29.9.05

Pressões e feijão frade

Artur Portela abandona a AACS porque, alegadamente, sentiu as pressões do PS sobre a matéria da renovação das licenças de televisão para as Televisões Privadas.
À volta deste episódio: silêncio.
Alguém se lembra do que disse Sócrates quando, alegadamente, o PSD de Santana Lopes exerceu pressões relativamente à posição de comentador da TVI desempenhada por Marcelo Rebelo de Sousa.
Cada vez mais o PM lembra o feijão frade. Tem duas caras.

28.9.05

Recta final

A empresa já está contratada. No próximo sábado, pelas 09h00m lá estarão a bater à minha porta para a grande mudança.
Sinto-me na recta final. Ir para casa ao fim do dia e desmontar as últimas coisas, encaixotar as últimas peças, antecipar o caos.
Dizer adeus àquelas paredes onde vivi sete anos. Dormir na minha primeira casa pela última vez.
E desejar que isto esteja tudo passado, que me veja, calmamente, a montar estantes do IKEA (vão entregá-las na sexta-feira), a desencaixotar livros e a arrumá-los, a procurar espaços novos para rotinas velhas.
E a ter dinheiro para, em breve, comprar um ampliador de fotografia (se souberem de alguém que tenha um em 2ª mão avisem) para colocar no laboratório construí e dedicar-me a fazer render a arte arqueológica que aprendi faz um ano.
Arrumar o carro e só me lembrar dele ao fim de semana. Andar de Metro e a pé. Viver a cidade.
Já estou há demasiado tempo à espera da mudança de toca. Agora que vem aí o Inverno, é tempo do Urso Polar hibernar noutro buraco no gelo.

26.9.05

Neura

Ando a ficar com uma neura terrível. Os candidatos autárquicos são tão maus, tão maus, que nem consigo acreditar que alguma Câmara Municipal fique bem servida. O PS tem mais tentáculos que um polvo e à boa maneira mafiosa protege os seus, alimenta-os, distribui-os e quem não tem cartão ou "dá um jeitinho" não tem direito a nada. A oposição larga urros e sons inconsequentes, como se vivesse em permanente campanha, confundindo-se Governo da Nação com Administração Local, com Presidência da República.
Salva-se a RTP Memória que desenterrou o "Monty Python's Flying Circus".
Porque "nonsense" é o dia-a-dia vivido sob os raios da comunicação social, de favor em favor, a abafar o eco das notícias dos outros com receio de incomodar esta horrível classe dirigente que governa o nosso futuro.
Deve ser da 2ª-feira. Não há pachorra.

22.9.05

O efeito perverso da Democracia

Vivemos num Estado democrático, embora por vezes não pareça.
Felizmente.
Por isso, e para assegurar a independência dos poderes, e salvaguardar a liberdade de quem se sujeita ao sufrágio público, os candidatos a uma eleição só podem ser presos preventivamente se a sua detenção ocorrer em flagrante delito.
Felizmente.
Criam-se, contudo, situações embaraçosas. Como a de uma Evita Péron de trazer por casa regressar a Portugal depois de estar mais de dois anos evadida, em desrespeito por uma decisão judicial já confirmada após recurso e falar à boca cheia de Justiça.
Infelizmente.
A palavra Justiça na sua boca sai conspurcada.
E aposto que no dia das eleições, quando fecharem as urnas, já a senhora estará a tentar saltar de regresso ao Brasil. Espero, sinceramente, que não lhe seja permitido.
Esta é uma derrota, uma desfeita, quer para a Justiça quer para a Democracia. Porque se a democracia funcionasse com bom-senso, e não com pacóvias manifestações de demente apoio popular, Fátima Felgueiras seria esmagada nas urnas. O problema é que, se calhar, até ganha a porra das eleições.
Infelizmente.

19.9.05

Irracional

Se Pedro Santana Lopes, ou mesmo Durão Barroso, tivessem nomeado para Presidente do Tribunal de Contas um vice-presidente da sua bancada, que até há poucos anos foi Ministro, teria sido criada uma onda de protestos que duraria semanas e não seria possível esquecer tal ignomínia.
Porém, foi o PS quem nomeou Guilherme de Oliveira Martins para o cargo. O lugar a partir do qual são controladas as despesas do Estado. Despesas que se avizinham doidas, se o Governo insistir em projectos como a OTA e o TGV que levaram à demissão do original Ministro das Finanças, reconhecido até pela oposição como pessoa altamente qualificada e competente para o exercício do cargo.
Após um dia de notícia, e três de comentários, parece que está já a cair no esquecimento o clientelismo do PS, o domínio do Estado pelo aparelho partidário. Compreendem agora os riscos de nomeação política, ou representativa, dos Juízes para os Tribunais? Têm a certeza que essa seria a melhor solução para os Tribunais Comuns?
Juízes e Ministério Público que continuam sob fogo cerrado do Governo. Sob a capa da necessidade de harmonizar os sistemas e controlar as despesas o Governo prepara-se para acabar com os SSMJ (Serviços Sociais do Ministério da Justiça). Mas atenção, acabar apenas para os Magistrados e para os funcionários judiciais. Porque os investigadores da Polícia Judiciária, os guardas prisionais e os técnicos do IRS (Instituto de Reinserção Social) vão continuar a beneficiar dos SSMJ.
Porquê? A fundamentação é vaga e incompreensível. Ao olhos de quem quer ver é mais evidente. Estamos perante mais um ataque, uma flechada na dignidade das funções de quem está nos Tribunais, em particular Juízes e MP, retirando-lhes um sistema alimentado com uma (grande) percentagem das custas judiciais, mas deixando-o para funcionários laterais ao desenrolar da Justiça (funcionários do antes e do depois do Tribunal, sempre em matéria criminal).
Será que as custas judiciais vão ficar mais baratas? Claro que não. Então, porque pagam as partes numa acção cível uma quota elevada de custas para os SSMJ, se nenhum dos intervenientes no processo dela vai beneficiar?
É este o Governo que temos. Dos desvarios de Pedro Santana Lopes passamos à vendetta e à cumplicidade partidária clara e assumida sem competente onda de fundo que a exponha, e grite aos quatro ventos a miséria que mais uma maioria absoluta permite. E teremos que esperar que seja eleito um novo Presidente da República, e que esteja em exercício durante 6 meses, para que haja novamente a possibilidade do Governo responder perante aquela figura de Estado correndo o risco de lhe ver retirado o poder executivo cegamente confiado nas últimas eleições.
A menos que o PR vienha a ser essa anedota que se chama Mário Soares. Mas isso seria tão mau que nem posso acreditar que venha a acontecer.

14.9.05

Petróleo

Ontem atestei o depósito do meu carro. É curioso este fenómeno insidioso, cada vez mais evidente do preço dos combustíveis. O meu carro tem apenas três anos. Quando o comprei, para encher o depósito gastava cerca de € 40,00. Ontem paguei € 58,00.
Outro aspecto interessante é o de, inicialmente, e atentos os trajectos diários que fazia, conseguir uma média de 5,8 a 6,2 litros por cada 100 km. Agora, conduzindo em circuito urbano, é raro conseguir médias inferiores a 7,6. Cada depósito dura menos quilómetros.
Hoje fui para Lisboa, pela A5, em hora de ponta. Como conseguem aquelas pessoas, todos os dias, pagar portagem para ir em pára-arranca durante o percurso da auto-estrada? Como há dinheiro para sustentar a máquina, o transporte?
Agora que está para breve a minha mudança para uma zona central de Lisboa, vejo cada vez com maior agrado a opção pelos transportes públicos. O Urso vai passar a andar todos os dias de Metro, de autocarro, a pé. Enquanto olha preocupadamente para a estúpida dependência da actual sociedade desse recurso em vias de extinção que é o petróleo. À nossa volta tudo deriva do petróleo. Dos combustíveis para os transportes, que tudo transportam, dos plásticos, aos sintéticos, aos moldes, aos embrulhos, à roupa...
Onde está o brilho da inteligência humana para se precaver do caos que será o esgotar do petróleo? Para superar o estúpido aumento do barril, quando há pouco mais de um ano diziam que se fosse ultrapassada a barreira dos US $ 40,00, seria o início do caos?
Leitores de ficção científica já leram muitos cenários semelhantes. Qual terá sido o autor mais próximo da verdade?

12.9.05

Arquitectos

Como já deixei entender neste blog há uns meses, comprei uma casa nova e agora estou em vias de me mudar. Bom, casa nova... para mim, pois estou a falar de um apartamento com 60 anos.
A escolha foi penosa e decorreu no Verão passado, altura em que vi algumas aberrações à venda por preços pornográficos e, de desilusão em desilusão lá consegui encontrar uma casa que verdadeiramente me agradou (com um preço razoável e acessível). Durante o período de escolha contei com a ajuda de um casal meu amigo, arquitectos de profissão, que oportunamente vetaram uma primeira escolha e sancionaram a compra daquela que brevemente será a minha nova toca.
Ora, como amigos que são, ofereceram-se para ajudar na realização das obras que julguei necessário fazer. Aceitei de bom grado, sem saber bem onde me metia. Senão, vejam.
Inicialmente julguei que a sua ajuda seria pontual, na escolha de materiais, na partilha de ideias, no acompanhamento da obra... E efectivamente fizeram isso. Isso e muito mais. Como bons profissionais que são, trataram a remodelação do apartamento (note-se que falamos apenas da renovação da cozinha e casa-de-banho, e pintura do resto da casa) como um verdadeiro projecto. É aquilo que acontece quando alguém tem brio na sua profissão. Não a consegue exercer mal, ou de forma ligeira, ainda que o faça a título de amizade.
Assim, ao fim de muito trabalho, de muito debate de ideias, sugestões, desenhos, redesenhos, correcções, cortes (porque havia limites de orçamento, não é?) desenharam ao promenor o objecto da obra e discriminaram todos os materiais a aplicar. Desta forma, não foi deixada margem de manobra ao empreiteiro para “inventar”.
Ainda assim, mesmo com tudo colocado “preto no branco”, a obra comportou momentos de tensão que não saberia superar não fossem as horas pelos meus amigos dedicadas ao trabalho. Quantas vezes ouvi “temos um problema”, “isto assim não é possível”, “isto não está bem” e me vi sem saber o que dizer... para de imediato eles retorquirem e explicarem, ensinarem, resolverem aquelas “enormes dificuldades”? Como poderia eu ver uma parede de azulejos removida para serem de novo colocados, conforme fora desenhado, ou a banheira elevada depois do azulejo aplicado, porque não estava à cota certa? Estivesse eu sem a sua ajuda e nem sequer veria os defeitos, me aperceberia dos erros, ou contrariaria a vontade imperiosa do empreiteiro em simplificar, complicar, afastar-se do plano original.
A obra está a chegar ao fim. Possivelmente dentro do prazo acordado. A casa está a ficar um brinco, com simplicidade, bom gosto (ou não fosse também o meu) realçando as originais qualidades que tem desde que foi construída. Estas obras são uma mais-valia bem grande, pelo que poucas são as palavras para agradecer aos meus amigos arquitectos.
Publicamente aqui deixo o que já vos repeti pessoalmente.
Obrigado.
Para todos os que me lêem, apenas posso dar um conselho. Se se vão construir uma casa, ou fazer obras de remodelação, procurem ajuda. Não se coloquem nas mãos de um empreiteiro. A função deste é executar a obra, não concebê-la. E mesmo assim muitas vezes nem isso sabe fazer.
E um arquitecto é um profissional liberal como qualquer outro, um prestador de serviços. Ou seja, se não estiverem contentes com a vossa escolha, procurem outra opinião. Como tão naturalmente fazem quando duvidam ou não gostam do médico ou do advogado.
Se souberem escolher, ou tiverem a sorte de ter amigos como eu, garanto-vos que as dores de cabeça, o stress, a ansiedade será muito menor. Porque eles sabem o que estão a fazer.
Não pensariam fazer uma apendicite a um vosso familiar, pois não? Apesar de ser uma operação muito simples.
Então, porque pensam poder fazer arquitectura?

10.9.05

Fritos

Este ano fiquei por perto de casa, e fiz muita praia, em Santa Cruz, Torres Vedras. É a única praia que conheço na qual passa um rapaz, de cesto de vime no braço, gritando “Olháááás farturas”, rematando com uma esganiçada subida de tom na sílaba “tu” do delicioso frito.
À primeira vista poderá parecer bizarro comer farturas, essa guloseima mortal associada a feiras, na praia. Mas não é. Saído do banho, e enquanto se espera que o sol espante a água e o fôlego regresse ao peito, a degustação do frito é soberba.
Este ano, porém, e em clara manobra concorrencial, outro personagem apareceu. Com uma buzina, daquelas da borracha vermelha, ouvia-se à distância. Já perto anunciava “Ooolhá bola com e sem creme”. E aí está outra iguaria muito bem cotada, e de igual satisfação para ser ingerida no areal. Claro está que, assim, o acumulado prazer me trás a inédita sensação de estar mais gordo no fim das férias.
É a gula, meus amigos, é a gula.

8.9.05

Reentrada (em português para não confundirem com a dos partidos)

Lentamente regresso da inércia estival, ajudado pelo clima que aos poucos anuncia o fim da estação. Melhor assim, pois sempre alivia a angústia de ver acabadas as férias de Verão. Férias iguais a estas não terei novamente. Pelo menos assim me informa uma recente edição do Diário da República.
São dias complicados aqueles que agora vivo. Está para breve (finalmente!) a mudança de toca, razão pela qual grande parte da minha vida já está encaixotada. As obras aproximam-se do fim, com todas as dificuldades de última hora para aumentar a ansiedade. Será já de regresso ao trabalho que terei que enfrentar as arguras de uma mudança pelo que aos poucos vou adiantando o empacotamento da tralha.
Tralha.
Arrasto tralha sem fim que nunca imaginei acumular.
Quando vivia em casa dos meus pais tinha um pequeno quarto onde tudo cabia. Era esse o meu mundo. Quando mudei para a minha casa própria, um T2, com arrecadação e tudo, os meus parcos haveres perdiam-se nas divisões. Mais tarde, passámos a ser dois no mesmo espaço. Ainda assim, não era notório o lixo que conservávamos.
Devia ser proibido ter arrecadação. Porque nos agarramos às coisas que há muito deveríamos ter deitado fora e depois, um dia, quando vamos começar a “arrumar a casa” temos enormes carregamentos de lixo para lançar no contentor. Papel, mais papel, objectos, inutilidades, prendas horríveis que alguém se lembrou de nos dar e não conseguimos atirar de imediato para o balde do lixo, mobília, mais papel ainda... Caixas, caixinhas... caixotes carregados para o lixo.

Passado o período morto anual deste blog, convém recordar alguns dos temas que não foram tratados mas ainda merecem algumas palavras marcando assim os próximos posts. Vou enunciá-los aqui para depois, se possível diariamente, sobre eles reflectir um pouco.
Temos o interessante tema da política. Interessante, obviamente, com muita ironia, pois as desilusões são tantas, o vazio é medonho e os próximos confrontos eleitorais uma anedota pegada. Não só as autárquicas, aquelas eleições em que o povo escolhe quem vai enriquecer no quadriénio seguinte, como as presidenciais onde se afigura provável o confronto entre duas múmias, uma delas já fora do prazo de validade. Aqui virei dizer qualquer coisa sobre o tema, e sobre a desilusão que foi o discurso de Manuel Alegre... bom, não nos adiantemos.
O Katrina e as suas consequências e evidências merecerá igualmente umas palavras. Assim como os incêndios que teimas vir de férias para Portugal. Também o galope do preço do petróleo e a urgente necessidade de repensar a nossa presença no planeta.
Farturas e bolas de Berlim com creme ao sol, com os pés na areia e o mar a bater como banda sonora. Filmes, exposições e peças de teatro. Estes serão os temas da reentrada em serviço do blog. Para poder continuar com os Anos ’80 – 80 Memórias. E para poder apresentar o “Edifício da Verdade”.