29.3.04

TRATADO SOBRE A DESVALORIZAÇÃO DO "EU" (2)

III - Auto-Estima

A auto-estima, como o próprio nome indica, nasce dentro de nós. Esta é a conclusão elementar de uma análise unicamente etimológica da palavra. Mas não pode estar mais errada.
O Homem é um ser social, ensinam-nos desde que nascemos. Aprendemos a interagir uns com os outros e interiorizamos uma série de regras e comportamentos que nos permitem "sobreviver" à sociedade. Sim, sobreviver.

As crianças são crueis, e da boca das crianças sai a verdade, diz a sabedoria popular. Pois cedo descobrimos na pele que a escola que nos forma e educa pode ser um excelente absorvente de auto-estima que nos reduza à nulidade. Mas já lá vamos.

Após o nascimento somos acolhidos no núcleo familiar que, a menos que padeça de alguma disfuncionalidade, é acolhedor, protector e seguro. Não só não nos agride, como nos protege da agressão. Quando a família se junta com os amigos, os pequenos são usualmente defendidos pelos seus, e os filhos dos outros são sempre os mais rabujentos, mal-educados ou agressivos. Nos casos em que a outra criança é a mais sossegada, os pais realçam a energia, vitalidade e esperteza do seu rebento.

Porém tudo isso acaba com a escola. Aí, passamos a ser, realmente, "another brick in the wall", um entre muitos e perdemos a permanente protecção familiar relativamente aos nossos pares. Uns mais do que outros, somos vítimas de reparos, partidas, piadas, insultos. Bem-vindo ao mundo, à vida em sociedade.
A única forma de estarmos minimamente protegidos é termos sido sujeitos àquela figura sempre incómoda dos irmãos, sejam eles mais velhos ou mais novos. Mas, ainda assim, o incómodo está associado à segurança e interacção da fraternidade, que muito ajuda o embate escolar.

Na escola, nosso "eu", alimentado como um bem precioso ao longo dos primeiros anos, acaba por receber uma machadada que lhe recorda o seu verdadeiro valor. A auto-estima depende da posição que se consegue obter e manter na sociedade em que o indivíduo se insere. A escola é o primeiro passo.

E prossegue o caminho, muitas vezes de calvário, ao longo da formação e educação, ao longo do crescimento na escola. Chega-se à adolescência e à faculdade. E o "eu" é constantemente atacado. A menos que se tenha a vacina.

(continua)

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