O meu primeiro filme de James Bond foi o “007 – Missão ultra-secreta”, tinha nove ou dez anos (o filme é de 1980) e foi com excitação que segui as sequências subaquáticas ou o assalto final em que a Bond-girl usava uma silenciosa besta com uma precisão mortífera, e me ri com piadas infantis como a do papagaio a falar ao telefone, no fim do filme. Vi-o no defunto cinema da Parede, e tive dificuldade em perceber a dinâmica da sequência inicial, que nada mais tem a ver com o resto do filme.
Creio que saltei um filme pois só me lembro de ver no cinema o “007 – Perigo Imediato”, com sequências fabulosas em Paris, como seja a fuga de Grace Jones saltando de pára-quedas da Torre Eiffel e a perseguição ao volante de um Renault 11 que se vai desfazendo com os acidentes que Bond provoca, acabando cortado ao meio, puxado pelas rodas da frente.
Foi assim que me habituei a ver os filmes de Bond. Películas de espionagem que de espiões pouco tinham, mas com muita acção e muita ficção científica, muitas cenas impossíveis. Quando na televisão davam os filmes com Sean Connery não gostava dos ver apesar do meu pai defender sempre que ali é que estava o homem, o genuíno, o verdadeiro Bond. Para mim, Bond era Roger Moore.
Depois veio o inenarravel Timothy Dalton que em dois filmes arruinou a imagem de Bond. E de repente, quando repetiam os filmes na televisão, qualquer deles, já não os conseguia ver com gosto. Veio Pierce Brosnan e Bond voltou a ter estilo. Pelo menos isso. Muito estilo. Mas pouca verosimilhança, tal a fantasia que acumulavam os filmes, nos quais os inimigos tinham os planos mais irreais, e se aproximavam cada vez mais de vilões de banda desenhada.
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Agora veio Daniel Craig, e a produção fez agulha, voltou às raízes e fez o melhor filme de James Bond de sempre. O agente é humano, fica ferido, tem sentimentos, mas esconde-os, é frio para poder fazer o seu trabalho, e é dedicado ao mesmo. Corre, luta, dispara como nunca o fez. É credível no papel de um “espião” que afinal é um agente pouco secreto, pouco discreto, e muito dedicado ao homicídio em nome do seu Governo.
O filme não tem “gadgets” irreais, antes pequenas peças tecnológicas que, muito provavelmente, já existem e não estarão a muitos anos de aparecerem no mercado. Não tem um vilão de banda desenhada. Tem um banqueiro bandido com recursos “normais” que o dinheiro pode pagar (um grupo de seguidores e várias localizações para se acoitar). Tem uma cena de tortura em que o próprio vilao diz que nunca gostou de torturas muito elaboradas. E é simples e dolorosa. Bond não é m palhaço com piadas sempre prontas. É um tipo arguto com discurso fluente e imediato. A Bond-girl é interessante e dúbia. O enredo não é linear e deixa-nos a tentar adivinhar o que se seguirá. E não acaba com Bond enrolado numa mulher, ignorando os seus deveres profissionais.
“007 – Casino Royale” é o melhor filme de Bond de sempre. Com a pior música-tema de sempre.
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