13.7.07

Tropicalizaçao



Há dias estava eu de conversa com a Ouriço-Caixeiro quando partilhámos a ideia de que, por vezes, este nosso país parece estar a caminhar para a "tropicalização". Claro que, na altura, estávamos a pensar no esteriótipo da "república das bananas" e de como se acumulam os "poderzinhos", os pequenos poderes que o tipo mais banal tem ao seu dispôr no seu trabalho, por vezes inútil. Ou então no espírito de subserviência para evitar problemas, que o importante é ir andando sem chatear os manda-chuvas. Ou o abuso, a corrupção, o desvio, o esquema. Oh, e como nós adoramos esquemas.

Foi então que me veio à ideia outra imagem que me tem importunado nos últimos tempos, e que mais não é que a da generalização do "chinelo-de-enfiar-no-dedo" como artefacto de moda para usar... em todo o lado.
Este tipo de chinelo é igualmente um sinal de tropicalização. Mentalmente vejo-o como calçado dos países em que a pobreza grassa e o clima não é frio, pelo que o chinelo é o calçado de eleição. Aliás, certamente já todos vimos a imagem do acidente de comboio, ou da avalanche, do tremor de terra ou da guerra... em que aparece sempre o chinelo abandonado no meio da rua, perdido por quem fugia ou foi vítima da catástrofe.

Pois agora, aqui em Lisboa, vêem-se dezenas e dezenas de pessoas a usar o "chinelo-de-enfiar-no-dedo", rebaptizado de "havaianas". Não é uma imagem que me agrade.
Quando era pequeno também usei muitas vezes o "chinelo-de-enfiar-no-dedo", porque... porque era barato e não havia assim tanto dinheiro para gastar em calçado, e na altura do Verão eu bem que podia ir para a praia ou brincar na rua com os meus amigos, até andar de bicicleta, chinelando. Saía mais barato ao orçamento familiar, apesar da resistência dos ditos deixar muito a desejar e eu rebentá-los com alguma frequência. Vá lá que também havia imaginação e por vezes uns remendos eram conseguidos. Mas garanto que os meus pais eram incapazes de me mandar para a escola, ao médico, a visitar alguém, a passear com o "chinelame" enfiado nos presuntos. Para isso havia sapatos, ténis, ou umas sandálias a sério.
Ainda hoje tenho chinelos deste tipo (mas daqueles pretos, discretos, de equipamento desportivo) que acho indispensáveis para andar por casa. Mas ir para a rua com eles, na cidade? Sou incapaz. Ter os meus pés assim tão perto da imundice da cidade? Arrepia-me. As sandálias sempre têm uma sola a sério, e envolvem minimamente o pé. O chinelo só será por mim usado na rua para ir para a praia, e é quando estou numa casa mesmo pertito da praia. E mesmo assim, prefiro as sandálias.

Porquê todo este discurso? Não sei. Não é um manifesto anti-chinelo. É só um reparo a este sinal de "tropicalização" que me incomoda. Porque, não sei se sabem, há muitos anos atrás, nos tempos daquele senhor de nome Salazar, foi necessário criar uma lei que proibia as pessoas de andar descalças na rua. Por razões de saúde pública. Prque como o país era muito "rico", as pessoas não gastavam o pouco que tinham e andavam descalças. Vejam imagens antigas, dos ardinas de Lisboa, por exemplo. Todos aqueles miúdos andavam descalços a maior parte do ano.
Pois bem, andar com estas "havaianas" é pouco mais que andar descalço. Não vos incomoda?

1 comentário:

Ouriço-Cacheiro disse...

Por vezes pouco estético (há pés mui mui feios!). Contudo faz bem ao pé de atleta e nós somos, tal como os etíopes, excelentes maratonistas!