Não parecia o mesmo quarto. Imaculado, nada fora do lugar. Nada de folhas espalhadas, nada de roupa suja, tudo arrumado. O sol já caminhava para Poente e entrava pela janela aberta que igualmente deixava o ar frio de uma Lisboa outonal inundar o quarto. Ao sol, de pé, com as mãos nos bolsos, cachecol ao pescoço, Vitor absorvia cada pormenor do que via. O pôr-do-sol era um dos momentos que mais o afectava. Adorava vê-lo. Adorava senti-lo.
O telefone tocou. Uma, duas, cinco vezes. De volta à realidade o escritor atendeu. Era Carlos Morais. Depois das banalidades do costume chegou ao assunto:
- Já está a imprimir. Foram rapidíssimos desta vez. Ainda sai a tempo do Natal. Vai ser um sucesso.
- Hum... é só?
- Estás bem?
- Sim, porque não haveria de estar?
- Sei lá, pareces distante. Porque não vens hoje à festa dos Junqueira?
- Só se for para me sentir mesmo mal...
- Faz um esforço. Pode ser que te ajude.
- Duvido.
- Em todo o caso lá te espero.
Despediram-se. Engoliu em seco. Também o seu editor se esquecera. Bolas!, fizera anos havia cinco dias, e nada... só duas pessoas se lembraram. Duas pessoas, uma garrafa de brandy e o resto de uma de vodka.
Diogo telefonou‑lhe. Deu‑lhe os parabéns, relembrou‑lhe as férias e desculpou‑se da pressa, mas tinha ali consigo uma estilista de quarenta anos que ansiava por si. Não podia demorar, frisou.
Paula telefonou‑lhe. Paula não o esquecia. Vitor foi sempre incapaz de lhe dar o que queria e merecia, mas nunca sentiu por ela o mesmo que Paula sentia por si. Se Vitor estendesse a mão, Paula viria. Mas o respeito que lhe tinha impedia‑o de a tratar assim. Ela, sempre que podia, estabelecia contacto com a sua voz quente e o toque macio. Mas Paula não era aquela que procurava. Faltava‑lhe a alegria, a autonomia que queria numa mulher. Não queria quem lhe dissesse sempre que sim. Queria alguém que lhe desse luta.
Viu as horas. Subitamente tomou uma decisão: sempre iria aos Junqueira. Talvez lá visse a Isabel. Aí o respeito não era barreira, e agora queria tê‑la na cama. Era quase uma questão de princípio, de teimosia, de birra. Criancice. Apontou para lá chegar depois da meia‑noite.
O telefone tocou. Uma, duas, cinco vezes. De volta à realidade o escritor atendeu. Era Carlos Morais. Depois das banalidades do costume chegou ao assunto:
- Já está a imprimir. Foram rapidíssimos desta vez. Ainda sai a tempo do Natal. Vai ser um sucesso.
- Hum... é só?
- Estás bem?
- Sim, porque não haveria de estar?
- Sei lá, pareces distante. Porque não vens hoje à festa dos Junqueira?
- Só se for para me sentir mesmo mal...
- Faz um esforço. Pode ser que te ajude.
- Duvido.
- Em todo o caso lá te espero.
Despediram-se. Engoliu em seco. Também o seu editor se esquecera. Bolas!, fizera anos havia cinco dias, e nada... só duas pessoas se lembraram. Duas pessoas, uma garrafa de brandy e o resto de uma de vodka.
Diogo telefonou‑lhe. Deu‑lhe os parabéns, relembrou‑lhe as férias e desculpou‑se da pressa, mas tinha ali consigo uma estilista de quarenta anos que ansiava por si. Não podia demorar, frisou.
Paula telefonou‑lhe. Paula não o esquecia. Vitor foi sempre incapaz de lhe dar o que queria e merecia, mas nunca sentiu por ela o mesmo que Paula sentia por si. Se Vitor estendesse a mão, Paula viria. Mas o respeito que lhe tinha impedia‑o de a tratar assim. Ela, sempre que podia, estabelecia contacto com a sua voz quente e o toque macio. Mas Paula não era aquela que procurava. Faltava‑lhe a alegria, a autonomia que queria numa mulher. Não queria quem lhe dissesse sempre que sim. Queria alguém que lhe desse luta.
Viu as horas. Subitamente tomou uma decisão: sempre iria aos Junqueira. Talvez lá visse a Isabel. Aí o respeito não era barreira, e agora queria tê‑la na cama. Era quase uma questão de princípio, de teimosia, de birra. Criancice. Apontou para lá chegar depois da meia‑noite.
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