28.3.08

Istambul - o Bósforo

Uma das coisas que se deve fazer ao ir a Istambul é subir o Bósforo e procurar entender a importância deste estreito que separa a Europa da Ásia. Enquanto navegamos naquelas águas calmas apercebemo-nos da intensidade do tráfego marítimo com dezenas de cargueiros acima e abaixo, do Mar de Marmara para o Mar Negro e volta.
(fotografia por Urso Polar)
O estreito tem uma largura muito semelhante à do Tejo na zona de Lisboa, pelo que diversas pontes ligam as duas margens. Ao passarmos por elas podemos reparar que o trânsito é constante e intenso, com muitos pesados transportando mercadorias de um lado para o outro.

A cidade de Istambul cresceu nas margens do Bósforo e estendeu-se por uma larga área assumindo uma dimensão extraordinária. Se pensarmos que há pouca construção em altura e que Istambul alberga 13 milhões de habitantes (sim, mais do que a população de Portugal) poderemos ter uma noção da área ocupada.
(fotografia por Urso Polar)
À medida que subimos o estreito a cidade acaba por se eclipsar e são comunidades mais pequenas que ocupam a geografia acessivel de toda a margem do Bósforo. Ficando para trás marcos como a mesquita de Mecidiye (na foto) e os palácios de Dolmabahçe e Çiragan, encontramos a imponente fortaleza da Europa, situada no ponto mais estreito do Bósforo, datada de 1452. 
(fotografia por Urso Polar)
E depois progredimos ao longo de comunidades manifestamente mais pobres, piscatórias.
O circuito terminou em Anadolu Kavagi de onde se disfruta, do topo das ruínas do castelo genovês, fortaleza bizantina do Séc. XIV a confluência do Bósforo com o Mar Negro.
(fotografia por Urso Polar)
Depois do passeio a pé e do almoço, para o que temos três horas, inicia-se a viagem de regresso, com um sol mais agradável para as fotografias da praxe.

26.3.08

Istambul - o comércio dos homens

(fotografia por Urso Polar)
O comércio da parte velha de Istambul, onde se incluem o Grande Bazar e o Bazar das Especiarias (onde foi captada esta fotografia) vive essencialmente dos turistas que inundam os persursos onde são abordados de forma agressiva, ao estilo dos vendedores de time-sharing da Rua Augusta.
Os portugueses são sistematicamente abordados com a pergunta "Espanholes?" e, quando finalmente são geograficamente localizados as referências futebolistas aparecem logo para demonstrar que sabem do que estão a falar. Mas essa é uma realidade mais ou menos comum nos "mercados exóticos" dos destinos de férias.
Notório foi que são raras as mulheres que estão nas lojas. E as que por lá estão têm papeis apagados, não se encarregam do contacto com o cliente, com o impingir mercadoria. Comummente limitam-se a ficar à caixa recebendo o pagamento.
Isto ocorre tanto nos bazares como em qualquer loja, seja do que for. A dado passo, numa livraria, duas raparigas novas estavam atrás do balcãqo e receberam os pagamentos. Mas os clientes eram controlados por homens sendo que um deles, muito novo, por sinal, se encarregava de sugerir livros a torto e a direito. Quando me dirigi à caixa com uma escolha, apressou-se a trazer outros dizendo que, se queria aquele, certamente estaria interessado nos outros.
No Grande Bazar é suposto regatear. Nada tem preço exposto, e o valor que nos é oferecido à primeira interpelação é sempre próximo do dobro do que acabamos por pagar. É uma tradição, mas muito cansativa. Não se consegue fazer uma compra impessoal, porque a relação vendedor cliente é alimentada de forma a durar.
As lojas estão concentradas por actividades, e é frequente entrar numa rua e só ver lojas de ourivesaria, ou de música, ou de peles, o que nos faz perguntar como conseguirão sobreviver à concorrência. A verdade é que por lá se mantêm.

24.3.08

Istambul - o tempo

Alternando entre o sol e a chuva, o tempo de Istambul ainda nos pregou umas partidas, nomeadamene num dos dias que amanheceu solarengo e aqueceu o pequeno almoço tomado no terraço para depois, quando já estávamos na rua, começar a cobrir o céu de nuvens, espalhando humidade com vento cortante e tornando a tarde realmente fria.
Pela RTPi via que por cá não estava muito diferente, que chovia a potes e as temperaturas não subiam. Por isso, não houve nenhum choque, quase não se sentiu a mudança.
(fotografia por Urso Polar)
Curiosa realidade de Istambul é que, mesmo com o céu e o sol escondidos por detrás de nuvens baixas, a luz é intensa, e reflecte-se com intensidade nos dourados das mesquitas que recortam o horizonte, assim como empresta ao Bósforo tons metálicos densos e de agradável contemplação.
(fotografia por Urso Polar)
No regresso, o vento forte que se sentia em Lisboa proporcionou-me a mais aterradora aterragem que já fiz, pois o avião abanava por todo o lado, em constantes sobressaltos e, mesmo sobre a segunda circular, à beirinha da pista, inclinou as asas de tal maneira que cheguei a pensar que algo poderia mesmo correr mal. Mas, afinal, e ainda bem, foi só um susto.

22.3.08

Istambul - cidade dos gatos

(fotografia por Urso Polar)
Venho anunciar o meu regresso, chegado de fresco da Turquia, mais propriamente de Istambul, cidade que à beira do Bósforo, faz a ponte entre Europa e Ásia. Certamente aproveitarei os próximos dias e os próximos posts para contar e mostrar um pouco desta cidade, mas primeiro há que tratar das imagens com as quais quero ilustrar as minhas palavras.
Por ora deixo apenas duas amostras, uma delas respeitante aos gatos. Istambul, cidade dos gatos. Gatos que pela rua, pelos parques, pelos telhados, animam os olhos com as suas poses e os seus movimentos ágeis e graciosos, quase sempre dispostos a deixar-se afagar pelo viajante que procurar fazê-lo.
Até amanhã.



(fotografia por Urso Polar)

12.3.08

Ideias fixas

O Governo faz 3 anos; o PSD muda de cara, mas mantém-se a mesma bodega; 100.000 professores manifestaram-se em Lisboa, juntando os bons e excelentes com os maus e os péssimos, todos contra a avaliação das suas qualidades (quando o princípio é muito bom, mas os critérios de avaliação é que parecem perigosamente maus); Hillary e Obama continuam na corrida como dois cavalos "neck to neck"; no Iraque continuam a morrer pessoas todos os dias; o Benfica ficou sem Camacho e continua com Chalana; o Sporting treme à beira de nem à UEFA conseguir chegar; Naide trouxe o ouro e um recorde nacional, Évora o bronze e boas indicações para os J.O.; Mari Luz apareceu, morta, Maddie não; o petróleo chegou aos 108 dólares, mas o euro ultrapassou $ 1,5 USD; o Fantas começou e acabou, em grande; a RTP estreou uma nova versão da Vila Faia e apenas alcançou o lugar 7 dos programas mais vistos; a indústria de ficção televisiva e cinematográfica dos EUA está a laborar a duzentos à hora para recuperar da paragem provocada pela greve dos argumentistas, e esperam-se estreias apetecíveis; Ramos Horta falou pela primeira vez ao público depois do atentado que quase o matou...
Curiosamente, nada disto parece importar. Só penso na Turquia, mais propriamente em Istambul.
Porque será?

5.3.08

Gastem lá € 0,90

O Público está de parabéns, hoje que completa 18 anos.
18 anos!
Lembro-me perfeitamente do seu nascimento, previsto para uns meses antes, mas prematuramente abortado, fazendo muita gente vaticinar uma vida curta para o projecto da Sonae. Mas lá nasceu, tinha eu 18 anos naquela data, e trabalhava numa empresa de prestação de serviços que me colocara no extinto BNU, naquele edifício enjoativo ali da 5 de Outubro, esperando pela segunda oportunidade para entrar na Faculdade de Direito de Lisboa.
Tinha aulas de código da estrada, ouvia música num leitor portátil de cassetes com uns auscultadores com esponjas negras para proteger os ouvidos. Ao almoço não podia escolher fast-food, porque não havia. Não havia McDonalds, C.ª das Sandes ou todas as opções que o Monumental, o Atrium ou o Residence oferecem no Saldanha. Nessa altura, a junk-food ao meu alcance estava em frente ao Apolo 70 num quisuqe rosa e preto que dizia "Mr. Chips", e vendia batatas fritas com um "original" molho cocktail, numas embalagens de cartão com as mesmas cores e um comprido garfo com dois bicos, em plástico verde.
Lia então, avidamente, toda a obra de Tolkien e ao fim de semana ia correr para o Estádio Nacional. Os meus amigos estavam na escola, ou a acabar o secundário ou tinham entrado na universidade, e eu sentia-me um pouco perdido, naquele ano de pausa. Iria repetir a PGA (lembram-se da Prova Geral de Acesso) da qual fiz a primeira e a segunda, e os exames que a Faculdade fazia aos seus candidatos.
O mundo era diferente.
Gastem lá € 0,90 e comprem hoje O Público, porque trás um caderno P2 melhorado, em papel de revista, com textos apelativos, e comparações de 1990 com 2008. Vejam as 50 novidades que desde então mudaram a nossa maneira de ser. Pensem nelas e recordem como eram há 18 anos. Lembram-se do n.º 1 do jornal? Tentem recordar aqueles dias, porque é bom lembrar o passado. Ajuda-nos a compreender o presente e pensar no futuro. É uma máxima antiga mas sempre verdadeira.
Vá lá, gastem os € 0,90 que certamente não se arrependerão.

3.3.08

Terreno fértil

O último filme dos irmãos Coen foi o vencedor dos Óscares deste ano arrecadando os prémios mais relevantes. Quem o for ver ao cinema perceberá porquê. O argumento é implacável e os actores desempenham os seus papeis com a agitação calma adequada às terras áridas do Texas onde impulsividade, sangue e paciência se cruzam. No fundo, presenciamos a reinvenção do conceito de alguém a ser perseguido por um implacável assassino que apenas parará quando a isso for obrigado ou quando conseguir os seus intentos. Tudo porque se deixou tentar por um impulso de riqueza e por uma teimosa determinação que carrega uma herança da guerra do Vietname
O perseguido é desejado por mais bandidos, por polícias,  e tudo por uma mala de dinheiro, por brio  profissional ou pela loucura de m homem que se completa no acto de matar. Os diálogos são refinados e o humor anda por ali, no meio de tanta violência e alguma introspecção.
Os manos Coen não costuma deixar nada ao acaso e desta feita regressaram em força a um registo negro que entretém, diverte, emociona, e deixa na boca um gostinho a pouco. Porque apetece ver mais. E assim, neste filme, o deserto da fronteira com o México tornou-se terreno fértil.
*
Impõe-se uma palavra sobre os cinemas Monumental e Saldanha Residence, onde quase sempre vou, quer pela proximidade quer por ter o Medeia Card. É com agrado que tenho visto salas esgotadas ou quase, independentemente dos dias ou horas a que lá tenho ido. É sinal de saúde do cinema, e daquelas salas em particular, que esperemos se mantenham com qualidade por muitos e bons anos. 
Porém, desde que deixaram de marcar lugares, tenho assistido às cenas mais caricatas, como seja pessoas às escuras à procura do lugar vazio no meio da sala, pessoas separadas porque chegaram em cima da hora do filme e apesar de haver vários lugares vazios não havia dois juntos, lado a lado, ou ainda pessoas que pura e simplesmente desistem e vão reclamar.
Meus amigos, era assim tão caro ou tão difícil colocar as senhoras da bilheteira a "arrumar" a sala à medida que vendiam os bilhetes? Pelo menos assim, logo nessa altura, cada um já sabia ao que ia, e para onde ia.
Não ter lugares marcados, é uma injustificável quebra de qualidade.