Já vai longe o dia em que estreou o filme Die Hard e eu fui vê-lo com os meus amigos ao Cinema de Carcavelos (Atlântida Cine). Nessa altura Bruce Willis deslumbrava como David Addison na série Moonlighting (Modelo e Detective), pelo humor, diálogo rápido e brilhante interacção com Cybil Sheppard, e eu não sabia ao certo ao que ia quando entrei para a sala escura. Saí de lá excitado com as hormonas aos saltos como seria de esperar de um adolescente depois de ver aquele primeiro filme do personagem John McLane. Willis tinha humor e mostrava uma capacidade para ser o "herói", o lutador, o "um contra todos" capaz de derrotar o mais elaborado plano.
Quando fizeram a sequela, a expectativa era enorme. A desilusão ainda foi maior, pois o segundo filme é miserável, incongruente, e vive na tentativa de repetir algo de irrepetível, aumentando as explosões e introduzindo piadas forçadas e pouco conseguidas numa sequência de acção cheia de contrasensos e esteriótipos. O número de tiros aumenta mas a acção e a incerteza diminuem. É o pior dos filmes Die Hard.
Para a terceira peça os criativos juntaram ao "herói" o cliché de um companheiro negro, repetindo uma fórmula também ela esteriotipada cuja mais recente comparação encostava sempre ao então em alta "Arma Mortífera". Valeu contudo o casting de Samuel L. "motherfucker" Jackson cuja capacidade de emparelhar com Willis salvou a performance do filme. Contudo, ainda estava a milhas do Arranha-Céus.
Quando ontem entrei no cinema, e depois de ter visto algumas vezes o trailer do filme e antecipar críticas reservadas, não tinha muitas expectativas. Imaginava-o com muitos efeitos especiais, muito digital, muito musculado, com combates a torto e a direito, e Willis em piloto automático.
Felizmente, à saída a minha satisfação era bem superior ao esperado. É verdade que o filme vive de alguns efeitos especiais, que John McLane roça o "super-homem" nalguns pontos da história e que é possível reportar muitas das cenas a outros filmes de acção já filmados no passado. Mas John McLane envelheceu bem e este Die Hard 4.0 está acima das versões 2 e 3.
Os combates não se eternizam e resolvem-se depressa. As explosões e os tiros são mais comedidos. Willis não é um palhaço a debitar piadas mas revela o sempre sarcástico humor corrosivo do personagem. O plano "diabólico", sempre cruel e muito elaborado está bem esgalhado. O final é bastante imaginativo. Ainda assim, para mim, não há Die Hard como o primeiro.
No fundo, este é um bom filme de acção para se ver e esquecer o mundo durante duas horas, para vibrar com a acção e sorrir com as piadas. Uma segura nota três.