Depois de um sorriso, Mikhi Féher morreu.
O choque atingiu milhares de pessoas que estavam no éstádio. Que viam em directo na Sport TV. Que ouviam nas rádios. Que viram quase em directo na RTP.
Mikhi tinha à sua disposição meios de socorro inusitados, pois duas equipas de médicos chegaram até si em segundos. MAs, a areia da sua ampulheta chegara ao fim, e nada pôde ser feito.
Faz pensar em quem tem problemas semelhantes, em casa, no trabalho, na rua. No sofrimento de quem o acompanha, de quem vê, de quem chama os socorros e desespera enquanto espera. Quando minutos parecem horas e a impotência permite apenas que se veja o que os outros fazem.
Os restantes jogadores, particularmente os colegas do Benfica, aperceberam-se rapidamente que Féher estava de partida. O sofrimento, as lágrimas e o desespero são mais marcantes que a queda do jogador ou as manobras de ressuscitação que se vislumbram. Felizmente o realizador não foi mórbido, e mostrou-se o inevitável e o indispensável.
E viu-se o sofrimento daqueles miúdos e graúdos da bola. De Miguel e Tiago, a Hélder e Zahovic.
Aqui há anos, Gerard Berger despistou-se, embateu num muro, e o Ferrari que então conduzia incendiou-se e envolveu o piloto em chamas. Assisti arrepiado à combustão que durou uma eternidade até que os bombeiros a apagaram. Depois, em repetição, e de cronómetro ligado, constatei que as chamas duraram 14 segundos. Uma eternidade em directo, um instante no relógio.
Anos depois, quando Senna deixou a vida na pista Italiana, foram filmadas e fotografadas as operações de socorro, a poça de sangue restante e tudo que o recato aconselhava não ter sido mostrado. Hoje, quando um piloto de F1 sofre um grave acidente, juntamente com os socorros, vêm comissários de pista com lençois e cobertores tapar o evento dos olhares indescretos.
Parabéns, portanto, a quem não banalizou a imagem da morte de Féher. Aos outros, se os houve (desconheço as imagens da imprensa) o meu desdém.
A morte choca. E a morte em directo choca quem a presencia. Desta vez foram muitos os que viram esfumar-se uma vida. Para que recordem que, dia a dia, alguém perde alguém. Alguém sofre.
É a vida. Traz sempre a morte. Há que aprender a viver com ambas.
MAs, que sei eu disto?
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