19.6.06

Cinema a rodos

Aproveitando esta semana intermitente, dei uso intensivo ao KingKard. Resumidamente, porque infelizmente, não há tempo para mais, aqui ficam as minhas impressões.

Lisboetas, de Serge Tréfaut
Este documentário sobre os novos lisboetas, aqueles que vieram do frio e do calor, do Leste, de África, da Índia e do Brasil para Portugal à procura de melhor fortuna e se deparam com um mundo novo, uma língua nova, costumes novos, oportunidades e oportunistas. Filmado com um brilhante sentido estético, montado de forma envolvente, este filme interpretado por gente real abre um pouco a porta para aquela realidade que passa ao lado de quem vive em Lisboa e está demasiado ocupado para ver, inconsciente daquilo que à sua volta se passa.
Sem dúvida que é um filme para ver, por enquanto ainda em exibição no Nimas.
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O Código Da Vinci, de Ron Howard
É o exemplo típico de um filme pronto-a-comer, embalado em papel e plástico. Difícil seria fazer um filme relevante, na medida em que a obra literária que lhe está na origem é igualmente muito fraca. Neste filme nenhum dos personagens tem densidade, as suas motivações escondem-se em interpretações rasas. Sem dúvida destinado a quem leu o livro e gostou, e de preferência que não tenha pensado muito nele. Chupa a pastilha, e no fim cospe-a sem sequer mascar muito. Fui ver por curiosidade e porque não pagava o bilhete. Caso contrário a curiosidade saíria cara e sem qualquer retorno.
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A comédia do poder, de Claude Chabrol
Este é um filme que navega numa realidade incontornável dos nossos dias e que é o tráfico de influências, entre a corrupção e o marketing, ao nivel dos Estados e das empresas públicas. Centra-se na realidade francesa e na figura do Juíz de Instrução que naquele ordenamento jurídico tem um papel bem distinto do que se passa em Portugal e que no filme se apresenta muitas vezes como insuportável. O filme tem bases sólidas mas momentos inconsistentes. Interpretações com altos e baixos, roçando a caricatura e os esteriótipos, o que se sente intencional para conseguir, pelo excesso, transmitir a mensagem. Por isso, a tradução do título como a “comédia” do poder é bem conseguida. Não é uma comédia de rir à gargalhada, é sim de sorrir aos segundos sentidos e insinuações que de permeio se descobrem.
Filme a ver, sem dúvida, mas que, para os que não têm tempo, resistirá bem a um primeiro visionamento já em casa em DVD.
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A lula e a baleia, de Noah Baumbach
Esta obra transporta-nos para meados da década de oitenta, com uma família em ruptura. Os pais, cuja relação está há muito minada num processo que culmina com o aparente fim da carreira de escritor do pai e o despontar de uma carreira como escritora da mãe, chegam ao ponto da separação e tentam fazê-lo de forma adulta e responsável para bem dos filhos. Estes, dois rapazes em diferentes fases da adolescência, lidam mal com a nova realidade e entre os quatro geram-se momentos de aproximação e de conflito, de estranhos comportamentos.
Seguimos as suas desventuras de forma íntima, vivendo os seus momentos de força e fraqueza e assistimos com paixão ao crescimento dos fortes personagens criados e muito bem interpretados. A realização é segura mas pouco audaz, conquistando-nos pela simplicidade. Exemplo actual do cinema independente a ver, seguramente.

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