22.5.12

Crise?

A Troika está de volta para reavaliar o bom aluno que Portugal quer ser.
Deve ficar satisfeita. Contudo...


Nos últimos dias, o número de Ferraris, Porsches, Aston Martins e Jaguares que vi na rua foi maior que o costume.
As esplanadas continuam cheias de estudantes que, na entrada para os exames, têm dinheiro para consumir sol e cerveja sem restrições.
Os bilhetes para os festivais de Verão (sempre a começar nos € 50,00) vendem-se que nem papo-secos.
À noite, os bares vendem álcool à fartazana apesar dos preços proibitivos (em Dublin bebe-se por metade do preço).
Há restaurantes que fecham portas ao mesmo ritmo que outros se estreiam com festas de arromba.
O Governo anuncia o que fez e o que quer fazer como se tudo estivesse controlado e no bom caminho.


Por outro lado... todos os dias vejo mais gente desocupada, desempregada.
O trânsito é menos intenso. Os transportes públicos conduzem menos gente. Há mais pedestres e ciclistas nas ruas.
Os restaurantes e snack-bares têm cada vez menos clientes a almoçar. Muitos fecharam portas, vencidos pela marmita e pela sandes.
Nas lojas de roupa, sapatos e acessórios as máquinas registadoras funcionam cada vez menos.
Excepto naquelas onde cada compra ultrapassa o salário mínimo. Aí, business as usual.


Sinto o fosso entre ricos e pobres a cavar-se cada vez mais. A classe média é cada vez mais uma super-modelo magra e escanzelada. Os ricos, apenas uma franja anoréctica. No limiar da pobreza, a lutar com a contas, a cortar no essencial, na corda bamba do emprego/desemprego encontro a obesidade mórbida da sociedade. E aqui, não há como "cortar nas gorduras".

O sol esconde os problemas, é o que vos digo. Um ou dois anos disto será estoicamente suportado. Mas acabará por esgotar a imaginação e a tolerância do português que procura sobreviver a esta crise. Podem fingir que está tudo bem, mas não está.
Sinto um desconforto que se acumula. E desejo que a panela de pressão tenha a válvula operacional, para ir descomprimindo enquanto cozemos em lume baixo.

1 comentário:

Ouriço-Cacheiro disse...

acho que dois anos para aguentar é muito optimista. Depois daquele autocarro a semana passada em que viajei acredito que no pós-verão, sem subsidios, sem empregos, com parcas poupanças perdidas em gastos extra e escolas dos filhos, isto vai chegar ao ponto de ebulição.Inverno quente de 2012/2013.