15.7.13

Pernas e bronzeado

Subia cansado as escadas quando reparou nas pernas bronzeadas que pulavam os degraus à sua frente.
Apesar do interesse subitamente desperto não conseguiu acompanhar o ritmo e perdeu-a antes do patamar seguinte. Quando penetrou no terceiro piso desconhecia se ela estaria por ali, se ficara lá em baixo, ou se chega ao nível da administração.
Focou o olhar em todas as distâncias, sem sucesso. A atenção há pouco focada nas pernas dispersara-se quanto aos demais pormenores. Tinha a ideia de que haveria um vestido com flores, mas não conseguia descrevê-lo, recordá-lo. 
Caminhou por entre os biombos do open space até ao seu cubículo sem prestar atenção em algo mais que a sua busca. Sentou-se e olhou para os dois monitores negros. Demorara muito e o computador já se encontrava a economizar energia. Seria bom se dispensasse alguma, pois sentia-se tão cansado.
Viu o seu reflexo distorcido no vidro negro e recordou-se o quanto era feio. Nunca aquelas pernas, ou outras quaisquer seriam suas.
Não enquanto fosse assim, pálido, balofo, meio careca.

Dois dias depois entrou em férias. Numa arriscada decisão cortou o cabelo com máquina "1", vendo brilhar o escalpe branco. Cortou a barba e nunca mais a deixou crescer de um dia para o outro. Inscreveu-se num ginásio que passou a frequentar com afinco e foi à praia durante três semanas seguidas.

Quando regressou ao trabalho parecia outro. Face escanhoada, pele acastanhada, menos seis quilos, alguns músculos mais desenhados.
Sentia-se bem, sentia-se melhor.
Estava pronto para conhecer aquelas pernas que, estava seguro, reencontraria.

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