O cinema pode criar mundos, antecipar o futuro, encher-nos as medidas com a realização do impossível, com o desafio das mais elementares leis da física. Pode relatar-nos um evento histórico, recriá-lo, recontá-lo, e até mesmo deturpá-lo. Pode dar corpo a boatos e levantar suspeitas. Pode encenar sonhos, músicas fantasias.
Pode contar uma história em que a verdade e a mentira se cruzam sem a malícia que usualmente acompanha a falsidade. Contar-nos a história de um homem que não sabia falar pouco, e para quem nada acontecia com simplicidade, onde todos os episódios se enchiam com pessoas ou acontecimentos bizarros, que relatava constantemente, sempre com a energia e entrega de uma primeira vez.
Por certo todos nós já ouvimos o nosso pai contar a mesma história tantas vezes que lhe sabemos o fim. Agora, imagine-se saber o fim a todas a histórias que o nosso pai conta. Apesar de serem muitas e cada uma mais fantástica que a outra.
Tim Burton conta-nos mais uma história. A história desse pai que acima descrevo. E conta-nos com um encanto e uma magia, uma fantasia, que nos transporta para o "Feiticeiro do OZ", ou "Alice no País das Maravilhas".
Apesar de tudo, sendo apreciador de toda a filmografia de Tim Burton, acho que este é capaz de ser o seu filme que menos me encanta. Talvez por lhe faltar a fantasia de "Estranho Mundo de Jack", da "Lenda do Cavaleiro sem cabeça" ou de "Eduardo Mãos de Tesoura", ou o ritmo e loucura de "Ed Wood" e "Marte Ataca". MAs tem a sobriedade possível na loucura da fronteira entre a verdade e a mentira, temperada com um humor subtil, capaz de alegrar um dia sombrio. A questão é que o filme menos conseguido de Tim Burton está acima da média do cinema que por aí se exibe.
"The Big Fish", de Tim Burton, ainda em exibição. Vale a pena gastar o dinheiro no bilhete, porque há filmes que merecem a dimensão de uma tela.
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