22.2.07

Dose dupla

Por alturas do Carnaval fui ver dois filmes, daqueles que estão na corrida aos Óscares.
"O Último Rei da Escócia", é daqueles filmes montanha-russa, com picos de qualidade e descidas acentuadas. Numa história de violência, imposição ditatorial e esquizofrenia assustadora pontua a interpretação de Forest Whitaker que encarna o ditador do Uganda, Idi Amin, durante o seu reinado de terror. Também James McAvoy na pele do Dr. Garrigan, um fictício jovem médico que vai para o Uganda para fugir aos pais e a ter que trabalhar com o seu egocêntrico progenitor interpreta com rigor a evolução de um jovem acriançado que rapidamente vê fugir do seu controlo o que a dado momento parecia um sonho.
Pena é que, não obstante a história ter um crescendo de violência, a opção por nos poupar ao seu lado gráfico não tenha restado até ao final, pois que escusado seria algum do sangue, tanto mais que não havia espaço para duvidar que ele manchava as mãos do ditador.
Ainda assim, um bom filme, com indubitável nota três, ali, saltitando para o patamar superior.
Depois da desilusão de "As Bandeiras dos Nossos Pais", fui com algumas dúvidas que encarei este "Cartas de Iwo Jima". Porém, neste filme Clint Eastwood esteve muito melhor.
Talvez possa sentir-se que o filme navega em águas esterotipadas, considerando a imagem que transmite dos soldados japoneses perdidos naquela ilha debaixo de fogo, mas por tudo aquilo que sei (e admito que não será assim tanto, tendo sido, seguramente, escrito pelos vencedores da 2ª Guerra Mundial) espelha a mentalidade daqueles homens, sujeitos ao rigor do fanatismo das chefias.
Eastwood mostra-nos que, na guerra, como diz o ditado, quem se lixa é o mexilhão. E o soldado será sempre a peça mais frágil, mais desprotegida, mais descartável na equação bélica. Seja ele um pobre padeiro sem coragem ou motivação para combater, mas apenas para sobreviver, seja um antigo polícia militar que ousa pensar e ter sentimentos, seja um oficial que até ganhou uma medalha olímpica em equitação e que preferiria estar a cuidar de cavalos que a usar armas em nome da nação.
A guerra é cruel, e em Iwo Jima a crueldade estendeu-se aos números de mortos, muitos por suicídio ante a derrota iminente. A esmagadora invasão americana, com milhares de soldados, apoio aéreo e naval, encontrou apenas homens escondidos em grutas, e deixados sós pela estrutura de um Império que já ameaçava ruína, sem navios ou aviões para prestar qualquer auxílio. E dessa forma lutaram até ao fim.
Neste filme, com agrado veria uma montagem que, pura e simplesmente, cortasse as cenas da "expedição arqueológica" que encontra as cartas enterrada. Porque, se algum arqueólogo trabalhar assim... deverá ser sumariamente despedido e transformado em varredor. Sem desprimor para os almeidas. Ainda assim, desta vez, chegamos à nota quatro.

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