Nos últimos tempos, na comunicação social, correu a notícia da pequena Andreia. Há 13 meses foi raptada da maternidade onde acabara de nascer. Durante todo este tempo foram infrutíferas as inúmeras diligências da PJ, instalando-se a frustração de um caso por resolver.
Eis senão quando, por via da denúncia de um familiar, a raptora foi desmascarada e a criança recuperada, estando em condições de ser entreque aos verdadeiros pais.
E aí temi que mais uma vez a comunicação social embalasse num registo de exaltação da opinião pública para pôr em causa o direito dos pais e da menor de estarem juntos, assim como ocorreu com o "outro caso", o da "Esmeralda".
Mas não. Ainda houve uma série de vozes que veio questionar a competência dos pais, porque têm outros filhos sujeitos a medidas tutelares, ou quem dissesse que a Andreia iria sofrer a perda dos "pais" que nunca foram pais (só faltava dizer que por ter passado um ano seria traumática a separação e que deveria ficar com aqueles), ou ainda quem se queixasse da pobreza da família.
À semelhança do que acontece todos os dias, as crianças quando nascem não escolhem a família à qual vão pertencer. Se há dificuldades parentais, económicas ou educacionais, cabe aos sistemas instituídos pelo Estado diagnosticar, referenciar e actuar de forma a eliminar tais obstáculos, com o mínimo de perturbação possível.
Ora, no caso concreto, a Andreia é uma vedeta. E como tal, o desejo de ajudar veio de todo o lado, pois até os especadores do programa "Fátima" da SIC, ao qual a mãe da menor foi, contribuiram generosamente para atenuar a pobreza em que aquela família vive. E a madrinha da criança, os vizinhos, os amigos, logo ajudaram com o intuito de proporcionar àquela vedeta aquilo que os seus irmãos não tiveram a sorte de ter.
Em contrapartida, a festa que fizeram no dia da chegada da pequena criança atingiu foros folclóricos que muita gente se apressou a criticar, porque não foi recatado, não defendeu a criança, foi um choque...
Foi a verdade.
A verdade daquelas pessoas simples e pobres que vivem num meio rural. Onde toda a gente se conhece a apressa a ajudar o vizinho quando este precisa. Que em contrapartida quer divertir-se com a simplicidade que vive no dia-a-dia. Que não sabe ser recatada nesta situação, porque a situação é tão original, tão diferente, e tão alegre, feliz, que exige uma festança. Nos moldes a que estão habituados a fazer.
A festa foi real.
Será essa a realidade na qual a pequenota vai viver, crescer, ser educada. Esse é o seu meio social, familiar. Não vale a pena ficcionar redomas só porque já teve o infortúnio de ter sido escolhida para ser levada por uma mulher sem escrúpulos.
Agora, dêem espaço à família para viver como sabe, beneficiando de tudo o que de novo ganhou com esta estranha publicidade. Para ver se consegue ser melhor do que foi no passado com os outros irmãos de Andreia. E se não conseguir, certamente lá estará a Segurança Social, a Comissão de Protecção de Menores e o Tribunal para, como aconteceu outrora, agir se necessário.
1 comentário:
Dessa Segurança Social é que tenho medo. E de quem é capaz de ter seis ou sete filhos sem condições para os ter. Talvez nem pensem nisso e os filhos talvez também não pensem. Assim se perpetua uma falta de atitude, de pensamento, duma orientação qualquer que seja.
Com um ano de vida a pequena Andreia vai precisar de muita sorte.
sara | 03.19.07 - 5:04 pm | #
Não acompanhei esta situação. Vi apenas as notícias quanto à descoberta da menina e sua devolução aos pais. A cobertura por aí deve ter sido completa, pois então.
Será a mulher que a raptou sem escrúpulos, como referes? Devia estar perturbada com certeza, não? Acho que ninguém fará uma coisa dessas no seu estado normal...
A pequena não se recordará do que passou; já os pais trarão sempre a mágoa de não a ter visto crescer naquele primeiro ano... mas o que interessa é o que aí vem.
Noite | Homepage | 03.20.07 - 2:06 am | #
Pois é Sara, mas garanto-te que sempre haverá pais "bons" e pais "maus" na sociedade em que vivemos. E raramente o Estado conseguirá substituir-se sendo um pai "bom", porque a intervenção nestes casos é sempre de limitar aos casos de extrema necessidade e risco.
Noite, não sei que te diga... não consigo encontrar qualquer desequilibrio, transtorno, desvario, que justifique o rapto de um recém-nascido. Por isso falo na falta de escrúpulos.
Urso Polar | 03.20.07 - 8:42 am | #
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