26.6.08

Razão de ser

Ontem, desgostados pelo acórdão que os condenou, dois de dezassete arguidos que ouviam a leitura da decisão no Tribunal de S. Maria da Feira, agrediram o tribunal colectivo, atingindo o Juiz-Presidente com um pontapé no peito (!) e ferindo com escoriações uma das Juízes-adjuntas. Os 3 (!!) agentes da polícia presentes dentro da sala (todos os outros não cabiam lá dentro) foram impotentes para evitar a agressão. O público presente juntou-se ao desacato, aumentando o risco e a confusão.
A sala de audiências, note-se, está provisoriamente instalada no salão dos bombeiros. É um improviso resultante do fecho apressado do Tribunal que há anos ameaçava ruína sem que se tivesse diligenciado atempadamente pela sua substituição por instalações condignas.
A lição a retirar daqui é complexa.
Primeiro, os juízes não se devem deixar arrastar para situações impossíveis de gerir, facilitar a sua exposição durante o exercício de funções, devendo exigir as melhores condições para o sereno exercício dos seus poderes soberanos.
Segundo, não podem instalar-se Tribunais em espaços indignos e sem condições de segurança, sob pena de descrédito e ineficácia do exercício da Justiça.
Terceiro, as forças policiais têm que estar alerta para estas situações e, não havendo espaço para mais polícias naquela sala, então o público não entrava, fazendo-se valer razões de segurança acima da publicidade da audiência. E aqui, incumbia ao Juiz-Presidente diligenciar nesse sentido.
Quarto, o sistemático desacreditar das decisões judiciais e dos juízes leva a isto mesmo, a uma degradação do poder judicial que coloca em causa toda a sociedade. Quando um tipo não se inibe de agredir um juiz, mesmo sabendo que o polícia está ali ao lado, ficamos a pensar do que será capaz perante um comum cidadão, longe da presença policial.
Todas estas notas de reflexão merecem mais uma achega: o Campus da Justiça de Lisboa, anunciado com pompa e circunstância, vai ser instalado em edifícios que de raiz não foram concebidos para serem Tribunais. Vão existir salas de audiências para julgamentos crime por tribunal colectivo (os mais graves) em pisos até ao 6.º andar. Manter a ordem em caso de desacatos, ali fazendo chegar reforços, ou evacuar pessoas em caso de perigo naqueles pisos não é simples. É, pois, indispensável que se pensem todas estas variantes, se concebam adequados planos, protocolos para enfrentar situações assim, que se treine a sua execução, para que depois não se improvise, e se ponham três polícias a olhar por dezassete arguidos que, pelos vistos, incluiam alguns mais excitados.
E é preciso defender a integridade do judicial, do judiciário, não tolerando posturas incendiárias, extremistas, generalistas, que apregoam aos quatro ventos a demolição deste pilar da vida em democracia que é o poder judiciário exercido soberanamente pelos Tribunais.

25.6.08

Andamos todos a pagar estes computadores

A ideia da informatização de alunos e professores tem algo de inovador, e nem me preocupa muito o projecto do Governo com as operadoras TMN, Vodafone e Optimus para a distribuição de computadores a preços reduzidos.
Já me preocupa o alargamento dessa medida. Nomeadamente no campo da justiça.
Pretende o Governo implementar o "processo digital" como forma de acabar com o papel nos Tribunais. Ideia avançada, com muitos problemas para resolver, mas que constitui um progresso que não é de desdenhar em termos de velocidade, acessibilidade e facilidade de gestão/manutenção, assim se mantenham vertiginosos os progressos na área da informática.
Claro que isto implica um grande esforço em termos de hardware e formação dos operadores judiciários. Da parte do Ministério da Justiça avançou-se para a atribuição aos juízes de computadores portáteis para que, movimentando-se entre Tribunais, possam levar consigo a sua máquina, as suas definições, a sua ferramenta, sem necessidade de constantes mudanças.
Apesar de haver juízes que se queixam da medida porque trabalhar num portátil não é satisfatório para toda a gente, o certo é que a medida lá vai andando. Não fosse o facto de, inexplicavelmente, computadores portáteis distribuídos em 2008, que se destinam a trabalhar em rede e com processos digitalizados numa aplicação que tem grande peso e carece de agilidade e velocidade, terem apenas 512 mb de RAM. As máquinas entregues aos alunos e professores têm 2 gb de RAM (excepto uma delas, apenas com 1 gb) como qualquer um daqueles que se vendem por aí ao desbarato.
No entanto, queixaram-se os advogados do encargo que iriam ter por necessitarem de se actualizar para poderem funcionar em rede com os Tribunais. Não obstante serem profissionais liberais, coitados, não poderiam suportar tais encargos (veja-se o preço de qualquer máquina actual num Mediamarket, Worten ou afins, e pergunte-se porque não poderiam fazê-lo). Não vejo os arquitectos a pedir ajudas para ter um novo CAD, ou um computador mais potente para trabalhar em projecto; ou os engenheiros; ou os médicos a pedir novas máquinas para gerir as novas receitas.
Enfim, coitados dos advogados que mereceram do Governo o alargamento da medida da informatização e agora também podem comprar portáteis por €150,00, desde que fiquem fidelizados ao acesso à net por um dos três operadores, por um prazo de três anos. Tal como os professores.
A medida foi idealizada para os advogados jovens, em início de carreira, com mais dificuldades na implementação no mercado, e para aqueles que ainda nem tinham meios informáticos nos seus escritórios. Porém, a Ordem dos Advogados conseguiu ultrapassar tal limitação e agora todos os advogados se podem candidatar a tal equipamento. Mesmo aqueles que trabalham nas grandes sociedades. Aqueles que cobram € 500,00 à hora. Aqueles que ganham à fartazana. E, claro, é do orçamento do Estado que sairá parte do valor dessas máquinas que, seguramente, terão o quádruplo da RAM dos computadores atribuídos aos juízes, relativamente aos quais, aí sim, o Estado Português tem obrigação de conceder os meios necessários e adequados ao exercício das suas funções como titulares de Orgãos de Soberania.
Pensem nisto, e pensem no destino que está a ser dado àquela parcela do vosso ordenado que todos os meses vêem apenas no recibo de vencimento, aqueles números gordos que são mais do que virtuais, são a retenção na fonte do produto do vosso trabalho.
Mas isto sou eu que estou para aqui com vontade de implicar. Picuinhices...

23.6.08

O inglês improvisado do PM

Na internet encontram-se destas coisas. Sócrates a falar em inglês, sem ser lendo um texto escrito por outros. Vejam aqui.

O fim de um Rei

Disseram-me que os cinemas KING vão fechar as portas. O hotel daquele edifício vai para obras e comprou as salas a Paulo Branco para delas fazer o seu estacionamento.
Se o encerramento do Quarteto me deixou indiferente (as salas eram anacronismos decrépitos, sem condições), o encerramento do King preocupa-me, porque aquelas três salas são muito do meu apreço. O som e a imagem são bons, o conforto está assegurado, e a idade foi bem superada com a última remodelação de há uns poucos anos. E a programação assegura ao King um lugar único em Lisboa, tornando-o ponto de encontro e de refúgio.
As salas, da Medeia, estão relacionadas com o Monumental e o Residence, bem como o velhinho Nimas. E se este mantém a programação alternativa (vem aí o habitual ciclo de Verão), já as outras salas caminham mais para o "mainstream". Aliás, pela sua situação, convidam menos àqueles filmes alternativos à filmografia norte-americana, e que muitas vezes nos surpreendem pelo diferente olhar que em si encerram.
Só espero, muito sinceramente, que o fecho do King permita a remodelação das salas do Residence porque estas estão a acumular um desgaste assustador, com cadeiras rotas, sujas, e cheiros a humidade e pó, algo intolerável quando se pagam € 5,50 para ver um filme.
A este ritmo, as estupendas salas do Corte Inglés (UCI) passarão a ter mais público ainda, especialmente às 4.ªs-feiras, quando o bilhete custa apenas €4,00.

22.6.08

Monstros verdes


Já aqui disse que gosto muito do universo da BD relacionado com os super-heróis e por isso é com prazer que vejo as actuais adaptações para cinema as quais, com os efeitos especiais ao serviço da sétima arte, conseguem tornar-me num puto excitado como quando lia os livros com as suas legendas brasileiras.
Claro que algumas têm sido as decepções, se bem que, no universo da BD, sempre houve heróis mais interessantes que outros. Hulk, por exemplo, nunca me cativou por aí além. O monstro verde só tinha força bruta e a sua invencibilidade era por vezes perturbada por pormenores forçados. Tinha a piada de ser um "poder" que o cientista Bruce Banner não queria porque o não controlava, mas as histórias eram invariavelmente parecidas e não despertavam em mim particular predilecção.
Já no cinema, Ang Lee fez o primeiro Hulk apelando à sensibilidade e foram muitas as críticas. Não sendo extraordinário, também não me mereceu particular desagrado. E agora foi a vez de Edward Norton, um dos meus favoritos entre os actores actuais, dar corpo a Bruce Banner.
O elenco credibiliza todo o filme interpretando-o com segurança. Entre muitos ecrans verdes que terão, seguramente, sido usados, Liv Tyler, Tim Roth e William Hurt prestigiam o filme. A realização de Louis Leterrier cumpre a função, sem grandes aspirações. A história vai pegar em Hulk, cinco anos após a sua criação, relatada no primeiro filme, mas, à semelhança dos livros, nada trás de novo.
Conclusão: The Incredible Hulk é mais um filme que cumpre a passagem da BD para o cinema, sem nada de extraordinário, mas sem comprometer. Dentro do estilo, fica-se pela mediania, pela nota três. Vê-se bem. Muito particularmente em casa, quando sair em DVD.

14.6.08

Anti-acontecimento

Devia ter levado mais a sério a crítica da Marisa, mas mesmo assim decidi arriscar. Fiz mal. Este "The Happening" não tem ponta por onde se pegue. Nem sequer a ideia original. Como tal, e porque de Shyamalan se exige muito mais e se espera tudo menos isto, concedo a este filme 
nota zero.
Sim, é verdade. Zero.
Vê-lo é uma perda de tempo. 
Nem sequer é um exercício masoquista, porque chateia mas não dói. É mesmo insípido, incoerente, irreal e insatisfatório.
Zero.

12.6.08

Valha-nos Santo António

Curiosa reflexão, esta do blog Sound+Vision, sobre os incêndios florestais e a forma de fazer notícias nos dias de hoje.
Vem ao encontro do que me farto de dizer. Só que, ao invés de serem bocas lançadas para o ar por um Urso aborrecido, este texto fundamenta-se em dados objectivos de um organismo do Estado.
Quanto a esta matéria, tenho uma teoria: enquanto não "abrir a época de fogos", os media desconhecem a existência dos mesmos. Quando cair nas redacções a abertura da época dos incêndios, e o primeiro deflagrar num quente dia de sol, então, qual Maria vai com as outras, todos se lembrarão da desgraça, do flagelo que é a mata a arder.
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Boas sardinhas e chouriço assado acompanhados de tinto ou cerveja. Não cheirem os manjericos directamente que os matam. Protestem contra o espectáculo piroso que são as marchas populares

11.6.08

Pânico?

Anda tudo para aí a temer pela falta de combustível nas bombas e alimentos nos supermercados, graças ao protesto dos transportadores.
Nota um: os media não perdem uma oportunidade para alimentar temores básicos geradores de pânico.
Nota dois: isto não é uma greve. Por isso, os donos das grandes superfícies, que por acaso são ricos como o caraças, podem contratar outros transportadoes, ainda que estrangeiros, para fazer o transporte. São outros a ganhar o dinheiro, talvez mais até, os preços podem subir, e rapidamente os transportadores portugueses verão que estão a perder. Se quiserem bloquear estradas a esses "concorrentes", espera-se que o Estado, através dos seus recursos policiais, assegure a livre circulação pelas vias do país.
Nota três: não se deverá "subsidiar" o combustível artificialmente atenuando o aumento do seu preço porque a situação não é transitória, ocasional, mas sim estrutural, conjuntural e, para além de atingir todos os países, veio para ficar. Intervir a esse nível seria promover a falência financeira do país. Já quanto à possibilidade de redução do ISP, essa é outra conversa a qual deixo para os fiscalistas que disponham dos dados concretos para a analisar.
Nota quatro: a selecção nacional de futebol joga hoje. Só isso fará muita gente esquecer as contas, a falta de dinheiro, os aumentos, a falta de bens. E amanhã mais se falará no resultado do jogo de hoje que no "protesto" dos camionistas.

Comida nepalesa

O restaurante é de uns amigos e também por isso não poderia deixar de fazer aqui uma referência ao mesmo. Por isso e por a comida ser mesmo boa, e o ambiente discreto e acolhedor.
Fica na Av. Almirante Reis, no 179A em Lisboa. Logo ali, a seguir ao cinema Império, à Alameda, no sentido de quem desce. Está aberto todos os dias, quer ao almoço quer ao jantar.
Chama-se Annapurna e o Urso Polar recomenda.

Corrida fotográfica em Portimão

Estão abertas as inscrições para a 8.ª corrida fotográfica de Portimão, desta vez com uma versão digital e, pasme-se, uma versão subaquática para os aficcionados do mergulho.
Vejam tudo aqui e, com sorte, poderão cruzar-se com o Urso Polar no dia 28 de Junho.

5.6.08

Imagem do Dia

À saída de casa, ao passar pelo jardim público, um bando de pombos estupidamente ávidos debicava uma poça de vomitado.