7.2.15


Trinta e cinco anos depois podemos saber o que foi feito de Christiane F. Não sem um laivo de voyeurismo, ou curiosidade mórbida, mas com a certeza que o fim do livro original deixava muito, aliás, tudo em aberto.
Ensina-nos a experiência que um junkie, para se libertar da droga, precisa muito apoio, que milagres não acontecem do nada, e que os consultórios dos psiquiatras e dos psicólogos estão cheios de vítimas da adição, seja ela a heroína, a cocaína, o álcool, a comida, o sexo, sei lá que mais.
Este livro mostra-nos isso mesmo. A vida de Christiane F. foi uma montanha russa de droga e sobriedade, de excessos e moderações. Porém, enquanto livro, este não tem, nem sequer se aproxima, da mística e da experiência que é ler o seu antecessor.
Para começar, não está tão bem escrito. Apesar de continuar a usar o discurso na primeira pessoa, a qualidade da peça jornalística que virou livro nos anos '70 não encontra eco à altura neste revisitar da drogada mais famosa da cena de Berlim.
Depois, Christiane F. já não é a jovem ingénua que se abriu sem reservas aos dois jornalistas Kai Herman e Horst Rieck, permitindo-lhes um relato avassalador. Agora, é uma mulher de 50 anos com contas a ajustar e a necessidade de contar a sua versão da história. Nota-se um discurso comprometido com a sua verdade e com a constante desculpabilização e até mesmo vitimização. Por muito que assuma os desmandos da sua vida, apresenta-se como tendo estado sempre sobre controlo. Mas, obviamente, não esteve. E continuou a consumir com regularidade ao longo dos anos, alternando períodos de degradação narcótica com outros de abstinência esperançosa.
Hoje, com a saúde arruinada, com uma idade à qual muita gente, incluindo ela, não pensou que chegasse, Christiane F. continua um exemplo para quem se aventura nas dependências. Para o bem e para o mal.
Quanto ao livro... houve momentos em que só com muito esforço se conseguia progredir. Não tanto pela história mas pela forma como está escrito. Sofrível.




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