15.9.21

ONDE ESTAVAS NO 11 DE SETEMBRO?


 

            Onde estavas tu no dia 11.09.2001, quando o mundo mudou?

            Eu lembro-me perfeitamente do momento no qual o World Trade Center se tornou o centro do mundo, e todos os olhos se focaram nos eventos que imediatamente ameaçaram mudar a vida de toda a gente.

Nasci em 1971. Cresci acompanhado, na infância e adolescência, por uma antiga insegurança que aos poucos se esbateu até se transformar num cenário improvável. O medo de uma guerra nuclear, presente em momentos como a guerra das Malvinas, os bombardeamentos americanos na Líbia, a guerra do Irão com o Iraque, os golpes na América do Sul, onde EUA e URSS jogavam xadrez com a vida dos outros, ou de cada vez que Israel entrava em zaragatas com os vizinhos, já era um sentimento do passado.

Mas, ao aperceber-me que estava a acontecer um ataque no coração da América, que, naquele momento, o terrorismo deixava de ser um evento catastrófico de pequena escala, e que, afinal, ninguém estava a salvo de uma iniciativa tão gratuita, rapidamente voltei a sentir aquela antiga insegurança.

Estava em casa, então no Murtal, numa altura em que as férias judiciais ainda se prolongavam até 15 de Setembro. Preparava-me para regressar a Silves, para o segundo ano de funções por terras algarvias, e a vida era tranquila. Estava sozinho, o sol inundava a sala, tinha acabado de almoçar, e pegara no prato e no copo para os levar para a cozinha.

Nesse momento, na velha SONY Trinitron, José Rodrigues dos Santos avança com uma notícia de última hora: um avião embateu numa das torres gémeas do WTC, em Nova Iorque. Apareceram as imagens da CNN. O fumo a sair de uma das torres, alguns helicópteros no ar.

“Como raio foi uma avioneta embater ali?”, pensei. E fiquei em pé, no meio da sala, prato e copo nas mãos, a tentar perceber aquelas imagens tão desconcertantes, tão inesperadas.

A excitação de Rodrigues dos Santos, com a voz a subir de tom enquanto fazia traduções simultâneas das informações anunciadas pela CNN, deixou passar a evidência do segundo embate. Eu vi o segundo avião a entrar pela torre adentro, enquanto o fumo já se elevava na gémea ali ao lado. O apresentador, porém, ainda chegou a dizer que aquilo era uma repetição do momento em que o avião acertara na torre, e eu, ciente do seu erro, avisei-o inutilmente, que no estúdio nunca me conseguiria ouvir.

Nesse segundo embate a ficha caiu. Percebi então que não foi uma avioneta a embater na torre. Foram jactos, aviões de passageiros. Percebi então que não foi um acidente. Que aquilo que estou a ver é um acto de guerra. Que a América está a ser atacada. Sentei-me no sofá, o prato e o copo nas mãos, incrédulo.

Quem se lembraria de transformar os aviões em armas? Quantos mais iriam ser atirados contra a população? Na televisão falam no Pentágono? Até onde nos levariam as ondas de tamanha pedrada no charco?

Os minutos passam, e eu demoro a perceber que, nas mãos, continuo a segurar inutilmente um prato e um copo. Pouso-os no chão. Pego no telefone e aviso aqueles que me são mais próximos. “Estás a ver?” “E agora?, o que vai ser de todos nós?” "Estamos em guerra? Com quem?".

Com horror, aparecem imagens de gente que salta para o vazio, preferindo a morte rápida ao sufoco ou à incineração. Tantos segundos no ar, o chão a aproximar-se vertiginosamente. Em que pensarão, naqueles últimos segundos?

Um nó na garganta aperta-se quando, incrédulo, vejo desmoronar um arranha-céus, numa cascata de entulho e pó que não julgava possível. Meia hora depois repete-se a derrocada. Onde antes existiam duas torres que, sem nunca as ter visto de perto, associava ao skyline de uma cidade que ambicionava conhecer, há agora apenas fumo, pó. Morte e destruição.

As ideias atravessam a minha mente, mais rapidamente do que consigo processar. Muitas se perderão para sempre. Outras serão repetidas nas conversas que se seguirão por dias a fio.

O resto da tarde foi ali, agarrado ao televisor. O gato veio perguntar-me o que se passava, porque estava eu parado, inseguro, a olhar para a pantalha. E, já agora, por favor, vem à cozinha dar-me qualquer coisa para comer.

Quando fui para a cama, só tinha uma certeza. As guerras tinham mudado naquele instante. Já não havia campo de batalha. Todo o mundo seria, agora, um campo de batalha. Hoje aviões, amanhã camiões, barcos, helicópteros, carros, motas… Tudo poderá vir a ser lançado sobre nós, a qualquer momento. E a muito provável resposta americana, habitualmente desproporcionada, não me deixava tranquilo. Muito pelo contrário.

 Lamentavelmente, o futuro deu-me razão. 

O Mundo, hoje, está muito pior e no horizonte acumulam-se negras nuvens cheias de ventos de mudança. Não são animadoras.

Avizinham-se "tempos interessantes".

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