-Lembras-te da Mónica?
-Quem?
A gorda?
-
Sim. A gorda.
-
Se me lembro. Gozavam todos com ela, e eu tinha vergonha de asssumir que
gostava da miúda.
-
Olhando para trás, devo dizer-te que foste muito parvo.
-
Se fui. Ela podia ser gorda, mas era bonita e divertida. E mais esperta que
todas as outras naquele grupo de Verão.
-
E como não gozavas com ela, garanto-te que tinha um fraquinho por ti.
-
Disparate. Tínhamos quinze anos. Como podes saber se tinha um fraquinho por
mim? Aquele puto borbulhento e magricela que evitava qualquer confronto para
não correr riscos...
-
Ora, em conversas. Outro dia encontrei a Xana. Pusemo-nos a falar desses tempos, a
recordar a malta do grupo, sabes como é, e um nome associa o outro e logo após
saber da Mónica a Xana perguntou por ti. Quando lhe respondi, disse que foi uma
pena que não tivesses tido a coragem de te lançares à Mónica, pois ela estava
caída por ti, mas muito insegura e sem coragem para te cortejar.
- Cortejar… as palavras
que te lembras para um grupo de putos de quinze anos esparramados nas areias de S. Pedro.
- Podia simplesmente
ter dito “para te galar”, mas acho que já não fica bem.
- E o que é feito da
Mónica?
- Isso é o mais
interessante. Por isso te perguntei se te lembravas dela.
- Sim?
- A Mónica, antes dos
vinte anos, já tinha perdido metade do peso. Assim como o “Gordo”, o Fernando, que
hoje é um careca trinca-espinhas, sabes?, a Mónica perdeu peso e tornou-se uma
estampa.
- Estás a gozar.
- Não. Já sou amigo dela
no Facebook e andei a ver as fotografias… Amigo, agora que está nos
quarenta, a Mónica está melhor que nunca.
- Tens que me mostrar isso.
- Faço melhor do que
mostrar…
- Então?
- Quando aceitou o meu
pedido de amizade, ela perguntou imediatamente se sabia alguma coisa de ti. Eu
respondi que continuavas a ser diferente, e que devias ser a única pessoa que
conheço que não tem Facebook. Mas que iria pôr-vos em contacto.
- Não sei… isso não vai
acabar bem. Se ela está assim tão bem, porque carga de água quererá sequer
falar comigo?
- Porque, meu caro, tu não
está tão mal como aquilo que tens a mania de ver ao espelho. E se continuas a
encolher-te, vais acabar mal.
- Esquece isso.
- É difícil. Esta conversa
é só para te avisar que dei-lhe o teu número. Vai ligar-te em breve.
- O que é que foste fazer,
pá? Não sei…
- “Padreco”, cala-te. Já é
altura de perderes a alcunha. Ela vai ligar-te e tu vais entrar nessa batalha. Vais
fazer-te à vida. Aproveita. A Mónica está divorciada, sem filhos, é professora
de biologia na Universidade, está gira como tudo... Tu continuas solteiro. As
tuas relações anteriores são meras anedotas. És um veterinário sólido, bem
instalado. Estás em forma e não és um monstro horrível. Sabes conversar, sabes
rir, lês, vês filmes, cultivas-te, sais à noite… Caramba… hoje em dia isso é
mais do que suficiente… não és um bêbado, um burlão, um parasita, sei lá que
mais.
- Se tu achas…
- Vais atender o telefone.
E depois…, depois diz-me qualquer coisa.
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