4.5.13

Lá vem o Cabrão

Todos os dias, pelas seis e meia da manhã, passava por ali com a máquina de lavar a rua que chiava horrivelmente. 
Era, por isso, a pessoa mais odiada do bairro, a quem chamavam todo o tipo de nomes, desde o acordar mal-disposto entre almofadas e lençóis, até ao deitar, antecipando o horror da madrugada seguinte. Tal sentimento generalizado, deixava-o infeliz.
Desgraçadamente não havia óleo que parasse a chiadeira da máquina e a Câmara não tinha dinheiro para a substituir. Por mais que os mecânicos dos serviços mexessem na sua ferramenta de trabalho, acabavam sempre por alvitrar que a cura para o mal passava pela reforma e abate do equipamento, para o qual já nem sequer se faziam peças.
E assim, secretamente, continuava a rezar para que a máquina "desse o berro", estoirasse, se finasse, "fosse com os porcos", ainda que isso implicasse uma alteração nas suas funções. Desde que deixassem de o chamar de cabrão e filho da puta logo às seis e meia da manhã.

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