12.9.05

Arquitectos

Como já deixei entender neste blog há uns meses, comprei uma casa nova e agora estou em vias de me mudar. Bom, casa nova... para mim, pois estou a falar de um apartamento com 60 anos.
A escolha foi penosa e decorreu no Verão passado, altura em que vi algumas aberrações à venda por preços pornográficos e, de desilusão em desilusão lá consegui encontrar uma casa que verdadeiramente me agradou (com um preço razoável e acessível). Durante o período de escolha contei com a ajuda de um casal meu amigo, arquitectos de profissão, que oportunamente vetaram uma primeira escolha e sancionaram a compra daquela que brevemente será a minha nova toca.
Ora, como amigos que são, ofereceram-se para ajudar na realização das obras que julguei necessário fazer. Aceitei de bom grado, sem saber bem onde me metia. Senão, vejam.
Inicialmente julguei que a sua ajuda seria pontual, na escolha de materiais, na partilha de ideias, no acompanhamento da obra... E efectivamente fizeram isso. Isso e muito mais. Como bons profissionais que são, trataram a remodelação do apartamento (note-se que falamos apenas da renovação da cozinha e casa-de-banho, e pintura do resto da casa) como um verdadeiro projecto. É aquilo que acontece quando alguém tem brio na sua profissão. Não a consegue exercer mal, ou de forma ligeira, ainda que o faça a título de amizade.
Assim, ao fim de muito trabalho, de muito debate de ideias, sugestões, desenhos, redesenhos, correcções, cortes (porque havia limites de orçamento, não é?) desenharam ao promenor o objecto da obra e discriminaram todos os materiais a aplicar. Desta forma, não foi deixada margem de manobra ao empreiteiro para “inventar”.
Ainda assim, mesmo com tudo colocado “preto no branco”, a obra comportou momentos de tensão que não saberia superar não fossem as horas pelos meus amigos dedicadas ao trabalho. Quantas vezes ouvi “temos um problema”, “isto assim não é possível”, “isto não está bem” e me vi sem saber o que dizer... para de imediato eles retorquirem e explicarem, ensinarem, resolverem aquelas “enormes dificuldades”? Como poderia eu ver uma parede de azulejos removida para serem de novo colocados, conforme fora desenhado, ou a banheira elevada depois do azulejo aplicado, porque não estava à cota certa? Estivesse eu sem a sua ajuda e nem sequer veria os defeitos, me aperceberia dos erros, ou contrariaria a vontade imperiosa do empreiteiro em simplificar, complicar, afastar-se do plano original.
A obra está a chegar ao fim. Possivelmente dentro do prazo acordado. A casa está a ficar um brinco, com simplicidade, bom gosto (ou não fosse também o meu) realçando as originais qualidades que tem desde que foi construída. Estas obras são uma mais-valia bem grande, pelo que poucas são as palavras para agradecer aos meus amigos arquitectos.
Publicamente aqui deixo o que já vos repeti pessoalmente.
Obrigado.
Para todos os que me lêem, apenas posso dar um conselho. Se se vão construir uma casa, ou fazer obras de remodelação, procurem ajuda. Não se coloquem nas mãos de um empreiteiro. A função deste é executar a obra, não concebê-la. E mesmo assim muitas vezes nem isso sabe fazer.
E um arquitecto é um profissional liberal como qualquer outro, um prestador de serviços. Ou seja, se não estiverem contentes com a vossa escolha, procurem outra opinião. Como tão naturalmente fazem quando duvidam ou não gostam do médico ou do advogado.
Se souberem escolher, ou tiverem a sorte de ter amigos como eu, garanto-vos que as dores de cabeça, o stress, a ansiedade será muito menor. Porque eles sabem o que estão a fazer.
Não pensariam fazer uma apendicite a um vosso familiar, pois não? Apesar de ser uma operação muito simples.
Então, porque pensam poder fazer arquitectura?

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