28.4.08

Maldoror

Vem com uns dias de atraso, mas vem.
Na quarta-feira, no grande auditório da Culturgest, assisti ao espectáculo (único em Lisboa) dos Mão Morta sobre os textos do "Conde de Lautréamont". A palavra reina e a encenação, mínima, foca-nos sobre o texto que Adolfo Luxúria Canibal declama com ritmo e dicção perfeitos, transmitindo-nos os horrores que a lírica encerra.
Não pode deixar de se fazer uma comparação com o genial "Muller no Hessicher Hof Hotel", porque o estilo do trabalho é semelhante. E, na comparação, este "Maldoror" fica a perder, porque em Muller a encenação era mais trabalhada e a música imperava gritante. Neste "Maldoror" a música está relegada para o pano de fundo deixando a palavra brilhar, cadenciada.
Por isso, não obstante ter adorado a perfeição do grupo, o cuidadoso desempenho, sem falhas, onde tudo está pensado e é interpretado com rigor insuperável, gostaria que este trabalho tivesse mais música. Ainda assim, o cd já está na prateleira e foi ouvido muitas vezes.
Aliás, impõe-se aqui um aviso: não vale a pena procurar o cd nas lojas. A edição (limitada) está disponível no site da banda (envio por correio à cobrança) ou nos locais de espectáculo (e já não haverá muitos). Mandei vir o meu, e eles cumpriram. Numa semana, estava em meu poder.
E acreditem nesta história da edição limitada. Eu não tenho o "Muller" original porque nunca mais o vi à venda.


22.4.08

Cava, Lázaro, cava

Bem sei que tenho andado arredado daqui, e não há desculpa. Sinto que estou a atingir o ponto mais alto de cansaço e falta de inspiração para manter este blog e espero superá-lo a bem, ou seja, mantendo a loja aberta. Para além do mais, tenho andado ocupado com uma série de actividades pessoais que não me têm deixado tempo para pensar naquilo que aqui posso escrever.
Mas, passada esta introdução, entremos naquilo que me trouxe aqui hoje. Nick Cave and The Bad Seeds deram ontem um excelente concerto no Coliseu de Lisboa (repete hoje no Porto) para uma extensa plateia que encheu a sala.
Sem se conter no último disco, "Dig, Lazarus, dig", Cave navegou por toda a sua discografia, recriando temas antigos que toda a gente reconhecia com facilidade. Quando ao fim de mais de duas horas de concerto Cave dizia que estavam a esgotar-se as músicas, certamente quem assistia pensava em mais uma ou duas que gostaria de ouvir... mas isso é insuperável quando temos à nossa frente um grande compositor e intérprete com trinta anos de carreira.
Aos cinquenta anos, a voz de Nick Cave está impecável e aguenta sem esforço um concerto sempre a abrir. O seu corpo salta, contorce-se, dança o tempo todo, enquanto troca a guitarra pela pandeireta, pelas teclas ou se fica pelo microfone. A "más sementes" recriam-se com novos elementos e enchem o palco e a música com uma competência estruturante para o brilho da estrela da companhia.
Foi um concerto memorável.

(as fotos não são de ontem, mas roubadas algures da net)

15.4.08

O Caimão

À primeira qualquer um cai. À segunda só cai quem quer. À terceira... bom, já se vê um padrão.
Comecei o dia a ouvir na rádio que Berlusconi não só ganhou as eleições em Itália, pela terceira vez, como conseguiu maioria absoluta. Imaginei logo Nanni Moretti a gritar em frente à televisão, desiludido com as gentes do seu país.
De nada serviu o seu filme. A Itália voltou a pôr a pata na poça. Só quem não tenha memória ou ainda acredite no Pai Natal poderá esperar disto qualquer coisa de bom.

14.4.08

Ausências e fotografia digital

Uma semana sem escrever no blog, não estando de férias, só pode dizer uma de três coisas: falta de tempo; falta de tema; ou falta de interesse.
Felizmente, tempo até tenho tido. Já tema... ultimamente poucas coisas têm cativado a minha atenção ao ponto de me trazer aqui a escrever sobre elas. No fundo é isso, falta de interesse. Que diacho, a rotina corriqueira da nossa política (nacional e internacional), a monotonia da notícia diária, a modorra da vida de quem trabalha não propiciam posts que justifiquem a vossa atenção. Nem sequer umas idas ao cinema têm acontecido para disfarçar o meu silêncio, com um comentário em jeito de crítica.
Ocupar os tempos livres com os amigos é bom, mas o conteúdo desses momentos fica fora do âmbito destas páginas. A menos que, à semelhança do passado, volte a fazer umas fotografias de pratos e copos vazios (ao contrário de quem mostra o antes, arrumadinho, colorido, eu prefiro exibir o depois, o descalabro, o caos).
Em todo o caso, posso tecer aqui algumas considerações quanto ao Curso de Fotografia Digital minstrado pelo Instituto Português de Fotografia e que terminei este sábado (sim, vou poder voltar a dormir um pouco mais aos sábados pela manhã). Durante 44 horas aprendi os rudimentos do Photoshop, do tratamento digital de imagens, desde o elementar como a criação de um método de arquivo e backup dos ficheiros de imagens, ao seu processamento com correcções estruturais, correcções de tom e cor, e retoque. Com uma "cheirinho" do Photoshop avançado, com tratamento e composição por camadas (layers) o curso é bastante completo e abrangente, acessível mesmo a quem tenha poucos conhecimentos sobre a matéria. Exige é um pouco de prática entre lições que, infelizmente, não consegui manter satisfatoriamente. Assim, agora que ando a coordenar todos os apontamentos que tirei ao longo destas onze semanas (aulas de 4 horas) é que irei experimentando, consolidando os conhecimentos obtidos, e dessa forma espremer todo o sumo deste curso.
Seguramente afirmo que não tem o charme, a mística do laboratório para a fotografia a preto e branco, mas os resultados e os meios são um mundo que vai muito para além da química e da luz. E se em P/B argêntico tudo exige experimentação, seja de papeis, de químicos de películas, grande parte do digital passa-se no mundo de um monitor. Não tem o mesmo encanto. Mas os dois sistemas complementam-se, e tomara eu poder dedicar grande parte dos meus dias a esta arte.
Ouvi dizer que esta semana o Euromilhões chega aos € 58.000.000,00. Davam-me jeito.

7.4.08

China, Tibete, chamas olímpicas e extintores

Os distúrbios de ontem de Londres, em que manifestantes tentaram apagar a chama olímpica com recurso aos mais variados métodos, incluindo um adequado extintor, são um episódio caricato, cómico mas igualmente trágico e dão o mote para o percurso da famigerada chama.
Por um lado, não se pode negar que a situação do Tibete é uma daquelas que importa rever, como um dia se reviu Timor, e actualmente se tenta rever o Kosovo, por exemplo. Falamos de um território, de uma ocupação e de uma imposição pela força.
Por outro lado, é certo e seguro que são os eventos de grande publicidade que propiciam os melhores momentos para criar alertas e chamar a atenção do mundo global para questões tão localizadas.
Se o método é o mais correcto, já não sei. Sei que é preferível este tipo de manifestação ao boicote desportivo que no passado desvirtuou edições da competição olímpica pelo afastamento de alguns dos melhores atletas de então. Uma coisa é certa: hoje o Tibete está na ordem do dia, e desde ontem foi criado suficiente barulho para ecoar nos meios de comunicação social e ser de novo tema de conversa.
Em jeito de desabafo tenho, contudo, que dizer que os Jogos Olímpicos já não são o que eram. Sinceramente, nos dias de hoje, a emoção que anteriormente sentia de 4 em 4 anos esfumou-se e apenas vê mais uma enorme concentração de emissões televisivas nas quais desfilam os artistas de sempre. Nos Jogos era preciso avivar a chama, e não apagá-la. E não creio que sejam os chineses na organização e os actuais desportistas nos seus palcos quem conseguirá animar a malta para o desporto sob a égide das cinco argolas.

2.4.08

Istambul - vistas de outro planeta

Para mais fotografias de Istambul, espreitem aqui onde outro olhar reteve imagens diferentes de sítios iguais. Vale a pena clicar nas fotos para as ver no seu tamanho pleno. E que a autora me perdoe este reencaminhamento, ainda que salvaguardada esteja a sua autoria.

Istambul - história

Istambul é uma cidade localizada num dos berços da civilização. Pretender que esta nasceu num único lugar é demonstração de estultícia, pois a humanidade evoluiu em simultâneo numa considerável área deste planeta e, não há dúvida, se então houvesse telejornal, a cidade que hoje se chama Istambul estaria frequentemente na notícia de abertura.
Como tal, muita história ali se encontra entre construções e artigos recolhidos pela laboriosa arqueologia dos sec. XIX e XX.
Apenas vi uma pequena parte, e destaco algumas das visitas que fiz a pontos de interesse turístico relevantes da cidade.

(fotografia por Urso Polar)
Começando pelo palácio Topkapi, o qual foi residência oficial da família real por mais de 400 anos, onde se destaca a visita ao harém. Uma nota: pagam-se 10 ytl de entrada mas, chegados à porta do harém, deparamo-nos com nova bilheteira e lá temos que pagar mais 10 ytl (cerca de € 5,00).
O edifício é relevante porque, apesar da informação ser limitada se o visitamos sem um guia, ali conseguimos vislumbrar um pouco da estrutura que reinou no império, e da forma como era gerida a figura mítica do harém.
(fotografia por Urso Polar)
(fotografia por Urso Polar)
Outro ponto incrível, a não perder nesta cidade, é a Cisterna da Basílica, estrutura impressionante com as suas 336 colunas com mais de 8 metros de altura e que se esconde no subsolo como enorme reserva de água. A iluminação pode ser julgada duvidosa mas, com paciência e equipamentos sensíveis, conseguem-se fotografias incríveis.

(fotografia por Urso Polar)

(fotografia por Urso Polar)

O museu de Arqueologia de Istambul é, sem dúvida, merecedor de atenta visita, pois nele encontramos referências à evolução civilizacional ocorrida nas margens do Bósforo e um pouco por todo o território daquilo que hoje é a Turquia. Ali podemos encontrar o Sarcófago de Alexandre, o código de Murabit, ou azulejos e mosaicos incrivelmente antigos.

Quanto a Hagia Sofia, dedicar-lhe-ei um post próprio, para pôr mais umas fotografias.