Vou descansar por uns dias. Aquele descanso das festas, com o stress das prendas e da festa de ano novo, tudo com muita comida, até enjoar.
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Volto para o ano.
Até lá
UM FELIZ NATAL E UM ÓPTIMO ANO DE 2006
23.12.05
20.12.05
Carta ao Pai Natal
À beira de chegar à mágica noite de 24 para 25 de Dezembro, decidi tornar pública a minha carta ao Pai Natal. Fui modesto e apenas pedi cinco prendas. A ver se ele consegue enfiar no saco tudo o que pedi.
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Começo pela mais fácil de arranjar. É uma peça quase de arqueologia, e destina-se a assegurar o meu trabalho numa arte antiga e a cair, rapidamente, em desuso.
Falo de um
ampliador para fotografia argêntica, clássica, a preto e branco.
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Já preparado para abraçar novas tecnologias, peço igualmente ao Pai Natal a magnífica
Canon EOS 5 D. Como sei que a câmara é recente, e pode ter dificuldade em arranjá-la em cima da hora, sou modesto e contento-me com a
Canon EOS 20 D.
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Mas ter uma máquina destas sem poder trabalhar decentemente as fotografia captadas é insustentável. Assim, o Pai Natal pode trazer igualmente o
iMac G5 de 20".
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Para terminar, peço uma coisita mais difícil de enfiar no saco ou pela chaminé abaixo. Mas pode deixá-lo na rua, à porta, que eu não me importo. Desde que me entregue as chaves e os documentos, traga lá o
Aston Martin DB9.
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Como vêem, sou modesto. Num mundo em que as crianças recebem toneladas de brinquedos, de tão baratos que agora estão, porque não me dão estes brinquedos também? É que não tenham qualquer dúvida: só desejo estas coisitas por serem autênticos brinquedos.
Aqui entre nós, acho que o Pai Natal só traz a primeira... Menos mal.
Continuem a desejar e acreditar... pode sempre sair o Euromilhões ;oD
19.12.05
Sim, senhor Presidente
A pré-campanha para as eleições presidenciais de Janeiro está lançada, avança em ritmo de cruzeiro, e já chateia.
Sinto que a grande maioria dos portugueses está indiferente às diatribes dos candidatos, ocupado a fazer contas ao dinheiro que pode gastar em prendas de Natal. Os debates sucedem-se mornos, numa cadência diária, e nada de novo trazem. À falta de episódios marcantes que usualmente saíam da excitação do momento quando os candidatos se subrepunham uns aos outros, se interrompiam e perdiam a paciência, temos agora debates que são uma colagem de declarações em ritmo de ping-pong, sem chama de tão medidas, estudadas, ensaiadas, falseadas que são.
As sondagens aquecem a luta fraticida entre os socialistas e enchem de confiança Cavaco, que já começa a pensar nas novas cortinas para o Palácio de Belém. Os cartazes evidenciam o actual mau gosto e vazio das campanhas. Caramba, até eu conseguiria fotografar os candidatos com mais naturalidade e vida... eles que parecem robots desajeitados.
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Não tinha idade para votar quando Soares defrontou Freitas para as presidenciais. Recordo-me da sala de aulas naquele 8º anos estar dividida entre miúdos de esquerda e de direita. Dos de direita passearem arrogância convictos da vitória, e esconderem o amuo após a derrota. Se então votasse teria entregue o meu voto a Soares, seguro de que Freitas poderia questionar as conquistas de Abril (assim sentia eu, com 13 anos).
Hoje, não sei, nem quero adivinhar, se Cavaco alcança uma maioria plena à primeira volta. Seguramente ganhará a primeira volta, mas a dúvida está no resultado e na eventual necessidade de por uma segunda vez, fazer uma escolha eleitoral.
No caso de haver uma segunda volta, veria com prazer Manuel Alegre a defrontar Cavaco. Porque, acima de tudo, significaria que Soares tinnha ficado pelo caminho. Contudo, a verificar-se uma contenda Cavaco-Soares, por muito que me custasse entregar o meu voto àquele senhor com quem não simpatizo, seguramente votaria Cavaco. Porque por entre a sua posse confiante, os sound-bytes de Louçã e Jerónimo e o estilo desajeitado de Alegre, sinto uma plena intolerância ao discurso autista, presunçoso, alarmista, ácido, conflituoso e cheio de cumplicidades obscuras de Soares, cada vez mais a personificação do que não quero ver num político com responsabilidades de Estado.
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Neste momento, queria mesmo que acabassem as eleições, para ver se Soares desaparecia da TV, das rádios, dos jornais. E se reforma de vez.
15.12.05
"O Edifício da Verdade" (10)
Não parecia o mesmo quarto. Imaculado, nada fora do lugar. Nada de folhas espalhadas, nada de roupa suja, tudo arrumado. O sol já caminhava para Poente e entrava pela janela aberta que igualmente deixava o ar frio de uma Lisboa outonal inundar o quarto. Ao sol, de pé, com as mãos nos bolsos, cachecol ao pescoço, Vitor absorvia cada pormenor do que via. O pôr-do-sol era um dos momentos que mais o afectava. Adorava vê-lo. Adorava senti-lo.
O telefone tocou. Uma, duas, cinco vezes. De volta à realidade o escritor atendeu. Era Carlos Morais. Depois das banalidades do costume chegou ao assunto:
- Já está a imprimir. Foram rapidíssimos desta vez. Ainda sai a tempo do Natal. Vai ser um sucesso.
- Hum... é só?
- Estás bem?
- Sim, porque não haveria de estar?
- Sei lá, pareces distante. Porque não vens hoje à festa dos Junqueira?
- Só se for para me sentir mesmo mal...
- Faz um esforço. Pode ser que te ajude.
- Duvido.
- Em todo o caso lá te espero.
Despediram-se. Engoliu em seco. Também o seu editor se esquecera. Bolas!, fizera anos havia cinco dias, e nada... só duas pessoas se lembraram. Duas pessoas, uma garrafa de brandy e o resto de uma de vodka.
Diogo telefonou‑lhe. Deu‑lhe os parabéns, relembrou‑lhe as férias e desculpou‑se da pressa, mas tinha ali consigo uma estilista de quarenta anos que ansiava por si. Não podia demorar, frisou.
Paula telefonou‑lhe. Paula não o esquecia. Vitor foi sempre incapaz de lhe dar o que queria e merecia, mas nunca sentiu por ela o mesmo que Paula sentia por si. Se Vitor estendesse a mão, Paula viria. Mas o respeito que lhe tinha impedia‑o de a tratar assim. Ela, sempre que podia, estabelecia contacto com a sua voz quente e o toque macio. Mas Paula não era aquela que procurava. Faltava‑lhe a alegria, a autonomia que queria numa mulher. Não queria quem lhe dissesse sempre que sim. Queria alguém que lhe desse luta.
Viu as horas. Subitamente tomou uma decisão: sempre iria aos Junqueira. Talvez lá visse a Isabel. Aí o respeito não era barreira, e agora queria tê‑la na cama. Era quase uma questão de princípio, de teimosia, de birra. Criancice. Apontou para lá chegar depois da meia‑noite.
O telefone tocou. Uma, duas, cinco vezes. De volta à realidade o escritor atendeu. Era Carlos Morais. Depois das banalidades do costume chegou ao assunto:
- Já está a imprimir. Foram rapidíssimos desta vez. Ainda sai a tempo do Natal. Vai ser um sucesso.
- Hum... é só?
- Estás bem?
- Sim, porque não haveria de estar?
- Sei lá, pareces distante. Porque não vens hoje à festa dos Junqueira?
- Só se for para me sentir mesmo mal...
- Faz um esforço. Pode ser que te ajude.
- Duvido.
- Em todo o caso lá te espero.
Despediram-se. Engoliu em seco. Também o seu editor se esquecera. Bolas!, fizera anos havia cinco dias, e nada... só duas pessoas se lembraram. Duas pessoas, uma garrafa de brandy e o resto de uma de vodka.
Diogo telefonou‑lhe. Deu‑lhe os parabéns, relembrou‑lhe as férias e desculpou‑se da pressa, mas tinha ali consigo uma estilista de quarenta anos que ansiava por si. Não podia demorar, frisou.
Paula telefonou‑lhe. Paula não o esquecia. Vitor foi sempre incapaz de lhe dar o que queria e merecia, mas nunca sentiu por ela o mesmo que Paula sentia por si. Se Vitor estendesse a mão, Paula viria. Mas o respeito que lhe tinha impedia‑o de a tratar assim. Ela, sempre que podia, estabelecia contacto com a sua voz quente e o toque macio. Mas Paula não era aquela que procurava. Faltava‑lhe a alegria, a autonomia que queria numa mulher. Não queria quem lhe dissesse sempre que sim. Queria alguém que lhe desse luta.
Viu as horas. Subitamente tomou uma decisão: sempre iria aos Junqueira. Talvez lá visse a Isabel. Aí o respeito não era barreira, e agora queria tê‑la na cama. Era quase uma questão de princípio, de teimosia, de birra. Criancice. Apontou para lá chegar depois da meia‑noite.
12.12.05
Carta cor-de-rosa de sabor amargo
Fui ver o “Broken Flowers – Flores Partidas”, último filme de Jim Jarmush.
Atento o realizador já sabemos que não estamos perante um filme convencional. Sempre criador alternativo (veja-se “Café e Cigarros” ou o fabuloso “Dead Man”), Jarmush constrói uma história que mais não é que uma reflexão de um playboy que já não é jovem, e se vê perante a possibilidade de ser pai de um rapaz de 19 anos.
A história evolui mediante a pressão de um vizinho curioso, empenhado e amigo (Jeffrey Wright) e leva Don Johnston (Bill Murray) numa viagem em busca do passado por onde se cruza com algumas das suas relações de há vinte anos, interpretadas por actrizes como Sharon Stone, Frances Conroy, Tilda Swinton ou Jessica Lange.
Não se pense que o filme é previsível ou espectacular. Diria mais que é aconchegante, entrar no mundo deste homem
e ver os diferentes caminhos que aquelas mulheres seguiram, tão diferentes do seu… e no entanto… Tudo por causa de uma carta em papel cor-de-rosa, escrita com um travo de amargo.
Vale a pena ver. Porque é cinema bem feito.
9.12.05
Trabalho a sério
Segundo fez manchete há uns meses, e nunca vi desmentido, Scolari ganhará € 125.000,00 (*)por mês. Mais tem direito a viagens e estadias para ver jogar os jogadores portugueses.
Hoje é o sorteio dos grupos para o Mundial de Futebol de 2006. É importante, a ocasião, e o selecionador nacional vai estar presente.
Mas, sabem o que me deixa intrigado?
Quando Porto e Benfica jogaram na terça e na quarta-feira, Scolari não viu presencialmente tais jogos. Antes foi, logo na terça-feira, para a Alemanha. Com tudo pago, seguramente.
Quem viu o jogo na Luz, reparou que outro selecionador, Erikson, da Inglaterra, esteve a ver o jogo. Avaliou escolhas e fez o seu trabalho.
Scolari, pelos vistos, tem outra noção de trabalho a sério.
---
(*) Originalmente escrevi € 25.000,00. Fui corrigido e ainda bem. A minha memória foi enganada. Realmente, o que são cinco mil contos? Nada, para um seleccionador nacional. Viva a bola e os seus "orientados da vida"
7.12.05
"O Edifício da Verdade" (9)
Quando se encaminhavam para as escadas foram interceptados por Diogo e Marcello. O primeiro falou:
‑ Vitor, o Marcello vai‑se embora e leva‑me com ele. Queres aproveitar a boleia?
‑ Nós vamos, nós vamos... ‑ respondeu Isabel não permitindo que Vitor lhe negasse o convite, o que ia obviamente fazer. Depois de se entreolhar com o arquitecto, lá acedeu. Eram já quatro e meia da madrugada e sentia‑se cansado e excitado. Não era uma retirada daquelas o que tinha imaginado.
Entraram para o carro, um Audi A6 que respirava dinheiro dos contribuintes por todo o lado. O actual governo tratava bem os seus. Marcello ao volante, Diogo ao lado. No banco de trás, as explorações vão cada vez mais longe. Os dedos dele chegam à área restrita, massajando‑a para prazer da recém‑conhecida. Pela inércia sente que a condução é acelarada e brusca. Prefere ignorar o condutor.
Porém, a dada altura, algo passou pela cabeça de Isabel. Deixando‑se ficar nas mãos do mais que bêbado Vitor, começou a fazer festas no político. Passava‑lhe a mão pelo pescoço e esticava‑se para o beijar. Diogo olhou para trás e viu Vitor que com um ar derrotado, ergueu a mão livre esticando o dedo médio num bem medido gesto obsceno. Isabel libertou‑se dele, concentrando as suas energias no condutor. Este falou:
‑ Diogo, importas‑te de levar o carro?
‑ Como levar...?
‑ Quero ter as mãos livres. ‑ disse com uma gargalhada. Vitor olhou‑o com desdém. Diogo protestou argumentando com álcool que bebera. De nada valeu, perante a insitência de Marcelo pelo que acabou por aceder. Quando pararam para trocar de posições, Isabel agarrou a mão do escritor e voltou a pedir‑lhe desculpa, desta feita com um olhar de cão abandonado. Ele não respondeu e passou para a frente, ao lado do novo condutor.
‑ Queres ficar em minha casa? ‑ era Diogo quem convidava.
‑ Aceito! ‑ respondeu sem hesitações. - Quanto mais cedo sair daqui, melhor. ‑ lá atrás os vidros embaciavam e ouviam‑se gemidos.
‑ Uma fotografia agora seria bastante valiosa.
‑ Nem brinques, Diogo. ‑ foram as palavras do político.
O arquitecto vivia num prédio por si recuperado nas Avenidas Novas. Foi lá que pararam, saindo os quatro da viatura. Enquanto os outros se despediam, Isabel agarrou Vitor, beijou‑o, e disse:
‑ Desculpa... talvez para a próxima... Tu não merecias... Desculpa. Aparece na festa dos Junqueira. ‑ novo beijo e entrou para o banco da frente. Sem dizer nada a Marcello, o escritor entrou pela porta que se abria sendo recebido pela cadela do arquitecto que, agitando a cauda, se ofereceu às festas de Vitor.
‑ Não é caso para fazeres birra. ‑ afirmou o dono da casa enquanto se ouvia o Audi a afastar‑se.
‑ Não é birra. Já não o gramava muito... então agora...
‑ Mas que pode haver entre ti e a rapariga? ‑ entraram directos para a sala onde ainda se serviram de mais uma bebida. Diogo tirou um saco de amendoins duma gaveta, que foram partindo e comendo enquanto conversavam.
‑ Aí é que está... Nada. Eu não sinto nada. Porra!, há muito tempo que não sinto nada. E não foi ela que mudou alguma coisa. Acontece que estava com vontade de quebrar este celibato no qual me vejo há já tempo demais. O último romance consumiu-me. As coisas já não saem tão naturalmente. Falta-me um incentivo. Ainda me falta a mulher.
“O que interessa é que hoje estava na disposição de dar uma, percebes?, e esta Isabel... Sabes com quem ela é parecida?
- Janis.
- Ah, reparaste.
- Como não repararia? Lembras-te de quando estávamos apaixonados por ela? Só ouvíamos Janis Joplin e desejávamos estar na América, no fim dos anos 60...
- Filha da puta! Sempre me fascinou.
- Cuidado! Esta Isabel não é a Janis... Não te iludas. Não fantasies... e deixa-te dessas merdas.
Ficaram na conversa até de madrugada.
‑ Vitor, o Marcello vai‑se embora e leva‑me com ele. Queres aproveitar a boleia?
‑ Nós vamos, nós vamos... ‑ respondeu Isabel não permitindo que Vitor lhe negasse o convite, o que ia obviamente fazer. Depois de se entreolhar com o arquitecto, lá acedeu. Eram já quatro e meia da madrugada e sentia‑se cansado e excitado. Não era uma retirada daquelas o que tinha imaginado.
Entraram para o carro, um Audi A6 que respirava dinheiro dos contribuintes por todo o lado. O actual governo tratava bem os seus. Marcello ao volante, Diogo ao lado. No banco de trás, as explorações vão cada vez mais longe. Os dedos dele chegam à área restrita, massajando‑a para prazer da recém‑conhecida. Pela inércia sente que a condução é acelarada e brusca. Prefere ignorar o condutor.
Porém, a dada altura, algo passou pela cabeça de Isabel. Deixando‑se ficar nas mãos do mais que bêbado Vitor, começou a fazer festas no político. Passava‑lhe a mão pelo pescoço e esticava‑se para o beijar. Diogo olhou para trás e viu Vitor que com um ar derrotado, ergueu a mão livre esticando o dedo médio num bem medido gesto obsceno. Isabel libertou‑se dele, concentrando as suas energias no condutor. Este falou:
‑ Diogo, importas‑te de levar o carro?
‑ Como levar...?
‑ Quero ter as mãos livres. ‑ disse com uma gargalhada. Vitor olhou‑o com desdém. Diogo protestou argumentando com álcool que bebera. De nada valeu, perante a insitência de Marcelo pelo que acabou por aceder. Quando pararam para trocar de posições, Isabel agarrou a mão do escritor e voltou a pedir‑lhe desculpa, desta feita com um olhar de cão abandonado. Ele não respondeu e passou para a frente, ao lado do novo condutor.
‑ Queres ficar em minha casa? ‑ era Diogo quem convidava.
‑ Aceito! ‑ respondeu sem hesitações. - Quanto mais cedo sair daqui, melhor. ‑ lá atrás os vidros embaciavam e ouviam‑se gemidos.
‑ Uma fotografia agora seria bastante valiosa.
‑ Nem brinques, Diogo. ‑ foram as palavras do político.
O arquitecto vivia num prédio por si recuperado nas Avenidas Novas. Foi lá que pararam, saindo os quatro da viatura. Enquanto os outros se despediam, Isabel agarrou Vitor, beijou‑o, e disse:
‑ Desculpa... talvez para a próxima... Tu não merecias... Desculpa. Aparece na festa dos Junqueira. ‑ novo beijo e entrou para o banco da frente. Sem dizer nada a Marcello, o escritor entrou pela porta que se abria sendo recebido pela cadela do arquitecto que, agitando a cauda, se ofereceu às festas de Vitor.
‑ Não é caso para fazeres birra. ‑ afirmou o dono da casa enquanto se ouvia o Audi a afastar‑se.
‑ Não é birra. Já não o gramava muito... então agora...
‑ Mas que pode haver entre ti e a rapariga? ‑ entraram directos para a sala onde ainda se serviram de mais uma bebida. Diogo tirou um saco de amendoins duma gaveta, que foram partindo e comendo enquanto conversavam.
‑ Aí é que está... Nada. Eu não sinto nada. Porra!, há muito tempo que não sinto nada. E não foi ela que mudou alguma coisa. Acontece que estava com vontade de quebrar este celibato no qual me vejo há já tempo demais. O último romance consumiu-me. As coisas já não saem tão naturalmente. Falta-me um incentivo. Ainda me falta a mulher.
“O que interessa é que hoje estava na disposição de dar uma, percebes?, e esta Isabel... Sabes com quem ela é parecida?
- Janis.
- Ah, reparaste.
- Como não repararia? Lembras-te de quando estávamos apaixonados por ela? Só ouvíamos Janis Joplin e desejávamos estar na América, no fim dos anos 60...
- Filha da puta! Sempre me fascinou.
- Cuidado! Esta Isabel não é a Janis... Não te iludas. Não fantasies... e deixa-te dessas merdas.
Ficaram na conversa até de madrugada.
(continua)
6.12.05
Qualidade de estágios
Fala-se muito de meios e de Justiça.
Por isso, vou limitar-me a descrever uma realidade factual, e cada um que a aprecie como quiser.
Os Juízes e Procuradores-Adjuntos, antes de o serem como efectivos, passam pelo CEJ (Centro de Estudos Judiciários) como Auditores de Justiça. Estão lá 6 meses a ter aulas de cariz essencialmente teórico; depois passam pelos Tribunais durante um ano, partilhando o tempo entre formação junto da judicatura e junto do Ministério Público, simulando despachos, decisões, todo o tipo de trabalho que os seus formadores fazem no dia a dia; regressam 3 meses ao CEJ, findos os quais (finalmente!!!), escolhem o caminho que vão seguir. Escolhem entre ser Juiz ou Procurador.
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É então que vão novamente para os Tribunais para exercer, durante um ano, as funções próprias da magistratura escolhida, enquanto estagiários, beneficiando de quantidades de trabalho mais reduzidas e do apoio do magistrado formador.
Ora, o que acontece é que o Ministério da Justiça, através da DGAJ e do ITIJ (organismos responsáveis pelo parque informático dos Tribunais) não reconhece aos magistrados estagiários o direito de utilizar um computador. Como tal, não lhes está atribuída qualquer máquina.
É o Juiz-estagiário ou o Procurador-Adjunto-estagiário quem tem que levar de casa o seu computador portátil (se o não tiver, que o compre) para poder despachar os processos que lhe cabem sem ser à mão.
Mas ainda não acaba aqui. Mesmo levando o seu computador, o recém magistrado não tem uma impressora! E, então, tem que pedir aos colegas, ou ao formador, que o deixe usar a sua. E como não há cabos extra, ou repartidores das portas, tem que deslocar-se da sua secretária para aquela onde estiver a impressora, desligá-la do computador ao qual está afecta, ligá-la ao seu portátil, e imprimir o que quiser. Depois de regressar ao lugar, se vir um daqueles erros que apenas aparecem no papel e passam despercebidos no monitor, tem que repetir a dose.
Ou então, que compre uma impressora para si, a leve para o Tribunal e a ligue ao seu portátil. E não peça tinteiros, porque não são da marca das impressoras dos Tribunais e por isso o Sr. Secretário não os poderá comprar...
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Esta descrição é verídica. Não é ficção.
Ocorre em muitos dos Tribunais onde se dá formação, como em Setúbal, onde mais de uma quinzena de estagiários e auditores têm formação todos os anos.
Esta é a dignidade conferida ao exercício da função de julgar. Ou de acusar.
Este é um exemplo da dependência das Magistraturas relativamente ao Governo.
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Quem anda nos Tribunais e tem oportunidade de ir aos arquivos, encontra, quase sempre, computadores e impressoras "obsoletos", desactivados, a apodrecer, ou à espera de serem enviados para a GNR que os "aproveita". Falamos de Pentium III, de impressoras com 6, 7 anos. Carecendo os estagiários apenas de um processador de texto e de uma navegação na internet (para aceder ao Diário da República e às bases de jurisprudência), é bom saber que alguém acha que não devem tais máquinas ser-lhes atribuídas.
Haja Bom Senso
"Ainda não vi reclamar a eliminação de símbolos maçónicos em estátuas e monumentos nas nossas ruas, por ofenderem os que não partilham tais convicções. E os crucifixos, ofendem alguém? Haja bom senso."
Francisco Sarsfield Cabral, Diário de Notícias, 5-12-2005
Francisco Sarsfield Cabral, Diário de Notícias, 5-12-2005
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A citação estava na primeira página do Público on-line.
Que frase palerma.
Então, é a mesma coisa a simbologia das estátuas e heráldica nacionais, e a presença de crucifixos nas salas de aula?
E se um professor muçulmano substituísse o crucifixo por um crescente? Ou um judeu lá colocasse a estrela de David? Os que agora defendem a naturalidade do símbolo religioso na sala de aulas também se calariam?
Ah, pois, se calhar não. O que é estranho é confundirem liberdade religiosa (individual), com a imposição do Estado de um símbolo próprio de uma religião a todos os estudantes que a cada sala de aula se deslocam para serem ensinados.
Cada um deve ser livre de ostentar o símbolo da sua religião. O Estado não deve ostentar nenhum.
E uma sala de aulas numa escola pública é um dos rostos do Estado.
Haja bom senso, digo eu.
5.12.05
"Edifício da Verdade" (8)
O vodka era o sétimo. O tema as mulheres. Foi nessa altura que Isabel apareceu e se sentou no meio dos dois amigos.
‑ Olhem‑me para aquele porco. O cabrão está agora a fazer‑se a uma pitinha.
Olharam. Realmente, a jovem sobre quem Marcello se debruçava não devia ter feito o seu piroso baile de debutante há mais de um ano.
‑ Mete‑me nojo. ‑ era notório o estado etilizado de Isabel. A voz soava entramelada.
A partir de então a conversa degenerou. Não diziam mais coisa com coisa. Vitor bêbado, ela pior, Diogo introspectivo como costumava ficar quando chegava àquele ponto em que se perguntava "Então e agora? Sigo para o esquecimento ou ponho‑me sóbrio?".
‑ Vens comigo à casa‑de‑banho? ‑ o convite de Isabel era dirigido ao escritor. ‑ Se fôr sózinha já não volto.
Ele levantou‑se e amparou‑a debaixo do seu braço esquerdo. A mão dela entrou por baixo da camisa e afagou‑lhe as costas. Cambalearam na direcção dos lavabos. Vitor ainda olhou para trás, para ver o sorriso de Diogo, divertido com o rumo dos acontecimentos.
Ela entrou no lavabo com ele logo atrás. Já conhecia os sintomas e por isso foi ajudá‑la a vomitar. Depois retirou‑se não sem antes passar água fria pela cara tentando despertar. Aguardou junto à porta.
Quando se juntaram, abraçaram‑se. As mãos dela por debaixo da camisa agora completamente solta das calças. Beijaram‑se. Como é curioso o beijo entre dois bêbados. Línguas secas, encortiçadas, que se cruzam, provocando uma sensação próxima da repulsa, longe do prazer. Arrastaram‑se para um pequeno sofá da saleta ali ao lado. Novo beijo. Ela agarra‑o na sua virilidade. Ele cresce. As suas mãos exploram. Ficam por ali durante muito tempo. Passados largos minutos, Vitor ergueu‑se e levantou‑a com intenções de subir para um dos quartos do seu editor. Durante esse período na saleta por várias vezes Isabel pediu desculpa. Vitor julgou entender o que queria com isso, mas preferiu ignorar. Quem usava quem? Era difícil de dizer.
(continua)
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