromático amarelo, quente, um quadrilátero amoroso a evoluir numa história simples de contar não fosse a complexidade dos seus protagonistas. E boas e sólidas interpretações do painel de actores escolhidos a dedo, com destaque para Penélope Cruz que, a falar castelhano, é uma actriz portentosa.
Se gostei do filme? Naturalmente. Allen não me desilude. Sei ao que vou, e é isso mesmo que encontro. Cinco estrelas, claro.
Já vem da semana passada, pré-gripe, o visionamento deste último filme de Clint Eastwood. Apesar de assinar filmes de qualidade, o realizador nem sempre alcança a estrelinha que permite a um filme atingir o estatuto de memória do cinema. Este "A Troca" não vai deixar grandes recordações. Filme à medida de uma chorosa e super-maquilhada Angelina Jolie, actriz pela qual não nutro particular predilecção, conta uma história verdadeira que vale por si. Com isto, o filme perde-se um pouco a contar os factos, lendo à luz dos padrões de hoje o que aconteceu há 80 anos, num registo que por vezes ronda o telefilme. Vê-se... mas está longe de encantar. Eastwood sabe fazer muito melhor. Por isso, apenas três estrelas.