28.4.06

AH...

Ah...
E já agora, um bom fim-de-semana alargado. Segunda feira é dia do trabalhador. Vamos aproveitar enquanto ainda há trabalho.

Então e os feios?

Ontem foram anunciadas alterações no campo da Segurança Social tendo em vista, segundo os decisores, salvaguardar a subsistência do sistema.
Para além de maiores restrições às reformas (o que vem acentuar a minha já antiga convicção de que, não obstante a gorda fatia de descontos que me é retirada ao ordenado todos os meses, quando lá chegar, não haverá reforma para mim ou, havendo, o seu valor não será sequer parecido com o meu vencimento), foram anunciadas medidas de incentivo à natalidade. O pior, é que em vez de se defender apenas a discriminação positiva, aprovando benefícios a quem tiver mais filhos, este Governo vem propor a penalização de quem não tiver filhos.
Perdão?!!
Então eu tenho que ter filhos para não ser penalizado?!!
E se eu nem for casado?
E se eu quiser ter filhos, mas nenhuma mulher me ligar porque sou feio?
Também serei penalizado?
Penalizado?!!
E os inférteis?
E os que são tão pobres que nem se conseguem sustentar a si próprios? Têm que ter filhos, ou serão penalizados?
Desculpem-me lá, mas para mim isto é uma prepotência fascizóide de um governo que se sustenta num partido que ainda se diz socialista. Concedam todos os benefícios a quem tiver mais filhos. Ajudem-nos e encorajem-nos que bem precisam. Mas não penalizem quem não tiver descendência, porque isso é tão absurdo que nem deveria ter sido pensado.

26.4.06

"O Edifício da Verdade" (22)


O elevador. Chama‑o. Espera. Espera. Desespera. Corre escadas abaixo. O choro da loira ouve‑se no prédio inteiro. Soa como se estivesse a ser sujeita a tratos de polé, agonizante. Descalço, e de tronco nu, sai para a chuva miudinha. Grita com o frio. Grita com o susto. Dentro do Mercedes, o seu perseguidor sorri. Foge para o outro lado. Vira, a esquina. Vê o Bairro Alto. Volta atrás, espreitando para a rua de onde saíra. Bairro Alto.
Pelo menos a chuva abrandou. Veste a t-shirt. Fica‑lhe pequena. Nas costas uma frase a vermelho: "I'm gay".
Era o Bairro Alto. Não havia dúvida. Vitor conhecia aquelas ruas de outros tempos, de outras aventuras. Mas, para não destoar do resto da noite, qualquer coisa estava diferente. Gente. Não havia ninguém na rua. A noite mantinha‑se, os candeeiros iluminavam espaçadamente as estreitas ruas de castanho vestidas. Mas não havia movimento. Não tinham bares, discotecas, pessoas... nem sequer carros... só chuva. Chuva fria, miudinha irritante. Chuva que molha sem se dar conta.
Vitor sentiu‑se atordoado, como se tivesse levado uma pancada na cabeça. Como se já não fosse ele. Era isso. Vitor sentia­‑se outro. Aquilo não lhe estava a acontecer. Aquilo era com outro. Era um sonho, decerto.
Reiniciou a marcha. Sem destino. Limitou‑se a andar. Os pés gelados, descalços, a pisar as poças e o chão irregular. Ensopado até aos ossos. De uma entrada ouve a voz:
‑ Oh, encharcado, queres dar uma cambalhota?
‑ Como? ‑ virou‑se. Era sem sombra de dúvida uma mulher da vida, com uma proposta de mercado. O seu corpo por dinheiro. Cotação do dia, cinco contos.
‑ Vi que saiste da casa dela. Deves querer acabar o que começaste. Aliás, aquilo que julgaste ter começado.
‑ A proposta é tentadora...
‑ Anda... eu seco‑te. ‑ a prostituta era uma mulher baixa, loira, de formas arredondadas. Não era bonita. Mas tinha uns olhos quentes, meigos, daqueles nos quais apetece mergulhar.
‑ Não posso! Não tenho um centavo comigo. Fui assaltado.
‑ Então adeusinho. Não há cá borlas. ‑ e deu um passo atrás, voltando para a escuridão da qual saíra misteriosamente.
"Mercenária!"
Vitor seguiu o seu caminho aleatório, na esperança de acordar. Continuou por ruas sujas e gastas, pensativo, fechado em si. De um momento para o outro, lembrou‑se da sua luta contra a prostituição. Lembrou‑se de um dos seus livros mais vendidos em que deitava abaixo o mercado carnal. Lembrou‑se de ter feito questão de afirmar que nunca contribuiria para tal degradação.
Ainda não tinha cinco minutos que rejeitara uma proposta, só porque não tinha dinheiro. Se tivesse, decerto iria para a cama com ela. Só para foder.
E de um momento para o outro, deixou de se conhecer. De um momento para o outro, apercebeu‑se de que nada em si era certo. Nada do que julgara afirmado tinha valor. Vitor Cardoso não sabia quem era, como era, até onde era.
(continua)

20 anos depois

No dia em que se completam 20 anos sobre a tragédia de Chernobyl, relembro um post anterior, de Janeiro de 2004. Vejam aqui, e recordem como está nos dias de hoje a área afectada pelo acidente.
Com a radioactividade todo o cuidado é pouco.

19.4.06

Ironia

Roberto Benigni consegue fazer rir com a tragédia. Já o víramos fazer isso com o holocausto. Agora vêmo-lo numa história de amor, de dedicação, de emoção passada no cenário de um Iraque invadido pelos Americanos, em plena guerra, tentando sobreviver as arguras das carências proporcionadas plos confrontos bélicos.
Pelo meio temos cenas oníricas de belo recorte, explosões de hiperactividade do actor / realizador, e um texto muito, muito bom.
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Como sempre a sua esposa está presente com a sua beleza delicada e uma capacidade natural para contracenar com Benigni.
Merece, sem dúvida, um visionamento descomprometido. É garantida a boa disposição emuita, muita ironia, com piadas certeiras sobre realidades crueis e dúvidas existênciais.

18.4.06

Tremeliques

No sábado à noite estava a menos de 30 kms do epicentro. O tremelique durou pouco mais de dois segundos e teve 3,6 graus na escala de Richter. Uma brincadeira.
O que senti?
Estava a ver televisão e ouvi um barulho como uma explosão, intenso logo de início e em decrescendo até ao silêncio, acompanhado de um vibrar do prédio, dos vidros, das coisas lá de casa. Assustei-me, pois pensei que algo explodira, no prédio ou arredores. Saí à rua e não vi nada. Procurei fumo ou chamas no prédio, não fosse alguém ter feito asneira com gás. Nada. Nem vi mais alguém preocupado. Nada.
Por momentos pensei ter sonhado o evento, não fosse estar acompanhado por quem me assegurou não ter sido onírica a experiência.
Só no dia seguinte, lendo no jornal, confirmei o abalo.
Apre! Se aquilo é um tremelique, o que não será um daqueles que passa o grau 7 na escala de Richter, com epicentro em terra a pouca distância, e que duram segundos sem fim?

7.4.06

"O Edifício da Verdade" (21)

Prédio de subúrbios. Escadas mal iluminadas. O elevador cheira a pó. 5° direito. O apartamento, uma surpresa. Tinha uma sala principal, um quarto, uma cozinha e casa de banho. Mas a sala era algo do outro mundo. Presas no tecto, pendiam faixas de tecido sedoso e transparente. De todas as cores. Umas vinham até ao chão, outras nem tinham meio metro. Pelo meio daquele efeito descortinavam‑se um sofá, um equipamento de alta finidade, uma televisão, uma mesa e quatro cadeiras.
‑ Sente‑se no sofá. Esteja à vontade.
‑ É costume trazer estranhos para casa?
‑ Só os que atropelo. Já agora, eu sou a Sibela.
‑ Sibela? Original. Eu sou Vitor Cardoso. Sou escritor.
‑ Eu sou designer de interiores. E sado‑masoquista. ‑ disse rindo. ‑ Deixa‑me ajudar‑te a tirar essa roupa molhada. - Não foi subtil a mudança de pronome.
A chuva apanhara‑os à entrada. Tirou‑lhe a camisa e os sapatos. Levou‑os para perto da lareira.
Lareira? De onde viera aquela lareira, tão bem acesa? Vitor juraria que não estava nada ali, quando entraram. Sibela, quando voltou, fez‑se acompanhar por dois balões de brandy aquecido. Parecia que estavam à espera deles.
‑ Aguenta só um pouco. Vou pôr‑me à vontade. E prepara‑te para uma surpresa! ‑ dito isto entrou no quarto.
A aparelhagem ligou‑se sózinha. Marillion, "She chameleon ". Vitor pensou enquanto bebericava o brandy. Que raia se passava? A noite era infindável. Sucediam‑se as peripécias e os cenários. Esta era a quinta mulher loira que se metia com ele. O homem com ar de assassino psicopata, ainda por cima de aparência familiar incutia-lhe um inusitado horror. Vitor queria pensar mais mas não conseguia. Queria concluir alguma coisa de lógico, de verosímil. Tentou os truques para acordar. Nada. Já devia estar acordado. Lá se ia a teoria do sonho. E o cérebro que se recusava a pensar. Parecia bloqueado. Parecia incapaz de atingir o mais básico dos silogismos.
‑ Surprise!
AH!!!
O susto foi irreal. O choque irresistível. Sibela estava ali, a seu lado, numa pose assustadora. Ela era bonita. Com o seu cabelo solto e sem óculos, ainda mais. E estava nua. Um belo corpo. Seios firmes e volumosos. Pernas altas e torneadas. Mas aquele... aquele... aquela coisa... ! Sibela tinha fixado, por meio de correias, uma prótese, um apêndice, uma aberração. O certo é que, em vez de um desejável ninho púbico, a loira exibia um pénis erecto feito em material sintético.
Com o choque, Vitor levantou‑se, largou o balão de cristal que se estilhaçou no soalho de madeira, e pasmou boquiaberto. Pior ficou quando ela disse:
‑ Vá lá, não custa nada... não é o que vocês costumam dizer? Porque não provas um pouco do outro lado?
O escritor começou a recuar, roçando nos tecidos pendurados. Ela caminhava para ele. Ele fugia. Virou‑se para a lareira. A sua camisa, bem como os seus sapatos, alimentavam o lume forte. Estavam já quase em cinzas. Ela tocou‑lhe. Pôs‑lhe uma mão no rabo. Um dedo tentando ser mais maroto que os outros. O escritor perdeu a paciência, a calma. Virou‑se dando‑lhe um violento tabefe que a prostou. Correu para a porta. Agarrou numa t‑shirt que estava pendurada na porta da cozinha. Saiu sem olhar para trás.
(continua)

6.4.06

Se

Se o penalty do início tem entrado, o Benfica tinha sido cilindrado.
Se o Simão tem metido aquela bola lá dentro, o Benfica estava nas meias-finais.
Se a minha avó tivesse rodas seria um carro antigo.
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Há alguma dúvida que o Barcelona joga um futebol muito superior ao do Benfica?
Não tenho por hábito falar aqui do Futebol. Mas desta vez apeteceu-me.
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Sócrates fui a Luanda para fazer uma sessão pública de jogging, rodeado de seguranças e jornalistas. Era mesmo necessário? Será que o homem é viciado em corrida? Ou anda a tomar aquelas substâncias dopantes dos ciclistas e tem que se mexer para que o sangue não comece a coagular?
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Voltou a conversa da taxa de alcoolémia. Estranho é que os ditos e desditos surjam de um Secretário de Estado (da Administração Interna) vs. um Ministro (da Agricultura). Afinal, num Governo, quem manda mais?
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Por causa de Administração Interna, uma palavra para os dois Costa. António e Alberto, o da Justiça. Aparentemente as comadres estão a zangar-se. Os galos lutam pelo melhor poleiro?
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A DGAJ proibiu os funcionários judiciais de falar sobre as condições nos Tribunais ou autorizar a tomada de imagens dentro destes. Sendo certo que apenas o Juiz Presidente pode autorizar tais tomadas de imagens, quanto à lei da rolha já veio o Ministro da Justiça desdizer a nota do Director Geral. No administração tomam-se medidas radicais contra as orientações políticas da tutela?
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Enquanto o PM corre em Luanda, em Portugal parece notória a perda «de mão» governativa. Aposto que lá para o Verão temos remodelação. Quando o país estiver a banhos e não se preocupar minimamente com os telejornais, preferindo o pôr-do-sol e uma cervejola.
Por mais ilusões que se tenham, as equipas valem o que valem. O Benfica logrou ir longe.
O Governo começa a revelar que nem tudo vai bem no balneário. E isso já se nota em campo.

5.4.06

AVISO

Pedimos desculpa por esta interrupção.
O programa segue dentro de momentos.
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Esta é uma memória mais dos anos '70 e da TV a preto e branco.
Mas é como me sinto nestes dias. Atafulhado com trabalho sacrifiquei o blog.
Brevemente voltarei.
Quem sabe se não será já amanhã?