9.5.05

Bruno Ganz - Um Hitler em queda

A Queda – Hitler e o fim do Terceiro Reich” não é um filme sublime. Mas é um filme tão realista que assusta. Tão realista que Bruno Ganz “é” Hitler. Tão realista que Hitler é uma pessoa, de carne e osso, e não o demónio irreal e caricaturável que o passado guardava.

Cresci a ver filmes sobre a 2ª Guerra Mundial. As batalhas eram sempre heróicas, a morte uma realidade “limpa”. Os bons estavam de um lado, os maus do outro, e durante a luta uns caíam de imediato, outros morriam num suave estertor depois de dizer as suas falas. O sangue era apenas o manchado nos uniformes.
Quando a filmografia americana se virou para a Guerra do Vietname o espírito de cruzada perdeu-se naquela que era vista como uma guerra sem sentido, por contraposição à tão justificada contenda com os nazis e o império japonês. O sangue, a dor, o caos, a confusão apareceram na película. Ainda assim, eram irreais.
Até aparecer “O Resgate do Soldado Ryan”. E com ele a magnífica série de televisão “Band of Brothers”. A partir daí, a Segunda Guerra Mundial perdeu o ar romântico e desceu aos infernos do combate. As balas voam por todos os lados, os mortos e feridos amontoam-se, ao medo e dor juntam-se o terror e a agonia. Não são máquinas de combate que estão ali no terreno. São pessoas. Por causa de outras pessoas.

O filme “A Queda” traz-nos isso. As pessoas que eram Adolf Hitler e aqueles que o rodeavam. Hitler tinha momentos de cólera, mas tinha momentos de fragilidade. De lucidez e de ilusão. De vigor e de decadência. Era uma pessoa que se levou ao extremo, e que levou o mundo ao extremo. Uma pessoa que desequilibrou a história, que desencadeou um conflito com cerca de 50 milhões de mortos. Que colocou a semente da guerra fria que dominou a segunda metade do século XX.
À sua volta vemos a ideologia, o fanatismo, o medo e a falsidade, a lealdade cega, a lealdade crítica, a lealdade temerosa... e a deslealdade. Tudo pelo olhos de uma sua secretária, jovem que mais tarde defendeu a sua ignorância do terror causado pelo regime personalizado em Hitler. Acredite-se ou não.
No filme, as interpretações são soberbas. A realização segura e envolvente. Mais de duas horas e meia de filme que passam sem sobressalto ou dificuldade.
Os últimos dias de Adolf Hitler são, sem dúvida, um filme para ver.

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