A propósito de conversas que nos últimos tempos tenho tido com algumas pessoas sobre "viver no campo", recomendo que se oiça um pouco a rádio.
Estamos a 01 de Outubro. Há dinheiro para encher o depósito. As aulas começaram em força. Já quase ninguém está de férias.
Por acaso faz sol, nem uma gota de chuva entropece o tráfego automóvel.
Pois todos os acessos a Lisboa, como todos os acessos ao Porto, apresentam diferentes níveis de engarrafamento.
Pensem agora nas vantagens de viver fora da cidade. Falem-me agora dos passarinhos, da calma, da vossa casa ser maior que a minha e ter custado o mesmo, de terem garagem, arrecadação, relvado e, quem sabe, piscina. Do ar ser mais fresco...
Há quanto tempo estão a tentar entrar em Lisboa? Quantas vezes já vociferaram?, cerraram os dentes?, abanaram a cabeça?, olharam para o relógio?, sopraram arreliados?
Eu demorei quinze minutos de casa ao trabalho. Apanhei um autocarro, mudei para o metro, entrei numa pastelaria e sentei-me ao computador vinte minutos depois de fechar a porta de casa.
Ao fim do dia, nas traseiras do meu prédio, vejo e oiço os pássaros nas árvores. O sol põe-se e, de janela aberta, consumo o anoitecer sem o ruído da cidade que se perde nas artérias principais. Ao fim de semana, Lisboa é mesmo muito sossegada. Tenho à minha volta mais coisas para ver, fazer, experimentar, do que alguma vez terei tempo para frequentar. Comprem a Time Out e vejam. Vejam lá o que poderiam fazer se não passassem pelo menos duas horas no trânsito, todos os dias. Vejam lá o que poderiam fazer se não gastassem todo esse dinheiro em combustível e portagens.
Em dias como este, quando oiço no rádio a descrição das filas e do tempo perdido para entrar na cidade, recordo-me da minha vida 2004/2005, antes de vir viver para Lisboa (faz hoje, precisamente, sete anos). Recordo-me de acordar acelerado para chegar à A5 antes das 07H10, para chegar a Lisboa em 25 minutos e não em mais de uma hora. Recordo-me das manobras doidas que todos os dias via na auto-estrada feitas por condutores cansados, distraídos, mal-educados, atrasados... Recordo-me de chegar a casa agastado pelos quilómetros, quantas vezes a passo de caracol.
Sete anos em Lisboa (e não no Tibete) são sete anos de qualidade de vida.
Em Lisboa, no centro de tudo, ao alcance de tudo.
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