A pré-campanha para as eleições presidenciais de Janeiro está lançada, avança em ritmo de cruzeiro, e já chateia.
Sinto que a grande maioria dos portugueses está indiferente às diatribes dos candidatos, ocupado a fazer contas ao dinheiro que pode gastar em prendas de Natal. Os debates sucedem-se mornos, numa cadência diária, e nada de novo trazem. À falta de episódios marcantes que usualmente saíam da excitação do momento quando os candidatos se subrepunham uns aos outros, se interrompiam e perdiam a paciência, temos agora debates que são uma colagem de declarações em ritmo de ping-pong, sem chama de tão medidas, estudadas, ensaiadas, falseadas que são.
As sondagens aquecem a luta fraticida entre os socialistas e enchem de confiança Cavaco, que já começa a pensar nas novas cortinas para o Palácio de Belém. Os cartazes evidenciam o actual mau gosto e vazio das campanhas. Caramba, até eu conseguiria fotografar os candidatos com mais naturalidade e vida... eles que parecem robots desajeitados.
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Não tinha idade para votar quando Soares defrontou Freitas para as presidenciais. Recordo-me da sala de aulas naquele 8º anos estar dividida entre miúdos de esquerda e de direita. Dos de direita passearem arrogância convictos da vitória, e esconderem o amuo após a derrota. Se então votasse teria entregue o meu voto a Soares, seguro de que Freitas poderia questionar as conquistas de Abril (assim sentia eu, com 13 anos).
Hoje, não sei, nem quero adivinhar, se Cavaco alcança uma maioria plena à primeira volta. Seguramente ganhará a primeira volta, mas a dúvida está no resultado e na eventual necessidade de por uma segunda vez, fazer uma escolha eleitoral.
No caso de haver uma segunda volta, veria com prazer Manuel Alegre a defrontar Cavaco. Porque, acima de tudo, significaria que Soares tinnha ficado pelo caminho. Contudo, a verificar-se uma contenda Cavaco-Soares, por muito que me custasse entregar o meu voto àquele senhor com quem não simpatizo, seguramente votaria Cavaco. Porque por entre a sua posse confiante, os sound-bytes de Louçã e Jerónimo e o estilo desajeitado de Alegre, sinto uma plena intolerância ao discurso autista, presunçoso, alarmista, ácido, conflituoso e cheio de cumplicidades obscuras de Soares, cada vez mais a personificação do que não quero ver num político com responsabilidades de Estado.
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Neste momento, queria mesmo que acabassem as eleições, para ver se Soares desaparecia da TV, das rádios, dos jornais. E se reforma de vez.
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