25.6.08

Andamos todos a pagar estes computadores

A ideia da informatização de alunos e professores tem algo de inovador, e nem me preocupa muito o projecto do Governo com as operadoras TMN, Vodafone e Optimus para a distribuição de computadores a preços reduzidos.
Já me preocupa o alargamento dessa medida. Nomeadamente no campo da justiça.
Pretende o Governo implementar o "processo digital" como forma de acabar com o papel nos Tribunais. Ideia avançada, com muitos problemas para resolver, mas que constitui um progresso que não é de desdenhar em termos de velocidade, acessibilidade e facilidade de gestão/manutenção, assim se mantenham vertiginosos os progressos na área da informática.
Claro que isto implica um grande esforço em termos de hardware e formação dos operadores judiciários. Da parte do Ministério da Justiça avançou-se para a atribuição aos juízes de computadores portáteis para que, movimentando-se entre Tribunais, possam levar consigo a sua máquina, as suas definições, a sua ferramenta, sem necessidade de constantes mudanças.
Apesar de haver juízes que se queixam da medida porque trabalhar num portátil não é satisfatório para toda a gente, o certo é que a medida lá vai andando. Não fosse o facto de, inexplicavelmente, computadores portáteis distribuídos em 2008, que se destinam a trabalhar em rede e com processos digitalizados numa aplicação que tem grande peso e carece de agilidade e velocidade, terem apenas 512 mb de RAM. As máquinas entregues aos alunos e professores têm 2 gb de RAM (excepto uma delas, apenas com 1 gb) como qualquer um daqueles que se vendem por aí ao desbarato.
No entanto, queixaram-se os advogados do encargo que iriam ter por necessitarem de se actualizar para poderem funcionar em rede com os Tribunais. Não obstante serem profissionais liberais, coitados, não poderiam suportar tais encargos (veja-se o preço de qualquer máquina actual num Mediamarket, Worten ou afins, e pergunte-se porque não poderiam fazê-lo). Não vejo os arquitectos a pedir ajudas para ter um novo CAD, ou um computador mais potente para trabalhar em projecto; ou os engenheiros; ou os médicos a pedir novas máquinas para gerir as novas receitas.
Enfim, coitados dos advogados que mereceram do Governo o alargamento da medida da informatização e agora também podem comprar portáteis por €150,00, desde que fiquem fidelizados ao acesso à net por um dos três operadores, por um prazo de três anos. Tal como os professores.
A medida foi idealizada para os advogados jovens, em início de carreira, com mais dificuldades na implementação no mercado, e para aqueles que ainda nem tinham meios informáticos nos seus escritórios. Porém, a Ordem dos Advogados conseguiu ultrapassar tal limitação e agora todos os advogados se podem candidatar a tal equipamento. Mesmo aqueles que trabalham nas grandes sociedades. Aqueles que cobram € 500,00 à hora. Aqueles que ganham à fartazana. E, claro, é do orçamento do Estado que sairá parte do valor dessas máquinas que, seguramente, terão o quádruplo da RAM dos computadores atribuídos aos juízes, relativamente aos quais, aí sim, o Estado Português tem obrigação de conceder os meios necessários e adequados ao exercício das suas funções como titulares de Orgãos de Soberania.
Pensem nisto, e pensem no destino que está a ser dado àquela parcela do vosso ordenado que todos os meses vêem apenas no recibo de vencimento, aqueles números gordos que são mais do que virtuais, são a retenção na fonte do produto do vosso trabalho.
Mas isto sou eu que estou para aqui com vontade de implicar. Picuinhices...

2 comentários:

marisa m disse...

1. 512 MB vs 2 GB:

a) os jogos consomem muita memória, dah!
b) nunca ouviste dizer que "em Portugal, a justiça é muito lenta"?...
(a partir de agora, a resposta estará sempre na ponta da língua: "ah... é do RAM..."; depois até se podem fazer umas piadas com rame-rame, vai ser um sucesso, digo-te)

2. estou a ler um livro (ficção!) onde se planeia um acto terrorista. hoje li uma tirada fabulosa, em que uma das responsáveis pela operação dizia: "digo-lhe, o que está a dar é o terrorismo! (isto vinha na sequência de "já não há idealistas: hoje em dia, o terrorismo é um negócio", dito por outra personagem) eu, se tivesse um filho, dizia-lhe logo - ou terrorismo ou direito; e nem tenho a certeza que os terroristas façam mais estragos..."

Hugh Laurie, The Gun Seller

Urso Polar disse...

Já li o livro. É bom. Particularmente a primeira metade. Na segunda perde-se um pouco o humor para entrar num verdadeiro "jogo de espiões" ao jeito de muita literatura "de aeroporto". Mas é certo que o sarcasmo do "Dr. House" é muito bem esgalhado. Com piadas como essa.