Manhã de sábado, sem qualquer pressão. Não preciso de ir trabalhar, não tenho planos que me obriguem a olhar para o relógio, consegui dormir nove horas seguidas e estou descansado.
Na cozinha, ao preparar o pequeno almoço, deu-me para escolher Bach, Cello Suites para me fazerem companhia. Com tais harmonias como pano de fundo, sentei-me à mesa. Torradas, brioche, sumo, capuccino, a leitura das notícias, a espreitadela às capas dos jornais, tudo através da longa mão virtual da internet.
Lá fora, depois da borrasca da noite, o sol brilha com intensidade, reflectindo o seu brilho na água que ainda se agarra às árvores, aos telhados, ao chão. A passarada está contente e faz questão de anunciá-lo com trinados que conseguem sobrepor-se à música que escolhi.
A calma é tão reconfortante, como preocupante. Parece que, a qualquer momento, o realizador vai mostrar algo de errado que não se vê no enquadramento. Que o autor escreveu umas linhas que surpreenderão o espectador colocando o personagem em dificuldades que alimentarão a trama.
Para começar, fora de cena, uma enorme nuvem negra esconde agora o sol. A imagem radiosa foi substituída por uma tenebrosa paisagem cinzenta, escura, desagradável. Os pássaros calam-se. A tensão sobe. Bach já não soa tão repousante, antes contribuindo para o desconforto crescente.
Assim de repente, tive a sensação de que a minha vida dava um filme francês.
2 comentários:
De qq forma corres menos riscos se a tua vida desse um filme indiano ;-)
Aí é que está!, eu não comi um caril.
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