2.10.13

Lembras-te da Mónica?

-Lembras-te da Mónica?
-Quem? A gorda?
- Sim. A gorda.
- Se me lembro. Gozavam todos com ela, e eu tinha vergonha de asssumir que gostava da miúda.
- Olhando para trás, devo dizer-te que foste muito parvo.
- Se fui. Ela podia ser gorda, mas era bonita e divertida. E mais esperta que todas as outras naquele grupo de Verão.
- E como não gozavas com ela, garanto-te que tinha um fraquinho por ti.
- Disparate. Tínhamos quinze anos. Como podes saber se tinha um fraquinho por mim? Aquele puto borbulhento e magricela que evitava qualquer confronto para não correr riscos...
- Ora, em conversas. Outro dia encontrei a Xana. Pusemo-nos a falar desses tempos, a recordar a malta do grupo, sabes como é, e um nome associa o outro e logo após saber da Mónica a Xana perguntou por ti. Quando lhe respondi, disse que foi uma pena que não tivesses tido a coragem de te lançares à Mónica, pois ela estava caída por ti, mas muito insegura e sem coragem para te cortejar.
- Cortejar… as palavras que te lembras para um grupo de putos de quinze anos esparramados nas areias de S. Pedro.
- Podia simplesmente ter dito “para te galar”, mas acho que já não fica bem.
- E o que é feito da Mónica?
- Isso é o mais interessante. Por isso te perguntei se te lembravas dela.
- Sim?
- A Mónica, antes dos vinte anos, já tinha perdido metade do peso. Assim como o “Gordo”, o Fernando, que hoje é um careca trinca-espinhas, sabes?, a Mónica perdeu peso e tornou-se uma estampa.
- Estás a gozar.
- Não. Já sou amigo dela no Facebook e andei a ver as fotografias… Amigo, agora que está nos quarenta, a Mónica está melhor que nunca.
- Tens que me mostrar isso.
- Faço melhor do que mostrar…
- Então?
- Quando aceitou o meu pedido de amizade, ela perguntou imediatamente se sabia alguma coisa de ti. Eu respondi que continuavas a ser diferente, e que devias ser a única pessoa que conheço que não tem Facebook. Mas que iria pôr-vos em contacto.
- Não sei… isso não vai acabar bem. Se ela está assim tão bem, porque carga de água quererá sequer falar comigo?
- Porque, meu caro, tu não está tão mal como aquilo que tens a mania de ver ao espelho. E se continuas a encolher-te, vais acabar mal.
- Esquece isso.
- É difícil. Esta conversa é só para te avisar que dei-lhe o teu número. Vai ligar-te em breve.
- O que é que foste fazer, pá? Não sei…
- “Padreco”, cala-te. Já é altura de perderes a alcunha. Ela vai ligar-te e tu vais entrar nessa batalha. Vais fazer-te à vida. Aproveita. A Mónica está divorciada, sem filhos, é professora de biologia na Universidade, está gira como tudo... Tu continuas solteiro. As tuas relações anteriores são meras anedotas. És um veterinário sólido, bem instalado. Estás em forma e não és um monstro horrível. Sabes conversar, sabes rir, lês, vês filmes, cultivas-te, sais à noite… Caramba… hoje em dia isso é mais do que suficiente… não és um bêbado, um burlão, um parasita, sei lá que mais.
- Se tu achas…

- Vais atender o telefone. E depois…, depois diz-me qualquer coisa.

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