22.6.06

Professores

Correndo o risco de meter a foice em seara alheia e cometer alguma gaffe, tenho que deixar aqui algumas palavras sobre as notícias divulgadas pela comunicação social quanto às reivindicações dos professores.
Começando por aqui, diz-me a experiência que a mensagem de quem se opõe ao Governo nunca é bem transmitida e muitas das vezes é mesmo deturpada. Em todo o caso, e dando o devido desconto, oiço coisas que me arrepiam.
Custa-me ouvir propor a avaliação dos docentes pelos pais dos alunos. É o mesmo que por os doentes a avaliar os médicos, os arguidos os Juízes, os contribuintes os funcionários que lhes liquidam os impostos... A carga subjectiva é tão elevada que é impossível ser imparcial e tornar credível tal avaliação. Basta olhar para as histórias de pais a enfrentarem professores com ameaças ou agressões que cada vez mais se ouvem . Porquê, então, sequer propôr isto?
Oiço igualmente com preocupação que no concurso nacional de colocação de professores dezenas de vagas nos grandes centros não foram abertas. É de supor que não serão precisos tais professores? Será? Segundo a mentalidade reinante, estou mais em crer que, no começo do ano lectivo, outros professores virão para as ocupar ao abrigo de qualquer regime distinto, passando a perna a quem queria concorrer àquelas vagas. É o costume, não é?
Oiço falar na alteração do estatuto da carreira docente com referências que, possivelmente, levarão a que alguns professores deixem de ter carreira. Pelos visto, é moda.
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Em contrapartida, a corporação docente aproveita para defender bandeiras que são assustadoramente absurdas. Os professores têm 25 sindicatos. Alguns com reduzida representatividade. O número de professores que tem direito a redução de serviço por causa da actividade sindical é enorme. E ultrapassa o rácio de qualquer outra profissão em Portugal. Porquê? Ainda por cima não vejo qualquer sindicato defender aquilo que os professores realmente precisam: autoridade e respeito.
Mas também é assustador o número de professores com horários zero, no Ministério e em actividades escolares não docentes. Assustador porque representa um desvio, um desperdício de recursos que não beneficia os alunos nem os professores que, queiramos ou não, estando afastados da docência perderão naturalmente qualidades formativas.
Os professores blindaram o estatuto da sua carreira e da forma como concorrem aos lugares, o que leva a que os mais velhos, que então decidiram as regras que os regem, estão instalados e numa posição sobranceira de domínio. Pelo contrário, quem acede agora à carreira docente é trucidado pelas regras existentes e, por muito bom professor que seja, está no fundo da "cadeia alimentar" do ensino. E, por isso, temos professores do Norte a ensinar no Sul, e vice-versa, sem que sequer lhes seja permitido continuar na escola onde, durante um ano, ensinaram com qualidade, criaram laços, afirmaram as suas qualidades, ganharam respeito, reconhecimento e autoridade.
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A educação é o pilar no qual assenta a formação dos novos cidadãos. Está a ser descurada há décadas. A qualidade do ensino é sistematicamente bombardeada, desde os conteúdos aos que os ensinam. Reformas são precisas. Mas, à semelhança do que vejo acontecer na justiça, parece que a estratégia escolhida foi a do confronto, da terra queimada, esquecendo-se o verdadeiro cerne da questão. Discute-se o lateral, o acessório e criam-se questões de somenos relevo estrutural. Não será assim que se resolverão os problemas. E continuaremos a ter alunos desinteressados, desobrigados e de baixa qualidade, com pais desresponsabilizados da educação dos filhos, que apenas sabem reivindicar para os seus a tolerância para o erro, e professores maus instalados, e bons desmotivados. Enfim, uma educação de merda.

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